O MISTÉRIO DE EMILINHA (1ª)
1
Quando Emilinha correu
Ninguém quis saber porque
Já sabe o que aconteceu?
É bem melhor não saber!
Mas vou lhe contar um pouco,
Só pra dar uma de louco.
Mas, fica entre eu e você!
2
É o seguinte: Ela passava
Na rua do cemitério
E, enquanto cantarolava,
Chegou-lhe um rapaz bem sério,
Perguntou se tinha medo
Se lhe contasse um segredo,
"Um verdadeiro mistério!"
3
Emilinha então pensou
Não haver nenhum perigo,
E para o moço falou:
- ’Cê pode contar comigo.
Fala, vai! Sou toda ouvidos!
E meus parentes queridos
Que aqui dormem são amigos!
4
Mas, o que ela não sabia...
(Meu Deus!!! Posso lhe contar?!!!
Será que 'ocê não queria
Deixar outro se estrepar?!!!)
Mas, já que me autorizou,
Eu vou contar, mas não vou
Me responsabilizar!
5
Aquele rapaz tão moço,
De repente, ficou velho
E foi tirando do bolso
Um livro branco e um espelho
E disse para Emilinha:
- Procê não ficar velhinha,
Precisa ler o Evangelho!
6
Então, lhe disse a garota:
- Que faço com esse livrinho?
- Ah! Nele, você me anota
Todo o dia, um defeitinho
Que esse espelho for mostrando
Então, 'cê vai deletando.
Já e já lhe ensino o caminho.
7
- 'Stá bem, mas por que você,
Que era tão jovem e tão belo,
Ficou feio de doer,
Calvo, encurvado e banguelo?
Se você pratica o que
Me recomenda a fazer,
Como é que ficou tão velho?
8
- Vou lhe explicar, garotinha!
Não fique assustada não!
Você passando sozinha
Pisando aqui nesse chão,
Parece até ter coragem
De cruzar esta passagem
Sem medo de assombração.
9
- Os mortos estão cativos -
Emilinha respondeu -
- Posso ter medo de vivos,
Mas não de quem já morreu.
E até mesmo um vivo assim,
Só vai dar um susto em mim
Se for mais vivo que eu.
10
Os mortos não podem nem
Comer, gozar ou sofrer.
O amor e o ódio e também
Cíúme, não podem ter.
Não podem sentir, pensar,
Não têm nada o que nos dar
Nem mesmo o que receber!
11
Mas, acho que o senhor tem
Pavor desta noite escura...
Não vou dizer a ninguém!
Essa doença tem cura!
Perdão se mal lhe pergunto:
Tem medo que algum defunto
Vá fugir da sepultura?
12
Foi quando a coisa pegou
Como uma agulha na linha!
Porque o velhote pulou
Bem em frente de Emilinha
E disse: "Um medo profundo
De tudo o que há nesse mundo
Quando eu era vivo, eu tinha!!!"
(continua na Segunda Parte)