Clara - Mudanças & Escândalo - III

Capítulo III

MUDANÇAS & ESCANDALO

- Clara filha, telefone para você – Disse dona Clarice.

- Alô... Ah, oi Ulisses, eu to ótima... Porque não ligou no meu celular?... Tudo bem... Ah, eu vou ao Rare daqui a pouco com aquele pessoal da escola, sabe, achei melhor dá uma chance para eles, eles são meus amigos... É verdade... Tudo bem... Claro que sim... Beleza, beijo, tchau.

- Quem era filha? – perguntou dona Clarice.

- Um amigo da escola, o Ulisses, aquele que veio me deixar em casa na sexta-feira.

- Sei.

Naturalmente para dona Clarice aceitar pessoas novas surgindo na vida de sua filha era de se preocupar, pois isso não acontecia há muito tempo, mas, ela sabia que não devia se intrometer, sua filha precisava disso.

Era um sábado quentíssimo, no céu só havia restos de nuvens e o Rare parecia muito raso do que de costume, mas lá estavam Carlinha e Jackson, chegaram mais cedo por alguma razão especial, deveriam ter almoçado ali. André, depois de lavar a louça do almoço como castigo foi às pressas para a casa de Anderson. Ele precisava colher informações e saber o efeito da conversa de Clara na noite anterior.

- A situação perigosa me leva a ser um tanto drástico cara – Disse André.

- Do que você ta falando?

- Clara. O que você ta querendo?

- Ta tão visível assim?

- Nessas duas ultimas semanas sim.

Foi uma longa conversa, os laços de amizades deles dois com certeza se tornaram mais fortes, compartilharam várias histórias e recordavam de muitos fatos. Já no final da conversa o celular de André toca.

- Oi, Clara – Disse André – To indo, chego ai em dez minutos, tchau.

- E ai, vamos? – Continuou André.

- Eu não sabia que a Clara ia, a Carlinha não me disse nada disso.

- Como não disse?

- Era para ela ter dito? Explica isso André!

- Vamos logo.

- Ta.

No percurso até a casa de Clara que ficava no caminho do Rare, André desconversou o máximo que pôde para não tocar na pergunta que ele havia feito. Chegando à casa de Clara, Anderson não conseguiu esconder sua timidez e vergonha de Clara, apesar dela não ter feito nada, o rapaz ficou calado sem dizer nada. Clara que estava animada, pois havia concluído: “Se os meninos gostaram deles eu também posso gostar”. Não parava de falar sobre Ulisses durante o caminho até ao lado.

- Ele ligou para mim ontem, depois do jantar, já ligou para mim hoje, é legal ter alguém que se importe com agente, sabe André? – Disse Clara.

- Sim, pois é.

- Aquele livro que to lendo é a cara dele. Sabe André, ele sempre chama meu nome completo, Clara Duarte, desde o primeiro dia que agente se conheceu na biblioteca, na próxima vez eu vou perguntar como ele sabia meu nome.

- É né? – Respondeu André meio impaciente.

- E você Anderson, porque é que está todo calado ai? Ta com dor de barriga? – Perguntou Clara

- Estou relativamente bem, preciso de um mergulho – respondeu Anderson.

Não deve ter sido muito bom para Anderson ter ouvido esses comentários, ele limitou seus passos para ficarem sempre atrás de Clara e Anderson. O pobre rapaz já não sabia mais o que fazer, estava praticamente convencido de que perdeu Clara para Ulisses e se contentava com simples lembranças.

O clima estava muito quente e os três jovens em cima da colina não sentiam uma rajada de vento sequer. Desceram e chegaram ao lago, Carlinha e Jackson já estavam banhando, mas tiveram que sair para cumprimentar o pessoal que havia chegado.

- E ai pessoal, como é que tá? – Disse Carlinha mais amistosa possível.

- Estamos bem, Clara esse é o Jackson e essa a Carlinha – Disse André.

- Eu já os conhecia, prazer pessoal.

