Clara - O Rio Morto - X

Capitulo X

O RIO MORTO

- E ai Jack, como é que foi?

- Amanhã não iremos trabalhar por conta da morte do velho.

- O poderoso Giuliano Plough falou algo de diferente?

- Mesmo se pudesse não falaria, convocou uma reunião de todos no pátio da empresa e comunicou o falecimento.

- A vaga de Gerente do setor fiscal será sua agora, sem dúvidas.

- Claro que sim. O salário é uma coisa absurda, mas vou me acostumar rapidamente.

- E o Vladimir?

- Ele vem jantar essa noite aqui, você vai faltar no cursinho, ele disse que têm ótimas noticias, precisamos analisar e decidir o nosso próximo passo.

- Fernando me ligou de Madri, disse que tá precisando de mais pessoas, o que eu faço?

- Isso é bem mais perigoso do que pensamos, acho que na Metalvorada vai dá pra ganhar muito dinheiro em menos de dois anos ai, depois agente volta a pensar nisso.

- Então o André e resto da turma não vão servir pra nada?

- Continua fazendo como você sempre fez, no futuro agente resolve isso, tenha mais paciência.

- To cansada Jack, ainda tenho que estudar pra tirar nota boa.

- Tem que pagar o preço. Vamos arrumar as coisas, preparar o jantar que daqui a pouco o Vladimir chega.

-

Estava dormindo no sofá quando de repente acordou assustado com o alarme do celular disparando, ou seja, hora de se encontrar com o pessoal e ir para o lago, deixou tudo perfeito, organizado, a casa de Anderson vivia o tempo todo intacta. Resolveu passar na casa de André para irem juntos, mas quando chegou lá ele já tinha saído mais cedo pra pegar Vanessa, não quis ligar para Clara, apesar de terem tido uma conversa até razoável na ultima vez achou que não deveria ligar. Chamou um táxi e foi até a saída da cidade onde abria caminho ao lago, chegando lá avistou uma equipe de cinco pessoas descendo a colina, organizando bolsas, papéis e entrando em um carro. Sem dúvidas estavam vindo do Lago Rare. Anderson ficou sem entender absolutamente nada, ele queria saber o que aquele pessoal fazia lá.

Faltavam ainda dez minutos, esperar não foi tão difícil para o rapaz.

Atrasados três minutos chegam Carlinha e Jackson, não foi muito agradável para Anderson ter que ficar encarando e conversando os seus antigos colegas de moradia, se limitaram a assuntos como a cor do lago, a sujeita das estradas etc.

De repente o celular de Anderson toca:

- Oi Clara.

- Como é que tu me deixa sozinha? Quem iria vir comigo? – disse Clara irritada.

- Achei que você viesse com o André.

- Anderson, o André tem a Vanessa, ele vai levar é ela, e eu vou com quem?

- Eu chego ai em poucos minutos...

- Não! Já estamos virando a esquina, eu liguei para o André e viemos a pé mesmo, tchau.

- A Clara tá estressada Anderson? – perguntou Carlinha.

- É, pois é.

Esperaram então mais alguns minutos ali até que Vanessa, André e Clara aparecem, agora faltariam menos de dez minutos para chegarem ao Rare. A amizade entre os seis estava desmantelada, cheia de intrigas e desentendimentos, mas todos insistiam em continuar se reunindo para conversar, se divertir etc. Principalmente Carlinha e Jackson.

Não iria demorar muito tempo para algo acontecer, nenhuma coisa que não está bem segue rumo à frente por muito tempo.

Quando todos já estavam ali reunidos às margens do lago, apesar da sujeira ninguém ficou de braços cruzados. Começaram a estender seus “lençóis” sobre a areia, em um local onde era possível se bronzear, se tratava de um banco de areia. Clara, André e Anderson costumavam chama-la de sua praia particular, se ao lago era de difícil chegar, a essa margem pior ainda.

- Jack, passa bronzeador em minhas costas? – pediu Carlinha.

Logo em seguida Vanessa imitou Carlinha, pedindo para André a mesma coisa.

