[Original] The Simple Plan - Capítulo 39
___________________________________________________________ Sábado I - Vou embora mas eu nunca disse adeus
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Paolla Santana
Sabe quando você se encontra pensando em tudo o que você fez? Lembrando de cada passo da sua vida, olhando seus erros, avaliando os acertos? Eu acordei assim na sexta-feira que antecedia meu aniversário de 18 anos.
Não estou mal, só estou... Sei lá. Todo mundo já acordou se sentindo “sei lá.” É normal. É quando você não sabe se está mal ou não. Se quer ou não quer Ao me levantar, lembrei-me de que eu tinha que aprender a segurar a minha boca e poupar as pessoas de ouvirem certas coisas. É, eu acordei as 9h00 da manhã (sim, eu perdi o horário da escola e não estou nem um pouco incomodada com isso) lembrando da minha briga com Diego. Nós ainda estávamos dividindo meu quarto.
Sentei na cama e olhei pra ele dormindo todo largado no chão, tadinho. Eu tinha que me desculpar. Diego vai embora amanhã e se eu deixa-lo ir embora brigado comigo jamais me perdoarei.
“Ok, você tem duas alternativas: Deixa ele dormir e o esquece de vez... ou se desculpa e fica com a consciência limpa!”.
E eu escolhi deixá-lo dormir! Não, brincadeira. Eu escolhi me desculpar. Já que vou para o inferno mesmo, que pelo menos eu vá com a consciência limpa de que Diego me perdoou.
– Diego. – chamei, encostando meu pé em sua perna.
Ele resmungou algo como: “Todo colorado é viado” e virou para o outro lado. Eu decidi descer pra tomar café e encontrei minha avó na sala assistindo TV.
– Vó. – Ela me olhou e deu aquele sorriso dela, meio forçado. Como eu sabia que não tinha feito nada (ela faz isso quando eu piso na bola, tipo, essa velha é torturadora), eu perguntei qual era a dela: - O que foi?
– Sua mãe está pior do que antes, me pergunto o que fiz pra merecer isso.
– Você a deixou vir porque quis! – Exclamei, ríspida. Por mim só o Diego vinha.
– Ela é sua mãe!
– Oh, fantástico!
– Paolla, eu não poderia impedir. – Minha avó deu um suspiro cansado. Eu me sentei ao seu lado no sofá e deitei a cabeça em seu ombro.
– Poderia sim.
– Paolla... Logo ela vai embora e nossa vida voltará a ser a mesma. – Ignorei a dor em meu peito. Isso significa que Diego também vai embora.
– É, eu sei.
– Tenho que ir ao mercado, sua mãe saiu com as crianças. Eu volto à tarde.
– Porque de tarde? E se eu morrer de fome? E se um tarado invadir a casa e tirar minha pureza?
Ela me deu um tapa na testa. Sim, minha avó é única.
– Para de falar idiotices, usou alguma droga pesada?
– Não vó! Poxa... – Eu fiz um bico.
– Ótimo! Eu vou passar na casa da Maria, ela esta com fofocas quentíssimas pra me contar do pessoal do bingo.
– Velha fofoqueira. – Murmurei baixo, quando ela levantou.
– Eu ouvi isso hein! E ah, eu já coloquei o café na mesa, chame Diego.
– Ok! – Credo! Como ela esta estranha. Com certeza minha mãe tem algo a ver.
Minha avó saiu rapidamente e eu dei um longo suspiro.
Eu já estava pensando em me levantar quando Diego desceu as escadas trajando apenas uma calça moletom e exibindo aquela barriguinha sarada que... Sinceramente... Ai, ai...
– Cadê todo mundo? - Ele perguntou, parando perto da escada. Cara... Como pode ser tão lindo?
– Saíram. - Respondi, rapidamente. Diego seguiu pra cozinha. – Diego...
– O que é? – Eu merecia que ele fosse rude, então não me abalei.
– Está muito chateado comigo?
Diego riu sem um pingo de humor.
– O bastante pra não falar contigo por meses!
– Eu sou muito idiota, me desculpe.
– Não tem problema... Como eu te disse ontem, foi bom tu ter dito aquilo... Bom demais.
Ah gaúcho filho da mãe. Rancoroso idiota!!!
– Diego, eu estava de cabeça quente, eu só falo besteiras quando to assim, você sabe.
– Paolla, não precisa tentar se desculpar, sério. – Eu o segui até a cozinha.
– Diego, você está chateado comigo, e eu não quero isso.
– Tanto faz, estamos indo, de volta pra casa... – Ele cantarolou, ma sua expressão continuava séria. Eu tinha entendido a indireta. Eu posso ser louca, mas não sou burra. Diego parou de costas pra mim, eu respirei fundo e o abracei por trás.
– Eu não posso perder você, eu já perdi pessoas demais.
– Tu não vai me perder. – Ele disse, enquanto se virava, ficando de frente pra mim. Os olhos azuis acalmaram-se um pouco.
– Eu sou tão...
