Clara - Feliz Aniversário - XII

Capitulo XII

FELIZ ANIVERSÁRIO

Clara bateu a região frontal do crânio no chão, foi uma colisão brusca, a moça não resistiu e acabou desmaiando. Depois de horas e horas esperando ainda sai o resultado que ela está em coma, foi um choque pra todos ali no saguão do hospital e pior ainda é que nem tinham previsões de quando ela acordaria.

O plano de Carlinha de mandar a garota à Espanha para servir de garota de programa falhou, mas acabou trazendo consequências piores à Clara. Quando Carlinha soube do acidente ficou espantada, afinal um acidente é sempre algo inesperado, porém, depois, ficou chateada e no final das contas acabou rompendo o trato com Fernando. Ela teria que ir ao hospital prestar algum tipo de solidariedade, afinal de contas diante dos outros ela era ainda amiga dela. André ficou atemorizado e não dizia absolutamente nada, apenas um semblante desfalecido estampava em seu rosto, igualmente Vanessa.

Os dias estavam passando lentamente, os finais de semana muito pior. Se Carlinha marcasse algum programa para o fim de semana, com certeza o resto da turma ficaria chateada pela a falta de delicadeza, bem pior do que Clara longe, era o fato dela não estar perto e ainda a beira da morte. Anderson estava indo trabalhar sem motivação alguma, durante a semana seu único pensamento era o final de semana, onde ele poderia ver Clara, ouvir uma reclamação ou quem sabe outra aproximação. A ideia do encontro enfrente a sorveteria era ótima, se não fosse a tentativa de sequestro, tudo poderia ter ocorrido às mil maravilhas, perder essa oportunidade e ainda dessa forma fazia Anderson chorar.

Nada estava mais fazendo sentido, ninguém tinha ânimo para nada, o único ânimo que eles tinham era de ligar para o hospital e saber se Clara tinha dado algum sinal. Ulisses mandava toda semana três a quatro buquês de flores para ela – como se flores despertasse alguém – na intenção de ajudar a moça se recuperar logo.

Certo sábado à tarde Anderson resolveu visitar Clara, chegando, pediu para ficar a sós com ela e sentou na borda da cama bem devagar, olhou profundamente para seu rosto e disse:

- Eu sei que não dá de me ouvir, não sei onde você estar. Te ver assim é bem fácil falar o que sinto, mas eu preferia ficar sem te dizer o que eu tenho pra te dizer e te ver sorrindo do que essa situação.

Anderson não resistiu, deixou cair uma lágrima na mão que estava estendida sobre a cama, e quando caiu Clara acabou fechando a mão lentamente e depois abriu, mas Anderson não viu, ficou focado nos olhos na esperança de que eles pudessem abrir a qualquer minuto, e começou a dizer mais:

- Você é linda de todo jeito, mesmo nessa cama te acho a garota mais linda do mundo, você pode estar do jeito que estiver, verei apenas uma Clara em minha frente. Eu te amo tanto, você não sabe o quando, mas eu não entendo porque nunca ficamos juntos, sempre existe algo que atrapalha. Confesso que quando você acordar talvez eu não tenha coragem de te dizer tudo o que eu estou dizendo, mesmo quando quase te perdi. Viajo e me perco quando penso nisso.

Clara estava pálida, fria e com o rosto sério. Sua pele branca e limpa evidenciava cada traço do seu rosto.

Anderson gostava de ir para o hospital e conversar com ela dessa forma, mas nesse dia aconteceu algo diferente. Quando ele se levanta para ir embora e abre a porta do quarto, dá de cara com Ulisses que esperava do lado de fora. Anderson não podia esconder os olhos inchados e molhados, Ulisses acabou percebendo e resolveu o abraçar, o rapaz que chorava estava imune a sentimentos de raiva, acabou abraçando e chorou desesperadamente. Ulisses nunca tinha o visto chorar, ainda mais daquela forma, mas entendeu que a situação era complicada.

Depois do acidente de Clara, André mudou muito, já não brincava como antes, tornou-se sério e só falava quando era necessário e por conta disso, muitas vezes Vanessa discutiu, dizendo que ele não queria mais ela e que pensava mais em Clara do que nela, contudo continuaram juntos. Uma vez ou outra ele ia para o apartamento de Anderson conversar um pouco, para aliviar de forma mútua a dor da ausência da amiga. Quando ela estava viajando era mais fácil, mas pensar que ela poderia morrer a qualquer momento fazia eles meio depressivos.

