Clara - O Novo faz a Diferença - IX

Capítulo IX

O NOVO FAZ A DIFERENÇA

Tinha se programado para estar na rodoviária trinta minutos antes de Clara chegar, Ulisses ficou muito tempo esperando sentado, a demora só aumentava sua tensão e ansiedade, nada mais lhe importava naquele momento, tinha que ver a moça. Depois de longos cincos meses lá vinha aquela pelo qual esperou tanto tempo para ter a chance. O rapaz tinha se produzido, camiseta branca (como sempre), sapatos de couro, calças jeans bem justas com um cinto preto, os velhos óculos a frente dos olhos verdes e os cabelos pretos e lisos que estavam meio molhados ainda. Foram vários copinhos de café um atrás do outro, ansiedade a mil.

Dona Clarice sabia que a filha estava vindo, o pai de Clara como vivia trabalhando não pôde buscar a filha na rodoviária, mas a mãe da moça já a esperava com muitos bolos, tortas e muito amor para dar.

Haviam chegado três ônibus ao mesmo tempo, e Ulisses se atrapalhou no meio de tanta gente que esperava e que chegava, de repente viu um balançar dos cabelos muito comum, foi em direção e viu do outro lado um rabo de cavalo idêntico ao que Clara usava, ao mesmo tempo ouviu como se fosse a voz de Clara lhe chamando. Não era nenhuma das moças, pois Clara ainda estava lá dentro do ônibus. Estava toda atrapalhada com tantas malas e saiu de lá para procurar um taxista que a ajudasse levar as malas para o carro. Ulisses estava diante do ônibus certo, quando Clara desceu o jovem caiu o queixo, ajeitou os óculos e disse:

- Clara?

- Ah, Oi Ulisses, como é que você tá? – numa euforia que dava para pensar que era falsidade.

- Eu estou bem, obrigado e você? – respondeu pasmado olhando para a moça que estava numa calça jeans preta bem justa, sapatos vermelhos e uma blusa amarela e o cabelo penteado em rabo de cavalo.

- Clara você está irreconhecível... – suspirou Ulisses.

- Anda, me ajuda com as malas, leva para o seu carro, por favor.

- Sim, Claro.

O jovem não disse mais nenhuma palavra, levou as malas, organizou-as no carro, e a menina entrou no carro.

- Me conta Ulisses, o que você tem feito todos esses meses? – perguntou Clara toda feliz, querendo saber de tudo.

- Ah Clara, eu to bem, trabalhei muito apenas e você? Pelo visto fez bastante coisas por lá hein?

- Pois é, segui seu conselho e quis dar uma mudada – respondeu Clara da maneira mais amistosa que lhe convém.

Clara não havia visto o resplandecer reluzente que pairava no rosto de Ulisses antes dela chegar, mas depois que ele a viu mudou tanta coisa.

- Clara porque você pintou o cabelo desse jeito? E quem te ensinou a fazer essas combinações com as roupas? Devo confessar, além disso, você mudou na aparência física também.

- Eu e minha prima nos divertimos muito lá em São Francisco, não fiz nada de errado Ulisses, relaxa.

- Eu to completamente relaxado.

Logo chegaram à casa da menina, não entraram, ficaram ali perto de um jardim. Ulisses disse para Clara que já ia embora, a menina ficou sem jeito, ele nunca esteve apressado quando ia para a casa dela e ela tentou contornar.

- Quando vamos comentar sobre o livro que me deu? Por falar nele, muito obrigada.

- Pelo o visto você não o leu, se leu não gostou.

- Porque diz isso?

- Por nada – Ulisses respondia sem olhar em seus olhos, a testa franziu e os olhos se rebaixaram.

- Porque você tá agindo assim Ulisses?

- Eu não sou bobo, Clara você nunca gostou de mim e nem vai gostar, sempre foi e sempre vai estar presa a hábitos mesquinhos que só se renovam a cada dia, não sabe realmente viver em plenitude – falou Ulisses de forma indelicada e já havia passado pela a porta de saída e estava de costas para Clara.

- Ei, espere! – disse Clara, e ele virou.

- Você tá agindo errado comigo Ulisses.