– Idiota? É. – Eu arqueei a sobrancelha ao ver a expressão triste dele dar lugar a um sorriso canalha. – Mas não vamos perder tempo.
– Ah não?
– Não. – Diego mordeu meu lábio e foi me guiando de volta a sala, até o sofá. Eu entendi isso como um “eu aceito seu pedido de desculpas”. Ele havia me tirado um peso imenso das costas. – Eu gosto de ti... Demais até.
Era engraçado como tudo em minha vida acontecia de maneira inesperada, por mais que eu já soubesse disso, eu não conseguia deixar de me surpreender. Diego me beijou com vontade. O que eu acredito ser o verdadeiro desejo dele desde que tudo isso começou. Eu também o queria, o queria na mesma intensidade. Com Diego eu fugia do universo complicado que era amar alguém como Eduardo. Eu me refugiava quando estava com ele, é isso.
– Eu gosto de estar contigo. – Ele disse, quando parou de me beijar.
– Eu gosto de estar contigo também.
Diego me olhou por um longo tempo, parecia estar dividido em algum dilema interno.
– O que foi? – Eu perguntei, mexendo-me embaixo dele de maneira provocativa.
– Invejo o guri que tu gosta, invejo mesmo.
E do nada ele saiu de cima de mim, indo num silêncio mortificante para o quarto que dividíamos.
Eduardo Mendes
Eu acordei na terceira aula (Bem, não era de meu costume dormir na sala, mas eu estava cansado) com uma sensação esquisita. Sabe quando você acorda com a sensação de que algo esta errado? Pois é, eu acordei assim. Emanuella trocamos um olhar significativo. Melissa não entendeu. Mas eu sabia, eu tinha plena consciência de que o que estava me acontecendo era relacionado à Paolla. Ela não tinha vindo à escola hoje.
– Paolla? – Perguntou Emanuella. Ela me entendia com um olhar, cara, essa garota deve ser minha irmã! O que eu acho provável... Ainda sonho com o dia que minha mãe vai falar que Eric foi adotado.
– Sim, quero falar com ela.
– Ela não quer te ver, Edu. – Melissa disse. Bem... Ela estava certa.
– É, ela não quer nos ver.. – Johnny concordou.
– Sim, não insista. – Emanuella finalizou assunto. Ela andava tão mal desde que terminara com Tiago. O motivo...? Ninguém sabe.
Eles estavam certo, fato. Mas nem assim eu desisti da ideia de ligar pra ela...
(...)
– Paolla? – Eu pedi para o professor de química me deixa sair da sala, inventando um motivo qualquer. Ao me responder, notei que a voz de Paolla era sonolenta.
– Sim, eu.
– Como vai? - Eu sei que deveria tomar jeito e a deixar ser feliz, mas eu não consigo, não mesmo. E eu sei que a impressão ruim que tive mais cedo é relacionado com ela.
– Ahhhhh, por favor, Eduardo! Você está me ligando a essa hora pra que? Nem no dia que antecede o meu aniversário você me deixa em paz? É tanto amor assim?
– Quanta agressividade... O que me consola é saber que tudo isso não passa de amor.
– É, todo pecador tem que ter algo ao que se apegar. Você sabe do que eu to falando não é Eduardo?
Se tem um sarcasmo que eu não posso viver sem, esse sem dúvidas é o de Paolla.
– Está indo na igreja? Poxa bem que você precisava mesmo!
– Ok. Era só isso que você queria saber?
Ao fundo eu ouvia uma voz que não era a dela. Eu mordi o lábio, pedindo que não fosse o maldito gaúcho ao seu lado, mas meus pedidos foram por água a baixo ao ouvi-lo nitidamente.
– Quem esta com você?
– Diego. – Eu já sabia a resposta, mas mesmo assim não evitei a pergunta.
– Fazendo?? - Ela não me respondeu. Eu insisti. – Se você por acaso não percebeu, eu te fiz uma pergunta e eu quero uma resposta.
– Quer mesmo saber o que ele faz aqui? – A malicia na voz dela me deixou ainda mais irritado, se possível.
– Ótimo, vamos bater palmas para Paolla Santana! – Eu segurei o celular com a boca e comecei a bater palmas, ela tinha transado com ele, isso era tão óbvio que chegava a me dar nojo. Tirei o aparelho da boca e coloquei próximo ao ouvido.
Paolla soltou uma gargalhada.
– Obrigada, mas é amanhã meu aniversário!
– VOCÊ TRANSOU COM ESSE FILHO DA PUTA? - Ela ficou muda ao telefone. – Me responde!
– Porque acha isso?
– É pra responder sim ou não.
– Que drama... Você achou que seria com você que eu perderia minha virgindade? – Ponto pra mim, que apesar de tudo, ainda sou bem inteligente, ou talvez isso estivesse muito na cara. Ela forçou uma calma que não era dela. – Me poupe.
– E FOI BOM PRA VOCÊ??????? – Berrei, apertando o celular com muita força. Uma garotinha que parecia estar na 5ª série me olhou com os olhos arregalados antes de correr desesperada pelo corredor.