A vergonha de pedir que Anderson lhe passasse o bronzeador fez Clara corar e tentar outra atividade preliminar.

- Acho que vou ver como está essa água... – disse Clara se afastando das meninas. Anderson foi atrás;

Seguir os passos de Clara em uma distancia de dez metros fez Anderson focar no corpo de Clara, fazia muito tempo desde a ultima vez que os dois estavam ali se divertindo, a na ultima vez a menina não tinha algumas curvas, as circunferências... Anderson notou simplesmente tudo, afinal, a imagem de Clara estava registrada em seus pensamentos.

- “Eca” – disse a menina ao tocar a água com o pé direito. Clara sentiu apenas uma superfície lisa, como se um lodo, com uma tonalidade de água suja, um pouco barrenta.

- O que foi Clara? André perguntou, já correndo junto com os outros na direção do casal, enquanto Anderson se abaixava e verificava o que era aquela substância.

- Parece um produto químico! - Sentenciou

- Despejado no Rare! – André boquiaberto, não conseguia acreditar no que via.

- Não.

- Pessoal, pessoal, isso não é motivo pra pânico. Olha se vocês verem está só numa faixa do lago.

- Como assim não é motivo pra pânico? Eu não sei você, mas eu cresci tendo o Rare como minha segunda casa, nós temos que investigar isso, André, Anderson, vocês não concordam? – falou Clara com o tom de voz alterado.

- Certo, não vai dar mesmo pra mergulhar com essa sujeira, Jackson, você ajuda? – perguntou André.

- Tudo bem, tudo bem, só acho que vocês estão fazendo tempestade em copo d’água!

- Então você e a Carlinha vão fazer o volta e ver o que encontram na outra margem, eu e a Vanessa vamos seguir no sentido contrário, Anderson e a Clara vão subir mais a encosta até a foz do rio – disse André em tom explicativo e sorriu para Anderson que de inicio não entendeu, até olhar para a encosta e vê quão altas estavam às árvores.

- Tudo bem. Todo mundo aqui em 10 minutos, se alguém encontrar alguma coisa, chama pelos outros!

Todos começaram seus caminhos, Clara ia à frente de Anderson tentando mostrar algo, mas isso mostraria ainda mais sua fragilidade para o rapaz mas, no fundo essa não era a intenção dela.

- O André é engraçado, subir a encosta ele não quis.

Ao firmar o pé, uma pedra desliza e a menina sem apoio cambaleia e não cai de costas porque Anderson estava ali prontamente segurando.

No susto da queda Clara se segurou nos braços de Anderson e ao tocar em seu corpo firme e rígido que logo em seguida foi ao encontro do corpo da moça que tremeu, uma onda de choque andou de sua cabeça aos seus pés, Ela percebeu que não foi apenas a mente e o comportamento tímido do garoto que tinha mudado, mas também o seu corpo, Anderson não mais um garoto, era um homem e ela sentiu isso, ao deslizar sua mão pelo peito de Anderson e sentir a sua força a colocando de pé.

Anderson seguia a menina na subida da encosta, menina?! A mulher, Anderson seguia a mulher a sua frente e cada passo, cada movimento parecia deslumbrar o rapaz, as passadas, o esforço para subir, o balançar dos cabelos e as suas mechas delicadas cor-de-rosa e as vibrantes vermelhos, tudo parecia encantá-lo, até o tombo da garota que lhe pegou de surpresa, mas não o suficiente para lhe derrubar, pareceu-lhe gracioso. Ao segurar Clara em seus braços novamente em uma situação assim, foi como um flashback para ele, o momento no lago, ensinando-a a nadar, quando a menina se agarrou com força a ele, naquele momento pareceu-lhe a mesma Clara daquela época, o aperto das mãos, o abraço apertado, a respiração ofegante, não, não parecia a Clara que passou meses fora, ou a Clara que conheceu Ulisses , resumia-se a Clara que Anderson conheceu, que Anderson despertou o amar.

