Edward Drake - 6°Cap - A Lado Negro da Lua

- CAPÍTULO SEIS–

O Lado Negro da Lua

Edward caminhava atrás de Rockbeam, a multidão à frente parecia se esforçar para abrir passagem para ele. Edward não via porque ele era tão assustador, tudo bem era maior que um urso e mais forte do que um lutador profissional de luta livre, mas aquele sorriso bobo e poses ridículas não davam uma aparência muito assustadora.

Assustador mesmo era Anne Read ao seu lado, bonita, mas assustadora. E toda vez que olhava para Edward seu cabelo parecia intensificar a cor vermelha, como se fosse estimulada pelo ódio.

Anne deu mais uma olhada raivosa para Edward.

- Desculpa, capitão, mas não dá – disse brava – Por que você está levando esse escravo inútil com a gente?

Edward franziu a testa.

- Quem você está chamando de inútil?

Rockbeam olhou sorridente por cima do ombro para Anne e Edward que já estavam prontos para começarem a brigar de novo.

- Anne, deixe o garoto em paz – disse Rockbeam sorrindo. – Ele pode não ser muito inteligente, mas é destemido e corajoso. Tenho certeza de que pode se tornar um ótimo pirata.

Edward voltou sua atenção para Rockbeam.

- Quem disse que quero ser pirata? – disse Edward bravo. - Só quero voltar para minha casa.

Rockbeam deu várias gargalhadas.

- Todos queremos voltar para casa garoto – Rockbeam deu um sorriso confiante. - Mas poucos acham o caminho de volta.

Ele se virou e continuou a caminhada, pelo jeito o assunto tinha acabado. Edward calou-se e pensou no que Rockbeam dissera, “poucos acham o caminho de volta”, será que voltar para a Terra seria tão difícil?

Edward voltou sua atenção para feira de escravo, agora que podia caminhar livremente conseguia observar melhor o local. Ficou impressionado com o número de locais vendendo escravos, desde pequenas tendas coloridas, vendendo um ou dois escravos, a grandes lojas, do tamanho de supermercados, vendendo milhares de escravos como se fosse um produto qualquer.

Edward não gostava muito daquilo, via desde alienígenas mulheres a crianças sendo vendidas, e a grande multidão que comprava os escravos parecia estar se divertindo naquele lugar, era algo totalmente desumano.

Edward olhou para Rockbeam e Anne que caminhavam a sua frente, Anne parecia que realmente detestava o lugar, mas Edward estava achando que aquela era a expressão normal dela mesmo, enquanto Rockbeam sorria estupidamente, como se fosse o homem mais feliz do mundo, eram duas figuras impressionantes.

Mas Edward percebeu que os dois caminhavam decididos, sem se distrair com a correria da multidão para pegar escravos com desconto. Edward imaginou que deviam estar atrás de algo específico, provavelmente coisas de piratas; bebidas, armas e dinheiro.

Edward pensou um pouco, se os dois eram piratas, por que estavam andando tão despreocupados no meio da multidão, afinal os dois eram bandidos.

- Rockbeam.

Anne deu um tapa na cabeça de Edward.

- Capitão Rockbeam.

- Sim Anne – disse Rockbeam olhando sorridente para Anne.

- Não capitão, estava só corrigindo o escravo – o cabelo de Anne ficou de repente em uma estranha cor púrpura. Edward olhou intrigado para ela, Anne encontrou o olhar de Edward e o cabelo voltou à cor vermelho sangue normal.

Edward achou melhor não perguntar o que aconteceu com o cabelo dela, afinal Anne olhava para Edward como se fosse matá-lo só com olhar. Edward se virou para Rockbeam.

- Capitão Rockbeam – deu uma olhada para Anne. – Estava me perguntando se vocês dois são piratas devem ser procurados pela justiça?

- Não é óbvio – respondeu Anne.

Rockbeam riu animadamente.

- Exatamente, somos procurados, temos até nossas cabeças a prêmio.

Cabeças a prêmio, Edward não tinha imaginado isso.

- Então, por que vocês dois andam assim tão despreocupados no meio da multidão?

Anne massageando as têmporas, enquanto Rockbeam, para variar, ria. Edward não gostou muito da reação dos dois, ficou se sentindo um idiota.

