Na sua pele. Cap. 23.

N/A: Olha gente, considerando que são quase uma da manhã, e eu fiquei escrevendo essa história, acho que mereço comentários, não é?

Obrigada a Mari e a Rebeca, vocês são especiais <3

Cap.23

POV Annabelle

Vasculhei por todos os cantos do quarto, e em todos os lugares, possíveis e imagináveis, em busca de um cartão de crédito. Revistei as bolsas e os esconderijos, mas não havia nada. Então, engoli em seco, era bem provável que o que eu temia fosse verdade. Débora não tinha um cartão de crédito. Como? E agora? O que eu faria? Precisava comprar: roupas, maquiagem decente... Precisava ir ao Salão de

Beleza, tantas coisas!

Felizmente, em meio ao meu pânico, minha mãe chegou. Ou melhor, a

mãe da Débora, Paula.

Fui, tentando aparentar serenidade, ao seu encontro na sala de estar.

Ela estava radiante, falando no telefone. Parei e fiquei esperando até que ela terminasse, o que aconteceu uns dois minutos depois. Ela me olhou carinhosa.

-Oi, filha? Porque está com o Uniforme? Você foi à escola?

-Fui, fui sim. – Revelei com um meio sorriso sem-graça. Ela retribui. – Você demorou. Achei que ia apenas entregar um quadro.

-Ah, sabe como é... Dona Charlotte me chamou pra almoçar, etc... Essas senhoras se sentem muito sozinhas...

-Hummm... – Murmurei, indecisa de como falaria o que eu pretendia. – Mãe? – Ela me olhou atenta. – Posso te pedir uma coisa?

-Claro, Débs... O que quiser. – Retrucou ela bem humorada.

-Então... É que eu precisava sabe, comprar umas roupinhas novas e

dar uma passadinha lá no Salão de Beleza... – Sorri constrangida. – Será que pode me ajudar?

Ela me olhou incrédula, cheia de emoção.

-Não acredito filha! O quanto eu não implorei para que esse dia chegasse! – Ela estava entusiasmada, quase descrente. – Achei que você ia ser uma molecona pra sempre!

-Ah, bobagem...

-Sério mesmo que você quer reformar seu guarda-roupa? Todas as minhas tentativas foram em vão!

-Absoluta certeza. – Respondi convicta.

-Quer que eu te ajude filha? Nem acredito que você vai começar a ser vaidosa... HSUAIU... Isso é novo pra mim!

-Não, eu não preciso de ajuda, mãe. Pode deixar. Só preciso de uma apoio financeiro. – Pisquei três vezes, corando um pouco.

Ela deu uma risada.

-Claro. – Remexeu na bolsa e entregou o cartão. – 029415. – Eu gravei os números mentalmente.

-Ah! –Suspirei de emoção. – Obrigada mesmo!

-De nada querida!

Quase voei em desespero pela porta. Anotei antes em um papel o nome do condomínio, o bloco e o apartamento, para o caso de eu esquecer.

Assim, que sai pelo portão da faixada do prédio com um cartão de crédito eu me senti nas nuvens. Esqueci o drama que eu estava passando. Agora, era a hora de uma atividade que eu nunca cansava de fazer. A hora da reforma. Eu ia transformar a minha ex-amiga, de um jeito que ela jamais me deixaria fazer, se eu não estivesse dentro do seu corpo.

**

POV Dani

Eu estava começando a me sentir idiota. Na verdade, eu estava mesmo sendo um idiota. Por que, por mais que eu me esforçasse, eu não conseguia tirá-la dos pensamentos. Ok, essa é a hora que vocês pensam: Olha que bonitinho, ele não consegue esquecer a namorada. MAS NÃO! Absolutamente não. Apesar de ser o certo e normal a se fazer, eu não estava pensando na Belle, e sim, acreditem ou não, naquela garota. Na Débora. É, eu sei que isso é patético, mas eu não conseguia tirar ela da minha mente.

Ela e os olhos cinzentos dela. Sei lá, quando eu a fitei nessa manhã, ajudando ela a se levantar, eu senti, meio que como, se já tivesse acontecido aquela cena antes sabe? E quando olhei dentro dos seus olhos, eu fui capaz de captar, alguma coisa.

HAUSHAUISHU, TÁ ISSO soou completamente piegas.

Aliás, o que faço eu pensando naquela garota mesquinha se posso pensar muito bem na minha Belle? Meu encontro com a Belle, O cabelo da Belle, as curvas da Belle, o sorriso da Belle, a amiga da Belle e os conselhos estranhos dela... Olha aí, que merda!

