O colecionador de estrelas #5

Mas, se sentia quem era o dono do seu sentimento? Talvez cada um que precisasse dele. Cada um que implorasse por atenção. Mas o que importa quem amava? O que importa é que amava!

E assim seguia sua vida, interruptamente, constantemente nessa série de “emoções”, digamos assim.

Era terça-feira, uma quente e tediosa terça-feira. No seu quarto deitado na cama, observava o âmago teto e isso era feito com freqüência, pois não tinha muitos amigos, na verdade não tinha nenhum, o teto era o seu único companheiro...

Desperta de sua distração, toda uma barulheira do lado de fora quebra o silêncio de uma tarde nada graciosa, se levanta como quem nada quer, caminha em direção a janela e espia pela cortina. – O que estaria acontecendo? Era um caminhão, um caminhão de mudanças. Novos vizinhos, talvez? Sim, eram novos vizinhos, os antigos haviam se mudado há quase três meses, deu pra notar um breve sorriso de satisfação no rosto do jovem.

E ali ficou em plena inércia parado atrás da janela escondido na cortina até ver quem eram eles, parecia um casal, muito felizes por sinal. Volta pra cama ao concluir sua “missão” e continua contemplar o seu inseparável companheiro (teto). Chegou a se esquecer da novidade. As horas voavam, e sua única distração ainda era observar os detalhes do gesso que forrava seu quarto, caiu no sono em plena tarde.

“Estava tudo tão claro que cintilava o próprio amor... muito verde e logo a frente um grande lago... Uma grande planície e longe uma única árvore, na verdade uma grande árvore que olhava tão distraído. Pedro... Pedro... Esse era o nome que alguém chamava... Ao notar que era o seu nome virou-se e viu alguém se aproximando, tão doce e branca pele, estende a mão e...”

E então o despertador toca e o acorda, era 06h30min da manhã.

Primeira vez que seus sonhos não se baseavam em sua realidade inventada, mas o que lhe deixava intrigado não era isso, tinha ficado curioso a respeito da face da outrem, por que havia acordado antes que pudesse ver. E ali ficou sentado na beira da cama por alguns minutos em devaneio, lembrou-se de se levantar, um corredor fazia o caminho, era extenso e desfalecido, a última porta era seu alvo, tinha que se vestir e ir para a escola.

De manhã era sua hora preferida todos estavam ainda dormindo, o único som que se ouvia era o do seu coração e claro que alguns cães da vizinhança. Ele era tão ele e estava ali só, mas era o que Pedro gostava, ficar só. Nota que já era hora de ir pra escola, num subido ato de desespero quase que em um pulo, como uma fera e sua presa, pega sua mochila e tão depressa sai, deixando em casa sua verdadeira face.

- Luciana, filha vem logo ou vai se atrasar.

Alguém berrava. Sem deixar ser percebido, notou que era a sua nova vizinha que chamava a filha para que não se atrasasse.

Mas o que era novidade era a garota. Logo a porta se abre e Luciana, esse era o seu nome, por um leve caminhar sai e ele pôde vê-la. Sim, era bonita, não exageradamente, mas era.

Foi a primeira vez que ele a viu. Mas parecia familiar.

E tão logo se desligou.

No caminho o sonho que teve na noite passada plainava em sua mente, enquanto lembrava sorria sem perceber. O caminho para a escola era a mais bela arte para seus olhos. Ele amava tanto sua rua, sua cidade... Percebia cada detalhe, mesmo os minúsculos e insignificantes, via várias pessoas e imagina como seria verdadeiramente cada uma delas.

Mas o que gostava mesmo, era de olhar para as nuvens e imaginar o que viesse a cabeça, imaginava tantas coisas que a escola parecia bem mais próxima do que realmente era. Deixava-se levar tanto pela Imaginação que às vezes acreditava que eram realmente feitas de algodão e o que via era real.

Às vezes via animais às vezes pessoas, outras vezes só nuvens mesmo.

Enquanto eu o fazia sorrir, sorria junto, tentando imaginar o que Pedro imaginava, tentando ver o que ele via. De fora da história era quase perfeito.

Sem perceber chega á escola, um suspiro tão profundo ao entrar, como um assassino a caminho de sua sentença. O corredor como sempre, a mesma breve tortura. Entra em sua sala e logo se senta, notou que faltavam alguns minutos para bater o sino, apanha lápis e papel começa a fazer rabiscos, que logo ganham forma e sentido. Eram vários rosto, rostos de mulheres. Seria uma possível tentativa de encontrar a face da noite passada?

O tempo estava claro e mesmo de manhã o sol exibia sua beleza.

Bate o sino, primeira aula, aula de português.

O professor entra na sala, todo sem pressa, como se houvesse todo o tempo do mundo para dar sua aula.

- Bem alunos. Vamos começar.

Ele dizia tão sereno cada palavra, era tão estranho o modo que falava, dava um ar tedioso à sala enquanto alguns alunos brincavam de adivinhar qual poderia ser a próxima palavra que iria dizer.

É...

Interrompido pelo diretor.

- Desculpe professor... Quero apresentar à sala a nova aluna.

O silêncio que já era claro se torna vivo.

Luciana.

Era ela, era a vizinha de Pedro. Que coincidência. Bem, na verdade eu não acredito em coincidências, talvez o universo conspirasse a favor, não?

Ele ficou atônito, sua vizinha Luciana iria estudar com ele.

O professor mostra um lugar para ela se sentar. E por sinal não muito distante dos olhos de Pedro. Que não fugia em olhar, a cada segundo.

Ela notou e o perguntou.

- Hei você?