Na sua pele. Cap. 25.

N/A: Acho que esse cap ficou meio repetitivo, chato, e clichê, mas foi o máximo que consegui pra postar meio que RÁPIDO, entendem? Enfim, tipo fico muito feliz com os comentários de vocês ! Beijos, L.

Cap.24

POV Annabelle

Eu sabia o caminho até a casa de Dani. Não era muito longe dali. Rubens, tinha me levado até lá duas vezes, e eu me lembrava como se fosse ontem, ao mesmo tempo que parecia fazer mais de um século.

Foi como se minha mente tivesse decorado o trajeto até a casa dele, porque quando sai do Salão de Beleza, meus pés já sabiam por onde me levar. Apenas algumas quadras. Valia a pena?

Muito. Só por vê-lo já valeria. Só por tentar.

Já era tarde. Noite mesmo. Suspeitei que a mãe de Débora pudesse ficar bastante preocupada por isso. Mas provavelmente, Débora tinha tanta coisa para comprar e ajustar no rosto, que Paula deveria prever que demoraria. Que eu demoraria.

Na verdade, conscientemente eu não entendia porque estava fazendo aquilo. Eu seria como uma estranha, vinda às pressas até a casa, de um cara que supostamente seria namorado da ex amiga dessa conhecida. E meu, se isso já é confuso de se escrever, imagine a situação.

Imagina que você é um cara perfeito que namora uma garota legal. E essa garota legal, tem uma amiga meio frustrada e revoltada, porque gosta de você também – apesar de você e nem da sua namorada saberem disso. Então, de repente, a sua namorada, se torna uma atirada maluca, e começa a andar com um monte de galinhas idiotas.

Então, a amiga revoltada da sua namorada, tromba com você, e acaba

por falar um monte de merda sem nexo, sobre você e a sua namorada, e sugere que você de um tempo com ela – praticamente. E você pensa que ela é uma maluca – obviamente. Ri e ignora qualquer coisa do tipo. Então você tem momentos românticos com a sua namorada, e depois que ela vai embora, aparece essa maluca ex-amiga, completamente transformada, bem na porta da sua casa. A primeira pergunta seria é claro: Como ela tem seu endereço, e o que ela veio fazer ali?

Eu sinto realmente pena do Dani. Tudo isso parece não ter nada haver com ele, mas parece também ter acontecido por causa dele.

Porque no caso, eu era a namorada, e de repente a minha amiga revoltada (ou ex), tinha tomado o meu lugar por ser apaixonada por ele, e então, tinha virado uma atirada. E eu, redimidamente tinha tentado convencê-lo a ficar longe dela na minha forma. E ele devia me odiar. E odiaria mais ainda o fato de eu estar indo diretamente até a casa dele. E sem passar pelo porteiro, afinal, Dani tinha me explicado direitinho onde tinha uma entradinha na cerca, que qualquer um poderia atravessar. E ele nunca tinha contado isso para ninguém. Só para mim.

Só que no caso eu era a Débora. Além de ser confuso, ele ia querer que eu explicasse muita coisa. Isso se não me expulsasse de lá a pontapés.

Não, Dani era um cara legal demais para fazer isso. Eu sabia disso.

Mas no mínimo ele acharia muito estranho e revoltante. E uma parte completamente esquisita demais, começou a especular o que Dani pensaria dessa nova e reformada Débora que eu me transformei. Será que ele gostaria desse novo visual que eu tinha arquitetado?

Diretamente para Débora, e indiretamente para mim?

Ou será que ele ainda preferiria milhões de vezes eu como eu era e sempre fui, Belly, no meu corpo de longos cabelos loiros, que a Débora de verdade estava usufruindo?

Talvez ele nem reparasse que eu tinha mudado de visual – como Débora. * E por que isso importava, afinal? Eu voltaria a ser eu mesma não voltaria?

Talvez Dani nem estivesse em casa.

Talvez, se estivesse a irmã dele atendesse a campainha. E eu não iria saber o que falar.

