Clara - Saudade, Gravata e Intriga - VII

Capitulo vii

SAUDADE, GRAVATA E INTRIGA

Na terça feira Anderson sai cedo rumo à escola onde trabalha e explica cuidadosamente a ligação que havia recebido.

- Tudo bem, pode ir – disse a diretora da escola para Anderson.

Sem dúvidas a Metalvorada oferecia algo muito melhor que a escola. O jovem teria agora oportunidade de evoluir. Anderson reconheceu isso de imediato e estava lá pontualmente no lugar combinado. A entrevista foi chata, várias perguntas que pareciam não fazerem sentido. No fim fora decidido que ele teria uma semana de treinamento no setor fiscal da empresa, o esforço e desenvolvimento do rapaz diriam se ele ficaria ou não com a vaga.

- Amanhã o senhor procure por Jackson no Fisco II, ele deu ótimas recomendações suas e supomos que ao lado dele você terá mais facilidade – disse Valdelice.

- A lista de documentos está aqui – deu um papel para ele – Traga-os amanhã as oito em ponto e começará logo a trabalhar, boa sorte Anderson e até mais – concluiu Valdelice.

- Muito obrigado, tenha um bom dia – despediu-se Anderson.

Pegou o elevador, desceu e foi rumo a sua casa pensando se teria feito uma escolha certa, trocar a escola pela Metalvorada. Esses pensamentos não duraram muito, no horário de almoço, Jackson foi enchendo a cabeça de Anderson de coisas, dando força e o animando para o novo trabalho, Carlinha havia ficado muito feliz e até comentou: “Agora só falta eu trabalhar lá também”.

Naquela segunda feira à noite depois do cursinho, Carlinha deu uma ideia de todos irem a casa dela para falar com Clara ao telefone, acabaram aceitando. Quando chegaram foram todos para a sala onde estava o telefone e Carlinha ligou.

- Oi amiga, como você tá? – disse Carlinha iniciando.

- Ah eu to ótima, se não fosse a saudade matando... E você como estar?

- Eu to bem também, hoje você vai falar com todo mundo, tem uma fila aqui enorme, muitas novidades, você vai adorar!

- Todo mundo... Isso inclui o Anderson?

- Lógico! E hoje você não vai fugir dele, vai falar com ele sim!

- Você me põe em cada uma...

- Ah! O André! Advinha!

- Ganhou na mega sena?

- Bem mais que isso, tá namorando a Vanessa!

- Ah... Não acredito! Meu Deus do céu! Quero falar com ele, rápido!

- E ai Clara tudo bom? – disse André.

- Como é que é? A Vanessa? O Anderson não se chateou não? Como aconteceu?

- Ah, aconteceu! To muito feliz ao lado dela, agente se deu muito bem, até hoje fico bobo como tudo isso aconteceu, foi rápido de mais. O Anderson não sentia nada por ela, aquilo foi coisa de momento. A Carlinha viu que nós dois estávamos solteiros e quis fazer uma caridade.

- Hahaha! Que maravilha! Fico muito feliz por você. Tá todo mundo namorando, agora me deixa falar com a Vanessa.

- Oi Clara – cumprimentou Vanessa.

- Olha aqui, se você fizer o André sofrer o mínimo que seja, você vai se ver comigo quando eu voltar!

- Calma garota! Minha intenção não é essa.

- Espero que não! Deixa eu falar com a Carlinha de novo.

- Oi amiga.

- Joguei a “real” pra essa tal de Vanessa.

- Nossa. Você tá um pouco diferente.

- Cidade grande faz isso – Sorriu Clara – Não vejo a hora de cair no Lago Rare com todos vocês.

- Paciência amiga, quando você chegar vai tirar o atraso. Ah, o Anderson foi contratado pela Metalvorada e vai trabalhar junto com o Jackson.

- Serio? Nossa que legal! Que bom! Fico feliz por ele.