- Eu só tentei ser educado – Explicou André.

- Tudo bem André, todo começo é complicado, lembra de nós aqui no lago aquela vez? Vocês queriam ser os donos do lago – Disse Carlinha – Venha comigo Clara, eu te empresto meu protetor solar.

Tudo já fazia parte de um plano pré-programado, Carlinha conversava com Clara, e Jackson com André para informar as novidades e o que aconteceu na conversa de Carlinha e Anderson, óbvio que André já sabia parte da história. Anderson ficou sozinho encostado em uma arvore, pois percebeu que a conversa de André e Jackson era um tanto pessoal, os meninos foram para de baixo de um cajueiro ali perto.

- A Carlinha te contou tudo né? Então cara, o quê que você acha disso tudo? – Perguntou André.

- André, ela me disse que ele tava decidido em se declarar e contar tudo pra ela hoje, acho que vai dar certo, nesse exato momento a Carlinha já deve estar preparando o terreno.

- Eu sinceramente, acho que não. Ele já ta meio triste com isso tudo, e da casa dela até aqui ela não falou outra coisa a não ser sobre o Ulisses, ta sendo difícil pra ele. E mais, pela a conversa que eu tive com ela ontem, ela ver o Anderson como um grande amigo e não passa disso.

- Então vai ser bem pior do que imaginávamos – Disse Jackson – Olha cara, o Anderson é gente boa, mas ele bancou o Mané nessa história toda, o cara é boa pinta, viveu preso ao redor da Clara, as garotas sempre acharam que ele era morto e louco pela a Clara e não faziam nada, ele perdeu muito tempo.

- É, ele teve seus motivos – Disse André.

Anderson estava por ali se lambuzando com alguma fruta mole enquanto Carlinha estava já na maior intimidade.

- Ah esse livro realmente é tudo de bom, você já leu a parte em que o Diogo finge ser pobre para conquistar a Cristina? – Perguntou Carlinha.

- Ainda não, como é, ele vai se fazer de pobre? Ah, não estraga a história Carlinha – Falou Clara às risadas. Nesse momento os dois meninos foram falar com Anderson que estava sozinho.

- Anderson cara, o Jackson aqui já sabe de tudo – Falou André com as mãos dentro dos bolsos.

- Tudo bem, contanto que não venha me dá lição de moral e nem me atrapalhar... Pessoal, eu acho que eu devo esquecer essa garota, eu posso perder a amizade e tudo o mais, mas eu acho que ela não é pra mim, ela deve estar ali falando com a Carlinha do Ulisses o tempo todo, ele é bem melhor do que eu, ela nunca vai olhar pra mim da mesma forma que olho pra ela, eu tenho que aceitar isso.

- Cara, se tu quiser desistir tudo bem, mas não se joga pra baixo não. A Carlinha vai ver o que pode fazer, segura a tua onda por enquanto, não deixa ela perceber nada – Explicou Jackson.

Anderson ficou calado, pensativo, com o olhar caído e o rosto como se estivesse com febre, independente da conversa da Carlinha com a Clara, Anderson já estava quase decidido em desistir dela.

- Será o que aqueles três estão aprontando? – Perguntou Clara se levantando, dando a impressão de farta da conversa de Carlinha – O que vocês estão fazendo ao redor do Anderson? Algum problema?

- O problema é uma pergunta, que horas que vamos todos juntos ali para aquele lago de açúcar? – Falou André. E todos responderam em coro “Agora” com exceção de Anderson.

Brincaram tanto até entardecer e Anderson não conseguia fingir, a tristeza era constante e Clara era a única que não percebia. Depois da ultima aventura de descer a colina e enfrentar as pedras nos pés, Carlinha perguntou:

- E amanhã, o que faremos?

- Amanhã tenho uns compromissos, família etc – Respondeu Clara.

- Carlinha eu te ligo para agente marcar qualquer coisa, né Anderson? – Disse André cutucando em Anderson que o mesmo respondeu com um leve e cansado gemido afirmativo.