- Quem agiu mal com quem aqui? Eu já falei e vou repetir. Eu não sou bobo, Clara! Você não queria falar comigo, rejeitava minhas ligações e depois dizia que era problema de operadora, você mudou o jeito de ser completamente, sabe muito bem que não gosto de mulheres assim – Clara começou a chorar.

- E vou dizer mais, eu preferia a Clara de antes. Pode ficar tranquila não vou mais incomodar você, nunca mais!

- Ulisses espera, por favor! – gritou Clara chorando na porta de sua casa, mas o rapaz não deu ouvidos entrou no seu carro e foi embora.

Depois ela se tocou que agiu mal com o Ulisses. Logo após ele ter ido ela entrou e foi direto para o seu quarto. Quando pôs os pés no primeiro degrau da escada dona Clarice a intercepta.

- Filha, você não vai nem falar comigo? O que foi que você fez consigo filha, pra que o cabelo desse jeito?

Clara não disse nada, caiu nos braços de sua mãe e começou a chorar, chorar e soluçar sem parar.

- Ele não devia ter me tratado daquele jeito mãe, o rosto dele ficou diferente – E voltou a chorar mais uma vez.

- Calma minha filha, tudo vai ficar bem.

Sua mãe pediu que ela tomasse banho, comesse algo e depois desancasse.

- Filha amanhã agente conversa ta? Descanse bem.

Chorou mais um pouco até que dormiu.

Foi uma recepção nada agradável depois de tanto tempo fora da cidade, Clara achava que o rapaz estaria a sua espera todo sorridente como antes, a principio era o que teria acontecido, mas não ocorreu como o esperado para os dois.

Clara acordou com um susto, como se estivesse atrasada para a escola, logo depois se deu conta de que a escola tinha acabado, levou os olhos a janela e viu muitos outros jovens indo à escola de volta as aulas, quase que chora, suspirou se levantou e desceu para tomar café. Após o café, ligou imediatamente para André.

- Clara, quanto tempo! Que milagre tu ligar no meu celular – disse André, atendendo depois de ter visto o numero de Clara no celular.

- Advinha André! – disse Clara segurando uma enorme gargalhada.

- Não! Não acredito! Não me fala que tu já voltou pra me infernizar!

- Exatamente! Eu não diria infernizar... Agir em favor do meu humor. Quando é que eu vejo essa tua cara mal lavada com o resto da turma?

- Hum, tá toda saidinha, eu sou mais velho quatro meses pirralha! Prepara os comes e bebes que quando sairmos da aula vamos direto para sua casa.

- Ah, tá. Ok então, tchau... Ei André, não fala pra ninguém que eu já cheguei não!

- Não sei por quê... Tá certo, tchau.

A menina tinha acabado de ter uma ideia. Ligou para a mãe do André e perguntou aonde ele estudava, ela respondeu que era no CIPES. O dia passou rápido e Clara ainda estava escondida, a não ser André e Ulisses ninguém mais sabia.

Às sete da noite a garota começou a se arrumar, deixou os cabelos soltos penteados para o lado, eram compridos, a quatro dedos acima da cintura, calçou a bota de couro com salto de doze centímetros que havia ganhado de sua prima Mirele, vestiu uma calça e uma blusa preta levemente decotada e pesou a mão na maquiagem. Quando Clara saiu do quarto e passou pela a sala dona Clarice levou um susto tão grande.

- Minha filha, que roupas são essas? – perguntou espantada, afinal sua filha não era de usar aquelas roupas, seus pares de tênis ficaram todos de férias.

- Culpa sua mamãe que me incentivou a passar férias fora, Mirele disse que todas as meninas lá em São Francisco se vestem assim, eu ainda to muito é simples comparada a Mirele.

- Mas você deixa levar muito fácil Clara.

- Ah mãe, o que tem de mais usar essas roupas? Eu to me sentindo bem, é isso que importa.

- E você vai pra onde desse jeito?

- Vou fazer uma surpresa – respondeu a menina com um sorriso malicioso no rosto.

- A mesma surpresa que fez ao Ulisses? – disse a mãe e a filha ficou imóvel, de olhos bem abertos, se sentou em um sofá e ficou reflexiva.

- Será que eles vão gostar de me ver assim mamãe?

- Eles quem?

- A Carlinha, André... O Anderson!

