O colecionador de estrelas #1

Já era a hora delas e o seu brilho perene como sempre precedendo minha humilde contemplação. Eram inúmeras. Luz de moça donzela. Cintilava uma dança de intensas cores, deslumbravam suas virtudes, ignoravam que a do desgraçado é a miséria. Uma noite realmente única.

Enquanto isso na terra dos mortais, as horas insistiam em fugir, e o que eu deveria escrever?É a pergunta que pairava uma velha mesa marrom e uma iluminaria vagabunda de meia luz, num sórdido cubículo.

O que agradaria você? O que possivelmente o faria ler este aglomerado de idéias e apreciá-lo como eu gostaria que fizesse? Poderia escrever uma bela história de amor? Talvez. E com um lindo fim e fazê-lo desejar viver feliz para sempre. Orgia-lo em obscenas palavras...? Faria algum sentido? Indagava-me enquanto notava aquela desordem.

Mas o porquê de agradar?

O relógio nunca fora tão desnecessário era ridiculamente passageiro.

A falha de luz de tempos em tempos, as folhas de anúncios espalhadas pelo chão, riscos na parede e escritos em alguns objetos. Ruídos do lado de fora em compasso com a ponta do lápis batendo na madeira, produziam uma sinfonia, acompanhada pelo bater dos meus pés no chão. Tudo parecia conspirar na tentativa da desejada inspiração.

Confesso só dispor de nuas palavras, talvez insuficientes para despertar em alguém um mínimo de inspiração que seja para seus rascunhos ou de senso para o que for necessário.

Novamente começo a me questionar. O porquê de agradar? O porquê dessa tentativa frustrante de mascarar o que a face já é conhecida?