- Foi um prazer, Clara, você é bem simpática, espero sairmos mais vezes – Disse Carlinha.

- Claro que sim. Tchau gente até a próxima. André me leva até em casa?

André foi deixar Clara em casa, Carlinha e Jackson pegaram a rua da direita subindo, e Anderson a rua sentido norte para a sua casa sozinho pensando consigo: “A Carlinha, o André e o Jackson, me ajudando por causa de uma garota que não está nem ai pra mim”. Já em casa, tomou um banho e se deitou no sofá e pôs-se a assistir televisão, assistiu por cinco minutos e depois desligou, queria mesmo era refletir mais, pensar mais sobre o que fez e o que poderia ter feito por Clara todos esses anos. Lembrou-se outra vez de quando ela ia morrendo no lago Rare sem saber nadar, lembrou-se do modo que ela o tratava quando chegava na escola, lembrou de nem ter tocado no nome dele quando se despediu da turma a umas duas horas atrás mas, não tinha raiva, o cuidado, carinho e amor por ela era constante que sobrepunha qualquer pensamento ruim e esse pensamento e sentimento era tão forte que arrancou dos olhos de Anderson três ou quatro lágrimas e o fez socar o braço do sofá levemente por duas vezes. Neste exato momento a porta da humilde casa vai ao chão e aos gritos. Era o tio de Anderson, Alfredo, que havia chegado em casa bêbado.

Alfredo era um homem de trinta e quatro anos perdido completamente no mundo do álcool, chegou derrubando a casa e gritando por tal de Magnólia que Anderson desconhecia.

- Magnólia sua devassa e imunda, você me deixou sozinho aqui às traças, não sabe o tanto amor que te dei e que tinha para dar – Disse Alfredo aos soluços com uma garrafa de whisky nas mãos. Percebeu que Anderson estava ali no sofá e começou a gritar:

- Seu moleque, cadê meu jantar? Desocupado! Marginal! Você é igual a seu pai, não teve coragem de assumir o filho e deixou comigo! Tu já deve ter tido dezenas de filhos por ai, seu sem vergonha!

- Nada disso tio, o senhor ta enganad...

- Cala a boca cachorro! Sim, cachorro! Você não passa de um cachorro, sim, é isso o que você é. Um cachorro! Vive aqui ao meu redor me pedindo dinheiro, roupa e comida. Cachorro que vive pedindo favor!

Foi como se Anderson estivesse pego uma anestesia local, o corpo tinha travado completamente e não parava de tremer. Suas mãos suavam, seu rosto ficou branco e logo após ficou vermelho, a expressão nos olhos de Anderson era de raiva e medo, era como se ele já soubesse o que viria pela a frente.

Neste exato momento, Alfredo foi em direção de Anderson com passos cambaleantes e deu um tapa no rosto do rapaz, empurrou e jogou-o no chão e deu chutes na barriga de Anderson, logo após pôs o pé direito na cabeça e começou a tirar o cinto das calças.

- Você é um cachorro nojento! Imundo! Vagabundo! Merece morrer! – Disse aos berros Alfredo no ouvido de Anderson. O rapaz já não estava tão nervoso quanto antes, começou a lutar para se libertar, mas, era inútil. Apesar de Anderson ser um moreno de um metro e oitenta e três centímetros de altura não era páreo para Alfredo de um metro e oitenta e sete centímetros, com os músculos fortes rígidos pelo o tempo. Anderson apanhou, apanhou, até Alfredo se cansar e deitar no sofá exausto de bater e sofrendo já o efeito da ressaca. Anderson não se movia do chão, chorava tanto que parecia que ia se desfazer todo em lágrimas, soluçava e pedia pra Alfredo parar de bater mesmo Alfredo já no sofá roncando e dormindo um sono pesado.