Ou talvez eu não achasse a entrada na grade.

Mas eu rezava para que fosse tudo ao contrário.

Felizmente, quando eu cheguei até os apartamentos dele, edifícios não muito grandes, compostos por tijolos tipo marrom-escuro, vi a Pitangueira que ele tinha dito. Debaixo da arvore, a grade parecia majestosa, mas eu já conseguia avistar onde o arame estava desenroscado. Eu passaria por ali sem nenhum problema.

E foi isso que fiz. Ainda estava com as sacolas de compras – roupas, acessórios, joias, maquiagens e perfumes bugigangas- , então antes de tudo, entrei no mercadinho que havia ao lado dos apartamentos, fui até o simples banheiro que tinha ali, e troquei o uniforme por um vestido longo e preto, cheio de bordados, que eu simplesmente tinha amado, e fazia um contraste perfeito com os meus braços brancos.

Quando olhei para o espelho eu ainda não conseguia acreditar que a imagem refletida era mesmo eu. Sei lá, achava que estava ainda mais bonita – um bonita diferente- do que quando era Annabelle de verdade, com os cabelos loiros e tudo. Talvez eu gostasse de ser diferente. Eu era tão linda. Cara, isso era enlouquecedor. Enlouquecedor. Passei umas boas doeses de rímel, e gostei ainda mais de como eles deram ênfase aos enormes olhões meio cinza e azuis que era meus agora. Eu sabia porque tinha feito isso. Era irracional, porque eu não era aquela garota, mas eu mesmo tempo eu queria que Dani gostasse dela. Na verdade, eu deveria gostar que Dani preferisse a mim, loira, eu mesma, de fato. Mas uma parte louca, queria que agora que eu habitava essa nova garota, ele também a achasse atraente. Era como se duas garotas estivessem disputando o mesmo cara, e como se eu fosse as duas garotas. E no fundo, era isso mesmo.

Sai do banheiro, e reservei uma parte do armarinho de bolsas do mercado, guardando as compras e levando a chave comigo. Por sorte, ninguém havia ao menos notado minha presença.

Rezei para o mercado não fechar enquanto eu estivesse falando com Dani. Bem, era mais provável que eu nem falasse. Mas pelo menos eu teria tentado alguma coisa.

Quando invadi o prédio, meus novos cabelos enroscaram-se, um pouco, na grade enquanto eu me comprimia ali dentro - eles eram tão compridos! -, mas por fim consegui atravessar com o lindo cabelo preto e liso são e salvo. Como eu adorava aquele novo cabelo. Eu NUNCA tinha dito um cabelo assim. Até o cheiro de do shampoo de kiwi que ele emanava me invadia e me satisfazia.

Quando analisei o ambiente que agora estava ao meu redor, senti que tudo estava meio sombrio ali. O lugar era muito arborizado, e um cheiro de azaléias invadiu minhas narinas. Eu gostava dali. Sentia como se nada tivesse mudado. E embora só fizesse um dia, eu me sentia uma pessoa inteiramente diferente.

Os prédios de Dani tinham garagem ao ar livre e os prédios, apesar de simples eram simpáticos e tinham apenas quatro andares.

Só o que eu me lembrava era que ele morava no segundo andar. Não fazia a menor ideia do bloco, do apartamento, nada.

Será que Dani era famoso pelos condôminos? E mesmo se fosse será que saberiam onde ele morava? Será que eu encontraria algum condômino, que eu me sentisse não tímida para perguntar? Será que nenhum vigilante me pegaria e me perguntaria quem eu estava

visitando?

Comecei a avançar sobre a grama, metros e metros, rumo a algum lugar que eu não sabia exatamente qual era, e desviando dos carros que estavam estacionados ao ar livre. Sai traçando pelos caminhos abalizados de cimento. Ao longe, enxerguei uma luz que parecia vir de algum lugar não próximo. Da área de lazer, é claro. Se eu esforçasse meus ouvidos, conseguiria ouvir os burburinhos, bem de longe. Mas antes que eu pudesse andar em direção deles, eu ouvi uma voz, às minhas costas. E eu sabia que ela era dirigida para mim.

