2° Capitulo do meu livro - Edward Drake e as Ruinas do Sol

- CAPÍTULO DOIS –

O banheiro do bloco quatro

Edward acordou assustado, seus olhos ardiam como se estivessem em chamas. Desesperado, levantou-se depressa da cama. Tentou esfregar os olhos para aliviar a dor, mas quanto mais esfregava mais forte a dor ficava.

Sentindo que a situação só piorava, Edward correu aos tropeços para banheiro, não pensou duas vezes, enfiou a cara debaixo da pia e abriu a torneira em cima do rosto.

A água começou a escorrer sobre seus olhos e logo a sensação de dor foi substituída por uma sensação de alívio. Por fim, Edward respirou mais calmo enquanto a dor passava, como se ele tivesse apagado um fogo do seu rosto.

Edward enxugou o rosto em uma pequena toalha caída no chão. Encostou as costas na fria parede do banheiro esperando a adrenalina baixar.

Ficou intrigado, ele já tinha experimentado acordar com a impressão de que os olhos estivessem em chamas, mas isso só tinha ocorrido algumas vezes quando era criança, e nunca a dor foi tão insuportável.

Lembrava-se até da primeira vez que aconteceu isso, sua mãe estava viajando, e seu pai desesperado fez de tudo, até que conseguiu resolver o problema jogando Edward debaixo do chuveiro. Nenhum médico tinha conseguido explicar por que isso acontecia.

Mas de uma coisa Edward tinha certeza essa dor sempre ocorria quando ele tinha sonhos estranhamente realistas. Dessa vez não foi diferente. Fechou os olhos e tentou se lembrar do sonho.

Lembrava-se vagamente, tinha impressão que vira várias naves, grandes como uma cidade, triangulares de cor cinza, cheias de detalhes metálicos. Elas estavam sobrevoando algo que parecia cidades, as naves grandes começaram a abrir um compartimento que dele saíram várias naves menores, um pouco maior que um ônibus, que pousaram nas ruas da cidade. As portas das naves menores abriam-se lentamente como se quisessem causar suspense. Edward tinha a impressão de que algo um pouco maior que uma pessoa esperava do outro lado da porta, com um sorriso maligno. E o sonho parou por aí.

Edward ainda tentou forçar a memória por mais alguns minutos, até que sua fome falou mais alto. Levantou-se e foi até o armário, abriu a gaveta e se deparou com sua camisa da escola no canto, estava toda amassada, como se não saísse do armário fazia meses, afinal a camisa não saía mesmo do armário fazia meses.

Edward a observou por um momento, chegou a pensar em vesti-la como seu pai tinha ordenado na noite passada, mas seu ódio pelo tempo em que o pai o abandonara se isolando no escritório foi mais forte, fechou com força a gaveta. Agora, sou eu que faço as regras, repetiu para si mesmo, trocou o pijama por uma roupa caída por cima dos móveis e foi tomar o café da manhã.

Quando Edward chegou à porta da cozinha esqueceu rapidamente da dor nos olhos, deparou-se com seu pai sentado à mesa, lendo atentamente um jornal enquanto tomava um café. Seu pai estava com roupas limpas, barba feita e os cabelos grisalhos penteados, mas ainda conservava a expressão de cansaço no rosto. Ele olhou para Edward por cima do jornal e disse:

- Quer café Ed?

Edward ficou em estado de choque, fazia anos que não ouvia alguém o chamar de Ed, na verdade, só sua mãe o chamava de Ed, e claro seu pai também antes de sua mãe morrer.

- Ah... não... prefiro leite.

-Que pena, o café está muito bom.

Edward ainda surpreso com a cena, pegou o leite e o queijo na geladeira, abriu um pão, fez rapidamente no microondas e passou a comer. Edward ficou olhando para o pai imaginando o que o teria acordado.

Edward continuou a observar, seu pai obviamente percebendo o desconforto do filho, abaixou o jornal e encarou Edward.

- Algum problema filho?

