Clara - O Lago Rare - I

Capítulo I

O LAGO RARE

- Já estou descendo mamãe, não se preocupe eu vou à escola hoje – Respondeu Clara meio irritada com a mãe que a chamava para descer e tomar café.

Todo dia era essa dificuldade para Clara sair do quarto tomar café e tomar o rumo da escola, ela provavelmente pensava “Mamãe sabe todo dia que eu vou à escola, porque todo dia é a mesma coisa?”. Se clara realmente desse valor a essa voz que a incomoda todas as manhãs talvez não pensasse assim. A menina gostava de questionar os mínimos detalhes e geralmente não era tão delicada quanto à maioria das meninas, alguns diziam que ela deveria ser um menino por viver andando com eles e por acabar se portando como eles, mas isso não fazia de Clara uma moça infeliz, dizendo ela, vivia plenamente feliz ao lado de Anderson e André, seus melhores amigos, quando terminou de se arrumar, desceu e foi em direção a cozinha.

- Pronto, faltam dez minutos ainda, sem falar que a escola dá dez minutos de tolerância, dá de arrumar a casa toda antes de ir pra escola – Falou Clara já na cozinha, sentada, adoçando seu café.

Dona Clarice, uma senhora com mais de quarenta e cinco anos, vivia de avental, os cabelos grisalhos sempre no mesmo penteado: amarrado para trás dava a idéia de ser ainda mais velha, tinha os olhos azuis e gostava de dar umas risadinhas do tipo huh huh huh huh, pra lá de agradáveis, se divertia com a irritação da filha, mas não fazia de propósito. Clara logo esquecia tudo depois de quatro passos fora de casa. Não havia muita comunicação entre as duas, aliás, tinha, mas não a necessária.

- Suas férias já estão chegando hein filha o que vai fazer? – perguntou dona Clarice.

- Vou decidir daqui até lá – Mal acabou de tomar café e já se levantou para sair.

- Tchau mãe.

No Caminho rumo à escola, Clara gostava de admirar o sol, as casas, as arvores e os feixes de raios de sol que passavam por entre elas, o frio da manhã e o sol em sua frente aquecendo de leve davam uma alegria nostálgica fazendo esquecer qualquer pensamento ruim. Já perto da escola dava de ver as grandes metalúrgicas que ficavam aos arredores da cidade, eram tão grandes que pareciam nuvens bem escuras de chuvas no horizonte. Do lado contrario da cidade o clima mudava, a relva reinava em um terreno repleto de arvores que davam quase todo tipo de frutas, logo mais havia algumas colinas que guardavam o Lago Rare, devido à encosta, as colinas e um caminho rochoso dificultava a presença de banhistas no lago, tornando um desafio para quem quisesse se refrescar em suas águas. Clara não cansava de admirar as paisagens ao redor e não era do tipo que compartilhava desses sentimentos.

Logo que virou a última esquina como de costume vira Anderson, com seu olhar tímido encarando-a até chegar ao portão da escola, apesar de ser alto e bem forte não se orgulhava, pelo o contrário, se sentia inferior, mas ao lado de Clara ele mudava completamente.

Anderson sabia que Clara chegava à escola sempre no ultimo minuto por isso se atrasava de propósito para sempre encontrar com a amiga no portão da escola.

- Anderson, eu não preciso ser escoltada até a sala de aula, a aula já deve ter começado – Cumprimentou Clara sem a menor cordialidade.

- Eu acabei de chegar, te vi de longe e resolvi te esperar – replicou Anderson.

- Eu esqueci o trabalho da professora Aline, vou me dar mal no fim do ano, preciso de nota agora - comentou Clarice caminhando ao lado de Anderson rumo a sala.

- Eu te empresto o meu, a aula da professora Aline é só depois do intervalo dá tempo de você copiar.

Anderson é um bom rapaz, ele não fazia isso só por Clara, era amável, cordial e sempre estava disposto a ajudar qualquer um. Vivia sozinho com um tio e poderia usufruir de uma liberdade dada pelo o mesmo, mas Anderson tinha a cabeça no lugar, aliás, tinha que ter.

Quando o professor Carlos ia dizer bom dia, Clara e Anderson entram na sala com passos largos se dirigindo as suas respectivas carteiras.

- Eu já ia me esquecendo, Princesa Clara e Duque Anderson um dia vocês ainda casam – falou com ar de gozação o professor. Apesar de serem bem grandinhos e estarem cursando o terceiro ano do Ensino Médio, os dois não gostavam nada dessas brincadeiras, eles preservavam a amizade sincera que fizeram quando crianças. Professor Carlos esperou que se ajeitassem nas carteiras para enfim dizer:

- Bom dia classe hoje falarei sobre como administrar as mixarias que vocês recebem de seus pais,cada centavo tem de ser...