- Você os conhece muito bem filha, você é quem sabe.

A moça resolveu ir daquele jeito, como sempre com cinco passos fora de casa já havia se esquecido de tudo, as casa da menina até a escola era longe, não dava para ir caminhando, resolveu pegar um taxi. Quando chegou, nem achou que era de fato uma escola e ouviu o seguinte comentário de uma garota, “ e aí gata “, Clara ficou horrorizada e acelerou os passos, as paredes eram todas pinchadas, tinha gente nos corredores, tinha gente que jogava truco e vendia outras coisas lá, enfim, Clara se sentou em um banquinho do pátio da escola e esperou. Não dava pra saber se era horário de aula ou intervalo, nos dois tempos os corredores e a escola era cheia de pessoas, daí, a garota decidiu dá uma ligada para o seu amigo André.

- Oi André, já falou para o pessoal que eu cheguei.

- Já sim, todo mundo tá ansioso, o Anderson coitado, ficou branco.

- Não me admiro. Qual é o número da sala de vocês?

- Porque? Você está aqui?

- Fala André, o número da sala!

- Sala nove.

- Ok, tchau.

A garota começou a procurar com os olhos a sala de número nove, mas não achava. Ficou ali sentada uns bons trinta minutos, eram apenas dez salas na escola, só que as salas eram enormes, cabiam quase setenta alunos. Depois de tanto esperar finalmente Clara viu que havia pessoas saindo de suas salas, se caminhassem um pouco mais rápido poderia se dizer que era um incêndio. Clara procurou e não achou a sala, se esqueceu de olhar para trás.

No intervalo, Carlinha chama Anderson e Vanessa, disse que pagaria lanche para todos na lanchonete. André chegou bem perto do ouvido de Anderson e sussurrou, “a Carlinha não trabalha, o Jackson ganha tão bem assim para ela tá pagando lanche todo dia pra todos nós?”. Anderson ficou calado.

Como ver pessoas vestidas de todo jeito virou um hábito, nem notaram a presença de Clara ali no pátio, as meninas estavam mais atrás dos meninos. Carlinha estava ombreada com sua amiga conversando sobre tudo e sobre todos e Vanessa fez um comentário de uma pessoa que estava sentava logo ali perto.

- Carlinha olha a tragédia que aquela garota fez no cabelo dela, ela só pode ter perdido a noção, a razão e o bom senso. Cor-de-rosa e vermelho no cabelo, nunca vi! – Falou Vanessa se rasgando de rir, Clara acabou ouvindo e virou as costas para reclamar:

- Quem você pensa que é para falar sobre cores de cabelos?

- Clara... – disse Carlinha estupefata, de olhos e bocas bem apertos.

- Clara... – disse Vanessa também.

Os meninos que estavam conversando entre si se deu conta de algo e olhou para frente viu Vanessa e Carlinha paradas olhando para uma garota muito conhecida, e disseram os dois juntos.

- Clara...

Clara que havia começado a falar ainda de costas viradas se surpreendeu a olhar com quem estava falando. Por alguns três segundos a escola não havia mais ruído algum para os cinco, era apenas um silêncio nefasto que os envolvia. A moça de costas estava irreconhecível, mas quando ela virou Vanessa se surpreendeu, o vermelho e o cor-de-rosa no cabelo tinham combinado perfeitamente com o rosto branco, claro, arredondado com o queixo levemente afilado, as sobrancelhas finas e rasas evidenciavam mais a serenidade da menina, em contrapartida à sua personalidade dava o contraste com o qual fascinava Anderson, para ele que também estava estagnado, não viu cor alguma, nem roupas, nem nada, viu simplesmente Clara a menos de dez metros a sua frente. Vanessa começou:

- Clara, eu não sabia que era você, aliás, ninguém aqui sabia que era você...

- Nem eu Clara, é que você tá tão assim diferente e aqui nessa escola tem tanta garota que se acha que eu... – disse Carlinha quase sem argumentos.

- Chega! Vocês não vão começar uma hora dessas né? Pessoal é a Clara! Estávamos agora pouco pensando como seria quando víssemos ela, e agora ela está ai a nossa frente! – disse André tentando impedir o começo algo pior.

- André você está um diplomata genuíno, mas você viu quem foi que começou né?