-Ei, quem é você? – A voz perguntou, meticulosamente. Sem ser agressiva ou agradável. Meu corpo todo tremeu e se arrepiou. Eu conhecia esse timbre. É claro que conhecia. Tinha passado o mais fantástico mês da minha vida ouvindo esse timbre, sussurrando coisas doces em meus ouvidos, e o dono desse timbre beijando os meus lábios. Só que eu estava morando em outro corpo, em uma realidade longe dele, e sentia como se já tivessem passado anos e uma enorme cratera nos separasse. Eu hesitei ao me virar. Ele não tinha me reconhecido como Débora ainda, por que eu apenas estava com os meus cabelos novos, lustrosos, lisos, apenas com algumas ondulações na ponta, e tão pretos que até se confundiam com a noite, e cortavam as costas, um pouco acima de minha cintura.

Eu não acreditava na minha sorte de tê-lo encontrado mais fácil do que eu imaginava. E de estarmos sozinhos. Mas eu estava me sentindo uma idiota por estar ali. Eu era uma ESTRANHA. E isso, era bizarro demais.

Eu não acreditava, que apesar de tudo eu falharia na minha missão de tentar conversar com Dani, mas se eu realmente me revelasse, o que eu falaria por exemplo? Não havia o que dizer!

Mesmo assim, eu ainda devia uma resposta. E evitando a enorme vontade de encará-lo, os feixes brilhantes de seus olhos, permaneci de costas.

Eu não poderia cair na tentação, e fazer parecer mais ridículo do que já era, só que pelos olhos dele.

Tentei disfarçar a voz que ele provavelmente saberia que era de Débora ao responder a pergunta dele.

POV Dani

-Não sou ninguém. – Respondeu a voz rouca da garota, suave, mas, forçada. Franzi o cenho, a continuar me apoiando no Ford Azul marinho, com umas das mãos, e rasgando ainda mais os meus jeans velhos ao pisar na barra que eles tinham.

-Alguém, com certeza, você tem que ser. – Continuei com a conversa, sem forçar a barra com a garota. Eu a tinha visto irromper pelo meus esconderijo. Bem, mais algumas pessoas sabiam, mas todos prometeram nunca contar para ninguém. Eu mesmo tinha traído, essa regra, óbvio, contando tudo para Belle. Mas agora eu não desejava ter traído.

Como eu me sentia estranho sabe? Era como se a minha parte consciente me dissesse que estava sendo extremamente burro ao querer, de repente me esquivar da Belle, assim, de uma forma tão confusa, só por ela ter agido diferente por um dia. E a minha parte subconsciente, dizia que eu tinha que ouvir esse meu instinto que estava querendo repelir a garota da minha vida, e escutar aquela ex-amiga psicótica dela.

Eu não fazia ideia do que repentinamente tinha me atingido. Eu estava confuso. Meus sentimentos pela Belle não pareciam ter mudado, mas de qualquer jeito, uma parte de mim estava completamente hesitante.

E isso era frustrante.

Enfim, voltando a garota. Eu tinha notado-a, porque ela era evidentemente linda. Quer dizer, apesar de ter uma namorada – que eu amo, logicamente- mega- gata e tudo mais, eu ainda sou um cara. E não consigo deixar de reparar quando alguma garota, aparentemente intrusa, chega com seus cabelos meio ondulados e sacolejantes, e passa com seu físico esbelto, e com dois pontos luminosos meio azuis que parecem ser seus olhos, sob o buraco disfarçado da grade. E sim, mesmo de longe dava perceber que ela era bonita.

E eu a tinha observado, misteriosamente, com seu vestido preto, caminhar meio que indecisa até ali. E agora, eu estava falando com ela.

Quem sabe, ela tivesse uma amiga morando ali. Quem sabe a gente pudesse ser amigos.