Gui provavelmente diria que eu estou sentindo uma espécie de atração por ela. Mas, por ela?? Não, não pode ser. Eu tenho certeza absoluta que amo a Belle. Certeza mesmo. E eu não sou o tipo de cara que sente atração por tipinhos estranhos como o dela. Não mesmo. E tenho certeza de que odeio essa garota por falar mal da Belle. Só não entendendo porque estou pensando tanto nela!!!

Já sei. Deve ser por causa disso. Estou pensando nela, porque ela falou mal da Belle, e eu estou incomodado com isso. É só pode ser, que outro motivo teria? HSIAUSH... Até parece que com uma divindade ao meu lado eu iria notar uma garota idiota como aquela tal de Débora... SAIUHUI.. Aff... Aliás, ela bem que me deve uma satisfação por causa daquele teatrinho ridículo de esbarrar em cima de mim só pra jogar um monte de coisas só na tentativa de que eu me afastasse dela. Que ridícula. Imagine, eu, atraído por ela? HAHAH... Eu só posso estar ficando louco mesmo...

**

POV Annabelle

Caminhando pelas ruas de Sorocaba com milhares de sacolas de lojas na mão. Não pensei no que a mãe de Débora diria, ao constatar o dinheiro que gastei naquilo tudo, blusas, casacos, calças, uniformes novos, sapatos, acessórios. Mas prometi que daria um jeito de invadir minha cada original, e pegar meu cartão de crédito para compensá-la.

Entrei na Cherry’s Club, com um sorriso radiante que eu sempre fazia depois de comprar tudo que queria.

-Olá querida, você marcou horário? – Perguntou uma morena, a atendente do local provavelmente, que não devia ter mais que vinte anos. Eu sorri pra ela.

-Na verdade, não. Sou amiga de Annabelle Kouren. Ela me indicou o local, e eu vim ver como era. – Eu tinha passado desde que saíra do apartamento ensaiando esse discurso. Soou perfeitamente natural. Ela ergueu os olhos para mim.

-Ah, é amiga da Kouren? Bom, então é lógico que temos horário para você. – Disse ela contente, mas depois me olhou com preocupação. Provavelmente viu a penca de cabelos longos desgrenhados e mal cuidados e se assustou. – O que vai querer?

-Tudo que tenho direito. – Exigi, e depois arranquei do uniforme do colégio um cartão de crédito. – E isso inclui: corte, coloração, alisamento, depilação, tirar sobrancelha, manicure, pedicure, tratamento de pele e etc... – Ela arregalou os olhos para mim, mas depois de ver o cartão, por alguns segundos sentiu-se mis confiante.

-Mas vai demorar para você fazer tudo isso senhorita...

-Ann...Débora Richelli. – Disse na mesma hora, corrigindo-me.

-Então, vai demorar senhorita, Débora. – Pontuou ela, com um sorriso aflito.

Dei de ombros.

-Tenho tarde e noite inteira para me dedicar à isso.

Ela me analisou, um pouco desconfiada, mas então sorriu e mandou que eu me sentasse em uma banquetinha cor-de-rosa, já tão conhecida, com as revistas CARAS me encarando. Peguei uma para ler. Senti falta do meu Iphone, que eu usava como distração nessas horas. Ele provavelmente deveria estar nas mãos de Débora, a original. Como doía perceber que ela havia me arrancado tudo. O rosto de Dani me veio a mente, como smepre. Suspirei. Eu havia estendido a minha mãe para ela. E mesmo assim, ela havia feito isso. Olhei para o espelho do outro lado do Salão, em que uma senhora de cabelos grisalhos estava com os cabelos cheios de tintura. Vi o rosto meigo dela, seus cabelos, tudo tão descuidado. Eu sempre tive a impressão de que Débora tinha um físico desengonçado mas acabara de perceber que não. Era ela que fazia isso. Para falar verdade, fisicamente, ela era muito bonita. E agora que eu andava com postura e elegância habituais, isso soava muito mais claro. E me senti feliz por sentir o cheiro do formol do salão de beleza, apesar de sentir as lágrimas nos meus olhos. Eu poderia dar uns ajustes finais. Se eu seria Débora, até que não se revertesse, eu seria especial. Talvez ela e sua falta de confiança, quando visse como ficara quisesse voltar a ser quem ela. Talvez não. Só sei que quando a Sophia (atendente) me chamou para me sentar em um lugar na frente do espelho, senti meu coração palpitar. Eu tinha a impressão do que o que eu estava prestes a fazer, era mais do que uma simples mudança física.