- Ei Anderson, olha pra cá – murmurou André cutucando as costas de Anderson - Hoje, depois da aula sem falta lá no lago Rare, chama a doidinha da Clara para ir também.

- E você acha que precisa mesmo chamar? Ela vai sozinha – Respondeu Anderson. Clara que sentava nas carteiras da frente se virou olhou para os rapazes e sorriu junto com eles sem saber o motivo. E seguiu uma aula chata pra lá de econômica.

As horas passavam, chegou o intervalo e Clara copiou seu trabalho como o combinado, todos tiveram nota, a segunda aula quase não terminou para o trio que esperavam ansiosos para mergulhar e se divertir até cansar. Terminado a aula os três foram ombreados pelo o pátio da escola até o portão de saída.

- Essa ultima aulinha tirou meus nervos – Queixou-se Clara passando pelo o portão da escola com seus amigos.

- Não se preocupe o Rare é capaz de trazer de volta nervos perdidos – Completou André.

- Já é meio-dia, não é hora de almoçar? Eu estou com fome e minha mãe deve estar me esperando para o almoço. Ela reclama tanto dizendo que devo me alimentar nas horas certas, acho que ela tem medo que eu fique magra de...

- Vamos correndo, quanto mais tempo melhor – Falou alto André pegando pelo o braço de Clara puxando e correndo – Vamos Anderson, fome não vai ser problema o Rare é lotado de arvores que estão lotadas de frutas.

E foram os três correndo ao encontro do esperado lago. Com as mochilas pesadas ficou difícil atravessar a encosta e escalar as colinas, mas eles tinham uma energia sem explicação, Anderson ficava o tempo todo ao lado de Clara com medo que ela escorregasse e queria estar ao lado para segurá-la se isso acontecesse, André ia na frente sem freios, parecia ter o dobro da energia de Anderson e Clara. Demorou pouco mais de vinte minutos e os três estavam nas margens do lago Rare, sem cerimônias caíram logo na água fazendo uma algazarra quase indescritível, com exceção de André que subiu em uma arvore e pulou de um galho dando um grande salto no centro do lago. Brincaram do pega dentro da água, praticavam várias modalidades da natação e criaram novos estilos também. Era um lago de águas claras como um espelho, era irresistível ficar as margens do Rare sem dar um mergulho, quase se podia ouvir o lago nos chamar pelo o nome.

Brincaram tanto que esqueceram a fome e só foram sentir ela depois das duas horas foi quando pararam a beira do lago, deitaram na sombra de um cajueiro olhando para as nuvens que vagavam no céu.

- Ah, estou morrendo de fome, mas estou tão cansada que não tenho forças nem pra comer, Anderson e André meus súditos – Clara bateu palmas com ar imperial – Ordeno que recolham os melhores frutos para sua rainha que está com fome.

- Hahahaha!- Gargalhou André

- Pois não, rainha preguiçosa que não faz um trabalho e só chega ao último minuto na sala. Se você fosse rainha eu mudaria de reino, nem que fosse para servir a uma bruxa, seria uma corte defasada. Faça seu ritual de adoração a Miss Preguiçosa que vou pegar meu almoço.

- Espera, espera André, eu vou contigo – Disse Anderson.

- E vai me deixar aqui sozinha para ser picada por cobras e insetos venenosos – choramingou Clara.

- Fica ai Anderson eu volto já. – ordenou André. E ficaram os dois sozinhos por alguns minutos, que não disseram palavra até André voltar.

André era um rapaz muito divertido, gostava de piadas e parece que vivia sempre de bom humor. Havia falado “meu almoço”, mas seria incapaz de voltar para os amigos sem ter trazido consigo frutas para eles também e de fato foi o que aconteceu. Comeram, descansaram e voltaram a mergulhar no lago outra vez, o sol já estava se pondo e começava a soprar uma brisa sobre eles arrepiando-lhes a pele e dizendo que já estavam na hora de ir embora. Deram os últimos saltos e saíram do lago.

- Não faço idéia do que minha mãe pode fazer com meu couro – Lamentou Clara

- Ah eu vou ficar com a louça do jantar, estou sentindo isso – Comentou André tristonho – Anderson você não tem com o que se preocupar tem a chave de casa e seu tio nem se sabe se chega hoje em casa, sorte sua em viver assim.