Ao recoloca-la em equilíbrio, um tanto quanto próxima ainda a ele, Anderson não se conteve ao sentir a mão de Clara em seu corpo, passou a mão esquerda a redor de sua cintura e puxou-a pra perto de si, com a direita, arrumou seu cabelo atrás da orelha, e olhou a nos olhos.

Naquele instante, o som ao redor pareceu cessar, os pássaros na pequena mata de repente mudos ficaram a única coisa audível ali era a respiração um do outro. O lugar não parecia ser uma mata fechada, o cheiro não parecia ser aquele forte de mato, tudo parecia diferente, parecia maravilha, parecia talvez na concepção dos apaixonados pelo Rare, as suas margens praianas, ou as suas águas limpas e tranquilas, Anderson aproximou o rosto ao de Clara, seu coração a mil, mas ele podia sentir o coração oposto chocar-se contra o seu peito, tamanha era a apreensão, ou a alegria, ou os dois misturados, somente aqueles dois sabiam realmente o que era aquele sentimento, o que era uma distancia mínima pareceu quilômetros, o tocar de lábios parecia estar distante, e o percurso pareceu durar horas, o que possivelmente durou um segundo, mas quando as bocas se aproximaram, e os lábios tocaram um ao outro, um grito sacudiu o evento e pareceu devolver o casal ao lugar e à tarefa em que estavam.

- Pessoal, venham aqui – A voz de André ressoou na mata.

Aquilo realmente não era hora, mas o clima tinha esfriado, foi como um balde de água fria na ilusão, mas o Rare precisava de ajuda, e rápido. Clara e Anderson desceram o que tinha subido rapidamente, sem trocar palavras, meio corados, um pouco de vergonha, chegaram ao local onde estava André, junto com Carlinha e Jackson, numa margem do Rare que tinha a entrada de uma das maiores nascentes do lago, no local tinha marcas como de grandes tambores deitados, como se tivessem sido tombados, e uma substancia na terra que escorria pro lago, não tiveram coragem de toca-la, pois tinha o cheiro forte e azedo, e as folhas caídas, que a substancia tocava pareciam corroídas.

- Gente, isso é um ácido, ou sei lá! – exclamou Vanessa!

- Não acredito! O Rare contaminado! – disse Clara abismada.

- Temos que denunciar, agora mesmo! – André resolveu.

- Hoje é sábado, amanhã domingo, sabe que esse povo do governo mal trabalha sexta à tarde! – Jackson os lembrou.

- Mas isso não pode passar de segunda, eu tenho o inicio da manhã livre na Metalvorada, eu vou ao fiscal alertar! – Anderson disse.

- Eu vou com você – André e Clara declararam.

Sem mais nada a fazer, a turma arrumou suas coisas e desceram pra suas casas, Jackson e Carlinha animados e emaranhados um no outro, Vanessa e André entre beijos e abraços, Anderson e Clara, bom Anderson e Clara caminhavam lado a lado, mas de certo modo de cabeça baixa, como é difícil um amor mal resolvido, você esta com quem ama, mas é como se não pudesse fazer nada, por motivo algum. Assim eles não conseguiram trocar uma palavra, mas o acontecido não saia daquelas mentes e o quão próximo tudo chegou não deixava de incomodar por não ter se concretizado.

A turma pensou em parar na lanchonete, mas os casais perceberam que o clima estava embaraçado entre Clara e Anderson.

- O que foi que aconteceu com eles? – Vanessa cochichou no ouvido de André!

- Eu que não sei, conheço o Anderson faz um tempão e garanto que aquela cara dele é vergonha,e a Clara também envergonhada? Não pode ser.

- Nossa... Há há há! – Descontraindo o namorado, Vanessa riu maldosa.

Jackson e Carlinha apenas avisaram que já iam tomar rumo de casa, Vanessa e André foram se despedindo também. Anderson achou que deveria levar Clara em casa, até para compensar o fato de não ter ido busca-la.

