Um recomeço é possível (Parte I )

Querido Diário, 15 de Setembro de 2006.

Olá, meu nome é Clarisse, mas todos me chamam de Cler. Moro em Manhattan, comprei esse diário para ter alguma distração, não que eu ache isso uma exata distração, pelo menos para uma garota de 16 anos.

Minha mãe bebe desde que meu pai morreu, em um acidente de carro, acho que ela nunca conseguiu se conformar e por isso faz de tudo para nunca estar sóbria.

Desde então vivo praticamente sozinha, a não ser por John, ele é meu vizinho desde quando eu tinha 6 anos. Lembro-me como se fosse hoje o dia em que ele e seu pai se mudaram para a casa que pertencia a minha antiga babá, meu pai e o Dr. Sullyn, pai de John, jogavam golfe todos os sábados...

Porém algo esta errado com John, faz mais ou menos uma semana que ele não atende meus telefonemas e quando vou visitá-lo seu pai sempre inventa uma desculpa, a verdade é que já estou cheia de todo esse fingimento, não suporto mais ficar sem notícias do meu melhor amigo, meu único amigo.

Preciso descobrir o que esta acontecendo, e rápido.

Cler parou de escrever e foi até a casa dos Sullyn’s, tocou a campainha três vezes e pode ouvir ruídos na parte de cima da casa, porém ninguém atendeu. Tentou a porta e para sua surpresa ela estava aberta, os Sullyns não eram de deixar a porta aberta. Ela colocou um pé pra dentro e chamou pelo amigo, mas ninguém respondeu. Então resolveu procurar em seu quarto, o mesmo quarto em que passavam horas brincando quando menores.

Nada, o quarto estava vazio e a porta do guarda-roupa escancarada, mas não havia nada lá dentro, nenhuma roupa, ou sapatos nem roupas intimas. Cler não podia acreditar no que estava vendo, seu melhor amigo a abandonara, fora embora sem nem se despedir, ela não pode suportar isso, estava decidida a ir até o trabalho do Dr. Sullyn para exigir explicações quando se virou e deu de cara no peito de alguém, um peito conhecido, um calor corporal conhecido, se afastou para olhar e lá estava o motivo de tanta exaustão, John, olhando-a com um sorrisinho no canto esquerdo, o sorriso que Cler tanto adorava, o sorriso dela.

-Então agora você invade casas, Cler ? –Ele sorria como quem se diverte, só de olhá-la ficar sem jeito.

-Não Josy, eu só estava... –O Apelido carinhoso o fez sorrir mais,

-Ei relaxa, eu estava só me divertindo com você gatinha. –E lá estavam os dois se abraçando como se nunca tivessem se separados.

Cler tentou perguntar o que havia acontecido, mas estava tão feliz por estar ali, estava tão feliz por estar com seu melhor amigo de novo, que se esqueceu de tudo o que deveriam preocupá-la.

Ela não queria ir pra casa, não queria deixar John, ainda sentia medo de que ele pudesse sumir novamente. Agora ali, olhando aquele rostinho quente e macio deitado adormecido em seu colo ela teve a certeza de que não poderia sair, não agora, não ainda.

O dia amanheceu e Cler acordou com o sol batendo em seu rosto, lembrou-se de que não deveria estar ali, já deveria estar em casa, acordando sua mãe e começando a se arrumar para a escola, tentou sair do quarto sem fazer muito barulho, porém não havia mais ninguém no quarto. Desceu as escadas e foi para a cozinha, ninguém lá também, chamou nos outros cômodos, mas ninguém respondeu. Saiu da casa e foi em direção à sua casa na árvore, que ela e seu pai construíram quando pequena.

John a esperava encostado no que era para ser uma escadinha, mas o tempo e chuva não lhes fez tão bem.

-Dormiu bem, dorminhoca?

Ela assentiu uma vez e foi para mais perto dele.

-Mas parece que alguém não dormiu tão bem, não é? – acusou-o.

-Ah me desculpe não ter esperado você acordar, mas desde o acontecido não tenho dormido muito, e você sabe como fico impaciente quando não durmo...

-Tudo bem, mas por onde tem andado todos esses dias? –Finalmente saiu à pergunta que Cler se fazia toda noite antes de dormir, pensando em como e onde e com quem John estava.

-Não muito longe daqui, há uma cachoeira perto da ponte Mashall, quando não tenho o que fazer vou para lá, esfriar a cabeça ou só... pensar na vida. –Ela sabia que ele estava mentindo, já esteve várias vezes na floresta perto da ponte, nunca vira uma cachoeira, nem se quer a ouvira. Mas então, porque John estava mentindo para ela? O que ele não poderia contar a sua melhor amiga de infância? Será uma namorada nova? Cler não agüentou...

-John você nunca mentiu bem, porque esta tentando fazer isso agora? É alguma namorada nova? Se for me fale John, você sabe que pode contar tu...

-Não Clarisse, -ele a interrompeu e ela fez cara feia- Não é nada disso, se fosse isso porque eu não te contaria? Não tem cabimento.

-É o que estou tentando saber. –Ela respondeu baixinho se afastando dele e adentrando em sua casa.

Sua mãe estava jogada no sofá com a mesma roupa de três noites a trás, Cler tentou acordá-la, mas o máximo que conseguiu foi um murmúrio de “me deixe em paz” baixinho.

Foi para seu quarto pegar uma muda de roupas a fim de tomar banho, porém quando entrou em seu quarto todas as suas roupas estavam espalhadas pelo chão como se alguém tivesse invadido a casa procurando por algo, ela correu até a porta da frente da casa, mas nem sinal de arrombamento, tentou acordar sua mãe novamente, mas dessa vez tentou algo diferente, jogou um belo balde de água fria na cabeça de sua mãe que acordou imediatamente, pronto, pelo menos isso funcionara.

-Mãe alguém entrou em casa, minhas gavetas e todas as minha roupas estão jogadas no chão! –Ela parecia mesmo desesperada.

-Ah Clarisse eu não acredito que me acordou por causa disso! Eu é que estava procurando por uma coisa que tinha coloca lá algum tempo atrás – A mulher de cabelos grisalhos e aparência acabada lhe deu um tapa no braço e continuou, -E você esta de castigo, vá já arrumar aquela bagunça e não se atreva a me acordar desse jeito novamente mocinha!

Cler sabia o que ela estava procurando em seu quarto e não era nenhuma blusa ou coisa do tipo, o que ela realmente queria era dinheiro, pois além de bêbada Glaby também era viciada em jogo.

(Continua)

Lee Teodoro
Enviado por Lee Teodoro em 12/05/2011
Reeditado em 14/05/2011
Código do texto: T2966323
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