- Aqui é um lugar sem lei, escravo idiota – respondeu raivosamente Anne. – Tem vários piratas aqui em volta de você, além de bandidos e muitos outros foras da lei.

- Então se aqui é um lugar fora da lei, ter escravos também não é permitido no universo?

- Não. A venda de escravos é proibida, mas a posse de escravos é legalizada.

- Isso é um total absurdo – indignou-se Edward.

Rockbeam riu mais uma vez, Edward já estava achando aquilo irritante.

- Garoto, se você comprar um escravo e passar pelas autoridades sem ser pego, o escravo é seu, é simples assim – Rockbeam riu. – Agora, vamos andando que estamos quase chegando no bar.

- Bar?

- Você não consegue ficar um minuto sem perguntar algo escravo idiota – disse Anne olhando brava para Edward. – Precisamos encontrar uma pessoa no bar. Agora, chega de perguntas.

Edward olhou bravo para Anne, mas ficou quieto, e apenas acompanhou os dois.

Depois de alguns minutos de caminhada, Rockbeam e Anne finalmente pararam, Edward observou o lugar em que os dois tinham parado, era um estranho estabelecimento, todo verde brilhante, chegava a parecer algo radioativo, com um teto estranhamente arredondado e vários neons azuis enfeitando as paredes de fora.

Mais acima, tinha estranhos caracteres desenhados no mesmo neon azul, provavelmente era o nome do bar.

- Bar Lado Negro da Lua – disse Rockbeam observando o bar. – Que lugar mais admirável.

Edward olhou de novo para o bar. Realmente não conseguia ver nada de muito admirável, o lugar nem parecia muito futurístico como os bares de filmes de ficção.

Rockbeam tomou a frente dos dois e caminhou em direção ao bar.

- Vamos.

Anne e Edward o seguiram pela estranha porta enfeitada de neons azuis.

Edward entrou no bar, teve impressão de ter entrado em uma rave, com música alta em apenas batidas repetidas, e um show de luzes que iluminava o bar inteiramente de azul, parecendo algo bem futurístico.

Edward olhou pelo bar, tudo parecia flutuar, o que era impressionante, tinha pessoas sentadas em mesas no teto, cadeiras que flutuavam pelo bar esperando por alguém se sentar, até o balcão do barman flutuava, enquanto o pequeno homenzinho fazia drinks numa velocidade impressionante.

Mas impressionante mesmo, era um palco também flutuante que rodava para todos os lados sem nem fazer tropeçar um dos inúmeros alienígenas que dançavam em cima dele.

Apesar dos vários alienígenas estranhos dançando no palco, Edward não conseguiu deixar de reparar em um, era todo verde, como alienígenas de filmes, e usava um Black Power roxo enorme do qual saíam duas antenas, seu dorso estava nu, onde se destacava uma engraçada barriguinha de Chopp, tinhas as mãos com dedos longos e finos com pequenas bolas nas pontas e para finalizar usava uma calça boca de sino de cor rosa pink.

O estranho alienígena dançava com outras quatro obviamente alienígenas fêmeas de quase dois metros, totalmente rosa pink sem cabelos, nem nariz só com olhos e boca, era uma imagem assustadora.

Anne se mexeu ao lado de Edward.

- É aquele ali, capitão?

Apontou para o alienígena de Black Power.

- Sim, Anne. Vamos esperar ele parar de dançar.

Edward acompanhou Anne e Rockbeam para uma mesa perto do palco, quando Edward se sentou na cadeira sentiu um solavanco e um frio na barriga, como se tivesse subindo de elevador.

Olhou para frente, lá estava Rockbeam com seu costumeiro sorriso e Anne com seu costumeiro olhar mal humorado, sentados a sua frente como se nada tivesse acontecido, Edward olhou para os lados e realmente se surpreendeu, o resto bar estava de ponta cabeça, tirando algumas mesas que também estavam presas no teto.

Edward instintivamente se segurou na cadeira, com medo de cair, o que provocou um acesso de gargalhadas em Rockbeam.

- Relaxa garoto, você não vai cair.

Edward olhou para frente, realmente não parecia que estava de ponta cabeça, nem seus cabelos estavam caindo para baixo, tirou as mãos da cadeira e percebeu que nada o puxava para baixo.

