Clara - Duas conversas ao mesmo tempo - II

Capitulo II

DUAS CONVERSAS AO MESMO TEMPO

Foi um final de semana bem amistoso para André e Anderson, pois logo no domingo eles e seus novos amigos recém-conhecidos no lago Rare acabaram saindo outra vez dando espaço rapidamente a uma sólida amizade sincera. Por um final de semana acabaram se esquecendo de Clara e de como ela estava na ultima vez que a viram, não foi questão de egoísmo, pois a amizade dos três estudantes era invejável e sincera de mais para tal fato.

Clara por sua vez, enfrentou um longo final de semana, contando os segundos para chegar segunda-feira e ir para escola procurar o livro que havia perdido, por algum motivo não foi o livro que não a fez sair da biblioteca quando estava entediada com a aula de História.

Finalmente o sol matutino de uma segunda feira bem quente surgia na janela de Clara que a mesma nem precisou do auxílio da mãe para se levantar, se arrumar e descer para o café. Sua mãe, Dona Clarice se espantou novamente com a disposição da filha e perguntou:

- Bom dia minha filha, porque a pressa hoje?

- Quero dá um pulo na biblioteca antes de iniciar a aula, próxima semana é de prova e eu não quero reprovar – respondeu Clara.

- Ah, sim, claro. Precisamos conversar sobre suas férias não sei se devo deixar você sair de casa, não sei para qual casa de minhas irmãs devo mandar você – Falou Dona Clarice servindo o café de Clara numa preocupação como se fosse o fim do mundo.

- Mamãe fique tranqüila, temos ainda duas semanas e talvez eu nem esteja tão a fim de viajar – Continuou Clara.

- Que seja feita a vontade e Deus – Concluiu Dona Clarice.

Foi um café da manhã estranhamente sem modos, Clara engolia numa voracidade espantosa, mas, enfim terminou seu café e seguiu rumo à escola. Chegando à entrada, o portão ainda estava fechado e poucos alunos aguardavam do lado de fora, viu ali perto um banco publico e sentou checando o material em seus braços, de repente ela toma um susto ouvindo:

- Bom dia Senhorita Clara Duarte, é de se admirar você aqui logo tão cedo.

- Ah, bom dia U-uliss-ss-es! É que eu vim cedo para, pe-pegar...’

- Imagino que esteja encantada que com o primeiro capítulo do livro que pegou – Interrompeu Ulisses com o maior descaso à explicação de Clara. Clara não gostou de ser interrompida, engoliu seco e objetivou dizendo:

- Pra falar a verdade eu esqueci o livro não sei onde e vim mais cedo para procurá-lo na biblioteca – Explicou Clara. Ulisses sorriu olhou para ela e disse:

- Não se preocupe – Abriu a bolsa que carregava consigo e pegou um livro – Aqui está o livro, você se esqueceu dele em cima da mesa, imaginei que isso pudesse ter acontecido e fui verificar na biblioteca.

Clara recebeu o livro, olhando felicíssima para o nome em auto-relevo que dizia: “Apaixonando você”. Disse um singelo “Obrigado” e se dispôs a folheá-lo. Houve um breve silêncio, mas Ulisses olhando para o livro nas mãos de Clara disse:

- Esse livro foi escrito pra mim, eu acho. Quando terminar de lê-lo conhecerá a mim muito mais do que imagina.

- Você está dizendo que se define em um romance? – perguntou Clara. Ulisses sorriu e respondeu:

- Não exatamente, eu apenas me identifiquei com o livro, não que eu seja um fã de romances, é que o livro é bom. Agora vamos, o portão já se abriu e eu tenho muito trabalho hoje.

- Claro, tchau Ulisses.

Clara viu Ulisses caminhando em sua frente enquanto reorganizava suas coisas – impressionante como Clara gosta disso – embora tirar um livro e colocar por cima do outro várias vezes não configura organização. Pra todos foi um susto muito grande ver Clara cedo em sala de aula especialmente para Anderson.

- Achei que você fosse faltar hoje, te liguei no celular e você não atendeu, caiu da cama, foi? – perguntou Anderson sentado em uma carteira vazia ao lado de Clara.

