Um amor maior que a vida (Cap. 6)
A MULHER MISTERIOSA
-Bomba?! Bomba?! Quer dizer que mataram meu marido e meu filho? Quem poderia....? Tom, o carro não saiu de nossa garagem desde ontem á tarde, isso deve ser algum engano, só pode ser!
-Bia, eu lamento que seja assim, não me interprete mal, não estou desconfiando de você, apenas preciso que me acompanhe e preste seu depoimento para que possamos encontrar ao culpado o mais rápido possível.
Santiago ficou sem palavras, balbuciou mas antes que pudesse dizer algo o delegado Antônio, que fora colega de classe de Beatriz na infância, lançou-lhe um olhar vago demais para ser interpretado o que lhe fez recuar.
-Antônio, ela está abalada demais, como sua advogada asseguro-lhe que prestará seu depoimento o mais rápido possível, mas por favor, não submeta minha amiga a esse tipo de situação no pior momento de sua vida. -disse Laura, que surgiu sem mais nem menos.
-Está bem, Bia -disse Antônio tentando confortar-lhe um pouco- eu sinto muito por você, juro que farei de tudo para que o culpado seja punido, falo como seu amigo, conte comigo para o que for. -Um pouco desconsertado saiu da saleta deixando Santiago, Laura e Beatriz sem saber o que fazer em seguida.
-Cuidarei da burocracia, tem certeza de que vai ficar com esse doutorzinho? -perguntou Laura com um tom frio.-
Beatriz apenas consentiu com a cabeça, as idéias ainda não estavam muito claras, e não ficariam por muito tempo.
Santiago teve muita vontade de responder o comentário, mas os ânimos já estavam exaltados demais para uma discussão.
Beatriz se levantou e trancou a porta com a chave, estranhando essa atitude Santiago se pôs de pé ao seu lado, ela o abraçou com toda as forças que restavam e começa a chorar desesperadamente, tentando não gritar, soluçando, apertando o braço do médico que já tinha o jaleco encharcado até desmaiar, ele tenta verificar sua pressão mas ela recobra a consciência imediatamente.
-Eu quero ir para casa, eu preciso...eu preciso...
-Eu te levo, Laura foi cuidar dos trâmites necessários, não precisará se preocupar com nada, você precisa de um calmante, eu aplicarei assim que chegarmos.
E saíram, o caminho de alguns minutos foi percorrido em absoluto silêncio, Santiago teve o cuidado de pegar um desvio para que beatriz não desse de cara com os vestígios do acidente. Ela estava tão aérea que provavelmente nem teria notado, estava um mundo de recordações, no mundo que construira ainda menina e no qual decidira permanecer pelo resto de sues dias.
-Gostaria que tudo voltasse ao normal depois de acordar -murmurou para Santiago que lhe aplicava um calmante- meu marido, meu filho...
Hoje chorei tanto, há muitos anos não derramo uma mísera lágrima.
Minha mãe morreu há 17 anos, meu pai se transformou completamente depois disso, sua indiferença me fez assim tão dura, nunca mais chorei, nunca. Só por emoção.
-Você precisa descansar, vou te deixar sozinha mas anotei todos os meus telefones neste cartão, me ligue a qualquer hora, por qualquer motivo, qualquer um, me promete? Você deve começar a sentir sonolência em alguns minutos, fique na cama e durma, eu gostaria que me ligasse ao acordar. Eu trago mais doses se precisar, mas temos que tomar cuidado com esses medicamentos, não deixo com você porque a auto-aplicação é difícil.
-O que vai fazer agora? Tem algum compromisso?
-Não, cancelei tudo. Precisa de algo?
-Estou com medo, tenho medo do que posso fazer se ficar sozinha, você pode ficar aqui? Por favor, não quero que saia do meu lado, não quero ver ninguém, só quero ficar longe de tudo isso, mas não posso ficar só. Sei que não tenho direito de te pedir nada, sempre te tratei tão mal, te humilhei tanto, mas por favor, sinto como se só a sua presença me trouxesse um pouco de alívio.
-Ei, não é hora de falar do passado, ficarei pelo tempo que precisar. Só ia embora por imaginar que você preferia estar só.
-A campainha soa-
-Deixe isso comigo, não quer ver nem a Laura? Vocês são tão unidas.
-Não, ela há de me entender, por favor, não quero mais ninguém por perto.
-Beatriz desconectou todos os telefones, desligou o celular e a campainha enquanto Santiago dispensava quem quer que fosse, puxou o edredom e deitou com mesma roupa que estava e esperou por ele que não tardou.-
-Obrigada, por tudo,disse Beatriz.
-Santiago sorriu levemente e a abraçou, quando tentou se levantar ela o segurou com força, ele então se deitou ao seu lado acariciando seus cabelos para que pudesse dormir.
“não sabe como eu lamento que esteja sofrendo assim, ficaria no seu lugar se pudesse, não sabe como te amo” -pensava enquanto permanecia mudo ao seu lado. Logo sentiu as mão de Beatriz se soltarem das suas, ela parecia ter dormido. Seu celular vibrou no bolso e ele se afastou rapidamente na ponta dos pés para atender.
-Aconteceu, não foi? -perguntou uma voz de mulher do outro lado da linha-
-Sim, ela está sofrendo muito, tem certeza de que tudo isso é mesmo necessário?
-O primeiro passo já foi dado, agora não seja teimoso. Isso está decidido há muito tempo TEMOS que ir até o final. -respondeu a misteriosa voz.-
-Está bem, ela está dormindo agora, eu ficarei ao seu lado. Ela parece confiar em mim, isso tornará as coisas mais fáceis para nós.
-Ótimo, espero que essa paixonite não te impeça de fazer o que é preciso.
-Está bem, não quero nem posso discutir isso agora, não me ligue mais, estarei ocupado por muito tempo. -Jogou o celular no chão, enfurecido.-
Fazer o que é preciso- murmurou com desprezo- só queria fazê-La feliz.
[Continua]