O acidente de Clara estava mexendo de mais com Anderson, nas primeiras semanas foi horrível ter que aceitar a ideia do acidente e pior ainda o que ele causou. Dois meses passaram rápido, mas a dor do garoto já era como se fosse eterna, por isso, várias vezes faltava no serviço, no cursinho, não tinha mais vontade pra nada. Sua alegria pra poder encarar a semana ele encontrava no Rare, porém ele não tinha mais nem vontade de ir lá, sem Clara tudo não fazia mais sentido, não fazia mais sentido crescer no serviço porque não teria com quem dividir seu desenvolvimento financeiro entre outras coisas, depois de passado os dois meses fez foi piorar a situação do rapaz, já estava se entregando completamente à tristeza.

-

Já tinham terminado a última prova quando a professora Aline – a mesma de Clara e seus amigos no Ensino Médio - chamou Anderson:

- Avise a Clara quando ela acordar que eu consigo uma bolsa para ela na Universidade DICCAD, acredito que ela voltará para nós logo e ela merece essa bolsa, tenho certeza!

- Sim – Anderson sorriu forçadamente – Ela merece sim, ela vai voltar. Claro que vai.

E saiu sem entender metade do que a professora disse. Desolado só por ouvir o nome de Clara mais outra vez e lembrar o que tinha acontecido com ela, saiu sem falar com seus amigos e foi direto para a casa. Chegando em casa preparou sem querer um café muito forte e se sentou em sua varanda e ficou a olhar o céu, ficou ali durante horas acordado pensando na possibilidade de nunca mais ser feliz, no fato de ter perdido a garota que ele sempre sonhou em viver uma vida a dois e então se dispôs a chorar, sem gemer, simplesmente chorava e chorava até que de repente lhe ocorre uma Idea, pegou o celular e ligou para André, mas ele não atendia, com certeza já estaria dormindo, afinal já eram três da manhã.

Depois de muita insistência lá pela décima sétima tentativa o rapaz atende.

- O que foi Anderson, o que aconteceu pra tu me ligar uma hora dessas? – questionou André bocejando.

- Preciso que você venha comigo a um lugar – explicou Anderson.

- Pra aonde? Para fazer o que? E tem que ser essa hora da manhã?

- Eu não sei explicar, eu tenho que ir para o Rare agora.

- Mas fazer o que Anderson? Morrer de frio?

- Não! È como se o Rare estivesse me chamando, é como se eu precisasse ir lá agora, nesse exato momento.

- Anderson tu precisa dormir, esquece essa historia, descansa bem e amanhã nós conversamos.

O rapaz não iria sozinho para o Rare, sentiu uma falta de companheirismo da parte de André, mas logo passou e voltou a se sentar em sua varanda olhando para a rua deserta que existia abaixo de sua vista.

No dia seguinte Anderson não foi trabalhar e lá por volta das dez da manhã recebe André em sua casa.

- Que história maluca é essa de ir para o lago às três da manhã? Me explica Anderson.

- Pode dizer o que tu quiser, deu vontade mesmo de ir no Rare aquela hora mas já passou.

- Você precisa é consultar um médico, o acidente de Clara mexeu muito com todos nós, mas você está passando dos limites, se controla e tenta aceitar.

- Você não sabe de nada André – grita Anderson – Sabe quanto tempo eu esperei por ela? Sabe o quanto eu me culpo por não ter dito e feito quase nada quando ela estava perto de mim? Sabe o quando que ela faz falta pra mim? Eu não tenho o direito de ficar triste?

André boquiaberto interrompe sem autoridade nenhuma.

- Também não precisa falar assim...

- Você acha que meu sofrimento todo é histeria? Tu não entende nada André! Sai da minha casa! Sai, sai e me esquece, me deixa em paz – aumenta o tom de voz e grita – Sai da minha casa agora!

André sem dizer nenhuma palavra vai rumo à saída e logo após alguns minutos Anderson começa a chorar e chorar sem parar, dessa vez gemia soluçava e até gritava. Preparou uma xícara de café com quase meio pacote e se sentou em sua varanda para pensar e refletir mais.