- Precisava ir à biblioteca antes de começar a aula – respondeu Clara

- E eu fiquei te esperando no portão da escola.

- Muito bem Classe, bom dia para todos, Anderson sente no seu lugar – Disse professor Davi com ar autoritário.

Logo após a aula, no intervalo, Clara não saiu da sala, começara a ler o livro silenciosamente. André e Anderson não faziam ideia do que estava acontecendo com ela, pois Clara nunca foi de ler.

- Vamos com agente lá na lanchonete? – perguntou André.

- Quero ler esse livro, já comecei a primeira página e já estou achando a história interessante, deixa para a próxima – Respondeu a menina. O intervalo acabou e os jovens tiveram aula normal. Com exceção de Clara que por sorte não foi chamada a atenção por ler o livro na aula da professora Aline.

Na quarta-feira, Carlinha e seu namorado tinham combinado com Anderson e André para saírem, comerem alguma coisa e bater um bom papo. Anderson ainda pensou em convidar Clara, mas ela ainda nem conhecia o casal, estava estranha, e na segunda-feira não quis lanchar com ele e Anderson, preferiu o livro, então ele decidiu que não a chamaria. Conversaram, brincaram e se divertiram tanto que perderam a noção do tempo e só foram para casa quando a mãe de Carlinha ligou mandando-a ir embora. Ficou combinado de Carlinha e seu namorado visitarem a escola na sexta-feira para matar as saudades.

Numa noite bem quente, depois do jantar, Clara estava com um entusiasmo e um sorriso bobo estampado no rosto lendo o livro que Ulisses lhe indicara.

- Filha to entrando – Disse dona Clarice empurrando a porta – Precisou conversar a respeito de suas férias filha, eu estava pensando na sua tia Júlia, que tem suas primas Jennifer e Claudia que podem sair com você, elas tem quase a mesma idade sua e podem se divertir bastante, tem também o Aroldo que possui um escritório, você bem que poderia trabalhar meio período para adquirir...

- Chega mamãe! Eu não quero viajar para lugar algum, esse ano eu quero ficar aqui, eles se quiserem que venha me ver – Interrompeu com altivez. Dona Clarice levou um susto e entendeu que sua filha não estava bem.

- Eu termino os estudos esse ano, terei o ano todo vago pela a frente, uma faculdade quem sabe eu faça, mas não é obrigação viajar, mamãe! – Continuou Clara em voz alta.

- Calma filha, eu só quero que você se divirta, se não quer ir, tudo bem – Falou calmamente Dona Clarice que não disse mais e nada e saiu do quarto com passos lentos.

A menina logo a voltar os olhos para o livro emitiu um sorriso pálido, foi lendo até o sorriso grande e bobo de antes reaparecer. Foi lendo e lendo até cair o crepúsculo, enfim quando se sentiu parcialmente saciada em ler pensou em voz alta: “os meninos precisam ler esse livro”.

No dia seguinte Anderson esperou por Clara no portão da escola apenas por um minuto, foi com passos apressados para ver se ela já estava na sala de novo, mas viu que se enganou.

Os meninos conversavam entre si com outros alunos até que Clara entrou na sala, com um sorrido estridente, comovente, arrebatador que fez toda a sala parar de vez que estava em algazarra antes da entrada do professor. O sorriso de Clara não era o foco principal e sim o novo visual que a menina adotara, antes vivia de tênis, relógio no pulso, cabelo preso em rabo de cavalo, agora estava de cabelos soltos com uma tiara no cabelo e sandálias nos pés.

- E ai pessoal, como é que estão? – perguntou Clara. A sala voltou ao barulho de antes, porém com todos os olhos voltados para ela, falando obviamente dela. Os amigos de Anderson e André que estava ao redor saíram e Clara continuou:

- Sim gente, o que aconteceu com vocês? Digam alguma coisa!

