[Original] The Simple Plan - Capítulo 26

E volta o cão arrependido. - Capítulo 26

Eduardo Mendes

– Ta, eu vou.

Johnny me ligou dizendo que as meninas marcaram um cinema, e só ia a nossa galera. Eu sabia que Paolla iria. Era bem a cara de Emanuella criar essas situações maravilhosas. Hoje Carolina me ligou dizendo que queria conversar comigo e eu a chamei para ir no cinema também. Eles irão querer me matar por isso? Ah, não há dúvidas.

(...)

– Eduardo, eu preciso falar com você. - Não olhei pra porta evitando a vontade de socar Eric novamente. Ele entrou no meu quarto e sentou na minha cama. – Aonde você vai?

– No cinema. – Respondi, seco. E peguei minha carteira e guardando no bolso.

– Cara, olha, eu fiz merda...

– Eu sei. Você nasceu.

– Culpe os nossos pais por isso.

– Já culpei. - Eu o olhei interrogativo. Ele podia ser direto né? Pouparia o meu tempo.

– Eu beijei a Paolla.

– Eu enxergo e muito bem. Vi a cena toda. Não precisa me lembrar.

– Não ameba! EU A BEIJEI! NÃO ELA.

– Ah, claro.

– Eduardo. - ele se levantou e me olhou, desesperado. – Você acha que se ela tivesse me beijado eu perderia meu tempo vindo me desculpar com você?

Tinha sentido – aliás, sentido demais.

– Mas... - Eu tentei organizar meus pensamentos sobre aquela cena que vi. De fato pareci mesmo que ELE estava agarrando ELA, mas, eu teimoso como sempre fui só acreditei no que minha mente vira.

– Eu estava com raiva. - Ela não a beijou... – Não queria acreditar e não podia aceitar que vocês dois estavam juntos. Porra, uma garota que eu beijei, ficando com meu irmão mais novo? Não é algo fácil de digerir. - Novamente, sem hesitar eu dei um soco em Eric, dessa vez, na boca. – PORRA! PORQUE VOCÊ ME BATEU?

– POR QUÊ? AGRADEÇA EU APENAS TER TE SOCADO!

– EU FALEI A VERDADE!

– FODA-SE ERIC! NÃO ERA PRA VOCÊ NEM TER SE APROXIMADO DELA SEU IDIOTA! - Comecei a andar de um lado pro outro, desesperado, irritado.

“Quando você descobrir que eu não te traí vai ser tarde.” “Eu não vou te perdoar.”

– Se ponha no meu lugar! - Ele gritou, se levantando.

– SE EU FOSSE ME POR EM SEU LUGAR EU JAMAIS TERIA DEIXADO A PAOLLA!

Ele se calou – ainda bem – e baixou a cabeça. Agora eu teria que fazer alguma coisa, não sei o que, mas terei que fazer.

A campainha tocou e eu suspirei. Agora Carolina vai querer ir ao cinema, agora que Eric revelou que Paolla não me traiu e agora que eu me sinto culpado por ter perdido a melhor garota que eu já havia conhecido na vida. Isso é tão patético que esta parecendo coisa de malhação.

Fui abrir a porta e forcei um sorriso pra não mostrar meu desespero. Carolina bem que podia ter cooperado e não vindo, mas porque isso aconteceria com um ser tão azarado como eu?

– Oi amor.

– Oi. - A olhei de cima a baixo e revirei os olhos, mas ela não viu. Ela pensa que esta abafando com esse vestido roxo? Ah, pelo o amor de Deus! O que eu vi nessa garota mesmo hein?? Tá tipo uma berinjela magra, sei lá - Ahn... Só um minuto, já volto.

– Ok.

Voltei ao meu quarto e encontrei Eric limpando o nariz.

– Você vai ao cinema comigo.

– Eu não tenho dinheiro. - revirei os olhos. – Você vai pagar?

– Vou Eric, vou.

Paolla Santana

Eu, Emanuella e Melissa encontraríamos Johnny e os meninos na estação. De última hora decidimos ir todos. Por mais que eu tentasse me sentir normal eu não conseguia. Estava com uma sensação estranha de que algo sairia errado.

– O que você tem Pam? - Perguntou Melissa. Hoje ela estava vestida de maneira despojado: saia jeans, blusa preta e uma rasteirinha de cor clara, os cabelos encaracolados estavam presos em um rabo de cavalo. Ela estava linda.

– Sei não, estou com uma sensação ruim, sabe?

– Orra! - Emanuella estava como sempre: dark. Uma calça jeans pretíssima com uns rasgos no joelho, all star preto e uma blusa do Guns n’ roses, os cabelos lisos estavam soltos, dando-lhe um ar ainda mais sombrio. Ela é foda, sempre. – Relaxa, amiga! Só vamos curtir um cineminha, nada de mal irá acontecer.

Como eu gostaria de por fé nas palavras dela... Ao olhar pra entrada da estação eu vi Tiago, Breno e Johnny entrarem dando risada e zoando, normal. Mas a cena que me fez ficar de boca abrida, (sim, eu disse ABRIDA, porque aberta é muito pouco pro meu espanto e surpresa) foi outra. Totalmente outra.