As horas se passaram, Anderson se levantou e foi direto pra cama, dormiu e acordou no dia seguinte como se nada estivesse acontecido, só não poderia realmente dizer isso pelo o fato das costas estarem roxas e inflamadas não aguentando ninguém ao menos tocar. Preparou o café da manhã para ele e seu tio que mais tarde acordaria, arrumou a casa e foi na rua fazer algumas compras, era um domingo muito quente e tinha muitas pessoas na rua. Apesar de seu tio agir algumas vezes daquela forma, pagava uma mesada um tanto gorda para Anderson mas, como Alfredo não comprava nada para a casa, o custo da casa e de tudo era Anderson quem pagava mas, vivia sem passar necessidades, voltando da feira Anderson parou em uma Academia de ginástica e fez sua matrícula, queria começar a malhar o quanto antes, ele acordou com o seguinte objetivo “Não vou mais deixar o tio me bater”, estava disposto a desafiar seu tio futuramente. Logo mais a frente na mesma lanchonete que ele havia conversado com Carlinha há uns dois dias atrás estava Clara e Ulisses tomando sorvete. Quando ele quis desviar do caminho ele ouve:

- Ei, Anderson! Aqui! – Ele elevou os olhos e viu Clara chamando-o. A principio ele parou e ficou apenas olhando, as marcas roxas e inflamadas nas costas passaram a dor mais naquele momento.

- Ei, não fique ai parado parecendo uma múmia, venha aqui Anderson! – Gritou Clara. Anderson resolveu ir, parou ao lado da mesa dos dois e não disse nada, nem sequer deu um sorriso, e mesmo que tentasse abrir a boca para cumprimentar não sabia ao certo o que iria dizer.

- Sabe o que eu estava aqui comentando com o Ulisses? Ele nunca foi ao Rare, acredita? Eu estava pensando em marcar com a turma e levar o Ulisses lá para conhecer e se divertir com agente, o que você acha? – Interrogou Clara. Ulisses olhou para Anderson, sorriu, olhou para baixo e deu uma lambida no sorvete.

- Ei, Anderson, diz! O que você acha? Vamos marcar? Assim todos vão conhecer o Ulisses e verão que ele é gente boa.

- Eu acho que não Clara, eu estou muito velho para andar no meio de vocês.

- Nada a ver Ulisses, você vai gostar, lá é calmo, tranquilo e eu posso até te ensinar a nadar.

- Eu tenho que ir, estou muito ocupado, tchau! – Disse Anderson numa voz muitíssimo baixa quase inaudível.

- Como é Anderson? – Perguntou Clara.

- Eu preciso ir – Disse Anderson, dessa vez falou alto, já de costas viradas, com a voz trêmula mas, a voz trêmula só Ulisses percebeu.

- Ele deve estar ocupado, deve ir estudar para as provas dessa semana, coisa que você deveria fazer também, esse passeio pode esperar, eu não quero que você reprove – Disse Ulisses. Clara sorriu e voltou a tomar seu sorvete.

Anderson foi a passos largos em direção a casa de André, que chegando lá não encontrou ninguém em casa. Ligou para Jackson e deu na caixa postal, normalmente se fosse outro choraria, mas Anderson parecia que era imune a essa enxurrada de acontecimentos, não reclamava, achava apenas que tinha que passar por aquilo tudo, pensava às vezes consigo “eu não tive sorte como os outros tiveram, fazer o que?”. Naquele domingo à noite ninguém saiu com exceção de Carlinha e Jackson que não se separavam para nada, ou não.

Na segunda feira de manhã, soprava um vento frio do norte e ventava de vez em quando, Clara que estava já próximo de chegar a escola pensou consigo: “Não dá tempo de eu voltar em casa e pegar uma jaqueta”. No portão da escola Anderson não estava ali esperando, mas por coincidência entraram os dois ao mesmo tempo no portão.

- Ah, to um pouco nervosa, eu quase não estudei para essa prova – Disse Clara.

- Você não tem com o que se preocupar, se tirar nota baixa o Ulisses altera sua nota fazendo você passar de ano – Disse Anderson apressando o passo e se dirigindo ao banheiro masculino.