- O que é isso? Gravidade?

- Gravidade – disse Anne. – Você é uma subespécie muito ignorante mesmo, tirar a gravidade faz apenas você flutuar. Isso é troca de dimensão.

- Troca de dimensão.

- É idiota. Os cientistas ulatenianos inventaram um modo de nós ocuparmos mais de uma dimensão, assim lugares públicos teriam o dobro do espaço normal.

Edward realmente ficou surpreso nunca tinha imaginado algo como aquilo, era realmente impressionante.

A recente animação pelas cadeiras que trocavam de dimensão foi se acabando, já fazia mais de meia hora que estavam esperando o maldito alienígena que não parava de dançar.

Edward resolveu que precisa se distrair, se aquilo era um bar, devia ter algo para tomar.

- Rockb..

Anne deu um olhar de censura para Edward.

- Capitão Rockbeam – corrigiu Edward. – Empresta um dinheiro para eu pegar algo para beber.

- Não se preocupe garoto, fala para o barman que você está comigo – riu confiante. – Pode pegar o que você quiser lá.

Edward se levantou da cadeira e teve a sensação de estar descendo de elevador, olhou para sua volta, o bar tinha voltado ao normal, mas Rockbeam e Anne estavam de ponta cabeça em uma mesa no teto, como se estivessem sentados na mesa mais normal do mundo.

Edward foi em direção ao bar e sentou-se em um banquinho flutuante na frente do balcão, ficou surpreso, o banquinho era impressionantemente confortável, apenar de ser pequeno, Edward tinha a sensação de que estava sentado em uma poltrona, sentia as costas encostarem em um apoio, apesar de não ver nada as suas costas. Ajeitou-se no banquinho confortável e virou-se para o barman.

O barman era outro ser esquisito, Edward já estava se acostumando, era um ser todo verde escuro com pernas e braços curtos e grossos, com uma volumosa barba branca que se destacava no seu rosto.

- O que vai querer senhor?

Edward não fazia a mínima ideia do que eles serviam para beber no espaço e para ajudar não conseguia ler o estranho cardápio holográfico que mostrava imagem de vários drinks em miniaturas com os estranhos caracteres do lado. Resolveu arriscar algo comum.

- Tem água?

O barman riu de se acabar.

- Você é um homem engraçado, senhor.

Edward ficou sem entender a graça que tinha em pedir uma água.

- Então o que você recomenda? – resolveu perguntar.

- Que tal – o barman mexeu as mãos numa velocidade impressionante que Edward nem conseguiu acompanhar o que acontecia, de repente parou as mãos e colocou uma bebida na frente de Edward. – Buraco Negro, a bebida mais vendida aqui.

Edward pegou a bebida era toda negra, não dava para ver nada no líquido a não ser um negro absoluto, Edward ficou relutante em beber aquilo.

- Quanto custa isso?

- Para você nada, meu senhor.

Edward imaginou que devia ter algo a ver com todo prestígio que as pessoas mostravam por Rockbeam. Melhor bebida de graça, pensou consigo mesmo. Pegou a bebida e foi até Anne e Rockbeam.

Edward, no caminho pela mesa, chegou a pensar em escapar, Anne e Rockbeam estavam concentrados no alienígena dançante, Edward tinha certeza de que conseguiria chegar à saída sem ser notado, mas considerou por um momento, como ia chegar a Terra sozinho, não sabia aonde conseguir um meio de transporte nem tinha dinheiro, Edward tinha que admitir; agora, Rockbeam era sua melhor chance de achar o caminho para Terra.

Edward foi em direção à mesa em que Rockbeam e Anne estavam sentados, ficou se perguntando como faria para chegar ao teto, onde os dois estavam, mas ao chegar em baixo da mesa de Anne e Rockbeam uma cadeira se materializou no mesmo instante, Edward se arriscou a sentar nela, quando sentou sentiu novamente a sensação de subir de elevador, e lá estava na frente de Rockbeam e Anne como se nada tivesse acontecido, sem dúvida, trocar de dimensão era impressionante.

Rockbeam observou Edward, agora junto com eles na mesa.