- E o que aconteceu que Clara e Anderson já estão na sala? Clara você mudou o visual para agradar o Anderson hein? – Comentou às risadas o professor Carlos na hora que Anderson ia abrindo a boca para responder. A aula de matemática foi tensa, de vez em quando o professor Carlos dava exemplos sobre Clara e seu visual, mesmo isso não tendo vínculo alguma com a matéria, mas Clara não se deixava levar, isso não ofuscava o sorriso grande dela.

O intervalo chegou e Clara foi rumo aos meninos para conversar como sempre foi, os rapazes haviam saído primeiro, eles tinham que receber Carlinha e seu namorado que ficaram de visitar a escola nesse dia, os quatro se encontraram e começaram a passear pelo os corredores com uma grande intimidade.

- Vamos amanhã ao Rare de novo? – perguntou André

- Já to sentindo saudade - disse Carlinha.

Não foi difícil para Clara encontrar os meninos na escola, afinal dava para reconhecer Anderson em uma multidão por causa do seu tamanho. Clara achou estranhos os rapazes andarem com outras pessoas, mas não ligou e foi com passos rápidos ao encontro deles.

- Porque vocês me deixaram sozinha na sala? Perguntou Clara.

- Agente tinha marcado de dar uma volta com a Carlinha e o Jackson para lembrar os antigos tempos, e achamos que você queria ficar lendo seu livro na sala de aula – explicou Anderson.

- E desde quando vocês fizeram amizade com essa ai, e o Jackson? Ah, esse playboy de quinta! Sinceramente não estou entendendo vocês, meninos! – Disse Clara aos berros, irritadíssima.

- Nós sempre fomos tão unidos... – continuou Clara com os olhos brilhando. Os quatros jovens ficaram boquiabertos olhando para Clara sem dizer palavra.

- Tudo bem, se não quiserem mais como amiga deveriam ter falado, aposto que já foram até no lago Rare sem mim – continuou Clara agora dessa vez em lágrimas.

- Ei, mas o que está acontecendo aqui? Porque você está chorando? Perguntou Ulisses saindo da sua sala que por falta de sorte de Clara estavam bem na frente.

- Culpa sua, foi depois que a Clara te conheceu que ficou assim – Disse André.

- Ninguém tem culpa de nada. Já passou, vamos Clara, entre aqui na minha sala e tome um copo d’água – Falou Ulisses colocando as mãos sobre os ombros de Clara e guiando-a a sua sala.

- Mas o que deu com essa menina? – Perguntou Jackson.

- Não sei, mas eu quero saber – Respondeu Anderson.

- A Clara ta apaixonada por esse cara, não tem outra explicação, já vi muito em novela, depois que ela ganhou aquele livro do playboy metido ficou assim e um dia desses eu vi eles dois sentados sozinhos no banquinho que fica em frente a escola, estavam no maior clima – afirmou André.

- A Clara estava com esse cara de novo? Sozinhos? Fazendo o que? – Indagou Anderson.

- Ah sei lá, só sei que tinha clima, isso eu percebi, e hoje ela aparece toda bonequinha na escola, pra mim tem caso, eu prefiro a outra Clara – Respondeu André. Anderson ficou pensativo.

- Tem cheiro de amor mesmo – comentou Carlinha com uma leve risada – Não se preocupa não Anderson, antes de chegar ao final sempre piora, mas quando chega é só alegria.

- Como é Carlinha? – perguntou Anderson Confuso.

- Nada não – respondeu Clara - Olha ai o velho sinal para vocês irem para a sala já tocou. Vamos Jack, eu tenho que fazer umas coisas em casa.

- Amanhã as nove no Rare? – Perguntou André.

- Não. Deixa quieto isso, eu ligo para vocês esse final de semana marcando alguma coisa. Vamos Jack, tchau gente – Disse Carlinha.

- Tchau – disse Anderson e André.

- Falou – Disse Jackson.