Olhando para o espelho se sentiu culpado, pensando que teria agido grosso de mais: “Preciso me afastar dela, preciso me esquecer dela”, era o que ele repetia em sua mente. A escola toda estava em clima de provas, as avaliações começavam as oito horas dava tempo de estudar e dar uma revisada, Anderson ficou ali no banheiro por alguns minutos pensando na vida, pensando em Clara e decidiu que deveria ser um pouco mais educado quando a visse de novo. Mas para a surpresa de Anderson quando ele saiu do banheiro, a primeira coisa que viu foi Clara e Ulisses, eles estavam tão próximos que quem os vissem diria ao certo que já não eram mais amigos e sim namorados. Se fosse outro empurraria Ulisses para longe e teria feito um barraco, mas Anderson era tranquilo, tranquilo e calmo até de mais!

Em meio a essa situação foi caminhando para a sua sala olhando para os pés, nesse ritmo esbarrou em André sem nem perceber.

- Eu vi tudo, ainda bem que você entrou no banheiro – Disse André.

- Ela faz de propósito né André? Tinha mesmo que ficar ali na entrada do banheiro, pareciam que estavam me esperando! – Reclamou Anderson – Eu vou arranjar uma namorada pra mim!

- Larga de ser infantil, nem parece que você é mais velho que nós! Anderson cara, você é um cara legal, tem cara de segurança de banco, se eu não te conhecesse diria que era ranzinza! Para de bancar o fracote! E outra, a Clara é meio sonsa, ela nunca percebeu que você gosta dela, então ela não tem culpa – Disse André tentando acalmar o pobre Anderson.

Clara chegou na sala com um sorriso enorme estampo no rosto e uma voz feminina disse em tom alto:

- Clara Duarte está de casinho com o secretário, quem diria a Clara machona é uma mulher!

- E qual é o problema querida, queria o Ulisses pra você? E se eu fosse ‘machona’ nem olhava na tua cara – Disse clara desfazendo o sorriso e falando em ar altivo. Anderson ao ouvir isso de Clara se surpreendeu, ela realmente estava mudada e ele não sabia dizer se isso era bom ou ruim. André que se sentiu exatamente igual a Anderson foi falar com Clara.

- Pra que tudo isso Clara? Voce nunca foi assim!

- Alguém tem que ensinar a essa gente como se comportar, o que é que ela tem a ver com a minha vida, me diz André?

- Voces duas fizeram escândalo, não era pra ter dado bola pra ela, você se tornou igualzinha a ela Clara, preste atenção!

- Ai, desculpa, é verdade! Não deveria ter agido assim – lamentou Clara. Caminhando chegou próximo ao Anderson e disse pra ele:

- E ai, não vai me dar nenhuma lição de moral por ter dito aquilo pra Janaina?

- Não, quem sou eu pra dizer alguma coisa. Nós agimos da forma que nós achamos certo, agora eu desconhecia essa Clara ai – Disse Anderson sem olhar para Clara.

- Ah Anderson, também não precisa isso, o que aconteceu pra você agir assim ultimamente? – Clara se sentou ao lado dele e se inclinou a olhar nos olhos de Anderson, apesar de Clara estar desse jeito ela não havia esquecido a amizade de tantos anos. Anderson se sensibilizou ao olhar nos olhos de Clara e ver que ela realmente estava preocupada com ele.

- Tem acontecido tanta coisa ultimamente comigo e você anda tão ocupada esses dias...

- Devia ter me falado, foi pelo escândalo que dei no pátio por causa da Carlinha e namorado dela?

- Não, nada a ver, em relação a isso nós já estamos todos entendidos.

- Então porque é? Se for por causa do Ulisses não tem lógica, o Ulisses é um cara super bacana, você precisa conhecer ele de perto, tenho certeza de que se ele juntasse ao grupo todos iriam gostar.

- É talvez sim, mas o problema não é ele, sou eu!