Eu bem que estava precisando de uma amiga. Alguém, além dos meus machistas amigos testôsterônicos, que não ficassem me acusando de ter problemas mentais por estranhar a minha própria – e gostosa- namorada. Alguém que pudesse me compreender e explicar o que tão de repente eu estava sentindo.

-Meu nome é D. – Disse a garota, a voz mais rouca e suspeita, ainda de costas, com as luvas que faziam conjunto com vestido, envolvendo os dedos de sua mão delicada, que se friccionava, aflita.

Por que diabos ela não olhava para mim?

Quem sabe ela poderia gostar de mim? Como amigo. – É CLARO.

E que zika de nome é D? Isso não é nome. É uma letra.

Então eu me lembrei, de uma vez que eu e Belle estávamos conversando, deitados na cama dela. E ela tinha me chamado de D, com seus lindos olhos azuis reluzindo a me encarar. Senti tanta vontade de voltar àquele dia que me senti ainda mais estupido por ter rejeitado a proposta de Belle, dela vir até aqui, com uma mentira esfarrapada. E estar aqui agora, conversando, e talvez até curtindo conversar, com uma estranha penetra misteriosa de cabelos longos, meio lisos ou ondulados – vá saber, e cor de piche.

-Minha inicial também é D. – Eu falei, meio que do nada, inconscientemente, ainda me sentindo idiota. Sério, isso dito em voz alto soava ainda mais retardado. Tipo, nós dois somos D, felizes.

-É verdade, nem tinha pensado que Daniel começa com a mesma letra que Dé... – Respondeu a garota, ao mesmo tempo cortando-se desesperadamente aflita, mesmo que eu ainda sentisse certo disfarce em sua voz. Depois os braços dela balançaram, e ela colocou a mão enluveada na testa, como preocupada por ter falado demais.

Desejei muito que ela me olhasse agora, franzindo a testa.

-E como sabe disso? Que eu me chamo Daniel? – Perguntei, evidentemente curioso. Será que eu conhecia essa estranha em algum lugar? NÃO.. Eu iria me lembrar se tivesse uma prima tão bonita, por exemplo. E eu não lembrava nem remotamente de conhecer uma garota que tinha aquele cabelo, longo e preto, e diferente e nem aquele ar tipo – eu sou um enigma.

Então, de repente, notei os ombros nus dela. Engraçado, eles pareciam familiares, como se eu tivesse apoiado as minhas mãos para sustenta-los alguma vez. Recente.

Talvez fosse apenas tolice da minha imaginação.

POV Annabelle

A pergunta dele e o fato de eu ter dito coisas demais da conta, não me deu outra saída.

-Porque você é o namorado da minha ex melhor amiga, e caso você não se lembre, conversei com você hoje... – Revelei-me, completamente tonta , e me virando para ele, quase como se eu fosse confiante de verdade, para encará-lo.

Ele não estava usando o boné estupido de sempre. Os cabelos dele estavam bagunçados, quase que formando um topete na frente, de uma forma charmosa. Os olhos dele pareciam duas lanternas que emanavam uma profundidade intensa e avassaladora de castanho, que tantas vezes já me fizera suspirar, e parecia ter sido em outra vida, mas na verdade, tinha sido ontem. Apenas ontem. Ele estava usando jeans velhos, e uma camisa verde musgo, que o rosto dele estava tão repleto de surpresa e incredulidade, que comecei a me perguntar como eu estava, no atual momento, parecendo aos olhos dele.

E no fundo, eu queria que fosse algo muito bom, assim como vê-lo, e encará-lo, era para mim.

-Não! Você não pode de fato ser quem eu estou pensando quem é! –

Ele condenou, a expressão completamente confusa e descrente.

Eu revirei meus novos olhos cinzentos.

-A garota maluca retardada de hoje cedo? Que deu conselhos esquisitos sobre como agir com a Belle? – Dizer Belle em terceira pessoa, era acima de tudo muito torturante.- Pode apostar que sou eu sim. Débora Richelli. – E se apresentar como Débora então, era mais torturante e esquisito ainda.