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O casal que tinha culpa do acidente da garota nem se dava o trabalho de visitá-la no hospital, eles sabiam que era necessário visitar e ligar para os outros para manter as aparências, mas Carlinha dizia que depois de tudo isso já era difícil de mais pra ela, não tinha o mínimo apresso por ninguém da turma e ir ao hospital ver Clara faria ficar doente também. Afastaram-se completamente do grupo, mas Jackson continuava com seus planos dentro da Metalvorada e tentando estragar reputação de Anderson dentro da empresa. Por muitas vezes foi à sala de Ulisses comentar sobre as faltas de Anderson e do trabalho que estava sendo acumulado. Ulisses apenas ouvia. Quanto aos planos de Vladmir, iriam demorar mais e mais, os estudos para edificar uma reserva da Metalvorada no Lago Rare estavam mais difíceis, pois os resultados das ultimas pesquisas disseram que o investimento será maior devido ao largo e forte lençol d’água que corre no subsolo.

Já estava completando três meses, Anderson já havia recebido uma advertência do departamento pessoal informando que seu atraso descontaria de seu salário ou reduziria suas férias de acordo com a quantidade de faltas. Numa quinta feira fervorosamente quente ele ficou em casa, apenas fez um café bem forte e sentou-se na varanda de sua casa e ficou lá pensando e refletindo em tudo, todos e Clara. A hora passou como em um piscar de olhos, já não tinha mais cursinho pra estudar, nem se interessou em prestar vestibular, apenas ficava sentado o dia todo, com uma xícara de café olhando para a rua.

Às oito horas da noite a porta da casa bate. O rapaz pisca os olhos como se estivesse acordado de um profundo sono de olhos abertos, quando ele abre é simplesmente Ulisses.

- Ah, quem te disse onde eu moro? – disse Anderson falando em um tom apressado.

- Pelo visto esqueceu aonde trabalho, posso entrar?

- Entra, não repara a bagunça, não estou bem esses dias.

- Estou vendo, foi exatamente disso que vim falar com você.

- Olha se quiser me demitir pode demitir não me interessa mais nada, só me deixe sozinho com meu café.

- Anderson olha pra si mesmo! Me diga quantos quilos já perdeu? Você tá acabado! Além de faltar muito no serviço, quando vai, faz tudo errado. O que tá acontecendo?

- A Clara está à beira da morte e tu me pergunta o que está acontecendo, tu por acaso é maluco ou não sabe que ela tá em coma? – perguntou o rapaz olhando profundamente nos olhos de Ulisses.

- Anderson você precisa se tratar. Você está com algum distúrbio mental – explicou em tom recuado.

- Cala a boca Ulisses, você não sabe de nada! Você sempre quis que eu me ferrasse!

- Olha todos lá na Metalvorada, inclusive sua chefa, Valdelice está decepcionada com você. Se você me disser que vai se tratar eu consigo uma licença pra você descansar e ainda continuar recebendo salário.

- Porque você está querendo me ajudar? Quando a Clara acordar é a mim que ela vai querer!

- Há quanto tempo você não dorme? Aliás, você tá bebendo quantos litros de café por dias? – Ulisses segura Anderson pelo os ombros e começa a sacudir – Olha pra você, se afundando em cafeína, pra que? Quanta futilidade e infantilidade! Você realmente decepciona as pessoas, um cara tão seguro de si, se deixou afundar nas tristezas e em um mísero café.

- Cala a boca! Vai embora! Você não sabe de nada! – Começou a chorar.

- Vou embora não! Ainda tenho mais a falar pra você, sabe que dia é amanhã? Quinze de Junho, aniversário de Clara! Ela vai fazer dezoito anos, se ela fosse tão importante pra você teria se lembrado disso, mas não, você prefere ficar chorando e se lamentando como se isso fosse ajudá-la a acordar.

O rapaz não disse mais nada, ficou olhando para baixo e um silêncio invadiu a sala do apartamento.

- Agora estou indo! Quando Clara acordar talvez nem te queira depois que ela souber das besteiras que você anda fazendo.

