Veludo.
Lá estava ele, sentado ao pé da cama aparentemente improvisada. Ele só conseguia pensar no porquê daquilo estava acontecendo com ele.
_AAAh_gritou Daniel, dando um pulo em direção a porta_Me deixa sair daqui!
Um par de olhos vermelhos e amarelos apareceram na janelinha da porta, houve um chiado e a janela fechou.
_Me deixa sair daqui, pelo amor de Deus!_gritou Daniel choramingado.
Ele olhou por de baixo da porta, e viu uma sala escura, sombria; velas pretas e vermelhas e um pequeno saco vermelho que aparentava ser de veludo; foi tudo que deu para ver.
Daniel olhou para seu corpo e só então percebeu que estava nu, já devia fazer umas seis horas que ele estava lá, apavorado, mas só agora que percebeu que estava sem suas roupas.
A janela se abriu novamente e os olhos vermelhos e amarelos apareceram novamente, um chiado e a porta se abriu.
_Está pronto_disse com uma voz fraca o homem dos olhos vermelhos e amarelos.
O homem alto e muito branco, tinha uma cicatriz em forma de cruz na testa, seu cabelo bem ralo e preto, ele estava usando um roupão vermelho, parecia ser de veludo como o saquinho; mas apesar de tudo, o homem estava limpo.
O homem segurou o braço esquerdo de Daniel, fez pouca força e cravou suas unhas compridas em seu braço. Daniel gritou muito alto, ele não sabia o porquê, mas aquela dor era diferente de tudo que ele já tinha sentido. O homem começou a arrastá-lo para a outra sala. Daniel sentiu um nó na garganta.
_Você sabe o porquê está aqui?_perguntou o homem jogando-o no chão.
_Me deixa sair daqui, pelo amor de Deus!_suplicou Daniel suplicando.
_É exatamente pelo amor que Deus não teve por minha filha, que você está aqui_disse o homem caminhando em direção a uma estante preta que estava na parede do fundo_é exatamente por isso que você esta aqui; minha filha foi morta pelo grupo de amigos que ela andava, se é que se pode chamar aquilo de amigo. Uma noite ela saiu para ir a uma festa com eles; ela não voltou, foi encontrada nua com um tabuleiro de veludo em forma de pentágono na barriga. Revirando as coisas dela encontrei um livro, um livro, muito interessante por sinal, com uma pagina marcada, alguns dizem que e satânico, mais eu não acredito que seja, acredito que seja mais uma forma de melhorar o mundo, este livro diz que uma garota virgem, com a alma corrompida poderia voltar a vida, com a alma curada, ma como tudo, isso tem um preço.
_Mas eu não tenho nada a ver com sua filha! Eu não fiz nada a você ou a ela!_exclamou Daniel.
_Mas se eu deixar você sair, quem vai conceber minha filha?_disse aquele homem com um sorriso malicioso.
_Conceber? Sou homem, não tenho útero, é impossível!_disse Daniel confuso e apavorado.
_Eu sei, e é grassa a você não acreditar é que você vai ter. O ritual manda que um homem que conhece a verdade, mas não a pratica nem acredita, terá uma criança que governará o mundo por muitos anos_disse aquele velho e estranho homem pensativo, olhando para o nada.
_O anticristo!_disse Daniel num baque.
Daniel percebeu que aquele era seu fim, que não teria mais salvação. Ele queria orar, mas sabia que era errado.
O homem cainhou até o saquinho de veludo vermelho e o pegou.
_Aqui tenho as cinzas de minha filha.
O homem retirou um isqueiro do bolso e ateou fogo ao veludo do saquinho. As cinzas se tornavam sangue quando tocavam o peito nu de Daniel, quando a última gota o tocou, ele sentiu a gravidade mais forte, era como se ele estive-se colado ao chão. E então todo o sangue foi absorvido pela pele de Daniel.
O homem usou suas unhas para abrir uma pequena fenda no peito de Daniel e em seu próprio pulso.
_Agora temos o mesmo sangue, minha filha terá os nossos sangues em suas veias_dizia o homem enquanto o seu sangue escorria para o peito de Daniel.
_Para, eu te suplico, ela não vai ser sua filha, ela vai ser o mal dentro de uma pessoa!
_Então vai ser ela mesmo. Eu não posso, eu perdi tudo, dinheiro, esposa e filha; até minha alma eu já perdi, não posso desperdiçar uma chance dessas, de ter minha filha de volta. _disse o homem tentando esconder seus reais sentimentos.
_Você não quer fazer isso não é?
_Agora seu corpo vai viver para minha filha_disse o homem se recuperando, voltando a toda frieza.
Aquele homem mirou suas unhas no coração de Daniel, mas antes que ele junta-se coragem, uma lágrima escorreu e caiu na fenda aberta no peito de Daniel; mas ao contrário de tudo que havia acontecido naquela noite, não doeu, foi reconfortante, foi descobrir que por trás daquele roupão de veludo existia um homem com compaixão e amor no coração.
O homem ergueu a mão, mas quando ele desceu, em vez de atingir Daniel, ele atingiu a si próprio.
Quando aquele homem caiu, Daniel sentiu se desgrudar do chão e suas feridas fecharem, as cinzas saíram do peito de Daniel como cinzas mesmo.
Ele pegou o roupão do homem e caminhou curvado até a porta. Quando ele abriu, ele viu sua casa e descobriu que estava em uma casa vizinha, a casa que sempre foi motivo de ligações à polícia pela música alta e drogados que faziam fogueiras em frente a casa.
Mas de repente tudo ficou escuro, uma dor de rasgo em sua barriga, eu a de seu coração pulando e então ele sentiu que estava sangrando.
Daniel acordou em sua cama encharcada de sangue, pálido, ele não estava se lembrando de sua noite; e com muita dor ele viveu mais nove meses.