- Vamos Clara vou te deixar em casa, quem sabe assim você me perdoa – falou meio que sorrindo forçado, não que sorrir pra ela fosse difícil, só em vê Clara ele era capaz de sair de um coma e sorrir, mas porque a situação no lago lhe deixou muito constrangido, apesar de toda a evolução de Anderson, ele ainda era tímido, isso não é algo que se tira da noite para o dia de uma personalidade.

Ao chegarem à casa de Clara, o clima ainda estava tenso, mesmo as brincadeiras de Clara na rua conseguiram amenizar a vergonha, mas no momento de se despedir eles se acertaram.

- Clara, eu achei que eu tinha crescido, achei que tivesse amadurecido o suficiente para poder encarar isso tudo de uma vez., mas percebi hoje que continuo o mesmo cara, sem atitudes. Me perdoe, sei que me conhece e sabe o que sinto por você, será que você pode ter paciência comigo? – falou o rapaz olhando pra baixo e algumas vezes nos olhos da moça.

- Tu não tem culpa de nada, você que sempre teve paciência comigo quando eu não sei expressar o que sinto – Clara corre em três passos e abraça Anderson e encosta o lado do rosto abaixo do queixo do rapaz.

- O dia ainda não chegou Anderson, quando antecipamos as coisas elas acontecem no tempo errado e no final nada dar certo, quando nosso dia chegar será o dia perfeito – A moça sorriu e derramou uma lágrima e abraçou com mais força o rapaz. Anderson por sua vez percebeu a ação da garota ficou imóvel, sem fazer absolutamente nada – como o esperado - Para Anderson o momento do beijo que quase ocorreu algumas horas atrás nem se comparou com a intensidade do abraço de Clara, que foi o primeiro abraço fora do âmbito amistoso ou de uma situação de perigo, foi apenas um reflexo do sentimento que ascendia nela, ou seja, algo sem interesse, não foi a toa que o rapaz ficou intacto, ele viu e sentiu um abraço que lhe encheu de esperanças e sonhos.

A moça se deu conta que estava abraçando o rapaz por muito tempo, soltou e disse:

- Eu tenho que entrar, depois agente se fala – falou olhando pra baixo e colocando as mãos nos bolsos da sua calça.

- Claro, na próxima vez será outra evolução – Anderson sorriu e foi embora.

Anderson rumou para casa, passou pela lanchonete, quando seu estômago acusou, já eram quase seis da tarde, foi uma tarde marcante para o rapaz, ele parou, pediu um refrigerante e alguns salgados para viagem. Vale ressaltar que a garçonete era uma bela ruiva, de olhos atraentes, mas que não conseguiu arrancar nada, o rapaz não parava de pensar nos momentos que esteve com Clara, o beijo que quase aconteceu e o abraço que o prendeu, nem conferiu o troco e foi para casa, sentou em uma cadeira na varanda e começou a refletir na vida, pensar em Clara, lago, seu tio, seu emprego, amigos, Clara e etc.

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Clara entrou em casa e os olhos de sua mãe já estavam sobre a filha, que fez um sinal indicando o sofá à menina, dona Clarice achou que estava na hora de dar conselhos a filha, afinal foram anos e anos de silêncio de uma mãe de tudo ciente, porém resignada pela falta de comunicação com a própria filha, porém ninguém melhor que a mãe para aconselhar o coração conflituoso e apaixonado de uma moça.

- Mãe não se preocupe comigo, eu estou ótima! O Ulisses já passou, eu não estou estudando, saio com meus amigos de infância, meu cabelo? Ah mãe, isso é normal, já a tinta sai e eu não pinto de novo.

- Não é isso minha filha é que...

- Mãe eu vou fazer dezoitos anos, eu sei me cuidar, a senhora já tem preocupação de mais.

E lá se foi mais outra vez, Clara nem deu chances de sua mãe falar qualquer coisa. Subiu e foi para seu quarto. O pai da moça nunca nem tinha visto a menina depois que ela chegou de férias, ele era encarregado da exportação de minério em uma mina e trabalhava doze horas por dia, mas amava muito sua filha. Senhor Cleiton era um homem maduro, bigode grisalho, cabelo calvo, olhos verdes, era bem alto e tinha um semblante pesado e opressor, certamente causado pelo o stress do trabalho, mas no fundo tinha um coração bondoso e justo.

