O colecionador de estrelas #4

Era ingênuo, por que acreditava na bondade alheia.

Os poucos que o notavam, diziam que era pálido demais, estranho demais, reservado demais... Diferente demais.

Deixou de viver, esqueceu de que era necessário alguém que o fizesse sorrir, E nem que fosse por um instante no pequeno movimento do ponteiro do relógio, ser ouvido. Vivia para os outros era uma incessante vontade de ver um sorriso na face de quem o beirava.

Nocauteava-me a vontade em dizer ao novel garoto que era necessário, deixar os outros viverem, mesmo podendo interceder por eles.

Não enxergava que viver isolado naquela ilha que era sua alma, fazia mal a ele e que havia se prendido a um mundo que não era o seu. Queria resolver os problemas de todos, queria achar a solução para a grande incógnita que é a “vida”.

Pouco a pouco esqueceu completamente de si.

-Meu Deus, o que isso me fez lembrar?

Que em cada um de nós há uma parte que ocultamos por covardia da não aceitação.

A direção que a sua história estava tomando parecia irreversível.

Mas, sonhar o fazia continuar vivo, era como uma forma de refugio desse mundo inóspito. Sonhava porque poderia ser quem realmente era, e a realidade que tanto o repudiava, era facilmente transformada em uma doce fantasia, mas que se borboleteavam no horizonte ao acordar. Sonhava pra não existir o real.

Algumas imaginárias suposições, outras verdades quase que absolutas, regavam sua mente. Desejava compartilhar suas idéias, mas ninguém o ouvia, mesmo se gritasse.

O desejo de chegar logo à noite, vinculava dois motivos, “elas” e “eles”. Elas, suas doces e majestosas luzes do anoitecer, chamadas estrelas. Eles, seus próprios e de sua autoria sonhos, que tinha ao contemplá-las e cair por sono.

O primeiro dia de qualquer pessoa em uma nova escola é inteiramente cheio de duvidas. Lembro-me do meu, todo cheio de expectativas, todo cheio de fulgor nos olhos. –Oh, o primeiro dia.

As inquietações que perturbava sua mente nem se quer o fez notar o que tanto temeu pelo caminho.

- Lá vem ele. Pensavam todos...

Olhares e risadas, para o garoto...

O pátio sempre foi mesmo uma tortura. Tortura essa que suportava dia após dia. Não tinha muitos sonhos, mas, era favorável a causa dos nobres de espírito e dos justos. E a cada sino de fim de aula era um alivio, o pesadelo havia passado.

A minha garganta arranhava por sede, meus olhos vermelhos, ardiam em dor, inquestionavelmente aquela vida indesejável se tornou parte de mim, do meu ser. Pedro sofria, eu chorava, tinha medo eu me arrepiava e quando raramente estava feliz eu sorria, mas não conseguia notar que era eu o autor de sua vida e que simplesmente poderia fazer-lo melhor o tempo todo, mas seria fácil demais, estaria me enganando.

Sua família, que parecia ter se tornado a minha, não era financeiramente bem estruturada, mas conseguiam manter uma vida razoável. Não eram muito amorosos uns com os outros, sua mãe mal parava em casa com suas viagens de negócio, seu pai era um alcoólatra e seus irmãos mal notavam sua existência.

Todas as noites seu programa era procurar seu pai, que supostamente estaria em alguma esquina caído bêbado, aceitava isso como um dever, era paciente era amoroso. E depois de achá-lo, sutilmente como era de costume olhava em seus olhos mais que profundos.

- Vamos pai, vamos para casa, agora vai ficar tudo bem.

Passava o braço dele ao redor de seu pescoço e caminhavam com dificuldade, nas ruas vazias de sua pequena cidade.

Ao chegar em casa seus irmãos não pareciam se importar com a situação, pareciam ter se acostumado com a bebedeira do pai e continuavam com o que estivessem fazendo.

Mesmo morando juntos, há muito tempo seus pais já não sentiam mais nada um pelo outro. Na verdade acho que desde o começo não sentiam. E era o que ele sabia, mas não compreendia o porquê daquele sentimento que o consumia, mas o deixava tão “feliz” ter desaparecido em seus pais, não encontrava o sentido em começar algo com prazo de validade. Nunca havia notado que o que sentia não era amor, não se definia a palavra a qual os filósofos se limitaram, ainda não inventaram um nome pra aquilo que sentia, Por que era impar, seu sentimento era inexplicável.