Ela veste preto, mas o baile é cor de rosa. Cap26.
Já fazia duas semanas que a polícia havia rastreado o local onde estava o celular de Mell. Não encontraram qualquer sinal dela ou pista de seu paradeiro, era só um beco perto da Escola de Artes Central, como qualquer outro, com o telefone jogado no chão sem nenhuma informação suspeita.
Depois disso Dora andava mais tensa que nunca, pois se culpava pelo desaparecimento. Os investigadores e até o detetive Leo achavam que Mell devia mais do que se supunha, por isso resolveu se fazer de vítima para Dora e representar seu desaparecimento, enquanto na verdade fugia. Mas ela sabia que não era bem assim, ou isso, ou Mell era o R, porque após voltar do beco na mesma manhã do fato, Dora encontrou o costumeiro cartão vermelho grudado na porta de seu loft em Holanda Garden. E esse dizia.
UM PRESENTE PARA VOCÊ! ELIMINEI UMA PEÇA QUEBRADA DO JOGO.
AS PEÇAS NÃO PODEM DESAFIAR OS JOGADORES! NESSA RODADA FICAMOS EMPATADOS!
ESPERO NÃO TER QUE ELIMINAR MAIS NENHUMA, POIS SE PRECISAR EU FAREI! CONTO COM SUA AJUDA E SEGREDO PRA ISSO!
PS. BELA ATUAÇÃO NO BAILE. VOCÊ ESTAVA LINDA!
Dora pegou o cartão, releu-o várias vezes tentando descobrir algo e o guardou com os outros cartões e pistas no quadro Iluminati.
– Tem tanta coisa aqui! – pensou, vasculhando o fundo do quadro.
Mas mesmo com os acontecimentos, ela tinha que seguir a vida, pelo menos aparentemente, talvez R pudesse se distrair e errar. Ele era humano, estava perto para saber tudo sobre ela e cedo ou tarde poderia se entregar com uma frase ou gesto.
Começaram então os preparativos para o New Dad Day. Uma espécie de dia dos pais especial de New Park que conta com a ajuda de todos no bairro e é muito popular e pomposo, todas as famílias aparecem para uma recepção com brincadeiras, competições e um piquenique dançante à tarde no parque. Com Mell fora do caminho, a galera hipócrita voltou a falar com Dora e como era de costume, haviam passado uma borracha no assunto e já a tinham como a rainha que nunca perdeu o trono. Não se lembravam mais o que aconteceu, só tinham boca para falar mal de Mell para Dora e posicionar seu lado na briga.
– Eu jamais acreditei na Mell. Ela sempre foi uma piranha mesmo! Já pegou meu namorado, mas na época não contei porque ela era sua amiga, Dora. – diz uma das patricinhas.
– Mas ele não te largou porque você o chifrou com o motorista? Disseram que virou até padre, coitado! – perguntou Dora, se lembrando do caso.
– Não! Foi ao contrário, sofri tanto! – comenta, enquanto as outras fazem expressão de “mente que nem sente.”
– Nós nunca ficamos contra você Dora, a Mell nos obrigou ou nos matava! Aquela cadela assassina! Sempre ameaçando! – justificavam as outras.
Mas ela já estava vacinada contra isso, era o centro da roda, porém podia cair fora dela a qualquer sinal de deslize e reprovação das outras. Resolveu ficar por um tempo, após uma conversa que teve com sua mãe.
– Filha eu consegui falar com seu pai e ele virá para o New Dad Day desse ano! – grita Lara entusiasmada.
– O papai, aqui! Faz tanto tempo que ele não vem! – anima-se.
– Você sabe como ele é Caxias com o trabalho, mas esse ano eu insisti e ele virá!
– Pelo menos tem um motivo verdadeiro pra eu participar dessa festa idiota. Eu só ia porque o professor de Vitrinismo quer que a gente decore o ambiente. Como se usar os alunos pra coisa sair mais barato fosse trabalho acadêmico. Vá saber lá quanto deve estar ganhando por baixo pra isso! – ironiza Dora, saindo.
– Aonde pensa que vai mocinha? É agora que começa a nossa conversa! – diz Lara, fazendo um gesto com a mão direita para que Dora se sentasse na poltrona da sala de estar.
– O que foi mãe? – pergunta com desdém.
– Você sabe como seu pai é tradicional e não tolera as loucuras que acontecem por aí!
– Sim, e daí?
– Daí que ele não pode nem sonhar com os acontecimentos dos últimos meses! Você sabe, sobre ter ido morar onde Paris Hilton quebrou o salto e suas mudanças, vexames e confusões!
– E o que tem de mais se ele souber? Ah! Já sei, você quer dar a impressão que reinou absoluta, com tudo a sua ordem e gosto! Mas não foi bem assim que aconteceu! – grita Dora.
– Realmente não, mas vamos fazer de conta que foi! Você fica aqui pelo tempo que ele ficar, esquece aquele moquifo, coisas e pessoas que deixou por lá. – instrui Lara orgulhosa.
– Mas ele sabia que eu namorava o David, eu sempre disse que ia apresentá-lo pra ele quando viesse nos visitar! Um cara morto não se esconde fácil, ou a vontade dessa farsa é tão grande que a senhora pretende arrumar um jeito de desenterrá-lo e ressuscitá-lo também? Ou quem sabe o priminho venenoso Aidan tope um showzinho com a senhora? Eu não duvido, vocês são igualmente nojentos! – ironiza Dora, enfurecendo-se.
– Fica quieta garota! – grita Lara olhando profundamente nos olhos da filha. – Nós não somos a família perfeita, mas pelo menos por um dia seremos e todo mundo vai ver isso! – termina.
Dora se cala por um minuto e com os olhos marejados sussurra.
– Você não vê! Não adianta, ele não vai ficar. Nunca ficou por que ficaria agora? – perguntou. – Mas se vocês fazem questão tudo bem! A senhora e o piloto vão ter a minha total cooperação pra essa peça de teatro receber palmas da platéia. Quem sabe até peçam bis! – desabafou subindo as escadas horrorizada com o pedido de Lara.
A que ponto a mãe podia chegar para brincar de família perfeita. Seu rosto queimava, as lágrimas rolavam e a cabeça latejava com um único pensamento emaranhado entre tantos, New Park era a sala de recepção do inferno e seus habitantes os recepcionistas.
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Continua...
Capítulo meio chato, mas faz parte pra história fazer sentido!
Desculpem a demora, vou postar mais um quinta ou sexta pra compensar esse e mais uma vez e sempre obrigada por seguirem acompanhando, por escreverem essas histórias que eu amo e por comentarem sempre!!!!
Se quiserem comentar, nem que seja pra dizer que foi chato, eu agradeço!!!Valeu gente!!!Até +++++!!!!!!