- Você não vai querer falar com ele? – Carlinha não esperou a resposta e passou o telefone para Anderson dizendo: “Ela quer falar contigo”.

- Oi Clara, tudo bom? – Disse Anderson.

- Annde-de-der-son?

- Sim sou eu, não precisa ficar nervosa.

- Eu na-não to ner-vo-vosa é que eu não esperava fa-lar con-ti-tigo agora.

- Como não se foi a Carlinha que disse... Ah deixa pra lá.

- Ta com sa-saudades de mim? – perguntou Clara.

- Sim estou e você não tem ideia do quanto eu precisei de você aqui comigo. Meu tio morreu, Clara.

- É, a Carlinha me ligou avisando. Mas eu não vou demorar mais, faltam só mais dois meses, eu estou concluindo um curso aqui e volto para vocês em pouco tempo.

- Não demora mais – Anderson ficou vermelho nessa hora e abaixou a voz para que os amigos que estavam na sala não ouvisse o que ele diria.

- Clara me arrependo tanto de não ter te falado tudo o que era pra ser dito antes de você ir embora, como eu fui idiota com meu nervosismo e medo.

- Eu vou voltar Anderson, e quando eu voltar nós vamos conversar com mais calma. Agora eu preciso desligar, manda um beijo para todos e diga que amo muito cada um. Tchau fica com Deus.

- Tchau Clara – despediu-se Anderson com uma voz triste e desmotivada.

- E ai Anderson, gostou de ter falado com ela? – perguntou Carlinha.

- Só pra aumentar mais a saudade.

- Bom. Vocês vão trabalhar amanhã cedo e eu quero levar a Vanessa para um lugar antes de irmos para casa, até mais pessoal – falou André saindo pela porta.

Era a terceira noite que Anderson iria dormir em um lugar diferente, e esse desconforto perdurou por muitas semanas na casa de seus amigos.

Na manhã seguinte o sol surgiu acompanhado de muita chuva, mas não foi problema para o primeiro dia de trabalho de Anderson, pois, Jackson lhe levaria e lhe trazia todos os dias. Ao lado de Jackson o rapaz foi aprendendo tudo muito rápido, Jackson sentia prazer em ensinar alguém tão esforçado quanto Anderson.

As semanas passaram, a vida do jovem rapaz recém-empregado estava difícil, trabalhando o dia todo e a noite estudando, só tinha tempo para fazer suas coisas pessoais nos finais de semana. Mas os dias foram passando e as coisas estavam começando a se encaixar bem devagar, estava superando a morte do seu tio e crescia a cada dia no trabalho,

Os acontecimentos fortes e quase que simultâneos como a viagem de Clara, o ingresso no mercado de trabalho e a morte do seu tio que o fez morar em outro lugar invitou a maturidade, obviamente sua personalidade e caráter estavam sendo moldadas bruscamente pela vida, foi algo emergentemente necessário, mas o jovem conseguia superar sem mais problemas, contudo os problemas nunca cessam.

Tão depressa se passou um mês e lá estava Anderson recebendo seu primeiro salário no setor financeiro, saindo lá foi direto para centro de relações humanas a pedido da senhorita Valdelice.

- Fico feliz por você. Tenho visto seu desempenho e tenho lhe avaliado durante todo esse mês, quero lhe informar que você está apto a trabalhar efetivamente na Metalvorada e queria saber se você aceita.

- Evidente que sim Dona Valdelice, é o que esperava.

- Certo. Você continuará frequentando os minicursos que empresa oferece para melhorar sua dicção, comunicação interna, vocabulário, noções de administração, relações interpessoais, estratégias para tomadas de decisão e etc. Queremos que você evolua conosco.

- Claro que sim, tenho muito que aprender ainda. Muito obrigado Dona Valdelice e espero surpreender cada vez mais.

Voltou para a sala de Jackson que o esperava para ir embora para casa.

- E então, fez tudo como eu te falei?

- Exatamente igual.

- Muito bem Anderson, você vai longe.

Dentro do carro, indo para casa, Jackson pergunta.