Eduardo, Carolina (ah, é hoje que eu irei dar porrada em alguém) e Eric vinham também. Os irmãos encrenca me olhavam com aquelas caras de tachos que eu simplesmente não entendi e ela, a vadiazinha, sorriu, achando que estava abalando toda a extremidade de Bangu.

Emanuella estava confusa. Melissa balançava a cabeça, também confusa. E eu? Bem, eu prefiro não comentar nada.

– Oi gente. - Cumprimentaram os três meninos à frente, só que ao perceberem que os olhares femininos não eram direcionados a eles, também nos acompanharam. – O QUE AQUELE FILHO DA MÃE ESTA FAZENDO AQUI? - Breno gritou, puto da vida. Eu me pus entre os dois grupos.

– Hum... Eu posso saber o que Eric esta fazendo aqui? -Perguntei, numa calma que até eu mesma estranhei. Eduardo sorriu. Sorriu? É isso mesmo?

– Ele quis vir. - Deu de ombros, mas eu sabia que ele estava mentindo. – Oi gente.

– Oi gente é o cacete, Eduardo. - Agora Emanuella ficou ao meu lado. – O que esse projeto de piranha esta fazendo aqui? - Eric riu, recebendo um olhar mortal da vadiazinha.

– Eu quis convidá-la. - Novamente, deu de ombros.

– Olha como fala comigo sua emo nojenta.

– EMO É A PUTA QUE TE PÔS NO MUNDO.

– É ISSO AE MANU! - Johnny incentivou. Eu revirei os olhos.

– Vamos parar gente, já tem um Gocil* ali nos olhando. - Eu disse, séria.

– E vamos perder o trem. - Tiago avisou. Todos pareceram concordar. Eu não estava a fim de discutir sobre isso. Eduardo é grandinho o bastante pra saber o que faz de sua vida

Já havíamos comprado o bilhete, então, só era entrar no Trem... Que estava lotado, pra variar.

Trem cheio pra uma pessoa claustrofóbica como eu não é muito legal.

Todo mundo se amontoou do jeito que pode. Eu fiquei o mais perto da porta o possível.

– Vamos assistir que filme? - Porque a voz dele ainda fazia a merda do meu coração disparar? Eu não podia ser um pouco menos idiota?

– Não sei. - Olhei pra qualquer canto que não fosse os olhos claros dele. – Emanuella está querendo assistir Harry Potter.

– Ah. - E ele se aproximou. Deixando nossos corpos a uma distância mínima.

– Eu preciso falar com você.

– Sobre o que? - Perguntei, agora o olhando. Ele sorriu, ele sorriu... Ah não, isso já é maldade.

– Depois falamos sobre isso. - eram quatro estações até chegarmos ao shopping, eu vou sobreviver a isso. – E... Você esta muito bonita.

– Ahn... Eduardo, você não devia estar com a Carolina, lá... - Procurei a vadia. – Onde ela esta?

– É mais interessante estar com você.

Foi então que eu entendi onde ele queria chegar com tudo aquilo. É óbvio! E eu não sei como ainda consigo me surpreender com certas obviedades!

Eduardo e Eric andando juntos é algo tão impossível como o Brasil ganhar a próxima copa. Eles só andariam juntos por uma necessidade muito necessitante (?). Sendo assim, eu deduzo (o que não garante nada, são apenas deduções) que Eric (E volta o cão arrependido...) deva ter tentando colocar na cabeça do irmão (teimoso, irritante e cri-cri-cri) que ELE me beijou, não do contrário. E então... Eduardo (e volta o cão arrependido parte II) quer falar comigo e tentar se redimir. Olha só... Não é que o mundo realmente dá voltas?

– Eu entendi tu-do! - Exclamei, sorrindo.

– Entendeu? - Ele arqueou a sobrancelha.

– Sim, entendi.

– O que?

– Você e o Eric conversaram. - Eu respondi, feliz por ter entendido aonde Eduardo queria chegar com toda aquela baixa guarda. – Ele disse o óbvio e você agora está arrependido e não sabe como dizer. - Ele não disse nada. – E volta o cão arrependido, com suas orelhas baixadas...! – Cantei a musiquinha do Chaves. Sou fofinha vai.

– Engraçadinha. - Conforme as estações passavam ia tendo mais espaço no metro, e com isso minha claustrofobia diminuia. Eduardo ficou ao meu lado. – Então...

– Então... Não existe mais nós. Você não confiou em mim, deu razão a sua mente paranoica e também deu razão ao seu irmão, AQUELE CRETINO. - aumentei a voz, e olhei diretamente a Eric. – E lembra o dia que eu te dis...

– Paolla?

– O que?

– Já te disseram que você fala mais que a boca?

Antes que eu pudesse responder, ele me beijou. Eu o belisquei no braço e ele revidou fazendo o mesmo na minha barriga. Eu sabia que as pessoas estavam olhando, comentando e até rindo. Eu queria poder resistir, eu quero... E eu posso!

