Na sua pele. Cap. 22.

N/A: Valeu por comentários e leituras!

Débora: Se quiser saber, tem que ler! aahiush...

POV Annabelle

-Oi, Lucas. – Falei, assim que o encontrei esperando-me do lado de fora de sua sala de aula. Ao contrário de mim, ele parecia muito feliz, seus dentes brancos brilhavam ressaltados em seu rosto, os olhos flamejando quando pousaram-se em mim. Certamente, ele estava vivendo seu desejo pessoal, a garota que amava dependendo exclusivamente dele. Mas aí é que está: Eu não era a garota que ele amava. Só que ele parecia não entender isso. Mas certamente, ele notou que o meu tom de voz era depressivo, igualzinho ao de alguém que está prestes a se suicidar.

-Qual o problema agora? – Logo ia me indagando, enquanto eu caminhava sem olhar para trás pelo corredor.

-Falei com o Dani. – Expliquei, a minha voz de tom diferente não conseguia deixar de transparecer minha infelicidade, assim como a expressão daquele rosto.

-O quê? – Desesperou-se ele. – Belle, por favor, me diga que você não tentou dizer alguma coisa, sobre você ser você e não a Débora? Porque se você disse isso pode considerar que...

-Não, não, nem comentei nada a esse respeito. – Informei-o. – Nós nos esbarramos, e de repente eu comecei a falar mal de mim mesma. Quer dizer, falei mal da Débora, mas como ela tecnicamente sou eu, então falei mal de mim.

Ele pareceu um pouco mais aliviado.

-E qual foi a reação do cara? – Inquiriu com curiosidade.

-Ah. Nem fiquei pra ver. Simplesmente fui embora. Não aguentaria viver essa situação.

Ele limitou-se a dizer “Hum.”

-Então, quer que eu te leve a sua nova casa? – Perguntou ele com a voz empolgada, talvez tentando animar um pouco meu decepcionante semblante.

-E que escolha eu tenho? – Revidei deprimida.

-Ah, qual é. Não é tão ruim assim. Dê-se por feliz de morarmos no mesmo condomínio.

-Vamos logo, Luke. – Cortei, como se dissesse que não estava a fim de consolações.

POV Dani

-Cara, essa mina fuma alguma droga alucinógena ou é so impressão? – Perguntou Léo, olhando para as costas da garota que acabara de deixar-me depois de sua enchente de palavras comprometedoras. – O Dani é um galinha idiota.

-Ei! – Protestei intimidando-o. – Eu sou um cara fiel, pelo menos com a minha Belle eu sou.

-Aposto que sim. –Respondeu Lipe, rindo. –Mas acho que essa daí é

pirada mesmo. De onde ela tirou tudo isso sobre a sua mina? Só faltou chamar ela de vadia, e ficava completo.

-Ela era a melhor amiga dela, lembra? Vai ver brigaram. Mulher quando briga fica assim mesmo, sai por aí dizendo todos os podres da outra pra o primeiro que aparecer. – Explicou Gui parecendo indiferente.- Ainda mais pro namorado dela.

Só que eu não conseguia falar nada sobre aquilo. A garota simplesmente deixara-me com sua cara de sonsa, com as palavras acusatórias pairando no ar.

-Sabe.. – Comecei, ajeitando o boné. – Que eu acho que ela tem um pouco de razão. A Belle estava diferente hoje mesmo.

-HAISUAHSUAI... Então você vai seguir o conselho da drogada?

-Vai terminar com ela? – Indagou Gui esperançoso.

-NEM. – Respondi amargamente.-Só achei um pouco estranho, ahn, isso ter acontecido... Quer dizer, a Belle costumava ficar quietinha, tímida, sabe... Odiava aqueles projetos de patricinha e agora... Ela tá andando de blusa colada, e me chamando de, ah, vocês sabem...

-Cara, você é pior do que a tal Débora. Tá se lamentando por que ela tá de dando moral? – Perguntou Léo dando risada.

-Não é isso. É só que ela resolveu parar de ser comportada. – Corrigi, com o olhar aflito, porque algo me dizia que aquilo não era

bom.

-Eu sempre soube desde que vi que ela não podia ser uma nerd, só que gostosa... – Comentou Gui, os olhos analisando o corredor com o pensamento longe. – As certinhas são as piores.

-Mano, se chamar ela assim de novo, eu te arrebento, tá me entendendo?

-Calma, Dani, relax. Vai se acostumando, porque vão falar coisas muito piores da sua namorada...Ou melhor, falam.

-Argh, quer saber? Vou falar com ela, e é melhor que ela vista um capuz antes que eu...

-Amor! – Interromepeu-me, justamente ela, tapando os meus olhos com suas mãos delicadas. – Adivinha quem é?

Eu dei uma risadinha.