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- Pode entrar Vladimir – disse Carlinha.

- Sinto muito, mas não posso ficar para o jantar, minha conversa com vocês será muito rápida.

Jackson se aproximou:

- Certo Vlad, sente-se e nos diga.

- Flávio Giorlle o gerente de produção da Metalvorada é meu amigo e ele revelou na ultima reunião que a Metalvorada pretende se expandir nesse semestre.

- Se expandir como? Uma filial? – perguntou Jackson.

- Não. A Metalvorada quer aumentar a exportação e de acordo com os pesquisadores, o Lago Rare que fica nas proximidades da cidade é riquíssimo em minerais, a ideia é entulhar o lago e criar um polo ali mesmo.

- O Lago Rare? – disse Jackson e Carlinha ao mesmo tempo assustadíssimos.

- Bom, com certeza abrirá mais vagas de trabalho e precisarão de mais pessoas nos cargos de administração e provavelmente serei promovido. – sorriu Jackson.

- Exatamente Jackson! Então precisamos planejar algo agora! Eu vi a lista de clientes, Bélgica, Rússia, China, Austrália, México, Estados Unidos... Se nós estivermos no topo ficaremos ricos! – Disse Vladimir com os olhos brilhantes.

- Sim claro! Mas como o Grupo Moura, Silver, Fluominas e outras empresas nunca investiram no lago? – perguntou Jackson.

- Ali já foi um rio há muito tempo atrás, o rio ameaçava inundar a cidade. Nessa época a Fluominas se instalou na cidade pela riqueza natural, criou barragens e depois de alguns anos destruiu tudo e acabou secando o rio, mas agora nos últimos quinzes anos os lençóis d’água aumentaram os níveis e se criou o pequeno lago que hoje é chamado de Rare, muita gente nem sabe que esse lago existe ali, como a outra parte da cidade tem muito a ser explorada as empresas nem perderam tempo com pesquisas. A Metalvorada agora vai crescer como nunca, quanto mais ferro, mais exportação e quando mais exportação mais dinheiro!

- Impressionante... – disse Carlinha fascinada com a história.

- Sei que você já deve estar bolando um plano para nós realizarmos ali, conto com você Jackson.

- Claro que sim, qualquer novidade eu te aviso.

- Bom, tenho que ir agora. Até amanhã.

- Pena que não pôde ficar para o jantar, até a próxima Vlad – disse Carlinha.

Jackson e Carlinha ficaram chocados com toda a história, mas a ideia de ter mais dinheiro não lhes saia da cabeça.

- Jack, e o Fernando?

- Eu quero que o Anderson se ferre! Ligue para ele e diga que você tem um casal para ele, só precisamos que ele mande os homens dele fazer o serviço.

- Tudo bem.

-

No domingo que amanhecia seria uma manhã de folga para Cleiton, acordou cedo, preparou o café e quando dona Clarice se dirigiu a cozinha já estava tudo preparado, ela sorriu:

- Ora meu bem, mesmo depois de tantos anos, você continua me surpreendendo – sorriu e foi rumo ao seu marido para lhe dar um abraço.

- Clarice, eu continuo o mesmo Cleiton que você conheceu no Rio Fleurdes a trinta e cinco anos atrás – sorriu também e a beijou na testa carinhosamente.

- Aaaah meu bem – apertou-o fortemente – Não me faça chorar – começou a chorar – São lindos tempos que não voltam mais. Nós brincávamos o dia inteiro no Fleurdes, faltávamos a escola, huu huuu huu – sorriu dona Clarice – Você sempre esteve comigo, sempre nos amamos, mas nós só viemos nos casar já com a idade um pouco avançada, sorte minha ter tido Clara.

- Verdade, mas vamos, sente-se e prove do meu café, preciso lhe falar algo muito sério.

- O que foi meu bem?

