1° capitulo. Tudo. Pronome indefinido.
Manhã de 24 de julho. Foi a primeira vez a vi. Segurando a porta aberta, ela nos olhava de um a um curiosa. Os olhos grandes e extremamente verdes davam um contraste perfeito com a boca rosa. Tinha um nariz pequeno e arredondado, que na parte direita pendia um piercing. Usava uma camiseta branca, com a frase I’m not beauty Queen, uns dois números maiores que o dela e um short jeans curto, o que deixava suas pernas grossas bem amostra. “É sim. Com certeza a rainha da beleza...” discordando da sua blusa, era a única coisa que passava em minha cabeça naqueles instantes.
- Mãe, eles chegaram. Ela falou um pouco mais alto em direção ao outro cômodo. - Podem entrar.
Ela se virou e o cabelo longo e preto serpenteou em suas costas. Com os pés descalços foi ate o sofá do canto e sentou dobrando as pernas, exatamente como fazíamos quando estávamos no jardim de infância. A televisão estava ligada passando algum tipo de desenho animado pelo tom das vozes. Depois de alguns segundos entramos na sala, como estava por ultimo, fechei a porta com cuidado. Me virei e uma senhora de pouco mais de 30 anos acabava de entrar na sala. Parecia uma daquelas atrizes de filmes famosos. Seus cabelos castanhos eram cortados bem rente a orelha, formando par com os olhos amendoados. Era uma mulher linda, mas não tão linda quanto a que, despreocupada, sorria sozinha para a TV.
- Bom dia. A mulher se encaminhou ate nós e sorriu. Tinha um sotaque de fora carregado. –Que bom que chegaram.
- Desculpa nosso atraso, Dona Helena. Nosso ônibus quebrou e tivemos que tomar outro... Meu tio começou a explicar, mas com um balanço de cabeça e um muxoxo ela o cortou.
- Deixa disso, Seu Julio. Eu entendo perfeitamente.
“Entedia nada” pensei comigo. Olhando em volta, naquela sala, apartamento e condomínio eu sabia que aquelas pessoas nunca tinham pegado um ônibus na vida.
- Esses transportes públicos hoje em dia... A mulher recomeçou a falar com o sotaque engraçado. A obra agora é um pouco mais complicada do que aquela que o senhor fez no banheiro... Olhando pra mim ela sorriu. - Eu não conheço esse rapaz.
Meu tio me olhou e assentiu com a cabeça.
-Não conhece. Esse é meu sobrinho: André.
André Camargo Torres. Eu mesmo. Alto, magro, alcançando os vinte e três anos e Pedreiro. Desde quando? Desde quando a faculdade de engenharia civil ficou cara demais para a minha mãe e eu não conseguia arrumar um emprego. Nascido e criado em bairro de classe média baixa, adiar planos ou sonhos por falta de dinheiro não era nenhuma novidade. Aquele carrinho de controle remoto, um tênis maneira que todo mundo usava ou, como era o caso, o sonho de um diploma superior. Mas em nenhum momento eu lamentava, era sim uma vida sem muitos lazeres, mas como meu pai sempre me dizia: Caráter não é construído com carrinhos ou tênis caros, mas com trabalho e cansaço no fim do dia. E era por isso que estava ali, trabalhando como pedreiro com o tio Julio. Quando se é o único homem da casa, com uma mãe já senhora e uma irmã para cuidar, receber um canudo vazio não era a minha prioridade naquele momento.
-A senhora disse no telefone que já tinha tudo na planta e por isso já trouxe os meninos hoje. Para não perdermos tempo.
A frase “Não perdermos tempo” iluminou o rosto da mulher. Ela abriu um sorriso e colocou a mão na barriga.
- Ai que bom, Seu Julio. Nós temos apenas cinco meses ate Allice chegar para ver as reformas.
Olhei para suas mãos alisando a barriga em pouco saliente que pouco antes estava disfarçada pelo vestido solto e florido. Alguém mais parecia estar observando toda aquela conversa. Olhei para trás e vi a garota encarando a barriga da mãe. Ela parecia distante e naqueles segundos, eu daria qualquer coisa para saber no que ela pensava. Virando a cabeça para mim, ela saiu de seu pequeno transe e sorriu. Suas bochechas ficaram vermelhas e então voltou à atenção para o programa a sua frente.
Tentando voltar o foco a conversa, vi que eles tinham começado a andar. Dei um impulso para frente e vários passos apressados para perto, novamente, deles. Como a mulher e meu tio estavam absortos em uma conversa sobre uma parede chapiscada de salmão, o único olhar confuso sobre o meu pequeno atraso era o de Jarbas, mas aquele era confuso de natureza, então não dei muita importância.
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Se estiver gostando posta um comentário, ficarei saltitante de felicidade *-* Na segunda posto o segundo capitulo.