- Desculpa eu perguntar, mas, quanto você ganhou?

- Oitocentos e trinta e dois reais.

- Mais do que eu quando comecei trabalhando aqui, seu salário vai oscilar bastante, depende da sua produtividade, mas eu não vi você trabalhando tanto para ganhar esse valor.

- Quer dizer então que me sai muito bem nesse mês, certo?

- É, mas se continuar com esse pensamento de que foi muito bem vai acabar regredindo, não se esqueça da humildade.

- Sim eu sei, foi apenas um comentário.

Natural qualquer pessoa se sentir com a estima elevada depois de elogiada. Depois disso não houve mais nenhum outro tipo de conversa até chegarem em casa.

- Já eram quase sete horas quando Carlinha, Jackson e Anderson se sentaram è mesa para jantarem, mesmo depois de um mês morando ali o rapaz ainda não se sentia completamente à vontade, os outros dois permaneciam mudos até quando Anderson resolveu quebrar o gelo.

- Eu queria ajudar com as despesas da casa, já saiu meu salário e eu acho mais do que justo cooperar.

- Olha Anderson, você já ajuda bastante nos trabalhos aqui de casa mesmo quase não tendo tempo, não acho que você dê prejuízo...

- O cara precisa pagar sim, se ele quer pagar, pois pague! – disse Jackson em voz meio alterada interrompendo Carlinha.

- E de quantos vocês precisam? – perguntou Anderson.

- Você diz Anderson – respondeu Carlinha.

- Quatrocentos reais. Está bom?

- Ah Anderson, também não exagera – disse Carlinha.

- Dinheiro não é problema pra ele Carlinha, deixa o cara pagar o que ele quiser. Agora vamos comer se não vocês se atrasam para o cursinho – disse Jackson com a testa franzida olhando pra comida.

Terminaram de jantar e foram. Durante o percurso até a escola ninguém não disse nada, por motivo algum o clima parecia tenso, Anderson se perguntava por que Jackson estava agindo daquele jeito, mas depois da aula de geografia ele acabou esquecendo. A tranquilidade e paciência do rapaz eram tamanhas, sua arma secreta para vencer os empecilhos.

Naquele dia a aula havia terminado mais cedo e Carlinha nem se importou em ligar para Jackson e pedir para que os viesse buscar, a garota tinha ido visitar uma prima que morava perto da escola. Anderson e André foram para uma lanchonete ali perto e ficou combinado de que quando Jackson pegasse Carlinha, passasse lá na lanchonete e pegasse Anderson para irem embora.

A lanchonete não ficava tão longe, uns oitenta metros, era uma rua estreita que os rapazes caminhavam, havia muito lixo e nas paredes muita pichação, as ruas estavam vazias e o ar estava úmido por conta do inverno, em algum lugar muito distante tocava um rock estilo anos oitenta que mesmo um americano nato não entenderia a letra devido a distancia e o chiado, mas dava pra perceber que era uma melodia reflexiva e que dava até arrepio se meditasse.

Iluminação fraca, o vento sopra mais forte e mais frio e uma matilha ofegante passa correndo cruzando a frente dos rapazes.

- Droga de cachorros! Quem foi que disse que tinha lanchonete aqui? – perguntou André um pouco irritado.

- Ali na frente, estamos chegando.

Enfim os rapazes chegaram à lanchonete onde não havia nenhum cliente, só uma mulher morena, baixa e gorda que segurava um cigarro aceso com os lábios e um boné laranja na cabeça. Provavelmente era a atendente.

- E ai meus amores, vocês vão querer o que? Suco, refrigerante ou leite de onça?

- Dois refrigerantes de latinha, por favor – disse André.

O lugar que de inicio foi tão estranho já não era mais e Anderson começou:

- Por que a Vanessa não foi hoje pra escola?

- Ela me ligou dizendo que tava com muita cólica – respondeu André, os dois se olharam e disseram ao mesmo tempo.