- Ora, pare de enrolação Anderson, você nunca foi disso!

- E você sempre foi assim, esperta, brigona e diferente?

- Às vezes precisamos mudar.

- É verdade, as vezes precisamos mudar e não conseguimos.

- E você quer mudar por quê? Mudar de que jeito?

- Sabe, Clara, eu to apaixonado.

- Aaah – Clara deu um grito absurdo que chamou a atenção de todos – Porque não disse antes? Isso é maravilhoso, eu quase que posso dizer o mesmo, mas me diz quem é sortuda? Sabe, eu não sei muita coisa de romances, mas o livro que o Ulisses me deu está me ajudando bastante, e ai quem é?

- Deixa pra lá, é um amor meio que impossível.

- Bom dia classe, lápis, borracha e caneta na carteira, nada mais que isso – Disse professora Olivia para iniciar os exames de Lingua Portuguesa.

- Eu quero saber dos menores detalhes, depois da prova agente continua essa conversa – Falou Clara cochichando e com um sorriso do tamanho do mundo. Anderson sentiu um pouquinho feliz, ver Clara diante dos seus olhos sorrindo daquela forma, seja lá qual motivo fosse já era um motivo de lhe fazer feliz, André estava de longe vendo os dois conversando, olhou para Anderson o rapaz respondeu o olhar e sorriu, o rosto de André dizia: “A Clara não tem juízo”.

Naturalmente nenhum dos três estudou muito menos Anderson que deve um final de semana horrível e humilhante, já havia passado dois dias que havia recebido a surra de cinto do seu tio e já estava um pouco melhor. A prova discorreu com tranquilidade.

Ulisses, na secretaria estava com planos de pedir Clara em namoro no dia seguinte, pois naquele dia a noite trabalharia até tarde e nem ao menos poderia sair da secretaria para falar com Clara depois que sua prova acabasse, fim de ano tem muito trabalho para funcionários de escolas. Ulisses não queria perder Clara por nada nesse mundo, foi a garota que ele viu crescer, esperou tanto tempo pelo o momento e estava disposto a enfrentar qualquer empecilho que fizessem dar errado o relacionamento deles.

A conversa de Carlinha com Clara no lago Rare foi mais um alerta, Carlinha explicou para Clara que Ulisses estava gostando dela e que isso tava estampado no rosto dele, disse também que ela não deveria se envolver com um cara mais velho desse jeito, Clara apenas ouvia, não queria acreditar no fato que Ulisses poderia fazer mau a ela, ela tava sendo tão feliz, descobrindo aquilo tudo e daquela forma que nem deu credito a conversa de Carlinha. Mais tarde na conversa Carlinha tentou comentar de leve sobre os possíveis rapazes que estariam gostando dela naquele momento, explicou que isso poderia acontecer, pois há gosto pra tudo, clara simplesmente ingnorou, quando se falava em homens, ela só pensava em Ulisses. Anderson iria continuar a viver do jeito dele, ele era um cara triste, só não era completamente triste por causa da amizade dos seus amigos, seu afeto por Clara era o que transparecia em seu rosto.

Clara havia terminado a prova primeiro do que Anderson e naturalmente tinha saído primeiro, quando Anderson viu que Clara estava em pé do lado de fora lhe esperando, ela nunca tinha feito isso por ele mesmo que fosse para saber de uma novidade. O momento do reconhecimento de Clara ali em pé para Anderson durou muito tempo, ele abriu um sorriso intenso e extremamente contagiante, um sorriso recheado de sentimentos sinceros, nesse momento o mundo ao redor de Anderson girava em câmera lenta, era bobo de mais para se portar na frente da menina que gostava e Clara rude de mais para interpretar o gesto, ou não. Ela não conseguiu interpretar, mas seu coração recebeu um forte sinal que fez retirar o sorriso e franzir a testa.

Laercio Miranda
Enviado por Laercio Miranda em 09/05/2011
Código do texto: T2959054
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