Um amor maior que a vida (Cap. 4)
Santiago
-Bia, o que houve? Disse, com espanto, uma voz conhecida.
-Entre, eu vou atender o garoto.
-Achei que cuidasse apenas de loucos, disse Laura em tom cínico.
-Se fosse assim você seria minha paciente, disse Santiago enquanto carregava o menino para uma maca.
-Acompanhante, para fora! Disse uma enfermeira.
-Você sabe com quem está falando, sua empregadinha?
-Enfermeira chefe, para o seu governo, saia antes que eu chame a segurança.
-Bia, estou na recepção, disse contrariada, mas amiga nem sequer respondeu.
-Me ajude, a RCP não está funcionando, me passe o desfibrilador, carregue em 100, em 200.
-Doutor, não funciona, vou chamar o pediatra.
-Ele está em cirurgia, me passe o bisturi.
-O que vai fazer com meu filho? Disse Beatriz aos prantos.
-Tentar uma massagem cardíaca, preciso que fique calma, ou terá que sair.
Beatriz se afastou e por minutos viu o médico tentar reanimar seu filho.
-Doutor, não adianta mais, o senhor fez o que pôde, precisa declarar.
Diante de seu maior fracasso, Santiago disse:
-Hora da morte, 10:49.
Tirou as luvas e abraçou Beatriz que estava tão chocada que não conseguia reagir.
-Bia, eu sinto muito, ele chegou morto, estou tentando há quase uma hora, lamento, mas não há mais o que se fazer.
-Você não pode, Santiago, você precisa, tente de novo, eu imploro, traga meu filho, por favor, traga meu bebê de volta!
Desabando nos braços do velho conhecido se viu vencida pelos fatos.
-Eu lamento muito, de verdade. Enfermeira, traga um calmante, disse olhando para a mulher solícita ao seu lado.
-Meu marido, onde ele está? Disse segurando o copo com as mãos trêmulas.
-No CTI, só lhe restam alguns instantes, teve queimaduras de terceiro grau em 98% do corpo.
-Não é possível, Santiago, eu quero acordar, por favor, preciso acordar! Há algumas horas minha vida estava perfeita, por favor, me tire desse pesadelo.
-Bia, eu te levo para vê-lo. Irínia, desmarque todas as consultas de hoje.
Conduziu Beatriz á terapia intensiva e disse:
-Isso vai te parecer muito chocante, quer que eu te acompanhe?
-Não, mas por favor, não me deixe sozinha, espere por mim.
-Estarei aqui.
Soltou suas mãos das dela e viu-a partir.
-Irí, acompanhe-a, por favor, e não saia do seu lado.
[continua]