Na sua pele. Cap. 19

POV Annabelle

-Você não vai para aula, Dé.. Belle? – Lucas questionou, depois eu parei de chorar.

-Você ia me chamar de Débs? – Perguntei descrente.

-Desculpa, Belle. É que é difícil, sabe. Eu olho para você e vejo o rosto da Débora. – Ele explicou. Imaginei a situação dele. Sim, deveria ser difícil.

-Certo. Eu... Não sei se vou para aula, eu, terei que ser a Débora? Pegar a mochila dela, as coisas dela, as anotações dela... Cara, isso é como incorporar outro personagem! – Desabafei. Eu não estava preparada para ser alguém que eu não era.

-Mas, você tem que ir... Belle, você já fez teatro? – Ele questionou, arqueando uma sobrancelha.

Eu não entendi o porque as pergunta.

-Sim. Dos sete aos nove anos. – Respondi, ainda sem ciência.

-Então, pensa assim... Você está num teatro... E o seu papel, é uma garota revoltada e mística... Débora Richelli... O resto é com você, incorpore o personagem até você voltar a ser quem você era. –

Explicou ele os olhos fasicando.

-HSAUIHS... Ai Lucas... Se não fosse você pra me fazer rir numa hora dessas... – Suspirei. – Mas como eu vou fazer para descobrir como faço para voltar a ser quem eu era?

-Google, baby. Não há mais nada que não possa ser resolvido com ele. – Ele piscou. Desvencilhei-me dele, com medo dele estar feliz por ter a garota quem ele sempre quis perto dele, porque eu não era realmente ela.

-Tudo bem, então.

-Vá para sua aula. A gente se fala no intervalo. – Ele me lembrou.

-Mas, você não tem a sua turma, Lucas? – indaguei, curiosa, e nervosa com a hipótese de ficar rodeada de garotos do segundo ano pensando que eu era maluca.

Ele riu.

-Não, Belle, eu sou meio reservado. Incrível, não dá pra realmente achar que você é a Débs. Vai ter que representar bem. A Débora ficaria MUITO feliz de ficar rodeada de garotos do segundo, principalmente o seu namorado. – Ele disse, tentei não ficar mal para ele não pensar que eu tinha me magoado.

-Nem me fale. Ela não pode ficar perto dele, Lucas.

-A gente já conversou sobre isso, Belle. Se ela for ficar, será por pouco tempo... – Ele respondeu, tranquilizando-me.

-Ok. A gente se vê. – Ele me puxou para me dar um beijo no rosto.

Achei aquilo um tanto precipitado, mas pensei que devia ser difícil se controlar, ele estava diante da garota, ou melhor do corpo da garota que ele mais amava.

Depois peguei a mochila da Débora, e segui para a sala de aula.

-Com licença, professora. – Eu disse, entrando na sala. Já conseguia me enxergar, conversando com Camila, uma menina que eu odiava na verdade. Ela olhou para mim. Eu ainda não estava acostumada em me ver olhando com desdém para mim mesma. Era muito estranho. – eu me atrasei.

-Não tem problema, Srta. Richelli. Mas da próxima vez tente ser pontual. – Fui até o lugar da Débora e me acomodei, olhando para a carteira, numa imitação casual dela, ciente de que não conseguiria prestar atenção na aula.

POV Débora

Não acreditei quando ela assumiu o meu lugar na aula. Sinceramente, eu achava que ela não iria para aula. Não sei porque. Eu estava falando com Camila, uma patricinha perfeita para ser amiga de Annabelle Kouren, eu.

Quando bateu o sinal, fui correndo desesperadamente, até a mesinha da lanchonete em que eu sempre observava Belle e Dani ficarem juntos conversando. Não via a hora dele chegar.

Esperei um cinco minutos, até que o vi. Lindo, e esplêndido, vindo na minha direção. Meu coração acelerou.

Ele sentou-se à minha frente.

-Oi. – Murmurei ruborizando.

-Senti sua falta. – Ele revelou. – Falamos muito pouco antes da aula.

O que a sua amiga queria? – Perguntou Dani, revirando os olhos.

-Nada. – Respondi numa voz melodiosa. – Nada importante. – E nossos rostos foram se aproximando automaticamente, quase de uma forma essencial, uma atração perfeita. Nossos lábios estavam a milímetros invisíveis que não impediam mais o inevitável. O nosso primeiro beijo.