- Grande sorte – murmurou o rapaz.

Cruzaram as colinas, subiram o barranco. O caminho de volta foi mais longo que a ida, pois o trio estava exausto, vieram chegar à cidade à noite. Os três se despediram e foram para suas casas, Anderson não tinha o que temer, mas André e Clara teria uma boa bronca a compartilhar no dia seguinte na escola. Chegando André em casa entrou pela a porta da frente com a maior naturalidade buscando o pai com os olhos, quando achou disse:

- Já sei, a louça da semana é minha e vou ficar sem mesada esse mês!

- Não meu filho, claro que não, sem mesada esse mês? Não pode! – respondeu Sr. Tito. André já estava abrindo o sorrindo quando foi interrompido pela a voz grave, alta e empostada do pai dizendo:

- Nem esse mês, nem no outro e nem depois do outro! A louça do almoço e do jantar será sua pelo o mês inteiro, agora vá tomar um banho, come alguma coisa e vá dormir e não quero ver filho meu saindo de casa de manhã cedo e chegando de noite, se ao menos estivesse trabalhando...

Enquanto Sr. Tito falava André foi em direção ao banheiro até não ouvir mais a voz do seu pai falando na sala. Ele pensou consigo: “bom, poderia ter sido pior, o Rare precisa de nós dentro dele e nós precisamos dele, o que fazer diante de tal romance?” e ria sozinho em meio aos seus pensamentos.

A mãe de Clara não disse absolutamente nada, seu pai se encarregou de despejar sobre ela toda a bronca, ela ouviu calada, tomou um banho e foi dormir.

No dia seguinte não sentiam o menor arrependimento, estavam com as almas saciadas um sentimento de realização invadia o interior de Clara, Anderson e André. Logo estavam ali reunidos conversando sobre as broncas no intervalo da escola, riram alto e já planejavam quando poderiam sair de novo para se divertir. O resto do dia passou rápido e foi mais normal como o de costume e não vale à pena relatar aqui. O inicio real da história começa numa sexta-feira quente, sem brisas, sem nuvens no céu...

O dia estava ensolarado e lá estavam os três na biblioteca da escola fazendo um trabalho de História que parecia não ter fim.

- Eu nunca vou me acostumar com história, pra que saber quando Anthony Miraldo morreu? O que vou ganhar com isso? – Falou Clara meio indignada.

- Você precisa saber para poder passar de ano, não consigo imaginar outra finalidade – Respondeu Anderson.

- Grande parte da História é uma tremenda fofoca, veja bem, um povo estranho nasce outros morrem e temos que decorar essas datas, saber o que eles fizeram da vida... Eu só estudo por que não tem outro jeito. Devíamos colar da internet tudo isso, faríamos algumas modificações e estaria perfeito – Tagarelou André.

- Façam o que quiser eu vou dar uma volta, já cansei desse trabalho, da professora e da matéria, qualquer coisa me dá um toque no celular – Falou clara se levantando e se despedindo dos amigos.

- Para mulher é tudo tão fácil hein Anderson? – comentou André e Anderson apenas sorriu e balançou a cabeça.

Clara não havia saído da biblioteca, não porque não quisesse, mas porque avistou um livro que lhe chamou muito a atenção com o título; Apaixonando você. Clara não era uma menina que gostava de ler, mas o livro realmente tinha chamado a atenção dela, no momento em que ela colocou a mão sobre o livro empoeirado outra mão maior, mais rígida, pegou também.

- Quer dizer então que Clara Duarte gosta de romances, hum? – indagou o dono da mão desconhecida.

- Não gosto, quer dizer, gosto... Mas na verdade eu estava indo ao banheiro e então eu vi e...

- É uma linda história – Interrompeu o rapaz fazendo descaso da explicação de Clara.

- Então já leu? Mas o que queria com...

- Ah, é um livro tão maravilhoso que dá vontade de ler várias vezes – interrompeu mais uma vez, não olhava para Clara, apenas conversava com os olhos fitos no livro – Um ótimo livro – Suspirou o rapaz.

- Desculpe-me por minha falta de educação, me chamo Ulisses – Levantou os olhos ao encontro dos olhos de Clara e sorriu. Clara tomou um leve susto, retribuiu-lhe o sorriso e olhou para baixo colocando uma pequena mecha de cabelo atrás da orelha.

- Pode ler o livro, eu espero você terminar de lê-lo, creio que está ansiosa para iniciar a leitura – Falou Ulisses.

- Ah, sim, claro vou alugá-lo agora mesmo.