Edward ficou em silêncio um pouco, então resolveu fazer a pergunta que o estava incomodando:

- O que aconteceu com você pai? – Perguntou – Um dia está isolado no escritório, outro está aqui agindo como se nada estivesse acontecido?

Edward nem percebeu que sua voz perdia o controle, provavelmente tinha soado bastante brava e indignada sua pergunta. Seu pai não baixou os olhos, continuou a encarar Edward, mas demonstrou no rosto uma expressão triste e cansada.

- Me desculpa filho – disse com uma voz sincera – Não fui eu mesmo, esses últimos tempos, mas espero que possamos recomeçar. Sabe, ser uma família de novo.

- Não sei pai, você perdeu muito tempo.

- Desculpa filho, prometo que vou compensá-lo.

Edward olhou desconfiado, sua raiva por ter sido abandonado ainda continuava, mas o desejo de ter um pai ao seu lado de novo era mais forte.

- Tudo bem pai podemos tentar de novo.

- Que bom filho! – Sorriu o Pai de Edward – Agora, vá se vestir se não vai chegar atrasado na escola.

- Não vou mais na escola. Detesto aquele lugar

- Filho, está na hora de recomeçar não quer acabar se tornando um marginal.

A última frase entrou dentro na cabeça de Edward, lembrou-se do dono do minimercado, das gangues do bairro, também acabou se lembrando do homem que o estava caçando, por fim, vestiu-se e foi para a escola.

A escola de Edward não ficava muito longe de sua casa, também era extremamente fácil de acha-la, afinal, a escola mais parecia um castelo do que uma escola. Era realmente grande, como um castelo com paredes vermelhas enfeitadas com o brasão da escola. Várias árvores milenares cercavam-na, dando um ar natural ao ambiente. Uma escadaria branca levava a sua entrada ao melhor estilo arco gótico, e na placa ao alto podia se ler em dourado Colégio Santa Maria.

Dentro do colégio pelos seus vários corredores luxuosos, os alunos, verdadeiros filhos de milionários, desfilavam com seus uniformes caros e seus celulares de última geração, orgulhando-se de seu status.

Na sala 13, fazendo total contraste com aquele ambiente de riquinhos metidos, estava Edward com seu uniforme de segunda mão todo amassado, sua bolsa rasgada e seu celular com a tela em preto e branco.

Edward estava sentado na última carteira da fileira mais distante da porta de dentrada, com a cabeça entre seus braços, babando em seu livro de física. Já dormia profundamente e não tinha passado nem seus primeiros 20 minutos de aula depois de dois meses.

Na frente da sala de Edward, em cima de um pequeno tablado, estava um pequeno professor de física com óculos fundo de garrafa, o professor era realmente pequeno, devia ter um metro e meio de altura. Altura que não ajudava o coitado que tentava escrever na lousa.

Acabando de escrever com grande esforço, o professor virou-se para classe e começou a discursar sobre as leis da física para seus alunos. Enquanto isso na última carteira de sua fileira, Edward ainda dormia profundamente.

O pequeno professor forçava uma voz grave enquanto ensinava seus alunos, como se ele quisesse parecer imponente e sábio ou apenas compensar sua altura. Mas os sons dos roncos, cada vez mais altos de Edward ecoando pela sala inteira realmente não estavam ajudando.

- Todo evento que o ser humano consegue imaginar é uma realidade que pode acontecer. Essa frase...

- RONC.

O professor ajeitou os óculos e continuou.

- ...representa toda as possibilidades que o uni...

- RONC.

- ...verso proporciona para seus habitantes...

- RONC.

O pequeno professor deu uma parada. Risinhos e cochichos começaram a ecoar por toda a sala de aula, os alunos em volta de Edward se esforçavam ao máximo para segurar os risos. Em cima do tablado, o professor ajeitava os óculos furiosamente, apesar dos óculos já estarem ajeitados. Na sua pequena testa uma veia começava a pulsar na mesma sincronia que os roncos de Edward.

O professor respirou profundamente e continuou;

- Como estava dizendo o universo proporciona...