Anderson ficou ainda por ali refletindo, depois que viu a porta bater voltou a chorar, chorou por uns quatro minutos, depois foi tomar um banho, sorriu porque teve uma brilhante ideia, durante o banho dava risadas sozinho, ainda de toalha pegou um papel e começou a escrever umas coisas, era uma lista de compras para uma festa de aniversário, colocou uma roupa e foi às compras.

Ele não estava tão bem de condições, até porque nos últimos três meses seu salário estava vindo resumido devido às faltas, mas fez um esforço e comprou tudo para festas, mandou enfeitar o quarto onde Clara estava no hospital, encheu de balões, flores, festões, chapeuzinhos e até bolo tinha. Depois do meio dia Anderson foi ao hospital e passou a tarde toda ao lado da moça em coma, as enfermeiras sentiram pena, de fato foi uma cena triste.

A cena piorou quando dona Clarice chegou, era véspera do aniversário de sua filha e ver sua filha naquela situação nesse dia não foi nada agradável, começou a chorar desesperadamente, ela não aceitava isso de maneira alguma.

Se passado alguns minutos os dois ainda ficaram ali sentados numa distancia de meio metro da cama onde Clara estava deitada, e começaram a chorar silenciosamente até que as máquinas que estavam ligadas à Clara começaram a fazerem um barulho estranho, e dona Clarice foi chamar as enfermeiras imediatamente. Anderson ficou simplesmente parado, observando tudo.

As enfermeiras depois de terem visto o que acontecia chamaram imediatamente o médico, mandaram os dois saírem da sala e pediu para terem paciência.

A paciência estava praticamente esvaída, Anderson tinha esquecido completamente o que significava e por várias vezes quis entrar ao centro cirúrgico para saber o que estava acontecendo. Imediatamente ligou para André e pediu que ele viesse, de repente bateu uma vontade de ligar para Ulisses também, mas acabou rejeitando, julgando ser uma péssima ideia. Ficaram ali sentados apreensivos, esperando que o médico saísse, que uma enfermeira saísse, qualquer coisa, a informação que fosse eles queriam saber, mas a sala de espera de cirurgia estava um silencio total e a cada hora que passava ficava mais tenso o local e nervosos os que ali estavam.

Depois de longas quatro horas esperando, saiu uma enfermeira de dentro da sala. Anderson estava sentado com a cabeça entre as pernas e tão esgotado que nem percebeu a hora que a enfermeira saiu, diante disso dona Clarice se levantou e abordou a enfermeira.

- Como está minha filha, o que aconteceu com ela?

- Minha senhora, sua filha está em coma, exatamente como antes.

Clarice estava tão apreensiva que nem notou a frieza da enfermeira e foi se sentar para esperar o medico. Mais uma hora se passou até que o médico que estava cuidando do caso de sua filha resolveu dar o ar da graça e apareceu na sala de espera.

- Clarice de Almeida é a senhora?

- Sim, minha filha doutor, como estar?

- Sua filha acaba de passar por uma cirurgia de emergência, ela bateu a cabeça justamente no ponto inferior esquerdo do crânio, os fragmentos acabaram atingindo uma pequena parte do cérebro – Dona Clarice nesse momento desmaiou e Anderson levantou a cabeça que estava entre as pernas, com os olhos cheios de lágrimas.

O médico imediatamente alertou alguns enfermeiros e levaram-na para uma sala, depois disso o médico já estava saindo quando Anderson o chamou.

- Doutor me explica o que vai acontecer com ela?

- Ela reagiu muito bem à cirurgia apesar de estar em coma. Temos ótimas... Boas! Não necessariamente ótimas. Graças a Deus ela despertou do coma – disse o médico sorrindo – e não está com a vida em risco, porém houve alguns contratempos, não sendo muito raros.

Anderson não sabia se chorava ou se sorria.

- Vamos doutor, continue me diga o que aconteceu com ela?

- Primeiro, a batida na cabeça fez ocorrer uma pequena hemorragia interna causando perda de memória e ainda terá fortes dores de cabeça, para realizar essa cirurgia tivemos que fazer uma raspagem parcial do couro cabeludo, ou seja, a parte de trás da cabeça está sem cabelos e devido aos anestésicos e analgésicos muito fortes ela acordará só amanhã.