Se Clara pensasse e acordasse um pouquinho mais para o que estava em sua volta já teria percebi Anderson.

- Eu não queria de jeito algum que nós duas começássemos assim – disse Vanessa tentando abrandar.

- Minha amiga, esquece isso, foi apenas um comentário, não sabíamos que era você. Devo dizer que agora vendo você de frente está mais linda que antes, eu falo isso com toda sinceridade – talvez Carlinha estivesse falando mentira, mas serviu para acalmar a moça.

- Clara... – soou uma voz máscula e ao mesmo tempo doce, transparecendo nervosismo, ansiedade e alegria, era Anderson.

Clara estava em pé, à sua frente estava o banco, logo mais estava Vanessa, Carlinha e André que anteriormente se juntou a elas, Anderson ficou no mesmo lugar a apenas um passo depois da porta da sala. A moça rapidamente focou em Anderson e mudou de semblante, os cílios passaram a tremer e os olhos lotados de sombra a brilhar, a respiração ofegar, mas a testa ainda permanecia rígida e franzida.

- Você está diferente... bem diferente... Você fez tanta falta – continuou Anderson.

- E tu nunca muda, irritantemente calmo como sempre. Anda, me dá um abraço – completou Clara.

Era como se estivesse hipnotizado, André e as meninas abriram alas para ele passar e foi caminhando até o encontro de Clara. Quando faltavam três passos de distancia os dois correram e quase machucam um ao outro, o rapaz com a mão esquerda segurou-a pela a cintura e com a direita lhe cruzou as costas até alcançar o ombro abraçando fortemente, e ficaram assim por quase dez segundos até que ele se mexeu inclinando a face para a dela a fim de beijar-lhe, a garota percebeu o movimento a se afastou sem que ninguém percebesse e ele se afastou também para melhorar a situação, afinal ele sentiu o rejeitar da garota.

Anderson talvez não tivesse coragem de beijá-la ali no meio do pátio na frente de todos, agiu mais pela emoção e momento, evidente que o beijo dos dois não ocorreria nessas circunstâncias.

Carlinha sugeriu a todos que matassem o segundo tempo para irem à casa de Clara, pois indo mais cedo teriam mais tempo. E foi o que aconteceu, saíram dali imediatamente, Carlinha ligou para Jackson, logo ele chegou e foram todos juntos.

Dona Clarice serviu tortas salgadas, lasanha, refrigerante e no final sorvete caseiro de chocolate, enquanto comiam não paravam de falar nenhum minuto, estavam todos tão contentes com a volta de Clara que ela nem percebeu que Carlinha e André não estavam se dando muito bem, não diferente também Jackson e Anderson. Isso no futuro ainda renderá muita confusão.

No meio dessa longa conversa, Anderson falou espontaneamente, “minha casa”, Clara levou um susto, ai André fez questão de contar a história para a menina, logo após o rapaz foi à cozinha pegar outro tipo de refrigerante e Clara resolveu ir atrás dele.

- Ei André, quer dizer que depois da morte do tio do Anderson aconteceu isso tudo, ele mora sozinho em uma casa?

- A vida foi cruel com ele, mas ele ta conseguindo vencer, com muita luta. Admiro muito ele.

- Porque você comentou que ele tá quase comprando um carro?

- A Metalvorada paga muito bem. O Jackson mesmo por exemplo, trabalha lá a seis meses e já tem casa, carro e vive bem.

- Nunca imaginei que o Anderson fosse se dar bem assim.

- Isso só aumenta o partido dele né?

- Para de graça André, nunca liguei pra isso, espero que agora ele fique menos tímido, aliás já está, ele, você! O que você andou tomando?

- Não bebo – sorriu um pouco André – Não sei Clara, a Vanessa tem pegado muito no meu pé, não sou mais o André de antes, teve um momento que minhas piadas já não tinham mais graça, daí me toquei.

- Entendo.

Vanessa nota que André tá demorando muito na cozinha e vai atrás. Na cozinha ela o vê com Clara conversando, entra e abraça seu namorado de lado e pergunta.

- Amor, porque você demorou tanto pra pegar refrigerante?

- Não se preocupe Vanessa, ele já estava saindo, eu estava ajudando ele a encontrar o refrigerante – Clara falou com um sorriso sarcástico nos lábios e saiu.