Eu não sabia porque, mas senti que fui ríspida com Dani. Quase como se estivesse protegendo Debora, por ele estar completamente indignado com a situação, boquiaberto. Por que no fundo, eu sentia uma parte de mim era Débora.

-Não, a garota que eu conversei hoje cedo não era assim! – Ele apontou, ainda desesperado, deixando a postura relaxada de quem estava apoiado no carro, se tornar algo rígido. Então ele estava preocupado em como eu estava na minha atual condição, e não pelo fato de eu estar ali. Por quê? Por quê ele estava tão admirado com a minha “transformação”? Ele tinha achado legal, ou achado idiota? E porque isso significava algo agora? – Ela uma mosca morta sem sal, e provavelmente drogada. E não uma morena misteriosa. – Algo em como Dani disse, morena misteriosa me fez sorrir instantaneamente, mesmo sem saber o que isso significava de fato. Enfim, de qualquer forma eu me senti estranha por gostar disso. Afinal, o que significava? Era para eu ser eu mesma, na realidade, estar habitando meu corpo real. Isso significava que do nada, Dani poderia achar Débora uma morena misteriosa e ouvir os conselhos dela pra ficar longe de mim? Eu me sentia meio que uma auto-traidora. Era tão atordoante, que eu quase me senti enojada.

-Era eu sim. – Foi só o que consegui afirmar, em meio do quão confuso aquilo ainda parecia.

-Meu Deus! – Dani ainda se recusava a acreditar. – Você sempre foi assim ou eu que precisava de óculos?

Eu consegui rir com a afirmação dele. Enfim, de alguma forma parecia que a transformação que eu fizera em mim, ou em Débora, como fosse, tinha provocado alguma reação nele. Isso era ao mesmo tempo bom e ruim. Tipo, era bom sentir que ainda conseguia despertar algo em Dani, afinal, ele era o cara da minha vida. Mas e se eu voltasse a ser eu mesma? Ele ia se interessar por Débora e deixar de me amar? E era eu que tinha planejado isso, porque afinal, eu o tinha mandado ficar longe de Annabelle (só porque quem estava no meu real corpo não era eu). Sei lá, eu me sentia bem sendo Débora e vendo que o Dani tinha provavelmente gostado de como eu me transformara. Mas parte de mim temia que eu pudesse estar fazendo uma grande burrada, e que só perceberia isso quando voltasse a ser eu mesma.

Resolvi ignorar todos esses pensamentos. Afinal, quem estava me habitando agora era Débora não é? E eu tinha que mantê-la afastada de Dani, estivesse ela dentro do meu corpo ou não. E sendo uma Débora aparentemente auto-confiante e bonita, estava causando alguma reação que pudesse ajudar nessa tarefa.

-Você não precisa de óculos. Eu apenas colori meu cabelo. Só. – Disfarcei. É lógico que eu não tinha feito só aquilo, mas isso foi suficiente para Dani arregalar os olhos.

Ele me analisou por um bom tempo, e eu não sabia se ele gostava do que via, ou se estava apenas considerando o que ia fazer comigo. Cerrei os punhos, ainda nervosa. A expressão dele era tão ilegível, antes que ele fizesse uma cara de perfeita confusão.

-Ei, espera. Se você realmente, é a tal da Débora, então... O que você está fazendo aqui? No meu condomínio? - Inquiriu Dani, incrivelmente desconfiado e ainda sem acreditar, balançando a cabeça de um lado para o outro como se tentando jogar fora, algo que passava pelo seu cérebro.

-Eu vim procurar você... - Revelei, quase como um sopro. Abri mais os olhos, e deixei a luz do breve luar acima de nós os iluminar. Havia algo nele, que quando olhava para os meus olhos, ele parecia ler minha alma. Parecia saber quem eu era.