Clara não tinha ido assistir o restante das aulas e Anderson não conseguiu se concentrar em nada na revisão de inglês que a professora Valéria fazia, não parava de pensar no que Clara estaria fazendo naquele momento. André apesar de ser ativo e animado de mais reconheceu que Anderson não estava bem também. Para Anderson a aula demorou séculos para terminar, quando terminou Anderson foi de imediato a secretaria procurar pela menina, mas quando chegou lá viu que não estava nem ela e nem Ulisses. Anderson foi tomado por uma leve angústia, uma dor, uma vontade de dormir, de correr, de gritar e de tomar banho no Rare, mas não fez nada disso, ele não fez exatamente nada, ficou sentado em um banquinho dentro da escola.

- Ei Anderson, vamos, a torta de frango da mamãe está esperando por nós – Disse André.

- Não, eu tenho muita coisa pra fazer, lavar roupa, arrumar meu quarto e depois eu faço meu almoço – respondeu Anderson olhando para os pés.

- Essa semana não, porque é de provas, mas logo depois serão férias e iremos todo dia para o Rare, eu, tu e a Clara, banharemos até virar peixe e morar lá dentro para sempre – Falou André tentando animar Anderson. Anderson deu um leve sorriso e disse.

- Em todo esse tempo ela nunca agiu assim, gritando, primeiro foi na biblioteca, agora esse escândalo na frente de todos, e esse tal de Ulisses... Esse cara não deveria ter aparecido na vida dela. Olha só como ela veio hoje para escola? – Disse Anderson. Pode ir comer sua torta André, eu vou ficar aqui, eu vou embora daqui a pouco.

O rapaz percebeu que o amigo precisava ficar sozinho um pouco e foi embora. Anderson começou a pensar no que ele, Clara e André já fizeram na vida, as brincadeiras, as loucuras. Percebeu que nunca brigaram nem falaram alto um com outro em todo esse tempo, e entendeu que para isso ter começado a acontecer é porque tinha alguma coisa de errado. Anderson ficou ali sentado, e todos os alunos da escola se foram, sozinho começou a refletir sobre Clara, tudo estava acontecendo tão rápido, fim do ano, Ulisses, novo visual... Pensou Anderson consigo: “A vida inteira foi de um jeito e agora de repente acabou tudo”. Anderson começou a imaginar Clara com o cabelo em rabo de cavalo, se lambuzando numa manga mole a beira do lago Rare, imaginou também caminhando com passos lentos vindo em direção a escola, e se lembrou de uma vez quando ele começou a ensinar ela a nadar – que não foi a muito tempo – ela foi caminhando e chegou ao fundo do lago, e gritou desesperada por Anderson – ela poderia muito bem ter gritado por André que sabia nadar também – E Anderson veio correndo, ela voou para o pescoço do rapaz em um desespero absoluto, ofegante e chorosa disse: “eu pensei que eu fosse morrer”, Anderson lembrou bem desse detalhe em que ela o abraçava na água com muita força, certo que era naturalissímo e menina ter agido com essa intensidade, mas mesmo assim Anderson se pegava muitas vezes mergulhado nessa lembrança. Para Anderson ali não restava dúvidas e começou a falar sozinho silenciosamente: “Eu gosto dessa menina, eu sempre gostei, e nunca me dei conta do que estava acontecendo, eu não posso deixar isso acontecer, não posso perder ela pra esse tal de Ulisses”. No momento em que Anderson terminou de pensar isso uma voz lhe desperta de supetão.

- O que você ta fazendo aqui? Procurando por Clara? Eu já a deixei em casa, não estava em condições de assistir aula alguma, agora ela já está bem. – disse Ulisses naturalmente.

- O que você fez com ela? Ela nunca agiu desse jeito! – perguntou altivamente Anderson.

- Eu não fiz nada, você e aquele seu amigo que pensavam que ela fosse um garoto. A pobrezinha vivia com sua essência feminina embaçada, não a compreendia, ela sofria e nem sabia, quando chega certo ponto as coisas explodem e ela é só uma adolescente de dezessete anos. Ela já teve amigas?

- Não, ela sempre se divertiu muito comigo e com o André.