O médico saiu sem se despedir, pois havia outra emergência o aguardando, André se levantou com um sorriso exagerado, olhando para Anderson e disse:

- Ela está de volta!

- Sim está e não vou perdê-la por mais nenhum momento.

- Claro que não vai, tenho certeza disso! – disse André já com ironia – Agora você precisa ir para casa, dormir!

- Não, eu vou dormir aqui, eu vou esperar por ela aqui. Quando ela abrir os olhos estarei ao seu lado – falou sorrindo.

- E se ela não se lembrar de você? Eu ouvi o médico dizer que ela perdeu um pouco da memória.

- Mas como o médico tem certeza disso se ela ainda nem acordou?

- Não sei, mas eu ouvi o médico dizendo isso, Anderson você tá um trapo, deveria dormir, comer alguma coisa pra ao menos chegar aqui no hospital amanhã com a cara melhor. Tenho certeza que ela não vai gostar de te ver assim.

- É verdade, eu vou pra casa... E dona Clarice?

- Coitada, ela não aguenta mais tantas coisas... Eu vou ficar aqui e acompanhar ela, daqui a pouco eu ligo lá na casa dela pra ver se consigo falar com seu marido.

- Certo André, obrigado!

Quase que Clara acordava no dia do seu aniversário, ninguém já nem lembrava mais desse dia, a preocupação maior era de ela continuar viva. O fato de ela estar viva ofuscou as possíveis consequências que poderiam acarretar principalmente Anderson, disse que iria dormir, mas não conseguiu fechar os olhos aquela noite, imaginando como seria o dia seguinte.

Vanessa recebeu uma ligação de André lhe informando o que havia acontecido, ela garantiu que estaria no hospital no dia seguinte bem cedo para esperar Clara despertar, não pelo fato de apoio moral, pois Vanessa já considerava Clara uma grande amiga apesar de alguns contratempos.

Anderson virou a noite com uma garrafa cheia de café, por três vezes na madrugada fez café, acompanhou cada raio de sol nascer em sua varanda, ele podia jurar que sol estava nascendo mais devagar aquele dia de propósito. Por volta das seis e meia tomou um banho, trocou de roupa e foi rumo ao hospital. Chegando lá, viu seu amigo André com o pescoço em uma posição estranha dormindo profundamente, olhou ele ali por alguns segundos e sentiu um profundo amor chegando a sorrir meio sem querer, quando Anderson foi tocando na cabeça para colocar em uma posição melhor ele acorda espantado.

- Calma... E aí, a Clara já deu algum sinal?

- Eu não sei, eu peguei no sono... – bocejou.

- E dona Clarice?

- Está bem, foi só um susto, ela ta descansando em algum lugar, depois agente pergunta para as enfermeiras.

- Agora eu acho que você deveria ir pra casa descansar André, eu fico aqui.

- Você está com umas olheiras monstruosas cara, parece que nem dormiu. Eu liguei ainda ontem para Vanessa, daqui a pouco ela deve aparecer aqui pra te fazer companhia, cuidado viu? Eu sei bem que vocês já tiveram algo...

- André pode ir! Não se preocupe não vou fazer nada que possa fazer ela chorar.

André balançou a cabeça negativamente sorrindo.

Nesse meio tempo Anderson foi procurar dona Clarice que estava escondida naquelas dezenas de quartos dentro do hospital. Depois de alguns minutos procurando encontrou a senhora sentada tomando café da manhã.

- Ora Anderson meu filho, como você está?

- Eu que pergunto para senhora, afinal quem foi que desmaiou ontem?

- Ah, foi apenas uma alta de pressão, já estou ótima. E esses olhos fundos, é de tanto chorar?

- Não, não. Não ando dormindo bem.

- Entendo meu filho, você gosta mesmo da minha filha né?

- Muito, dona Clarice. Foram dias difíceis pra mim, os três meses mais demorados da minha vida.

Dona Clarice parou de comer e ficou a olhar para o canto do seu quarto com um olhar desfocado e disse bem baixinho:

- Você me lembra o meu marido... O rio... Roberto... A propósito foi Tito, foi ele quem lhe mostrou o Lago aonde vocês gostam tanto de ir?

- Sim foi, mas o que isso tem a ver? Que rio... Quem é Roberto? A senhora ta falando do que?