- Um Buraco Negro – riu orgulhoso. – Esse é meu garoto.

Edward respondeu com um sorriso desconfortável, não fazia a mínima ideia do que aquele drink tinha de especial, afinal não experimentara ainda, ainda estava pegando coragem para beber aquilo que mais parecia um suco de petróleo.

Edward percebeu que Anne o observava com aquele seu olhar assustador, Edward se virou para ela, mas desviou o rosto.

- Anne – começou Edward tentando iniciar uma conversa. – De que planeta você é?

Anne olhou para Edward, não parecia estar muito a fim de responder, mas mesmo meio relutante, ela respondeu:

- Sou do planeta GLIESE 581 d

Rockbeam entrou na conversa:

- Anne é a gliesiana mais fiel que conheço, é a imediata da nave, minha melhor tripulante.

Rockbeam colocou a mão no cabelo de Anne como um pai orgulhoso, o cabelo de Anne adotou uma cor púrpura, como Edward tinha visto da última vez.

- Anne seu cabelo mudou de cor.

Rockbeam olhou rindo para Edward.

- Os gliesianos têm cabelos metamórficos que mudam de cor de acordo com a emoção deles.

Rockbeam tirou a mão do cabelo de Anne que já estava voltando a costumeira cor vermelho sangue, por fim Anne voltou sua atenção ao alienígena dançante e o cabelo intensificou a cor vermelha, como sempre acontecia quando ela olhava para Edward que já começava a ter fortes suspeitas de que a cor vermelha representava raiva.

Edward olhou para o alienígena de Black Power.

- Aquele ali – apontou para o estranho alienígena. – O que ele tem de tão importante?

Dessa vez foi Anne que respondeu:

- Ele é um ulateniano, habitante do planeta ULATES. Os ulatenianos são os seres mais inteligentes do universo, sabem segredos que a maioria dos seres nem imaginam. Estamos aqui para conseguir uma informação deste ulateniano.

Edward olhou intrigado para o alienígena verde que agora estava com as mãos no Black Power dançando até o chão.

- Ele não parece muito inteligente.

- Na verdade, no planeta ULATES, os habitantes nascem muito inteligentes ou muito burros – disse Anne. – Essa aí é uma grande exceção, ele parece ser um meio termo, tem características de um ulateniano burro e de um ulateniano inteligente.

Edward olhou de novo para o ulateniano, que agora parecia fazer polichinelos enquanto sua barriguinha pulava ao ritmo da música.

- Se vocês precisam de uma informação, não seria melhor pedir para um ulateniano inteligente então.

Rockbeam sorriu para Edward:

- Os inteligentes, garoto, se negam a dizer qualquer informação para pessoas de fora, além de ser extremamente raro encontrar um ulateniano inteligente, eles costumam viver escondidos no planeta ULATES, esse aí – Rockbeam apontou para o dançante ulateniano – é uma verdadeira raridade.

Edward ficou ainda observando o alienígena dançar animadamente, não conseguia ver nada de muito especial no ulateniano, a não ser o quanto era esquisito.

Anne ao seu lado também não gostava daquela espera, estava extremamente emburrada com a cabeça apoiada nos braços, já Rockbeam sorria radiante, Edward estava se perguntando será que em algum minuto ele parava de sorrir.

Edward estava entediando e ainda não tinha conseguido criar coragem para tomar o Buraco Negro, olhou para o drink a sua frente aquela cor totalmente negra parecia desafiá-lo, pegou o copo na mão e ficou estudando a possibilidade de beber.

Edward tomou coragem levou o copo lentamente até os lábios, ia beber um gole para experimentar, quando o alienígena dançante se materializou do seu lado, sentado numa cadeira.

No susto, Edward virou toda a bebida na goela, era muito ardida, deixou rapidamente sua língua dormente e desceu rasgando a sua garganta, começou a sentir uma tontura no instante em que engoliu o líquido, ainda pôde ouvir o alienígena dançante falar algo:

- Que prazer Rockbeam, você realmente estava certo acho que aquilo diz onde fica as Ruínas do Sol.

Ruinas do sol foi a última coisa que Edward ouviu e apagou.

Augusto Ferreira
Enviado por Augusto Ferreira em 08/03/2011
Código do texto: T2836099
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