-Me procurar?? - Ele ainda parecia incapaz de acreditar. Incapaz de acreditar que eu era Débora. Incapaz de acreditar que eu estava ali. Senti a cascata de cabelos negros, ricocheteando atrás de mim. eles pareciam se mover de acordo com a minha escala de nervosismo. As sobrancelhas de Dani faziam uma curva, e eu senti um aperto ao detectar o quanto ele parecia lindo. - Por quê?

Mordi o lábio, sem saber o que falar.

-Bem... - Passei a mão pelo rosto, e mesmo com a luva que eu usava, já conseguia senti-lo queimar. Sabia exatamente como EU era, quando estava corada. Mas não fazia ideia de como o rubor ficava no novo rosto. Por sorte, a noite o engolia. Dani mantinha os braços cruzados, esperando a minha resposta mais do que eu esperava que ela saísse por meus lábios. - Eu não sei.

A expressão dele foi confusa, mas quando eu encarei dentro de seus olhos, eu pude notar que eles cintilavam, quase como que satisfeitos pela resposta idiota. Eu conseguia detectar qualquer reação dele. Era instintivo. Eu o conhecia, bem, apesar dos poucos meses. Ele era simplesmente o meu sonho que saiu da mente. Eu não sabia se devia gostar dele estar satisfeito. Mas não dava para não gostar.

-Algum motivo deve ter. - Jogou ele, como sempre forçando as coisas com seu jeito meio irônico. A reação dele, a presença de Débora- ou a minha presença-, sei lá, tinha sido bem diferente da que eu imaginava. Esperava o rosto dele se contorcendo de repulsa, e seus dedos envolvendo aquele pulso para expulsar-me dali. E pelo contrário, ele parecia apreciar nossa conversa.

-Annabelle. - A palavra saiu sem que eu sequer pensasse em falá-la. A minha parte irracional tinha feito isso por mim. Porque eu tinha vindo falar da Débora, e como ela estava me usando para ficar com ele. Não nesses termos, mas convênce-lo a ficar afastado de mim até que eu voltasse a ser eu mesma. Não que isso fosse funcionar, afinal eu não tinha nenhum argumento que valesse a pena. -Eu vim falar sobre ela. - Falar o meu nome, e em seguida um "ela", era como ser de fato outra pessoa. Mas eu continuava sendo eu mesma. Tinha alterado minha forma, mas isso não mudava nada. Desejei que o que eu fosse falar sobre Annabelle, era que ela era eu. Me angustiava demais não poder dizer nada, e ter que fingir. Inventar alguma coisa.

-Achei que você já tivesse falado tudo o que queria sobre ela, quando esbarrou em mim. - Condenou ele, e seus olhos pareciam frios, exatamente como eu imaginei. Droga.

Dei dois passos adiante, em direção a ele. E quase dissequei seus olhos, quando sustentei nosso olhar. Queria pegar a mão dele e beijá-lo, mas nem eu sabia direito o que isso significava. Ou como isso soaria, já que tecnicamente eu era a Débora.

-Se eu pedisse para confiar em mim, você confiaria? - Perguntei, um tanto sombria. Me recusava a desviar os olhos, e ele tão pouco queria fazer isso. Ele parecia muito atordoado. E eu o entendia, de todas as maneiras possíveis. Não esperava que ele fosse confiar numa suposta desconhecida, ex-amiga da própria namorada. Ah, se ele soubesse que eu era eu. Como queria contar. Como queria que ele percebesse isso.

-Por que eu deveria? - Questionou Dani, inseguro do que falar. Dessa vez, ele que andou um passo. Por um instante, eu senti que ele parecia magnetizado por mim, como se ele de fato soubesse quem eu era, e que só apenas tinha mudado de forma.

Afinal, ele me amava. amava eu, Annabelle, independente de onde eu estivesse.