- Não tenho do que reclamar.
– SABE O QUE VOCÊ É? - Perguntei aos berros. Eu tremia de tanta raiva.
- O que eu sou?
- UMA IDIOTA! ISSO QUE VOCÊ É PAOLLA!
A gargalhada que ela deu fora um pouco mais alta e debochada.
– Ué? Cadê o cara cheio de ego de alguns minutos atrás?
– EU QUERO TE VER AMANHÃ! E SE VOCÊ NÃO FOR EU VOU ATÉ A SUA CASA E ISSO NÃO VAI SER BOM TA ME OUVINDO? EU JÁ ME CANSEI DISSO!
Sabendo que teria como resposta mais uma gargalhada eu desliguei o celular e voltei pra sala.
Em casa eu me peguei ouvindo música que deixava minha autoestima no pé. Apesar de não ser do meu feitio, eu não consegui evitar. Esse sentimento por Paolla é algo que me mudou de verdade.
Eric entrou no quarto rindo alto. Eu o olhei preocupado. Esse meu irmão é retardado.
– Do que você está rindo? – perguntei.
– Babi faz-me rir.
– O certo é: “me faz rir”. Sério Eric, como você conseguiu chegar ao 3º ano sendo mais burro que uma porta? – Ele fez uma cara de tédio.
– Meu charme, beleza e carisma sempre seduziram as professoras... Qual é? Não me culpe por ser a cópia brasileira do Justin Bieber.
– Vai a merda! – Eric sentou em minha cama. Eu desliguei meu rádio.
– E a fera ferida?
– Transou com o gaúcho... – Respondi, naturalmente demais.
– Como é????? – Eric ficou espantado. – Ela transou com ele e não comigo? Mas que desgraçada...
Taquei uma almofada no meu “irmão”.
– Tá louco?
– Brincadeira. – eu arqueei a sobrancelha, ele sorriu sem graça. Eric acha que eu não sei que ele ainda tem uma leve atraçãozinha pela MINHA garota.
– O caso é... ela perdeu a virgindade com ele. E eu confesso que estou me sentindo bem mal com isso.
– Como você pode ter tanta certeza de que ela foi pra cama com ele?
– O deboche na voz dela.
Eric franziu o cenho, mas não contestou.
– Ela usou camisinha? – Perguntou, sério.
– Eric, eu realmente preferi não saber detalhes... Sabe como é né...
– É, belo presente o gaúcho deu a ela ou será ao contrário? – Ele fez uma expressão pensativa.
– Você não está ajudando...
– Desculpe, mas estou surpreso com isso.
Eu assenti. Ele podia estar até surpreso, mas nada se igualava ao que estava sentindo. Eu estava magoado, me sentindo traído. Cara, era uma sensação muito ruim. Ah droga! e eu ainda tenho que ir buscar o presente da cretina. Estou pensando seriamente em não comprar. Ela não merece.
Paolla Santana
– Sem choro, por favor! – depois de uma semana totalmente apegada a Diego. O gaúcho estava voltando pra casa... Ta, eu sei que minha mãe também vai, mas o que me importa é ele, e não ela.
– Que bom que sabe, idiota. – Respondi, enquanto parávamos na entrada de casa. Minha mãe, avó e as crianças vinham logo atrás. Nos abraçamos e ele sorriu, olhando em meus olhos.
– Tu sabe que não perderemos o contato, né? – Ele perguntou.
– Sei, você prometeu. – Respondi, me aconchegando pela ultima vez naqueles braços fortes. Diego sorriu feliz, eu beijei seu rosto. Ele lentamente foi virando para eu beijar sua boca e assim eu fiz.
– Eu sempre irei te amar guria paulista. – Ele sussurrou em meu ouvido. Minha vó deu um pigarro, minha mãe fez cara feia, mas eu não estava nem ai pra elas.
Nos afastamos e minha mãe me deu um sorriso de canto e me disse apenas um “Sentirei saudades, Paolla.” Palavras tão frias...
Ela entrou no táxi com as crianças e Diego me olhou, novamente.
– Ah... – Eu não esperei ele dizer mais nada, simplesmente corri e o beijei novamente. O ultimo beijo. O de despedida.
– Se cuida, Paolla.
– Você também...
E com aquele sorriso que era capaz de arrasar quarteirões, vilas, cidades, Diego entrou no carro, deu uma piscadinha e o táxi deu partida.
“Ele vai fazer falta.” – Pensei, sorrindo tristemente.
– Vem, vamos entrar. - Minha avó disse, quando o táxi já estava bem longe.
– Já, já... Pode ir entrando... – Eu como estava de costas pra ela não vi a expressão que ela fez, mas com certeza foi cara feia. Olhei pra esquina da rua e vi Emanuella e Melissa, ambas de mochila, com certeza vieram direto da escola. Esperei elas se aproximarem e então sorri.
– “Amigas”... Quanto tempo, não?
Dei uma ênfase bastante maldosa na primeira palavra. Elas pareciam receosas em falar comigo, no fundo sabiam que a conversa seria bastante tensa.