Eu nunca tinha beijado um garoto em toda a minha vida. Já tinha visto filmes, óbvio, e algumas dicas toscas de colocar gelo no copo, mas esqueci tudo aquilo. Eu nunca imaginei que o meu primeiro beijo, seria que com ninguém mais, ninguém menos, que o próprio Dani. Eu o agarrei pela nuca, selando os nossos lábios com fervor, de uma forma que eu jamais vira ela fazer. Ele correspondeu, óbvio, atordoado com a intensidade do beijo.

Foi a coisa mais maravilhosa de toda a minha vida.

Eu tinha certeza de que ela estava nos olhando, informada de que ela iria querer me matar depois. Não importava. Eu estava beijando o garoto mais perfeito do mundo.

**

POV Annabelle

Eu estava parada feito uma tonta. Uma idiota, uma retardada. Ainda não tinha caído a ficha. Eu ainda não conseguia acreditar que ela estava fazendo aquilo comigo, e ali estava ela.

Ou melhor, eu, porque aquela era eu, só que o meu “coração” não estava lá dentro.

E eu não sabia porque doía tanto vê-lo sendo agarrado por ela, já que ao todo, ela era eu mesma.

Com aquela dor inexorável eu possui a certeza de que o amava. Eu amava aquele garoto. Não suportava ficar longe dele, e agora nós ficaríamos afastados.

Não seria o meu eu de verdade que estaria ao lado dele, beijando-o, abraçando-o, acariciando sua pele macia, e enxergando o meu reflexo em seus olhos. Não, não seria.

Eu quase podia ouvir os pedacinhos do meu coração se estatelando no chão, eu não podia suportar aquele cena. Não podia.

Eu senti uma mão no meu ombro.

-Vem. Você não precisa ver isso. Nem eu. Por incrível que pareça, também é ruim para mim saber que ela é quem está lá na verdade. – O garoto me arrastou até o ginásio, fazendo eu me sentar monotonamente na arquibancada. Ele segurava um netbook branco conectado em um modem da claro.

-O que você está fazendo? – Perguntei.

-Vamos procurar a respeito do que aconteceu.

A página inicial era o próprio google. Lucas escreveu: é possível trocar de corpos? No espaço branco, e apertou a tecla enter.

Ficamos esperando carregar, pela primeira vez eu estava interessada, e tinha apagado a imagem da minha mente.

Vi o meu reflexo na tela. Eu ainda não estava acostumada.

Até que apareceram os resultados, o primeiro, era o seguinte:

“Existem três maneiras de trocar de corpo com alguém...” http://www.trocandodecorpos.com.br

Eu quase quis rir, se isso não tivesse acontecido comigo de verdade, eu jamais pensaria que aquilo pudesse ser realidade, e jamais acessaria um site com um nome tão idiota.

Lucas clicou e uma página verde abriu.

Muitas pessoas pensam que ser você mesmo já é o suficiente. Possuir um corpo, já está bom. Mas existem muitas pessoas insatisfeitas com que são, e às vezes elas buscam uma cisa que muitos acreditam ser impossível: trocar o seu corpo com o de outra pessoa.

Mas, o fato já se provou não-impossível.

Alguns dizem que são só lendas e mitos, e que isso jamais poderia acontecer com nenhuma pessoa. Nas “lendas” só existem 3 coisas e/ou objetos que possam possibilitar uma pessoa a trocar de corpo com alguém, implantar sua alma num corpo de outra pessoa.

As três coisas são:

Ritual da lua cheia: Diz a lenda, que se, a meia-noite em ponto, de uma noite sem estrelas com lua-cheia, pegardes dois copos/vasilhas cheios de água, denominando um como você *coloque o sulco de uma violeta na agua que for ser você* e outro como a pessoa que deseja ser *coloque o sulco de uma margarida no da outra pessoa*, e trocar a água de um copo para outro com o auxílio de um terceiro corpo, recitando uma espécie de mantra, acesse o site para pegar o mantra: www.mantrasmilagrosos.com.br você conseguirá trocar de corpos com alguém que deseje por 24 horas, depois voltará a ser você mesmo.