- Anderson tu já percebeu que... – falou André.

- André tu já percebeu que... – disse Anderson ao mesmo tempo.

- Cara, tudo mudou, há três meses não era nada do que vivemos hoje – André começou a falar e Anderson continuou:

- O Ensino Médio terminou, a Carlinha e o Jackson surgiram, a Clara viajou...

- Seu tio morreu você passou a trabalhar, a conviver praticamente com estranhos, porque aqueles dois nós conhecemos há pouco tempo. Eu sei, não deve ta sendo nada fácil pra ti. Eu, tu e a Clara sempre fomos tão unidos, felizes e de repente tudo muda...

O silencio dos dois perdura enquanto uma forte brisa fria lhes bate no rosto trazendo consigo um volume temporário mais alto do rock que estava tocando longe.

André retoma.

- Tá sendo complicado até para namorar... A Vanessa é muito legal, mas tem hora que ela é exigente de mais, mas dá pra superar...

- André, eu não sabia...

- É Anderson, sempre fomos nós três pra tudo, ta sendo difícil pra eu me adaptar também. Não que eu não ame a Vanessa, eu quero me casar com ela, mas é que eu não sei o que está acontecendo.

- Eu sei como é eu posso imaginar – disse Anderson olhando sem atenção para o porta-guardanapo da mesa.

- Eu sei que você mora na casa dela, mas eu preciso te falar uma parada que eu tenho observado faz tempo, tava até comentando com a Vanessa hoje pela a internet.

- Do que tu ta falando? – perguntou Anderson.

- A Carlinha cara, presta atenção desde que agente conheceu ela, vive mexendo nas nossas vidas, mexeu na sua, na minha e da Vanessa, na da Clara.

- Mas se não fosse ela talvez eu nunca tivesse falado o que sinto para Clara, talvez você não estivesse com a Vanessa agora, para de inventar coisas cara!

- Veja bem, tudo ela decide; os lugares, os horários, os trabalhos, tudo na condição dela, só porque ela é a mais velha ela pensa que pode tudo, antes mesmo da gente pensar em algo ela já vem com uma lista toda programada do que temos que fazer.

- Ela nunca fez mal a ninguém, pelo menos com nenhum de nós, porque você ta criando tudo isso agora?

- Digamos que ela foi um erro que aconteceu que acabou nos favorecendo, digamos que a melhor forma de você ter se declarado para Clara seria em um futuro mais distante que quem sabe faria ser um relacionamento muito mais intenso, mas ela acabou intervendo agilizando o processo e fazendo nascer precocemente aquilo que já estava no destino, tu e Clara.

- Chega de paranoia rapaz!

- Abre teus olhos Anderson, não deixa mais ela decidir nada por ti, vamos fazer o que nós quisermos, vamos continuar sendo amigos dela normal como antes, mas vamos evitar as saídas que ela marca.

- Eu sinceramente não to te entendendo André, uma pessoa que trouxe a felicidade pra ti, te juntou mais a Vanessa...

- Eu já tava olhando diferente pra Vanessa, mais cedo ou mais tarde ia acabar acontecendo e a Vanessa me disse que há dias antes de começar a namorar comigo já olhava diferente pra mim também, era tudo uma questão de tempo, talvez se esperássemos as coisas correrem naturalmente sem intervenção de ninguém, aconteceria melhor, sem erros.

- Mas aonde é que tem erro no seu namoro mais a Vanessa, aonde tem erro em mim com a Clara? Ela viajou o que eu posso fazer?

- Eu quero que você apenas preste atenção nela partir de hoje e no Jackson também, agora vamos que o Jackson ta chegando ai.

O carro parou em frente a lanchonete e Carlinha chamou:

- Ei André, vamos! Pega uma carona!

- Não, eu vou passar em uma padaria comprar umas coisas, e depois eu pego um taxi, não se preocupe comigo.

- Ta ok. Amanhã agente se fala então, tchau. Vamos Anderson.