- Nada meu filho – secou uma lágrima que havia corrido – Minha filha está bem, é isso o que importa. Se você gosta mesmo da minha filha corra atrás, eu apoio vocês dois, mas nunca se esqueça do quem cooperou para ajudar vocês estarem do jeito que estão e o que uniu vocês é o que vai sempre unir, aconteça o que acontecer.

- Perdão... Dona Clarice o médico quer falar com a senhora, por favor me acompanhe – disse uma enfermeira interrompendo a conversa.

Anderson saiu dali, sentou em um sofá do corredor e começou a refletir no que dona Clarice havia falado, mas seus pensamentos foram interrompidos com a chegada de Vanessa.

- Ai Anderson, até que enfim te encontrei, faz horas que procuro você aqui.

- Eu estava conversando com dona Clarice em um quarto logo ali.

- Você deve está muito feliz por Clara – disse sem graça.

- Sim estou – respondeu friamente.

O assunto terminou ali mesmo, Anderson e Vanessa nunca se acertaram completamente depois do episódio em que eles ficaram na época que eles estudavam. Conversavam o necessário e só quando o pessoal estava reunido.

Anderson nem sonhava com o seu trabalho, sua mente estava voltada completamente à Clara, mas de repente ele sentiu vontade de avisar alguém sobre a garota, meio sem querer ela pega o celular e liga pra Ulisses avisando que eles estavam apenas esperando ela acordar, pois estava sob efeitos de fortes medicamentos. Ulisses entendeu o recado e lá por volta das quatro da tarde apareceu por lá

As horas estavam passando lentamente, ninguém sentia fome, estavam todos ansiosos e atentos, de vez em quando uma enfermeira entrava na sala onde Clara estava e saia sem dizer nada. Às cinco da tarde ainda estavam esperando, foi quando dona Clarice já estava completamente restituída de si e se juntou aos outros no sofá. Alguns minutos depois André chega. Todos juntos sem dizer nada, Clarice, Anderson, Vanessa, André e Ulisses. Do nada Vanessa pergunta:

- Gente cadê a Carlinha e o Jackson?

- Liguei para ela desde ontem informando a situação de Clara, ela disse que estava com muito enjoo estava toda hora desmaiando devido a gravidez – responde André sem interesse.

Ninguém se surpreendeu com a notícia e logo voltaram a atenção para o médico que passou pelo o corredor.

- Doutor, alguma novidade? Perguntou Anderson.

- Como eu disse, não sei exatamente a...

- Doutor com licença... A moça acordou! – disse uma enfermeira interrompendo.

O médico nem disse mais nada foi imediatamente examinar a garota.

- Vocês ouviram o que o médico disse? – disse Anderson em um tom estranho.

Todos ficaram de pé. Dona Clarice já estava começando a passar mal de novo... Era uma angústia infindável, abaixo da ideia de perder a moça, a espera era o pior castigo.

Depois de alguns minutos o médico sai da sala e diz para todos:

- Estamos esperando o psicólogo terminar de conversar com ela e logo vocês poderão entrar, vai ser um por um no tempo máximo de cinco minutos, ela ainda está muito fraca e, por favor, não façam muitas perguntas.

A tensão e ansiedade multiplicaram quem roia unhas já não tinha mais, o relógio corria lentamente e um silêncio absurdo reinava dentro do hospital.

Finalmente a porta se abre, sai o psicólogo e diz:

- Quem é Clarice?

Dona Clarice respondeu apenas com o dedo levantado e o psicólogo fez um sinal que ela entrasse. Em passos lentos a mãe da moça entra e se senta em uma cadeira ao lado da filha que já a espera de olhos abertos e um leve sorriso no rosto.

- Minha filha... – começa a chorar – Eu te amo tanto! Pensei que eu fosse te perder de verdade, mas você voltou pra mim... Minha única filha.

- Mamãe, vaso ruim não quebra tão fácil, ainda tenho que dá muito trabalho pra senhora – disse Clara com os olhos cheios de lágrimas – Eu também lhe amo muito, cadê o papai?

- Você sabe como é o serviço do seu pai, mas depois das seis ele prometeu estaria aqui, aliás já são seis horas...