- Vocês não entendem, ela é mulher e precisa agir como mulher, não basta apenas só se vestir. Aposto que Clara nunca sequer beijou alguém, vocês sempre sufocaram a garota impedindo dela viver. Quando eu fazia a oitava série eu via vocês na quinta e achava vocês três ridículos. Terminei o Ensino Médio e fui chamado para trabalhar aqui, e continuei acompanhando o crescimento de vocês, eu queria de alguma forma me aproximar dela e a fazer acordar para a vida que ela precisava viver.

Continuou Ulisses.

- Eu já tinha em mente de oferecer o livro para ela ler, que ajudaria muito se achar no meio de vocês.

Anderson não se movia. Ulisses continuou falando.

- Estou interessado nela sim, se é isso que está pensando. Vou ajudá-la e vou fazer de Clara uma linda mulher.

- Você está estragando três vidas de uma vez só – Disse Anderson com os olhos flamejantes.

- Estou salvando três vidas, Clara a ser menina e você e o André para se socializarem. Claro que vocês podem continuar sendo amigos, mas tudo tem limite! – Falou Ulisses em tom soberbo – Agora tenho que ir. Até.

Anderson não se mexia, apenas olhava para baixo pensando e pensando.

- Ei, garoto, vai ficar ai até quando? Perguntou o inspetor da escola.

Anderson foi para a casa, caminhando como se estivesse sem rumo.

Jackson estava almoçando na casa de sua namorada e começaram a comentar sobre o ocorrido no pátio da escola:

- Você viu que quando ela falava só olhava para o Anderson, não sei não, pra mim essa garota gosta dele – Disse Carlinha.

- Eu já andei conversando a sós com o Anderson, e ele me disse que ela sempre foi um pouco fria com ele, mas ele nunca se importou com isso.

- Mais um motivo para ser verdade, mulheres gostam disso. Você lembra daquela vez que nós brigamos...

E continuaram a comentar e lembrar de outras coisas. André por sua vez queria mesmo era fazer alguma coisa no final de semana, viu que o clima estava ruim para todo mundo e não teria coragem de sair com o Jackson e a Carlinha sem o Anderson, além de ser chato ir sem o amigo, evidenciaria mais ainda a ideia de segurar vela.

No sábado ensolarado, não havia nada marcado para ninguém, André não suportava a ideia de ter que ficar trancafiado em casa sem fazer nada, ele precisava fazer algo por Clara e Anderson afinal ele fazia parte do grupo.

À tarde, André ligou para Carlinha para fazer algo pelo os seus amigos. Decidiram que André conversaria com Clara e Carlinha conversaria com Anderson. O rapaz liga para Clara pedindo para conversar em algum local reservado, disse que gostava da amiga e que queria entender o que estava passando, ela aceitou cordialmente e a noite foram ao encontro, uma lanchonete próximo a umas usinas do outro lado da cidade. Tinha que ser assim, porque na mesma noite com permissão de Jackson Carlinha marcou com Anderson para conversarem também.

Talvez não precisasse disso tudo, mas o fato é o que o problema principal estava em torno dos dois.

No local combinado tinha pouca iluminação, não havia ninguém na lanchonete a não serem os funcionários. Clara foi com o visual muito mais diferente que de manhã, usou vestido, algo que nunca tinha usado antes, e uma bolsa no braço, exalando do corpo um perfume adocicado.

- Vamos André, diga o que você quer. Uma coisa eu peço antes de tudo, que você seja sincero, não me venha com falsidades. Nós nunca gostamos deles, Jackson e aquela paty, tudo bem vocês podem fazer amizade com quem quiserem, mas logo com eles?

- Ei, Clara. Calma! Eles são mais legais do que você pode imaginar, você está agindo mal em falar deles desse jeito, você nem os conhece, não é? – perguntou André.

Clara notou que André estava diferente, ou seja, sem brincadeiras, percebeu então que a conversa se tratava de algo sério, sério para eles.

- Tudo bem, desculpe. Mas porque vocês não me esperaram para eu ir com vocês? Porque vocês não tinham me falado que tinham conhecido uma galera nova?

- Certo, erramos nisso também. Eu e o Anderson achamos que você deveria ficar sozinha, você tava um pouco diferente, mas eu sei que isso não serve como desculpas, afinal sempre fomos amigos, então, me desculpe, aliás, nos desculpe. – Disse André.