Por um momento a menina olhou para Ulisses com olhos recuados, esperando ele se despedir e em fração de segundos com uma ultima olhadela observou a cor dos olhos castanhos de Ulisses, seu cabelo preto e liso mal penteado, sua barba rala por fazer e um sorriso branco estonteante. Mas no último momento Clara percebeu que estava bancando a boba.

- Ulisses, não se preocupe, em menos de dez dias o livro voltará para cá, enquanto isso leia outro, não é possível que só exista esse romance aqui na biblioteca.

- Evidente que não, farei como sugeriu – Sorriu Ulisses. Sem motivos, Clara começou a se irritar com o vocabulário de Ulisses e pensou rápido consigo: “pra que falar desse jeito?”.

- Tchau, boa leitura – Se despediu do rapaz e foi ao balcão da biblioteca registrar o empréstimo do livro.

- Ótimo livro filha – falou a bibliotecária. Clara a responder com gesto algum apenas assinou e voltou à mesa dos amigos, sentou-se e não disse palavra. André que já a acompanhava com os olhos um metro antes de sentar-se a mesa viu que estava com o olhar sério e uma ruga muito rígida na testa.

- Está com dor de barriga Clara? – perguntou André. A menina não disse nada.

- E ai, vocês já terminaram o trabalho? – Perguntou Clara coçando o nariz.

- Você se levanta dá um rolé de três minutos depois volta bancando a professora? – Respondeu André indignado.

- Clara, o que você tem? – Perguntou Anderson – Que livro é esse? Desde quando você gosta de ler?

- Foi o Ulisses que disse pra eu ler, vocês o conhecem? Ele é de que ano?

- Ah, o branquelo com cara de psicopata, ele não estuda, não aqui, trabalha na secretaria na escola. Não me diga que você caiu no papinho ridículo dele? – Indagou Anderson. Clara ficou calada.

- Hum, bochechas vermelhas, livrinho romântico, já vi tudo, você vai deixar Anderson? – Comentou André às risadas.

- Eu não acredito que você seria capaz de...

- Ah já chega! Vocês fazem uma tempestade num copo d’água, ele apenas me indicou o livro – Gritou Clara interrompendo Anderson.

- Sim, a tempestade. E o trabalho de história? – perguntou a professora que estava ao lado coordenando outro grupo – Vocês estão em uma biblioteca, lembrem-se disso, e o trabalho vale nota!

Uma leve brisa entrou pela a janela que deixou todos mudos como mudos de verdade. Os três geralmente brigam, mas o grito de Clara foi tão sério que intimidou os dois rapazes. Depois de alguns minutos Anderson resolveu quebrar o gelo.

- Olhem só, eu já achei o conteúdo, já fiz a resenha só falta passar a limpo, acho melhor você reescrever Clara, tem a letra mais legível.

Não saiu uma letra nada agradável das mãos de Clara, mas o trabalho foi entregue exatamente quando terminou a aula, ganharam nota e saíram da biblioteca. Enquanto estavam cruzando o pátio, Clara se afastou dos seus amigos e insistiu em beber água no bebedouro que ficava no corredor da secretaria da escola, não viu ninguém em especial. Correu ao portão para tentar alcançar Anderson e André, mas foi inútil, os dois decidiram que Clara deveria ficar sozinha um pouco, então ela teve de ir sozinha. Para Clara o caminho até a sua casa fora muito longo, sentia muito sono e não via a hora de se esparramar em sua cama. A esperteza da menina era fascinante, chegou em casa sorridente tentando esconder uma angústia que achava que estava estampada em seus olhos.

- Oi Mãe, não se preocupe eu lanchei não faz nem uma hora na escola, vou dormir um pouco, as aulas de História consomem meu bom humor – Falou Clara sem nem ao menos olhar nos olhos da mãe e subiu as escadas em direção ao quarto. Dona Clarice não questionou, mas sabia que a filha não estava bem (Mães são terríveis para fazerem leituras analíticas com um alto grau de precisão nos filhos), mas Dona Clarice não quis se intrometer.