- O senhor não pode entrar... – disse a enfermeira.

- Clara minha filha! – disse o pai da garota entrando sem a permissão da enfermeira.

- Eu vim o mais rápido que pude, não poderia deixar de vir e ver você – começou a chorar também, ajoelhou-se na cama – Achei que você fosse deixar agente, logo tão cedo.

- Calma papai, não foi dessa vez que a morte conseguiu me convencer a ir com ela – sorriu a moça.

- Minha filha você foi muito forte...

- Senhora, preciso que você saia, ainda tem gente lá fora que gostaria de conversar com ela não é isso? Ela não pode se cansar.

- Mamãe antes de ir, me diga quem está lá fora?

- Todos minha filha, menos Jackson e Carlinha, até Ulisses está ai.

- Até Ulisses? Deixa todos entrarem de uma vez só, nem que fique por pouco tempo – pediu Clara à enfermeira.

- Clara minha filha, estamos te esperando lá fora! Fique bem – disse o pai da moça.

- Até mais, Deus te abençoe.

Clara respondeu a despedida de seus pais com um sorriso doce e profundo. Quando seus amigos entraram chorou mais ainda, o primeiro a chamar foi André que foi até próximo dela na cama e apertou a mão da garota carinhosamente.

- Vanessa, prometo que não vou fazer nada com ele, não se preocupe.

- Nada Clara, eu já superei essa parte – disse ela com um sorriso sincero.

- Ulisses não pensei que você viesse até aqui.

- Você faz parte da minha vida Clara, não poderia deixar vir – respondeu o jovem com as mãos nos bolsos.

- Quem foi o autor dessa decoração? Passei tanto tempo dormindo que nem aproveitei meu aniversário, quero um presente de cada um – já sabendo que foi Anderson - Anderson porque você está ai escondido? Não me lembro de ter acontecido nada que possa ter feito você ficar assim.

- Clara... Eu não sei o que dizer, eu esperei tanto esse momento...

- Pessoal, sinto muito! Ela precisa descansar agora e vocês precisam sair. Amanhã vocês podem visitar ela por volta das cinco da tarde.

Foi uma alegria só, todos vibravam de alegria pela a volta de Clara, saíram com alma resplandecente, diferente apenas foi Anderson que achava quer seria algo mágico e romântico, deve ter confundido as coisas. Com a volta de sua amada as coisas agora aconteceria de uma forma melhor, seu trabalho, sua casa, sua vida... A paciência imperava novamente no rapaz e sem saber o que aconteceria futuramente com a garota já estaria com a mente mais tranquila para encarar tais fatos.

O médico responsável por Clara chamou os pais da moça para conversar em particular, contar o que aconteceria com sua filha.

- Então, sua filha resistiu perfeitamente à cirurgia, ela foi bem forte e a equipe médica ficou muito satisfeita com os resultados, porém o caso é delicado. Ela vai precisar de terapia para restabelecer o equilíbrio do corpo, sem falar que suas articulações ficaram paradas por muito tempo, será feita então fisioterapia até que ela volte aos seus movimentos. Não se preocupem, já providenciei tudo e o hospital fará tudo que for preciso, ela vai ficar bem, só precisamos de paciência, afinal o pior já passou.

- Tudo bem doutor. Tem alguma ideia de quando ela vai ficar normal, completamente como era antes?

- Não posso dizer, vai depender muito dos esforços dela, talvez daqui a dois meses ela já esteja em casa, ou quem sabe mais. Vocês os pais podem na recepção cadastrar as pessoas que podem visitá-la constantemente.

Clara ainda não sabia que iria passar por isso tudo, o psicólogo conversou com ela o essencial, com certeza isso seria discutido futuramente.

No dia seguinte Clara acorda cedo, olha em volta e não ver ninguém, bate uma solidão e ela fica pensando em várias coisas que poderiam ter acontecido no período em que ela ficou em coma, pensou tanto que nem viu a hora que a enfermeira entrou, no momento em que ela percebeu a enfermeira pediu de imediato.

- Enfermeira, por favor, arranje um caderno e uma caneta, por favor!

- Mas para que?

- Preciso escrever algumas coisas.

Laercio Miranda
Enviado por Laercio Miranda em 11/06/2011
Código do texto: T3028645
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