-Oi, anjo. – Falei, tirando as mãos dela dos meus olhos. Ela estava sozinha, rindo com felicidade. Parecia mesmo um anjo. Exceto pela roupa vulgar, ela parecia ter cortado a blusa da escola pra ficar com um decote maior. O problema é que eu não sabia se isso era pra me agradar, ou pra agradar os outros.

Ficamos nos olhando por um bom tempo. Havia algo no olhar dela, quando se encontrava com o meu, com nossas mãos entrelaçadas. Era algo como cobiça – cobiçando-me. Ostentação – querendo vangloriar-se de mim, e um pouco de Desejo- me querer. Era algo diferente de antes, mas eu comecei a achar que estava ficando paranoico.

Meus amigos preferiram nos deixar a sós.

-Quer sair hoje a noite? – Perguntou ela com um olhar ousado, colando nossos lábios.

-Claro! – Exclamei. – Vamos aonde?

-Hum, que tal a sua casa? – Perguntou com uma animação exagerada.

-Belle, você sabe que eu não tenho uma casa como a sua, quer dizer... Meu pai sempre sai pra procurar alguma dona de casa solteira, além disso eu não tenho nada das coisas que você tem na sua casa...

-Peraí, o seu pai faz o quê?

Revirei os olhos.

-Sabe como são os homens divorciados.

-Seus pais são divorciados? – Inquiriu ela com um tom de espanto, colocando os dedos para tapar a boca.

Franzi o cenho.

-Você disse que nem se importava... Disse que quando duas pessoas não combinam, o melhor que podem fazer é ficarem uma longe da outra, e irem procurar a sua alma gêmea... – Discursei, lembrando-me exatamente do dia em que ela me brindara com esse texto.

-É, eu disse... – Respondeu ela, um tanto sem graça. – Mas... Não tem problema, quero ir a sua casa. – Persistiu Belle.

-Ah, por mim tudo bem... Se você não ligar pra minha irmã idiota...

-Irmã? Você tem irmã?! – Desesperou-se Belle, arregalando os olhos azuis.

-Claro que tenho! Eu lhe disse outro dia, esqueceu? – Indaguei dessa vez ficando preocupado de minha namorada estar tendo um quadro de amnésia.

-Nãooo... Não esqueci. Acho que tudo certo. Mas ela estuda no colégio?

-Não, acabou de chegar de outra cidade em que morava com a minha mãe, e vai voltar semana que vem a ter aulas, e se matriculou aqui. Também falei.

-Ahhh... Claro que sim.

-Lembra do nome dela? – Desafiei arqueando a sobrancelha.

-Ahhhnnn.... Ana... Maria... Carol... Claudia...?

-Leila. – Corrigi lançando um olhar desconfiado.

-Ah, é claro. – Sorriu ela.

-Então, que horas vamos?

-Vá até lá umas oito...Você sabe o endereço..

-Okk.

Seguimos abraçados pelo corredor, enquanto eu a olhava intrigado. De repente me lembrei de uma coisa.

-Ei, sabe aquela sua ex-amiga?

-Hã? Que ex amiga?

-Débora ou seja lá o nome que tiver.

Belle arregalou os olhos e suas mãos tremeram quando eu disse aquilo.

-O que tem ela? – Perguntou, com leves pausas.

-Então, hum... Ela veio falar comigo.

Dessa vez ela paralisou, seu rosto parecia chocado. Depois respirou, fundo e me olhou dócil.

-O que ela queria? – Questionou como quem não quer nada.

Tentei recordar.

-Ela disse algo sobre eu me afastar de você porque você mudou muito, e alguém como eu, que ela diz saber que não é um galinha idiota, não te merece... – Resumi, dando a ela a palavra.

Ela suspirou alivada, mas depois, Belle começou a rir.

-Ah, amor... Essa garota está mesmo louca.. HUSIHAIU... – Seu riso era frio e debochado, mas era contagiante e então comecei a rir junto com ela.

-Nunca vou ouvir o que ela disse, só achei legal te contar... – Ela me olhou, ainda sorrindo pelo acesso de riso, os olhos viajando pelo orbe.

-Se você quer saber, acho que ela tem inveja. – Colocou de uma forma arrogante.

-Mas do quê? – Inquiri com curiosidade. Ela se aproximou de mim e mordeu cautelosamente o meu lábio inferior, ao mesmo tempo murmurando.

-De você... – E depois continuou a rir friamente. – Acho que ela te ama e tem inveja de você me amar... Por isso quer nos afastar. – Sugeriu ela, ao que parecia fazer parte de um extremo raciocínio lógico. E ao que notei, parecia fazer sentido. A garota estranha me olhava como se eu fosse sei lá o quê, e começou a falar um monte de coisas da minha namorada, talvez para... Nos afastar? Por mim?

Cara, isso faz meu ego crescer. Ela não é feia assim. Só.. Esquisita.