Depois de alguns minutos que o carro começou a andar Jackson disse:

- Não tinha um lugar melhor pra lanchar do que esse? Afinal, você tem dinheiro pra frequentar outros lugares.

- Era a mais perto da escola, fui pra lá pra conversar – respondeu calmamente Anderson.

Demorou algum tempo para Anderson cair no sono, ele ficou pensando por muito e muito tempo no que André havia lhe dito, começou a refletir que seu amigo nunca tinha lhe falado nada com tanta convicção no que dizia, a certeza pairava sobre seus olhos, mas no final acabou interpretando que era coisas da cabeça dele e conseguiu dormir.

No dia seguinte, de manhã, Anderson acorda bem cedo e vai em direção ao banheiro do corredor da casa e ouve uns sussurros, era Jackson conversando com Carlinha:

- Não gosto de você lavando as roupas dele, não gosto dele sentando à mesa pra almoçar com agente, perdemos nossa privacidade, eu vivo com ele no trabalho e ter que aturar ele aqui em casa já é de mais Carlinha.

- Mas nós nos oferecemos pra ajudar, ele tava passando uma situação difícil. E você sabe que ele tem o perfil ideal... – Carlinha parou de falar. Anderson percebeu isso e foi imediatamente para sua cama.

- O que foi? – perguntou Jackson para Carlinha.

- Pensei ter ouvido alguma coisa, ele mesmo talvez.

- Olha ai, nem podemos mais conversar tranquilamente sobre nossos assuntos.

Qualquer pessoa se sentiria péssimo na situação de Anderson ao ouvir um negócio desses. Mas o rapaz foi paciente e prudente, ficou calado, não fez nenhum tipo de comentário a respeito, passou a ajudar cada vez mais Carlinha no que podia dentro da casa. O que ele ouvira no corredor não viu nada de maldade, apenas entendeu que estava na hora de sair da casa deles.

Até a Metalvorada Anderson foi conversando com Jackson para não enfraquecer a amizade, perguntando coisas do trabalho, afinal, dar corda para aquele silencia não fazia bem para ninguém.

Já na empresa, Anderson recebe um comunicado para ir ao departamento de relações humanas, Valdelice se dirige a ele:

- Anderson, como você será agora um funcionário efetivado, quero lhe informar que a sala seis do mesmo corredor que você já trabalha foi reformada para você trabalhar lá. Seus trajes agora serão devidamente alinhados a categoria de funcionários C, ou seja, calça e sapatos pretos, camiseta branca e gravata preta, se dirija ao almoxarifado e fale com o Diogo, ele lhe entregará. A Metalvorada vai duplicar agora as exigências e requer mais responsabilidade e compromisso de sua parte, acredito que você já reconhece o cargo que vai possuir e na confiança que a empresa pôs em você.

- Certo, não se preocupe farei tudo conforme a empresa requeira, eu agradeço a oportunidade.

Depois de sair do Almoxarifado já de roupas novas, se sentindo bem dentro daquelas roupas mudou automaticamente seu olhar e inclinação do pescoço. Logo após ele se dirige ao andar onde trabalhará, um sorriso exorbitante surge parcialmente em seu rosto como se quisesse pular pra fora, seus passos são largos e rápidos e sua respiração é curta e forte, refletindo a ansiedade de olhar sua própria sala.

Antes de ir para sua sala resolveu passar na sua sala antiga, a de Jackson, e viu que não tinha ninguém. Percebeu que ali na frente estava Jackson olhando para a porta de sua sala, se aproximou e lhe disse:

- Você tá muito espertinho não é? Conseguiu o que eu consegui em metade do tempo que levei para conquistar. Fisco V, Anderson O. Damasceno. Meus parabéns! – Disse Jackson em tom sarcástico.

- Foi você quem me ajudou chegar até aqui.

- Anda abre a porta, vamos ver sua sala.

