Véu e Grinalda - Crônicas de um Casamento
Hoje, mais um dia na minha vida. Poderia ser um dia comum se eu não tivesse entrado naquele restaurante com o coração partido. Seria mais um dia em que eu caminharia com meu cachorro Pudim pela praça enquanto ele cheira focinhos das belas cadelinhas que aparecem na sua área. Logo depois, eu iria trabalhar. Veria minhas amigas, conversaríamos, tomaríamos café e entraríamos em expediente. Almoçaria com as meninas, faria o turno da tarde e iria para casa. Tomaria um bom banho, faria algo que ficou por fazer e assistiria tevê até adormecer após jantar qualquer coisa.
Hoje, porém, era um dia diferente. Toda garota, em algum momento da vida, sonha com um dia em que virará um bolo fofo de tafetá e cetim. Hoje, essa sou eu, aos 26 anos. Enquanto me observo no espelho com diversos modelos, vejo o que passou tão rápido na minha vida que me trouxe a esse ponto.
Alguns anos atrás, (me sinto velha dizendo uma década, mas é verdade) desacreditei em casamentos. Não achava que uma garota como eu pudesse ter direito a tal coisa. Acreditava que precisava entrar numa faculdade, fazer um curso que me agradasse, me formar, trabalhar, me especializar... Em ponto algum do meu planejamento, entravam relações sentimentais. Ter filhos, ter uma casa fixa, com móveis a prova de bebê não eram planos meus.
Mantive-me fime em minha opinião até os 24 anos, quando entrei naquele restaurante. (Talvez seja exagero, talvez tenha sido depois, mas não me lembro exatamente quando). Mas esse não é o foco do momento. Prefiro voltar aos 23 e 3/4.
Ah, nessa época minha vida andava muito bem. Vários eventos sociais do trabalho me faziam ir a clubes e baladas e lá eu conheci muitas pessoas. Dentre elas, Joana. Sempre animada, fosse para comermos comida chinesa vendo filmes em casa ou para ir para a balada mais agitada. O companheirismo que oferecíamos uma a outra foi tão grande que não demorou mais de três meses para que nos mudássemos juntas para um apartamento maior.
No meu aniversário de 24 anos, fizemos a festa em uma boate. Nessa noite, Joana conheceu um cara que parecia legal. Bruno. Ele era aquele tipo de cara que gosta de conquistar as mulheres com quem está. Paga sua conta se você desejar. É, contudo, um pouco deslumbrado. Sua fidelidade era algo difícil de se receber. Joana parecia ter conseguido.
Aos 24 e 1/4 anos, porém, me vi em uma situação complicada. Eu saía sozinha para a noite para dar liberdade ao casal, que ficava em casa aproveitando o conforto do lar. Joana já não me acompanhava mais.
Sem sua melhor amiga, até as melhores baladas se tornam cansativas. Até os melhores contos não parecem verdade...
Continua...