-Será? – Indaguei, sem ter certeza.

-Mas é claro!

Pensei por uns segundos, mas acabei concordando.

-Bem, se for isso mesmo... Pode ficar tranquila.. Assegurei. Como poderia me interessar por uma garota como aquela se eu tinha ao meu lado uma maravilhosa?

-Eu sei. – Gabou-se Belle, com orgulho. Um defeito que nunca tinha notado antes nela. Ela sempre me pareceu muito humilde.

-Certo. Agora eu tenho que ir, Belle. A gente se vê mais tarde.

Desvencilhei-me dela e comecei a andar pelo corredor, e não fazia ideia do porque, mas ao invés de pensar no encontro que eu teria com ela mais tarde, meu pensamento se desviou imediatamente para aquela garota estranha e o fato dela talvez... Gostar de mim.

**

POV Annabelle

Estavámos ofegantes quando paramos para deitar, um ao lado do outro (por mais estranho que parece) na cama da Débora. Era uma cama confortável pelo menos. Paula, a mãe dela, não estava em casa. Então, aproveitamos esse fato para vasculhar todo o apartamento dela, ao qual Luke tinha me conduzido de volta.

Estávamos procurando qualquer objeto místico que poderia ter sido utilizado para fazer aquela inversão maluca de corpos, mas o máximo que encontramos foram papéis, pinturas, e vários amuletos dentro da gaveta, mas nenhum dos itens tinha algo especial.

-Tem certeza de você não é mesmo a Débora? – Perguntou Luke depois de um tempo, quando respirávamos cansados de tanto vasculhar e depois de ter que arrumar tudo.

-É CLARO QUE EU TENHO! EU SOU ANNABELLE KOUREN! – Berrei revoltada. Eu estava com ódio de não termos encontrado nada, e aquela pergunta só complicou as coisas.

-Tá, tudo bem... Desculpa, Belle. É só que não parece fazer o menor sentido, e nós não encontramos nada.

-Olha, você tem que acreditar em mim... Eu sou a Belle! E alguma

coisa aconteceu que fez com que nós invertêssemos.

-Tudo bem. Mas e se for só por um dia?

-Não, eu acho que não. Acho que ela usou alguma coisa bem forte e poderosa, ainda desconfio daquele negócio de pedra que nós lemos.

-Mas, Belle... Nós não encontramos nenhuma maldita pedra aqui...

-Vai ver ela se livrou dela só para dificultar as coisas...

Ficamos em silêncio por um bom tempo. Até ele se levantar e ficar me encarando. Imaginava como seria esquisito, me olhar e ver a Débora.

-Nós vamos continuar procurando então. – Conferiu-me ele com um olhar bajulador.

-Obrigada, Luke. – Agradeci. – Só que será que pode me deixar sozinha agora? Eu preciso.. Relaxar. Relaxar e pensar...

-Claro. – Disse ele, beijando-me a face. – Se precisar, me chame, moro no apartamento 26 aqui do lado.

-Pode deixar.

Então ele foi embora, me deixando sozinha naquele quarto. Como eu senti falta do meu quarto. Aquele teto diferente, aquelas paredes. Já estava morrendo de saudades dos meus pais. Eu tinha que conversar com a Débora. E tinha que fazer isso logo, antes que as coisas piorassem. E nem se eu tivesse que sequestra-la, ela havia de me dizer o que tinha acontecido, e como tinha feito. Eu precisava saber.

Enquanto isso, levantei-me da cama, e fui andando até o banheiro, da forma a me postar na frente do espelho. Fiquei encarando aquele rosto triste que não me pertencia. Fazendo caretas e expressões só para certificar-me de que o que estava refletido era realmente meu rosto. Era tão sóbrio. Bonito de uma forma diferente. Só que faltava alguma coisa. Aqueles cabelos embaralhados, os olhos com grandes olheiras, as sobrancelhas grossas e os olhos com os cílios curtos e sem brilho. As unhas sem cor, a pele com algumas sardas que não eram charmosas. O aparelho feio. A roupa idiota do uniforme, tão mal adequada àquelas curvas. Eu tinha que fazer alguma coisa com aquilo. Era vaidosa demais para deixar-me assim. Eu ainda era Annabelle Kouren, e independente do corpo que eu tivesse, seria ainda bonita e saudável. Só precisava de um pouco de dinheiro, e muito carisma. E isso eu teria facilmente. Se eu era Débora Richelli, então, eu teria que enfrentar uma transformação.

Isso melhorou meu estado deprimido de quem deseja cometer um suícido, pelo menos um pouquinho. Agora eu tinha algo importante para fazer, que livraria minha mente daquele tormento de coisas ruins.

Lívia Rodrigues Black
Enviado por Lívia Rodrigues Black em 06/02/2011
Código do texto: T2776049
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