- RONC!

Os vários alunos que seguravam as risadas não resistiram, várias gargalhadas estouraram por toda a classe. O pequeno professor tremendo de raiva olhava ameaçadoramente para Edward, fonte dos roncos.

- EDWARD DRAKE!

Toda a classe ficou em silêncio. Edward na última carteira levantou a cabeça, com seus olhos vermelhos semi-abertos, se espreguiçou, descansou a cabeça novamente nos braços e:

- RONC.

As gargalhadas ecoaram novamente pela classe. O pequeno professor desceu aos tropeços e rumou com passos pesados na direção de Edward.

Toda classe agora estava virada para trás observando Edward dormindo com o pequeno professor raivoso a sua frente.

- EDWARD DRAKE! – Gritou mais alto que pode - ACORDE AGORA!

Edward ainda deitado nos braços virou a cabeça na direção do professor, abriu um dos seus olhos vermelhos.

- Não se pode mais dormir tranquilamente por aqui.

Pronto, Edward conseguiu arruinar seu primeiro dia de aula depois de dois meses em menos de 20 minutos.

Sala do diretor.

Edward já tinha entrado inúmeras vezes naquele lugar, mas não só porque era um aluno encrenqueiro. Seu pai dois anos atrás era o diretor do Colégio, mas devido a tristes circunstâncias foi obrigado a pedir despensa temporária.

Agora, um novo diretor ocupava o cargo, Sr. Belloti, como o exigia ser chamado. Era um homem de meia idade, mais gordo que seus terninhos caros podiam aguentar, com mais bigode que boca e com uma peruca que não enganava ninguém.

E nesse exato momento Edward estava lá vendo aquela bigodeira sorrir para ele maldosamente.

- Ora, Ora. Se não é nosso ilustre aluno Edward Drake.

Dizia rindo o diretor do colégio, com seu traseiro gordo acomodado em uma poltrona cara de estofado roxo. Mostrava-se animado. Obviamente feliz por ter a oportunidade de dar uma bronca em Edward.

Edward estava sentado em uma cadeira também cara e de estofado roxo na frente do diretor. Tentava fazer cara de despreocupado, mas estava difícil. Já que o diretor estava fumando um charuto extremamente fedorento e soltava cada baforada diretamente na cara de Edward.

Edward continuava com sua cara despreocupada, mas por trás da sua pose estava fazendo um enorme esforço para não dar um soco no meio daquela farta bigodeira ridícula.

O diretor se divertindo com a situação, soltou mais uma baforada na cara de Edward e voltou ao seu passatempo preferido: atormentar Edward:

- Então, Edward resolveu voltar depois de dois meses. Sinceramente, fiquei preocupado, achei que tinha nos abandonado - Parou um momento. Deu uma fumada em seu charuto e continuou – Mas vejo que está de volta como você sempre foi, um moleque mal educado e bagunceiro que consegue ser expulso da sala em menos de 20 minutos.

Edward desviou o rosto, tentando escapar da fumaça do charuto. Fixou o olhar na mesa obviamente cara na sua frente. Ela parecia de madeira pura, com vários objetos que brilhavam em cima.

Um dos objetos chamou a atenção de Edward, era uma placa prensada na mesa, a placa estava brilhando, muito obviamente era nova. Nela dizia: Diretor José Maria Belloti Contrera.

Edward a leu, deu uma risada subiu o olhar para o diretor, que pela primeira vez deixou vacilar seu sorriso.

- Seu segundo nome é Maria? – Perguntou Edward sem fazer esforço para não rir – Achei que Maria era nome de mulher.

- Olho o respeito moleque – disse o diretor rispidamente.

- Desculpe – disse Edward – Senhor Maria.

O diretor a sua frente ficou rubro de raiva. Bateu na mesa e apontou seu dedo gordo para Edward.

– Olha aqui moleque. Só porque aquele doido do seu pai era diretor aqui não quer dizer que você pode fazer o que quiser.