– ME SOLTA! - Empurrei ele, chamando a atenção de geral. Carolina veio toda rebolante até nós e deu um tapa na cara dele. Eu achei digna essa ação dela. – Vish.

– Porque você me bateu, Carolina? - Ele perguntou, bravo. Eu me afastei, mas ele me segurou. – Você fica.

– Eduardo! Qual é o seu problema com essa garota?

Todos os meus amigos se aproximaram e eu já podia ver um gocil nos observando.

– Carolina, eu não gosto de você. - Eu o olhei surpresa. Opa, por essa eu não esperava.

– EDUARDO!

Eric ficou ao meu lado.

– Garota aceite a realidade. Doerá menos.

– E VOCÊ? - Ela berrava com a voz fina. – NÃO DEVIA ESTAR SE PREOCUPANDO COM ESSA MALA AI? - Apontou pra mim.

– Eu me preocupo com ela. – Eric me olhou rapidamente.

– Dispenso sua preocupação. – Revidei, fria.

– Carolina eu estou terminando com você. - Ela fungou, fingindo que ia chorar.

– Ah não! - Emanuella levantou as mãos para o céu. – Cadê o amor próprio, cara?

– VOCÊ NÃO PODE ME DEIXAR POR CAUSA DELA!

– Ah, por favor... - Eu revirei os olhos e me afastei. Odeio barracos por incrível que pareça. Só faltava uma estação pra chegarmos.

Eu coloquei meus fones de ouvido e comecei a curtir o som de uma de minhas bandas preferidas: O Rappa. Chegamos a estação e eu desci longe de todo o barraco. Sinceramente, eu pensei que Carolina fosse ir embora, sabe? Pow, ela levou um fora num coletivo... Vergonha maior que esse não há.

Eduardo parou. Eric também. Ambos me olharam e eu revirei os olhos. Porque eu sempre tinha que estar no meio deles?

– Eduardo, vai com ela. - Eu pedi, vendo a loirinha aguada correr desesperada, parecendo gringo em dia de assalto. Ele assentiu e foi.

Eduardo

Depois de todo aquele auê, - fala sério... Brigar dentro de um trem é a coisa mais patética que eu já fiz, superando até ter misturado halls preto com água gelada (apesar de ser mó bom) – nós chegamos ao cinema. Cada um pagou a sua entrada e nos encaminhamos pra sala 1 de Harry Potter. Eu consegui acalmar Carolina depois de uns trocentos gritos dela, dizendo que me amava e que sem mim não havia vida, ela se calou. Como combinado com o Eric ele vai se sentar ao meu lado, Paolla em um e Carolina no outro.

É o mínimo que ele pode fazer depois de ter ferrado comigo.

Entramos e ficamos nas ultimas fileiras. Emanuella e Tiago, Melissa e Breno, Johnny sozinho (ele ainda não criou coragem pra contar sobre as meninas dele. Coitado) e segurando vela, na penúltima fileira e nós atrás.

– Porque eu vou sentar do seu lado Eric? - Perguntou Carolina, chata como sempre. Paolla suspirou se sentando e cruzando os braços. Eu fiz o mesmo, ora e meia olhando-a de esguelha.

– Ah, sei lá. - Ele a olhou, irritado. – Menina, aquieta ai pow.

Quando tudo finalmente se aquietou, todos entraram na sala e o filme começou. Paolla começou a bater o pé, inquieta.

– O que foi? - Eu perguntei. Ela bufou. – Ah, ta. Não pergunto nada.

– Eu quero pipoca.

– Eu busco.

– Eu vou também.

Nos saímos. Ela continuou com aquele ar irritado e eu não sabia o porque, só que eu estava com medo de perguntar. Eu sei, eu sei... Quando foi mesmo que passei a ter medo dela? Bem, nem eu sei.

– O que você tem? – Perguntei com receio. Ela me olhou por uns minutos e depois desviou o olhar pra saída.

– Raiva. Não era pra ser assim.

Paramos a alguns metros da onde vendia pipocas e eu segurei sua mão.

– Eu errei, mas tente se por em meu lugar.

– Se fosse pra me por em seu lugar jamais teria acreditado no Eric!

Segura essa, Eduardo.

– Ok. Você esta certa.

– Eu sei.

Eu comprei a pipoca e o refrigerante e voltamos à sala.

– Eu quero te perdoar, mas te odeio e me odeio por isso.

– Não se odeie. - tentei não deixar minhas emoções tomarem conta de mim, era difícil ver Paolla de baixa guarda. – Faça o que seu coração pede.

– Meu coração pede por você, independente da merda que você tenha feito. - Nos paramos na entrada. Paolla baixou a cabeça e fungou o que parecia ser um choro. – Mas... Eu ainda prefiro levar em conta a razão.

– Sendo assim eu ainda continuo sendo julgado? - Ela assentiu, fazendo-me sentir derrotado.

Eu a subestimei, como sempre.

– Me de um tempo, ok?

– O tempo que precisar.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 01/02/2011
Reeditado em 24/12/2012
Código do texto: T2764757
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