-Apenas olhe dentro dos meus olhos e escute. Hoje, algo muito estranho aconteceu. Algo que eu não posso lhe explicar, porque se explicasse você ia me achar mais maluca do que já acha. Mas, essa coisa, bem... É muito complicada. Eu só queria que você ouvisse um pouco. O que eu estou prestes a pedir é algo sério, e duvido muito que você irá cumprir, o mais provavel é que ria de mim. Tanto faz. Mas eu gostaria de lhe implorar, com todas as forças para que fique longe da Annabelle. Ela não vai ser quem você pensa que é por algum tempo, eu acho. Confie em mim, por favor. Quando você olhar para ela, e ela segurar suas mãos e encarar os seus olhos, e dizer que voltou, como eu faço agora, aí você poderá ficar com ela. Mas, enquanto isso não acontece, termine com ela. Por favor. Um dia você vai entender. Confie. Confie. - Quando me dei por mim, eu já estava com as mãos dele entrelaçadas nas minhas, e com o seu reflexo dentro da minha íris. As palavras deviam ser a coisa mais completamente estúpida e sem sentido que ele já ouvira, mas ele assentiu, milagrosamente. Eu não sabia se ele apenas estava fazendo isso por reflexo, ou se estava assustado pela intensidade do meu pedido. Talvez ele só estivesse apavorado com tanta maluquice.

Mas eu precisava desabafar. Tinha me feito sofrer tanto, ver ele beijando a Débora, mesmo que eu enxergasse que ele estava, tecnicamente, me beijando, que eu precisava tentar arranjar uma forma de impedir aquilo de acontecer. eu duvidava eternamente que o meu apelo desesperado fosse dar certo, mas foi a única coisa que eu consegui.

Eu estava acariciando o cabelo dele, do modo que eu sempre fazia, e por um instante, eu pensei que ele ia tocar meu cabelo também, só que foi aí que ele me empurrou, violentamente.

-Você ficou doida garota?! - Perguntou ele, não era de uma forma agressiva, ele apenas parecia muito duvidoso com o que acabara de acontecer. E eu sabia que ele tinha razão, mas doia muito. Doia lá dentro. - Eu amo a Belle. Não ficaria longe dela, assim.

Algo na forma que ele se explicou parecia soar extremamente cuidadoso. Explodi, quando me dei conta de que ele se referia a mim.

Ele me amava, é claro. Eu devia ficar feliz por ele estar dizendo isso, mas eu queria que ele tivesse apenas dito que faria o que eu disse, apesar de já saber a muito tempo que era impossível.

-Eu sei que você ama. Mas eu já disse, não é para sempre. - Eu ainda tentei, numa rogativa.

-Eu não entendo. Não entendo nada. Não entendo o motivo de tudo isso. Não entendo quem você é nem o que está fazendo aqui, me dizendo essas coisas. - Disse ele, movendo os braços, como se estivesse espantando alguma praga. ele meio que se virou de costas para mim, e eu senti o vento batendo na minha face, e senti vontade de chorar como nunca tinha sentido antes. As coisas poderiam ser tão diferentes, nesse momento. E agora, lá estava eu, tentando explicar algo, configuradamente. Algo que nem eu entedia. E só estava piorando as coisas. Óbvio que ele não entenderia. Era maluquice demais da conta. - Quer saber, para mim chega! - Afirmou Dani, e mesmo ainda de costas eu já conseguia imaginar sua expressão. Minhas lágrimas começaram a rolas e eu me senti idiota. Mil vezes idiota.

Escondi meu rosto por trás da enorme cortina de cabelos.

Ele se virou para mim um pouco antes. Eu e minha cabeça baixa. Eu e o paradoxo. Eu, no corpo de alguém que eu não era, mas que aos poucos parecia que havia me tornado. E aos poucos, quer dizer, horas.

-Não me siga. Vai embora, garota. -Ele disse, e não era frio e seco. Ele estava tão atormentado quanto eu.

como eu queria que ele tivesse entendido, e compreeendido meu apelo. Apesar de tudo ser tão rídiculo. Como eu queria que tudo tivesse sendo de outro jeito. Voltei a encára-lo, a última vez naquela noite. O impeto de me atirar em cima dele, correu de novo pelo meu sangue.