Edward desfez o sorriso e olhou ameaçadoramente para o diretor, não gostava que ninguém falasse mal do seu pai, principalmente o diretor. Mas não podia responder mal ao diretor. A escola ainda pagava seu pai, na verdade, o diretor Maria que era responsável pelo pagamento. Então, Edward sabia que se fizesse algo o diretor daria um jeito de cortar o pagamento do seu pai.

José Maria percebendo que conseguiu a atenção de Edward sorriu mais feliz e continuou:

- Falando em nosso querido ex-diretor, como vai a dispensa temporária devido a tristes circunstâncias?

O diretor enfatizou bem em sua frase tristes circunstâncias, Edward não deixou sua raiva transparecer, mas resolveu dar o troco:

- Na verdade ele melhorou muito – disse Edward se esforçando para parecer confiante – Acho que a qualquer momento pode voltar a ocupar o cargo de diretor que é dele por direito.

Edward manteve sua cara de confiança, enquanto o diretor a sua frente obviamente não gostava do que ouvia. Edward tinha quase certeza de que o maior medo daquele homem barrigudo era a volta do seu pai para o cargo de diretor.

- Sabe Edward – disse o diretor se levantando e caminhando para a janela – Aqui no colégio Santa Maria não costumamos dar castigos nem detenção aos alunos.

Ele parou, sorriu e olhou para Edward:

- Mas acho que você pode ser o pioneiro nisso, não?

Edward olhou atentamente para o diretor, desafiando-o, mas não respondeu.

- Acho que para começar você pode ir limpar o banheiro do bloco quatro. – disse rindo – Sem problemas?

- Sem problemas – respondeu Edward, tentando parecer descontraído e confiante, não deixaria o diretor se divertir as suas custas – Aonde eu consigo o material de limpeza?

O diretor pegou um paninho de lustrar sapato em um móvel ao seu lado e jogou para Edward.

- Molhe isso na pia – Sorriu e acrescentou –Vai ser um bom treinamento para seu futuro.

Edward saiu da sala do diretor. Apertava o pano de lustrar sapato com tal raiva que sua mão tremia. Caminhava a passos pesados pelos corredores em direção ao banheiro do bloco quatro.

Edward manifestava tanta raiva que os vários alunos, que andavam pelo corredor abriam passagem para ele, um pequeno aluno da 5ª série chegou a se virar e correr na direção oposta.

Mais à frente no corredor estava Seu Felipe, o zelador da escola. Um velho bondoso e bem humorado, sempre simpático com todos os alunos.

Seu Felipe estava limpando o chão do corredor enquanto dançava ao som de um mp4 preso a sua cintura.

- Bom dia Edward – disse Seu Felipe, com sorriso no rosto.

Edward olhou atentamente para o velho senhor que dançava e ria a sua frente.

- Bom dia? – perguntou Edward se controlando para não gritar – O que há de bom nesse dia?

Seu Felipe continuou dançando e sorrindo para Edward que estava à beira de um ataque de nervos.

- Qual é o problema Edward? – disse bondosamente o dançante zelador.

Edward tentou segurar a língua, preferia dizer que estava tudo bem e guardar a raiva para si mesmo, mas a necessidade de desabafar foi mais forte.

- Sabe qual é o problema – disse Edward levantando a voz – É aquele diretor idiota. Sempre querendo me humilhar, sempre falando mal do meu pai e agora – Edward mostrou o paninho para Seu Felipe – Quer que eu faça a tarefa absurda de limpar um banheiro inteiro com esse maldito paninho.

Seu Felipe, continuou dançando, deu um giro de 360 graus e parou com as mãos para o céu perfeitamente sincronizado com o final da música, ao melhor estilo Broadway.

- Eu te ajudo a limpar o banheiro – disse com um grande sorriso.

- Não precisa, Seu Felipe.

- Eu insisto.

Dito isso, Seu Felipe virou-se pegou seu material de limpeza olhou para Edward e disse:

- Vamos.

Edward percebendo que o animado zelador não ia mudar de idéia simplesmente o acompanhou.