Clara tirou o uniforme da escola, uma calça jeans, tênis padrão branco e uma blusa branca com algumas estampas cor-de-rosa que caracterizam o uniforme das meninas, pôs seu pijama e se estirou em sua cama, abraçou um urso velho e um pouco encardido e fechou os olhos, um filme de tudo o que ela havia feito na manhã estava passando em sua cabeça e em alguns trechos ela fazia questão de parar e repensar várias e várias vezes. De repente se deu conta que não estava com sono coisa nenhuma, queria era pensar e refletir no episódio que acontecera na biblioteca com Ulisses, se revirou na cama e começou pensar consigo mesmo: “Meu Deus como eu sou boba, é só um funcionário da escola, é apenas um livro idiota, em todo lugar existem livros e funcionários”, quando pensou no livro foi como um estalo, correu para apanhar o livro que tinha deixado em um criado-mudo na sala. Mas para a surpresa de Clara ao descer as escadas viu que não tinha livro nenhum nos móveis da sala, a não ser as enciclopédias antigas de seu pai, um leve desespero começou a afligir Clara, pensou consigo “Devo ter esquecido na escola, como sou burra!”, lembrou-se do que havia pensando em sua cama sobre ter apenas um livro e conquistou um controle momentâneo da situação.

Logo mais tarde Clara almoçou, em um intervalo com menos de 4 horas jantou e foi dormir, a tensão do dia produziu um cansaço que fez Clara pegar no sono rápido. No dia seguinte, Clara acordou cedo, tomou banho, se arrumou e desceu, sentou-se a mesa para tomar café vinte minutos de antecedência em relação ao que costumava tomar. Sua mãe surge na cozinha coçando os olhos.

- Bom dia filha, porque vestiu o uniforme, vai ter aula hoje? Em pleno sábado?

- Havia esquecido completamente disso, se me lembrasse estaria dormindo ainda – respondeu Clara indignada com todo o trabalho que havia feito de se arrumar rápido.

- Ninguém merece! Logo em um sábado e eu aqui toda empacotada para escola.

Clara subiu trocou de roupa, sentou-se na cama e se sentiu um pouco só. Na verdade Clara precisava era de conversar com alguém. Sempre foi muito brincalhona e em seus lindos 17 anos, não se dava conta da idade que tinha, apesar do lindo corpo maduro e o sorriso sereno no rosto foi sempre uma meninona, não havia feito muitas amizades com meninas e as poucas que fez não foram grandes. Anderson e André sempre estiveram presentes desde o primeiro dia que pôs os pés em uma escola, sentia-se preenchida com a amizade dos meninos. A feminilidade havia estourado de uma vez e apesar de se julgar durona e inteligente não sabia como lidar com o que estava acontecendo. Clara simplesmente não parava de pensar em Ulisses.

No dia anterior, no momento que Clara se afastou dos meninos para beber água do outro lado da escola, Anderson e André foram para casa conversando e marcaram de ir outra vez ao Rare, decidiram ir sozinhos, pois julgaram que Clara estaria em seus dias difíceis. E fizeram como o combinado, às nove horas da manhã estavam chegando às margens do Rare. Apesar de ser absurdamente natural tomaram um susto ao ver que duas pessoas chegaram primeiro que eles.

- Que azar, eu devia comprar esse lago – murmurou André.

- Sua família iria passar quatro gerações para poder pagar – comentou Anderson.

- Exagerado – André focalizou a vista e disse: - Mas aquela ali é a Carlinha, ela terminou o Ensino Médio ano passado, lembra Anderson?

- Claro, ela ganhou vários concursos de melhor aluna, de vôlei feminino, e aquele ao lado dela é seu namorado. Será que eles fizeram ou farão, quer dizer eles fariam... – Anderson parou de falar, pois percebeu que não estava falando com ninguém, André já havia descido a pequena colina e já estava conversando com os banhistas, Anderson deve ter se sentido um bobo.

O rapaz acabou descendo a colina também e chegou cumprimentando.

- E ai pessoal, tudo bom?

- Ah, esse é o Anderson ele estuda comigo – Falou André.

- Sim, já o vi pelo os corredores da escola ano passado, mas tem cara de quem já terminou os estudos – comentou Carlinha.

- Eu iniciei os estudos dois anos mais tarde que a maioria, mas sinto que tenho dezessete anos – explicou Anderson com voz rouca.

- E então vocês já estão de saída? Perguntou André com ar leve de arrogância.

- Não são os nossos planos agora, aliás, depois que vocês chegaram acho melhor agente ficar aqui conversando e se divertindo um pouco mais.

A principio foi uma conversa um tanto chata, mas o namorado de Carlinha tem um grande carisma e conquistou a amizade de André e Anderson sem muita dificuldade, Carlinha também não é diferente, três horas mais tarde os quatro estariam conversando como grandes amigos de infância e a noite até marcaram um cinema, Anderson no primeiro momento quis recusar chegou a cochichar para André “não podemos segurar vela”, mas acabou indo e se divertiram à beça.

Laercio Miranda
Enviado por Laercio Miranda em 08/05/2011
Código do texto: T2957018
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