-Daniel... - Foi só o que consegui dizer, em meio as minhas lágrimas.

Ouvi o suspirar dele, e seus passos turbulentos. Fechei os olhos, e quando eu os abri de novo, ele não estava mais na minha frente.

Droga. Droga. Droga. Novecentas mil vezes droga. eu tinha tentado concertar as coisas e acabara por piorar. Quem sabe, hoje quando eu deitasse a minha cabeça no travesseiro, o travesseiro de Débora, eu percebesse que tinha sido só um sonho. Eu admito que a experiencia de ser uma outra pessoa, era bizarra e impressionante, mas não poder estar com quem eu amava era pior ainda.

É claro que eu queria voltar a ser eu de novo. Ser Débora, era extravagante, mas era ao mesmo tempo horrível. Eu tinha gostado de reformar, ver as coisas de um outro ponto de vista, mas ainda desejava voltar a ser eu mesma. E agora, se eu voltasse, só teria piorado as coisas com o que disse para o Dani. Não que ele fosse cumprir o que eu tinha pedido. Duvidava a minha vida nisso.

Mas eu precisava ter tido aquela conversa, apesar de ser em vão. Eu tinha que ter tentado, afastar a verdadeira Débora dele. Era eu que o merecia. Era a mim que ele amava, e seria muito injusto se ela conseguisse estragar de vez a minha felicidade, mas do que ela já estava.

Não me restou opção se não atravessar aquela grade do condomínio, ainda aos prantos e me dirigir até o mercado para pegar as minhas coisas e ir até a NOVA casa.

Eu já estava sentindo saudades dos meus pais.

E se por um lado, eu não tinha conseguido afastar Dani da verdadeira Débora - mesmo que tecnicamente, ela fosse eu- ir até ali vê-lo tinha valido a pena. Eu tinha o fitado dentro dos olhos e me sentido por dois segundos reconfortada. Eu tinha tentado. Eu sabia que tinha que ter tentado. Mesmo que não tivesse conseguido, eu conseguia respirar um pouco mais em paz. Eu tinha que ter tentado, por que algo dentro de mim, a minha intuição, me dizia que eu seria Débora Richelli por um bom tempo.

Eu me recusava a acreditar na minha premonição, mas ela era mais

forte do que eu.

E o que eu faria se continuasse sendo Débora?

Eu teria que me adptar a tudo de novo?

Era quase como RENASCER.

Eu teria que suportar, ver quem eu era antigamente, beijando o dono do meu coração? Da forma que era para eu beijar?

Eu teria que amar a minha nova família assim como eu amava a antiga?

O que seria de mim agora?

Eu acordaria voltando a ser eu mesma?

Ou acordaria, ainda como Débora, com uma nova vida pela frente?

Pensar em todas essas coisas fazia a minha cabeça doer e os meus olhos ficarem com mais vontade de chorar.

E foi isso o que eu fiz, enquanto traçava todos os caminhos que me levavam a minha casa. A nova casa. A casa de Débora Richelli.

Eu era ela, afinal. E já tinha começado a aceitar isso. Mesmo que só fosse um dia. Pareciam anos. Séculos.

Annabelle. Débora. ARGH.

Eu tinha que mudar o foco. Amanhã, seria um novo dia, e começei a imaginar como seria a reação dos meus colegas ao ver a transformação que eu tinha feito em Débora. Em mim. E imaginei a reação dela. Será que assim ela notaria o quanto estava sendo estúpida ao subestimar a propria beleza? Imaginei também a hipótese maravilhosa, de eu voltar a ser eu mesma. Mas minha intuição me cutucou, como sempre.

Tudo parecia um pesadelo. Mas teria que melhorar. Eu tinha que acreditar nisso. Tinha que me sustentar nessa esperança. De alguma forma ia dar certo.

Lívia Rodrigues Black
Enviado por Lívia Rodrigues Black em 27/03/2011
Código do texto: T2874307
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