O banheiro do bloco quatro era o pior banheiro da escola. Seu piso estava todo sujo e grudento, as pias estavam todas entupidas com papéis, o teto que, originalmente, era azul estava todo branco de tantas bolas de papel grudadas nele, os espelhos da pia todos riscados e por fim, os sanitários... É melhor não descrever.

Como Edward nunca tinha entrado naquele banheiro não fazia idéia de quanto era maldosa a ordem do diretor de mandá-lo limpar aquele banheiro.

Agora, ele estava lá, na porta do banheiro do bloco quatro, xingando o diretor José Maria de todos os nomes possíveis. Seu Felipe, por outro lado, ainda sorria, ele era realmente inabalável.

- Vamos Edward, coragem – disse enquanto colocava uma música para tocar do seu mp4 – Pegue um esfregão. Vamos dar um jeito nesse chão.

Edward molhou o esfregão e começou a trabalhar. Seu Felipe do seu lado dançava com o esfregão. Edward se perguntava como alguém pode ser tão feliz.

- Sabe Edward – disse Seu Felipe ainda dançando – Essa escola era muito mais feliz quando seu pai era diretor.

Edward não respondeu, na verdade, não sabia o que responder. Seu Felipe continuou:

- Tinha gincanas, tinha diversão e mais importante não tinha preconceito, não importava sua classe social. Agora, as mensalidades são muito altas, apenas para ricos. – Seu Felipe olhou para Edward – O engraçado é que os alunos que não pagam mensalidade são os mais simpáticos.

Edward olhou atentamente para Seu Felipe. O zelador ainda sorria, mas parecia mais velho do que nunca. Edward tinha certeza de que Seu Felipe havia se referido a ele como o aluno mais simpático, afinal ele não paga mensalidade porque seu pai, apesar de estar temporariamente dispensado, era funcionário.

- Lembre-se Edward de que quanto mais você tem, menos você dá valor.

Seu Felipe deu um sorriso fraco e voltou a dançar com o esfregão.

Edward ficou ali pensando no que Seu Felipe dissera. Não sabia que seu pai fora um diretor tão amado, afinal, não havia frequentado o colégio na época em que o pai fora diretor, entrou no colégio um ano depois do pai abandonar a diretoria. O fato de saber que seu pai foi um bom diretor animou Edward.

Com muito esforço, os dois conseguiram limpar todo o banheiro. O chão agora brilhava com o sol que entrava pela janela, o teto voltara a ser azul e os sanitários, que Seu Felipe encarou corajosamente, tinham condição de ser usados.

- Nossa isso aqui está nos trinques Edward.

- Trinques? Que expressão mais velha Seu Felipe.

- Sou velho esqueceu?

Edward riu com Seu Felipe, não sabia como agradecer a ajuda do velho zelador. Sabia que sozinho nunca ia ter conseguido limpar o banheiro.

- Muito obrigado pela ajuda Seu Feli...

Edward foi interrompido pela porta se abrindo. O diretor Belloti entrava pela porta, com sua barriga na frente.

- Interessante – disse o diretor observando o banheiro – Você – apontou para Seu Felipe - sai do banheiro preciso conversar com o garoto.

Edward não gostou do jeito que o diretor se dirigiu ao Seu Felipe, ia responder mas sentiu a mão do zelador no seu ombro. Seu Felipe deu um sorriso para Edward e saiu do banheiro sem olhar na cara do diretor.

A porta fechando, o diretor virou-se novamente para encarar Edward, agora ele estava com aquele sorriso de desprezo no rosto.

- É garoto realmente você limpou tudo – disse o diretor enquanto checava cada pedacinho do banheiro – Mas tudo isso com ajuda, será que você não consegue fazer nada sozinho?

Edward ficou quieto, remoendo de raiva, mas quieto.

- Mas isso é o máximo que se pode esperar do filho daquele coitado – disse o diretor deixando transparecer sua raiva por cima do seu sorriso arrogante – Um vagabundo que eu tenho que ficar pagando mesmo quando não trabalha.