Magia das escrituras : Conta-se que, se quiser obter o corpo de alguém, você precisa escrever o nome dessa pessoa em um papel, e escrever seu próprio nome em outro. Você terá que embalar o nome da pessoa dentro do seu nome, e enfiar num saco vermelho de pano. Às 13 horas de uma quarta-feira, pegue os papéis dentro do saquinho e os queime com o sol, até pegar fogo. Na manhã seguinte, você se tornará a pessoa que deseja. A magia só pode ser revertida se a pessoa que foi retirada de seu corpo escrever o próprio nome e embalar inversamente. Colocar num saquinho azul, congelar e molhar as 14 horas de uma terça-feira.

Amuleto>pedra mágica dos desejos: O amuleto mágico possui uma pedra faiscante e bela. A pedra dos desejos não serve somente para trocar o seu corpo com o de alguém. Ela realiza a cada 10 anos um desejo da pessoa que a tiver na mão, e pedir com toda a profundeza que conseguir obter. Conta-se que a pedra está perdida a séculos e ninguém mais a ver. Se no dia que a pedra estiver pronta para realizar um desejo, desejares que quer ser outra pessoa, a pedra o fará eternamente. A magia da pedra só pode ser quebrada se o amor verdadeiro agir contra ela. Veja uma foto da possível pedra em: www.pedraspreciosasepoderosas.com.br

Eu e Lucas terminamos de ler o site, atordoados. Tudo parecia uma tremenda babaquice. Quem perderia o próprio tempo queimando nomes no sol as 13 horas de uma quarta-feira?

E quem realizaria um ritual com água de sulco de flores a meia noite de uma lua-cheia?

O único que parecia fazer sentido era a tal pedra. Mas se eu não estivesse naquela situação, jamais acreditaria. Aliás, a pedra estava perdida. Como Débora poderia tê-la encontrado e justo no dia ter desejado se tornar a mim. Não fazia sentido.

-O que achou? – Perguntei a Lucas.

-Uma idiotice fatal. – Ele riu.

Eu o fuzilei.

-Não tem graça, Lucas! Preciso voltar a ser eu mesma. E se a Débora tivesse a tal pedra?

-Impossível, estava perdida. – Ele revidou. Depois pareceu pensar. – Se bem que uma vez... A vó da Débora deu um amuleto para ela com uma pedrinha, eu estava junto com ela nesse dia...

-É! É ISSO LUCAS! A DÉBORA TEM A PEDRA!

-Calma, Belle. É só um amuleto, como você sabe que era o mesmo?

-Eu sinto. Clica naquele site lá, das pedras.

Lucas clicou, apareceu uma imagem de uma pedra dourada cintilante.

-Não lembro se a pedra do amuleto era assim.

-Ter que ser.

-Ótimo, então tá Belle. Agora só temos que usar o amor verdadeiro contra isso. – Ele debochou.

-Ai, Lucas, deixa de ser pessimista. Pelo menos não temos que congelar papéis! – Eu indiquei.

-E se ela fez o troço lá da lua-cheia? Amanhã você volta a ser você mesma! – Comentou ele com um sorriso empolgado.

-Impossível. Ontem não fez lua-cheia. Eu vi. – Falei, um tanto

desapontada.

-Certo... Mas, se for o tal amuleto, com a tal pedra... Belle, como nós vamos usar o amor verdadeiro contra isso? Parece aquelas coisas clichês de filmes de boa moral.

-Também não entendi o que quis dizer. Tenho que pedir a pedra com amor para voltar a ser eu mesma? – Ironizei. – Além disso a pedra tá com a Débora.

-A gente nem sabe se isso é o efeito de uma pedra. Para mim parecia babaquice.

Ficamos em silêncio.

-Lucas! Mas a gente tem que fazer alguma coisa... Eu não vou aguentar ficar assim para sempre... – Proferi encabulada. – E temos que agir rápido. Até conseguirmos descobrir a Débora pode estragar com a minha vida! – E se o poder lhe subisse à cabeça?

-Fica tranquila, Belle. To com você nessa.

Eu sorri, não sabendo como um sorriso ficava naquele rosto.

E eu que me mudei porque achava que iria ter paz e sossego. Se isso era paz e sossego, nem queria saber o que era estar em apuros.

Lívia Rodrigues Black
Enviado por Lívia Rodrigues Black em 18/12/2010
Código do texto: T2679021
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