**

POV Débora

Eu não cansava de me admirar no espelho, em um dos aplicativos do Iphone da Belle. Do meu Iphone. Eu estava sentada numa lanchonete mega cara, com um cartão de crédito de assinatura. Era um lugar perto da minha.. Outra casa, o apartamento sabe. Eu sempre tive vontade de comer ali, mas eu sempre estava de dieta para não engordar. Agora eu tinha o que sempre queria. Pedi à garçonete um sanduíche de ovos e bacon com uma coca-cola. E ela me olhou, era uma garota feia sabe, no mínimo com inveja.

Aquilo era tão bom. E eu não conseguia parar de pensar no rosto do Dani, alucinado comigo. Tudo que eu sempre queria, graças aquele maldito amuleto da minha avó. Eu nunca achei que funcionaria. Só queria que durasse para sempre.

Quando a comida chegou, e a garçonete me lançou um daqueles olhares feios, eu comemorei. E quando estava prestes a dar uma quarta mordida, uma voz me surpreendeu.

-Agora tenho certeza de que esse negócio de inversão de corpos não é um jogo. – Uma voz masculina, clara e de um timbre grosso e aborrecido.

Sorri sarcasticamente para o vazio, largando o sanduíche no prato com minha mão de unhas perfeitas. Virei-me para trás, balançando meus longos cabelos loiros, mas era inútil. Eu já sabia quem era.

-Lucas. – Cumprimentei, educadamente. Ele estava de braços cruzados, e nem esperou que eu convidasse para se sentar ao meu lado no banco da lanchonete.

-Débora. – Ele disse, como se anunciasse que alguém estava prestes a morrer.

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POV Annabelle

Começou com o cabelo. Vera, a cabelereira que eu mais amava no mundo, perguntou o que eu queria. Na verdade o que eu fazia no meu cabelo quando estava lá, eu sabia. Mas agora a situação era diferente. Era outro cabelo. Tentei encaixar imagens no meu cérebro, sobre o que ficaria ideal a Débora. Não queria fazer ela ficar como eu, loira de olhos azuis. Só queria que ficasse original, de um jeito mais bonito do que o dela próprio. Acabei optando por isso então.

-Quero que trate dele, alisando-o, e depois que tinja de preto, preto mesmo, carvão. E depois, repique, da maneira que quiser. – Disse, as palavras secas, totalmente diferentes de como eu falava com Vera quando era eu mesma. Ela assentiu, e começou a molhar e tratar do cabelo. Eu descrevi um estilo que sempre quis para mim, mas que nunca teria coragem de fazer. Agora eu poderia experimentar.

Eu disse a ela que não queria ver como ficaria, até que tudo estivesse terminado. Demorou séculos só para desembaraçar os cachos, e então, manicure e pedicure aproveitaram para homenagear as mãos e pés que agora estavam sendo usufruídas por mim. Montes de cutículas forma arrancadas, de ambos, e percebi, que a Débora tinha pés muito bonitos. Lindos, mais precisamente. Mãos também. Os dedos faziam sincronia perfeita uns com os outros, e a pele era macia e branca sem nenhum calo, como se nunca houvesse pisado no chão em toda a vida.

Escolhi minha cor favorita para o esmalte, lilás. Certas coisas nunca mudam.

Ainda tinha muito tempo até finalizar, que aguentei a cera quente removendo os pelos das pernas brancas da Débora, enquanto a tinta repousava nos cabelos, deu para a garota vir e arrancar os rebeldes pelos das sobrancelhas que agora eu tinha, da moça vir e fazer uma essencial limpeza de pele, retirando cravinhos e pele morta, e deu tempo até de ela finalizar com lápis nos meus olhos, e uma cor leve na minha boca, e delinear minhas sobrancelhas de marrom, e o cabelo ainda não estava pronto.

Eu estava na expectativa, sem ousar olhar para o espelho, de como eu, ou melhor Débora ficaria. Fiquei imaginando os lindos olhos cinzentos dela num contraste com cabelos pretos, lisos e repicados.

Durou horas. Acho que cerca de umas quatro no mínimo. Mas por fim, quando Vera disse que acabara, e que eu já podia olhar no espelho, um enorme arrepio percorreu todo o meu corpo. Girei lentamente para encarar o que seria a nova face de Débora Richelli, e a tremedeira se apossou das minhas mãos... O que eu enxergaria no reflexo?

Lívia Rodrigues Black
Enviado por Lívia Rodrigues Black em 28/02/2011
Código do texto: T2819277
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