- O que vocês estavam conversando aqui e sozinhos?

- Nada de mais, vamos voltar lá pra sala.

Na verdade esse grupo de jovens composto por Clara, Jackson, André, Carlinha, Anderson e Vanessa estava todo problemático, pequenas intrigas, algumas confusões, porém, quando estavam todos reunidos eram como se estivesse às mil maravilhas.

Já no final, um pouco antes de irem embora, Carlinha dá ideia de no sábado irem todos ao lago Rare, dessa vez seria depois do almoço, porque Jackson e Anderson estariam trabalhando pela manhã, na verdade o setor administrativo não trabalha aos sábados, o gerente do setor fiscal esteve alguns dias com problemas de saúde e ficou muitos trabalhos pendentes, A diretoria geral acabou solicitando aos fiscos que fossem trabalhar ao sábado.

Jackson disse:

- Amanhã ainda é sexta, ou seja, trabalho. Temos que ir, tchau pessoal, tchau Clara até sábado.

- Gente, muito obrigada pela visita, vocês são de mais – respondeu Clara.

- Eu sei que não somos amigas ainda, mas eu desejo que sejamos grandes amigas, afinal, não posso ser inimiga da melhor amiga do meu namorado – disse Vanessa.

- Claro que não querida, tudo há seu tempo – sorriu Clara forçadamente.

- Clara tu ficou doidona com esse cabelo, foi uma mudança e tanto, mas é bom ver que você continua a mesma chata de antes – disse André sorrindo.

Todos foram. Anderson ficou sentado no sofá da sala ainda, obviamente nenhum dos seus amigos quis questionar em voz alta o porquê de ele ter ficado ali, consequentemente já sabiam a resposta. Quando a moça fechou a porta e se virou para dentro de casa, deparou com Anderson e falou algo meio que mecânico:

- Ah, Anderson, você ainda está aí?

- Sim, se eu fosse junto com eles você poderia me chamar de covarde de novo.

- Eu nunca te chamei de covarde – disse Clara com a voz um pouco alterada.

- Lá no lago, aquele dia, a última vez, você não tem ideia do que as suas palavras causaram e mim.

- Tá, e eu falei alguma mentira?

- Não quero discutir. Quero dizer que com isto acabei mudando.

- Eu to vendo. Agora mora sozinho, tem um bom emprego, é natural que as pessoas mudem.

- Continuo o mesmo em relação a isso do que estar falando – Ele levanta do sofá e caminha em direção a ela – Clara, nos últimos meses muita coisa aconteceu comigo e eu tenho adquirido experiências fundamentais para o meu trabalho e até para relacionamentos.

Enquanto Anderson caminhava lentamente para perto da moça, ela ficava abismada com as palavras dele, lhe fazendo perder os movimentos e ficar intacta ali em pé apenas olhando para ele. Ele estava com um olhar mais focado, já não baixava os olhos e a voz tinha um tom intrépido.

- Você não tem ideia da falta que me fez Clara.

- Tu mudou muito Anderson, nos tempos da escola acho que você nunca teria coragem de planejar algo pra ficarmos sozinhos.

- Quando tu me falou aquilo no lago eu fiquei pensando nisso durante muitos dias e vi que tudo era verdade, eu sempre fui sem atitudes, desajeitado, mas agora eu to aqui pra corrigir o que fiz de errado durante tanto tempo, da frustração que causei em você. Estou aqui Clara para dizer tudo o que eu sempre quis, foram tantos anos...

Dona Clarice percebeu que o barulho da sala tinha terminado e foi até à sala para falar com a filha, chegando interrompe Anderson.

- Clara minha... – Ah, você ainda está ai com o Anderson.

- Ele disse que já está indo mamãe, eu subo nesse instante.

A mãe da garota foi dormir, o quarto dela fica no primeiro piso da casa, porque ela já não tem tanta disposição para subir e descer escadas.

- A mamãe quer que eu vá dormir Anderson.

- Toda vez tem alguma coisa que impede, quando vamos poder ficar a sós de novo?

- Esperamos tanto tempo porque não esperamos mais? Quanto mais se espera mais emocionante é quando chega.