Edward não conseguiu segurar sua língua, precisava responder.

- Meu pai sempre foi um melhor diretor do que você – disse Edward quase gritando – Você só tem inveja. Não passa de um gordo metido!

Edward sentiu o diretor pegá-lo pela gola da camisa, quase o enforcando. Edward via de perto o diretor, estava furioso, seu rosto se contorcia em ódio. O diretor jogou Edward com força no chão do banheiro.

- Moleque arrogante – disse o diretor enquanto tirava um charuto do bolso – Tome cuidado com o que você fala.

Dito isso, o diretor cuspiu no chão a frente dos pés de Edward.

- Limpe isso – disse o diretor sorrindo enquanto acendia seu charuto.

Edward foi tomado de uma raiva descontrolada, nunca tinha sentido tanta raiva na vida, observava o diretor acendendo o charuto atentamente, e cada vez mais uma vontade de machucar o diretor tomava sua mente. Então aconteceu:

Edward sentiu um formigamento nos olhos junto com um forte aperto no abdômen, sua temperatura pareceu subir como se estivesse em chamas, sua mente parecia ter deslocado do mundo só deixando a imagem do isqueiro a sua frente.

Edward não sabia como, mas tinha certeza de que o isqueiro fazia parte do seu corpo, sentia a presença do isqueiro, sentia como se o isqueiro tivesse vida, mas a dor no estômago de repente aumentou de tal modo que Edward perdeu a concentração, por fim piscou seus olhos vermelhos e o isqueiro na mão do diretor explodiu, fazendo o diretor recuar para parede com um berro de medo.

Edward não sabia o que estava acontecendo mais, sua visão ficara embaçada e o aperto no seu estômago estava cada vez mais forte, só conseguia ouvir a respiração rápida do diretor colocado na parede.

O aperto no estômago foi piorando tanto que Edward teve uma vontade de vomitar. Edward não aguentou, correu para o vaso sanitário mais próximo e vomitou.

De dentro do boxe do banheiro pode ouvir a porta do banheiro se abrindo, Edward reconheceu a voz, era do seu pequeno professor de física que berrava desesperado.

- Diretor rápido você precisa ver isso.

- Já... Já estou indo – a voz do diretor estava baixa, mas pelo jeito não estava machucado.

- Diretor está tudo bem? Parece que você acabou de levar um grande susto

- Não é nada, vamos logo.

Edward ouviu os dois saindo às pressas do banheiro. Já estava se sentindo melhor, a dor passando lentamente, mas ele tinha a sensação de que fora a causa da explosão do isqueiro. Mas isso é impossível, pensou.

O barulho de vários passos fora do banheiro tirou sua atenção do que tinha acabado de acontecer, curioso correu e abriu a porta.

Edward viu a escola, estava em uma confusão enorme. Vários alunos correndo para todos os lados, amontoando-se em grupos que olhavam vidrados para as telas de celulares.

Todos pareciam ver o mesmo canal de notícia, empurravam-se para ter uma melhor visão da telinha. Edward não precisava ser um gênio para entender que algo acontecia no mundo e a TV era a fonte de informação.

Edward, em vez de se amontoar com um grupo para tentar enxergar uma telinha, foi mais inteligente, correu para o refeitório onde havia três grandes TVs de plasma.

No caminho, via por todos os corredores cada vez mais alunos se amontoarem com os seus celulares. Os professores corriam para todos os cantos, tentando evitar a confusão que a disputa pela telinha causava.

Chegando ao refeitório, percebeu que não foi a única pessoa a ter essa idéia. O refeitório estava cheio, os alunos se amontoavam para ver a TV, uma verdadeira confusão. Edward acostumado a fazer parte de confusão foi empurrando quem estivesse na sua frente até ter uma visão perfeita.

Mas o que viu realmente o assustou. Lá estava na TV seu sonho da invasão das grandes naves triangulares em imagem full HD.

Augusto Ferreira
Enviado por Augusto Ferreira em 16/02/2011
Código do texto: T2796658
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