Abriram a porta, era exatamente igual a sala de Jackson, mesa de vidro com um notebook em cima, janelas de vidro, estante com livros de direito e contabilidade, um carpete com sofás e pufes e já uma pilha de notas fiscais no criado-mudo ao lado.

- A Diferença é que é nova. Bom, vou indo trabalhar, até mais.

E lá foi o jovem rapaz trabalhar muito para conseguir conquistar suas coisas, estava decido em sair da casa de Jackson, mas sabia que aquela não era a melhor hora. O rapaz não era bobo, percebeu o que Jackson estava sentindo e agia da melhor forma possível, tentando contornar qualquer situação complicada.

Mais depressa do que se pensasse passou mais um mês, as chuvas terminaram, a saudade de Clara se misturava com a ansiedade para vê-la. A morte do seu tio, as palavras duras que ele deixou, a situação em que vivia na casa onde morava só lhe davam forças para se empenhar cada vez mais no trabalho.

Anderson ainda ouviu umas conversas estranhas de Jackson e Carlinha umas quatro vezes ainda, que só lhe dava mais certeza que tinha de sair daquela casa. Quando seu segundo salário saiu Anderson teve uma enorme surpresa, foi bem mais do que imaginaria.

Recusou a carona de Jackson e aproveitou o horário de almoço para procurar um apartamento para morar e foi facílimo de achar, sem perca de tempo no mesmo dia à noite Anderson comunicou a Carlinha e Jackson sua saída da casa.

- Mas porque Anderson? Você não está se sentindo bem? – perguntou Carlinha.

- Eu já posso pagar minhas contas sozinho, to superando a morte do meu tio com tranquilidade e chega de incomodar vocês né.

- Se você acha melhor assim, o que nos resta é concordar com você – Disse Jackson sem tirar os olhos da televisão.

- Eu vou ficar dormindo aqui ainda, esse final de semana eu me mudo.

- E seu almoço, suas roupas, sua casa? – perguntou Carlinha.

- Ele se vira Carlinha, ele tem dinheiro pra isso.

Tudo estava correndo perfeitamente bem para Anderson, tinha restaurante, padaria, serviços domésticos tudo próximo do seu apartamento e foi muito rápido organizar tudo isso. O rapaz já nem se importava com Jackson, estava feliz da vida porque iria sair daquela casa.

No cursinho à noite Anderson foi dar noticia pra André.

- Muito bom, se a Clara tivesse aqui agente ia virar a noite assistindo filme e comendo doces e pipoca. Não vai ter nenhuma comemoração?

- Eu não tenho móveis, não tenho nada, comprei parcelado o necessário, quando eu puder vamos fazer uma festa lá.

- Melhor coisa que você faz na vida é sair de lá. E a Carlinha só se metendo na tua vida não é?

- Não até que não, o pior é o Jackson.

Faltava apenas um mês para Clara voltar, Anderson conferia as horas, teria tanta coisa para contar pra ela. Igualmente Clara estava em uma saudade quase descontrolada de seus amigos e do lago. Lago esse que todo mundo se esqueceu.

André continuava com sua implicância com Carlinha, passou a evitar ela de todas as formas e ela só foi perceber isso muito mais a frente, André é bem mais esperto do que ela imagina, o rapaz vive um amor completo de cumplicidade. Vanessa costuma falar que nunca foi tão feliz.

Anderson estava conquistando suas coisas bem devagar, comprando um fogão aqui, uma televisão ali até montar sua casa, comprava sonhando com Clara em compartilhar daquilo tudo com ela, o rapaz já pensava era em casamento, coisa que para Clara nem aparecia em seus sonhos ainda.

Na Metalvorada, em toda reunião que se tinha, Anderson era elogiado e ninguém nem tocava no nome do Jackson, certo dia Anderson foi chamado para a sala do diretor administrativo com urgência.

- Anderson, eu imagino que você já tenha tomado conhecimento do grau da situação que se discorre no setor fiscal.

Laercio Miranda
Enviado por Laercio Miranda em 18/05/2011
Código do texto: T2978104
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