- Chegou toda filosófica de São Francisco – Sorriu Anderson, o pobre rapaz não aguentaria, ela estava totalmente atraente naquelas roupas e com aquele cabelo, ele também não é bobo percebeu que os lábios dela faltavam era falar pedindo um beijo – Clara eu não posso resistir...

- Clara minha filha, diga para esse rapaz ir embora e vá dormir! – dona Clarice parece que estragou a parte melhor. Clara apenas sorriu para Anderson e passou a mão levemente pelo o queixo de Anderson e deslizou pelo o peito dizendo:

- Você precisa ir, você trabalha amanhã cedo e eu não quero te atrapalhar.

- Tá certo. Nos vemos quando?

- Eu dou um jeito, mas não fica desesperado não! Tudo acontece no tempo certo é só esperar – Anderson sorriu e disse tchau.

O rapaz foi embora como se estivesse com pressa, eu diria que foi de euforia ou medo de ficar mais um minuto ali e ouvir a voz de dona Clarice pedindo pra filha ir dormir. No clima entre os dois surgiu uma interrogação enorme, quando é que ia acontecer de fato o que tem pra acontecer entre esses dois? Foi essa a mesma pergunta que Clara fez para si mesma antes de deitar, não diferente com Anderson, se for para acontecer, vai acontecer, só que no tempo certo.

Quem disse que Anderson dormiu aquela noite? Entrou em seu apartamento, tirou a camisa e os sapatos e sentou no parapeito de mármore de uma grande janela de vidro que ficava na sua sala de estar e que ficava a quatorze metros longe do chão. Ele percebeu que o que Clara tinha dito tem toda razão, esperar o momento certo é bem melhor do que adiantar, sempre evita problemas. Ele ficou sentado ali durante horas olhando para o céu totalmente estrelado pensando que aquilo que eles estavam vivendo, a ansiedade, o medo e o amor era o misto de sentimentos mais marcantes que se poderia ter e viver eles intensamente deixando o tempo correr era o melhor a ser feito e sem dúvidas no futuro teria muita coisa para contar.

Na manhã seguinte para Anderson tudo ocorria bem, sem stress e nem estava com sono apesar de ter dormido apenas quatro horas e meia. Depois que se mudou da casa de Jackson passou a ir para o serviço de ônibus e quando passava pela sala de Jackson e o via sempre o cumprimentava. A relação entre os dois havia melhorado. Não evoluído, ao invés de se tratarem mal simplesmente não se falavam e quando se falavam eram restritos rigidamente ao necessário. Às dez da manhã todos os funcionários da Metalvorada foram alertados para irem o salão central ao térreo do prédio, era um aglomerado de mais de cem pessoas, nem parecia que cabia tudo naquela empresa, passado alguns minutos o Diretor Geral toma a palavra ao microfone.

- Prezado colegas de trabalho, agradeço o esforço de cada um para desenvolver o trabalho que lhe são solicitados ajudando para o crescimento desta organização. Superamos vários obstáculos para chegarmos até aqui. E se chegamos até aqui é porque teve pessoas que cooperou muito dando tudo de si para formar o que a Metalvorada é hoje e é com enorme tristeza que vejo anunciar que perdemos uma grande coluna da nossa organização, senhor Augusto Frenchianni Rios – diretor do departamento fiscal faleceu nessa madrugada as quatro da manhã...

Enquanto o diretor geral continuava falando Anderson olha para esquerda espantando e quando foca o olhar avista Jackson que parece que teve a mesma reação olhando para a direita. Os dois fizeram uma cara de quem queriam comentar sobre o assunto, mas nenhum dos dois cederam, e voltaram a prestar atenção no que o diretor estava falando.

-... Como a Metalvorada é nova no mercado de trabalho e não possui profissionais com longa experiência quero informar que o novo diretor de departamento fiscal será um dos fiscos que já trabalham no setor, são cinco fiscos e será feita uma seleção rigorosíssima a fim de escolher o melhor para o cargo. Eu sei que os trabalhos acumularam, mas amanhã todo o setor administrativo não trabalhará, e voltaremos às atividades normais da empresa a partir de segunda feira. Obrigado e tenham um bom dia.

Laercio Miranda
Enviado por Laercio Miranda em 20/05/2011
Código do texto: T2982477
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