- Lá na Silver os produtos químicos como óleos usados, lubrificantes e o mercúrio são dispensados por uma empresa terceirizada, a ANVISA é muito rígida quanto a isso, mas nas últimas semanas essa empresa aumentou muito os custos e a Silver se recusou a pagar, outra empresa que trabalhe com essa dispensação sai mais caro ainda porque a mais próxima é no país vizinho e no final das contas estão jogando esse material todo de uma vez naquele laguinho ao redor da cidade, o Rare.

- Sim sei. O lago que a Clara sempre foi com seus amigos desde quando eram crianças.

- Sim, exatamente. Clara não pode mais ir lá, é muito perigoso pra ela... – Cleiton baixa a cabeça – A fiscalização vai de três em três meses verificar a situação das metalúrgicas e siderúrgicas da cidade e quando vier vai dar uma ordem de parar a produção, porque estar tudo irregular.

- A Silver fechará as portas e você perderá o emprego, mas você é experiente meu bem, conseguirá outro emprego fácil...

- Como é a história? Quer dizer então que a sujeira que eu vi no lago ontem é culpa da Silver? Papai como o senhor permitiu isso? E porque o senhor vai perder seu emprego? – Indagou Clara que estava na escada ouvindo tudo.

- Filha você estava ouvindo... – disse dona Clarice.

- Claro, ninguém me pediu para deixar vocês a sós. Vou resolver isso, não se preocupem.

Clara subiu as escadas e foi para o seu quarto.

- Só me faltava essa agora Cleiton, a nossa menina se envolvendo nisso, que experiência ela tem? Ela vai só estragar tudo!

- Ela não vai poder fazer nada Clarice, deixe ela se aventurar, só não deixe que ela faça o pior.

- Ai meu Deus – suspirou dona Clarice – Não sei mais o que faço com ela, já estou tão cansada.

Clara em seu quarto, pega o telefone e liga para Anderson imediatamente.

- Oi Anderson é Clara.

- Oi Clara, o que aconteceu pra você me ligar essa hora? Sabe eu estava aqui pensando em lig...

- Para Anderson! O assunto que eu tenho pra falar é urgente! Descobri a sujeira do Rare!

- Descobriu? Como? – Anderson altera a voz.

- A Silver, tudo culpa dela, é ela que tá jogando tudo aquilo no Rare, precisamos fazer alguma coisa!

- Sim Claro, vamos fazer, mas o que Clara?

- Não sei, eu quero falar com o André primeiro, agente se reúne e toma uma decisão!

- Calma Clara! Eu não tenho idéia do que podemos fazer...

- A sorveteria perto da feira, me encontra lá as cinco da tarde, combinado?

- Claro estarei lá.

Clara ligou para André, que pediu uma coisa em segredo para a garota, “Clara não chama a Carlinha e nem o Jackson, por favor. Depois eu te explico”, e ficou combinado de os três mais Vanessa de estarem as cinco na sorveteria.

Na hora do almoço o pai de Clara teve que ir trabalhar e quando estavam sozinhas Clarice e sua filha, ela pergunta:

- Clara minha filha, o que você pode fazer? Se aquiete minha filha!

- Mãe, não se preocupe eu não tenho ideia do que eu vou fazer, mas eu vou fazer uma coisa.

Às cinco horas os quatro estavam ali na sorveteria como combinado.

- Vamos Clara conte logo, o lago está sujo de quem é a culpa? – perguntou Vanesa.

- Tinha esquecido que você vinha Vanessa com André.

- Sim, conte para todo mundo Clara – disse Anderson.

Clara contou tudo o que tinha ouvido de seu pai, todos ficaram boquiabertos.

- Precisamos fazer alguma coisa gente! – exclamou Clara.

- O que agente pode fazer? – perguntou Vanessa.

- Sinceramente não tenho a mínima ideia – disse André cabisbaixo.

- Eu acho que posso fazer alguma coisa... – falou Anderson.

Laercio Miranda
Enviado por Laercio Miranda em 21/05/2011
Código do texto: T2984349
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