- Nos desculpe? Porque você está falando por ele?

- Você sabe que o Anderson não faria nem metade do que pudesse fazer mal a você, aliás, você e o Anderson...

- Ta. Tudo bem – Interrompeu Clara – Sabe André, eu andei lendo o livro que o Ulisses me indicou e percebi tanta coisa, eu deveria ser mais mulher, eu nunca namorei, eu nunca beijei ninguém, eu preciso entender que sou menina. Nós crescemos os três e eu não tive nenhuma amiga mulher, quando eu menstruei a primeira vez eu busquei auxílio nos livros. Já percebeu isso? Sempre fomos só nós três? Para tudo? Ou quase tudo...

- Eu já beijei e não é lá essas coisas como o pessoal fala. Eu prefiro mesmo ficar com vocês, você o Anderson e agora o Jackson mais a Carlinha. Eu não entendo como se sente, mas posso imaginar que não deve ser fácil, para tudo há uma razão, como dizia um poeta: “Só existe frio para saber o quão importante o calor é, não se pode explicar tal sensação”.

- Pois é, eu gosto de ficar com vocês, mas é que eu nunca tinha tido essa outra visão. Ah, eu ainda não me acostumei com esses dois, Jackson e Carlinha. O Ulisses também é legal e você não deveria ter agido daquela forma, porque você falou daquele jeito? Eu não gostei André! O livro que ele me indicou me ajudou a despertar para a realidade, eu to parando no tempo André!

- Nada disso. Também não viaja né, eu já pedi desculpas, agora vamos voltar como éramos antes, agora será nós cinco, eu, você, o Anderson, o Jackson e a Carlinha, seremos o time perfeito.

- Vocês vão querer beber alguma coisa? Perguntou o garçom.

- Dois refrigerantes, por favor – Disse André.

- Sabe André, depois que li aquele livro eu senti algo diferente, eu queria namorar alguém, ser feliz, viver um romance daqueles de cinema, é tão bonito, eu preciso disso pra mim, daqui a dois meses eu faço dezoito anos e nunca beijei ninguém – lamentou Clara.

- Ora, deixa disso Clara. Você não namora porque não quer, se você parasse pra pensar um pouco ia ver que ao seu redor sempre t...

- Posso te pedir um favor André? Interrompeu Clara, insatisfeita com a conversa.

- Ta. O que é?

- Me beija!

André engoliu seco, perdeu um pouco da respiração e gaguejou dizendo:

- T-t-te be-be-beijar? – Respondeu em voz alta – Um beijo você quer? – Perguntou sussurrando.

- Sim claro, somos amigos, se fosse com algum suposto namorado eu ficaria nervosa, então pra evitar futuros constrangimentos e pra acabar logo de vez com essa de eu não beijar me beija, me beija logo, eu preciso saber como é.

- M-mas Clara, pra beijar é preciso rolar química, te considero como amiga, acho que não rola.

- Seu molenga. Ta. Tudo bem, eu to agindo feito uma desesperada, me desculpe. Vou aguardar a hora certa.

- Uffa, menos mal – Disse André.

- Beleza, então agora vamos marcar nós cinco no Rare esse domingo, certo? Vamos botar uma pedra nisso.

- Sim, claro, combinado de já, amanhã no Rare depois do almoço!

- Sem dúvida!

Foi um conversa parcialmente pacífica, deu tudo certo em partes do plano de André e Carlinha, que a mesma estaria no mesmo momento conversando com Anderson.

André já havia percebido dos sentimentos de Anderson por Clara, mas nunca quis se intrometer e percebeu que Clara via Anderson como um grande amigo e que não passa disso e vai continuar sem dar sugestões. O Domingo a tarde no Rare estaria prometendo. Para Clara seria difícil ter que encarar Carlinha e Jackson como amigos e para Anderson teria que encarar Clara como a garota dos seus sonhos.

Laercio Miranda
Enviado por Laercio Miranda em 09/05/2011
Código do texto: T2958114
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