[Original] The Simple Plan - Capítulo 17
Eduardo Mendes
– Professora, preste atenção! - Eu seguia Paolla. Ela estava desesperada com o fato de atuar em uma peça. – Eu não sei nada sobre teatro, eu sou péssima com isso!
– Paolla, querida! - A professora sorriu debilmente para ela. – Foi lindo você e o Eduardo ali no corredor, dois jovens encenando um romance...
Nós nos olhamos sabendo que nada ali era encenação, mas não tinha como discordar da professora. Eu até gostava de teatro, só não sabia se tinha jeito pra fazer uma peça.
– Mas, mas... - Ela baixou a cabeça, derrotada. – Isso dará notas pra outras matérias?
– É claro querida. Eu já até sei o nome da peça – Eduardo & Mônica: Diferenças. Baseado na música do Legião Urbana!
– Nossaaaaaaaaaaaaaa! - Paolla exclamou, fazendo uma falsa cara de surpresa. – Que criativa!
– Eu sei querida! Eu sei. – A professora bateu palmas, animada. – Preciso ir até a direção para avisar que já achei os alunos.
E a louca saiu, saltitando e tudo.
O destino estava conspirando contra mim, de novo. Na hora da saída eu estava observando Paolla de longe, ela estava mesmo esquisita, parecia irritada e... Ah, sinceramente, porque eu ainda me preocupo tanto com ela? No que esse relacionamento pode resultar? Ela diz que não gosta do meu irmão, beleza. Mas se não gosta porque ainda fala com ele? O Eric ferrou com a vida dela, a tratou como uma qualquer e ela ainda tem a coragem de dar asas pra ele? E não! Eu não estou com CIÚMES!
É revolta, já ficou claro que eu me tornei um adolescente revoltado depois que conheci a Paolla, não é? Apesar dos pesares deve ter algum ponto bom em tê-la conhecido.
Eu acho.
– Oi, Du... - Carolina me abraçou por trás, e eu sorri. – Pensando em quem?
– Em ninguém. - Isso! Ela não é ninguém pra você! Paolla é apenas uma garota idiota que merece tudo o que está passando.
– Hum, se você diz né...
Fomos embora e no caminho eu fingia ouvir o que Carolina dizia, minha mente estava muito, muito longe MESMO.
Paolla Santana
– VÓ! - Gritei, entrando em casa, muito irritada.
– Eu!! - Ela veio da cozinha com um olhar pasmado. – Menina, o que houve? Você se jogou na lama achando que era um porco?
– Muito engraçada. Eu caí.
– Você é complicada. - Eu revirei os olhos para ela. – Machucou?
– Não. Sorte, que ninguém viu. Eu estava vindo andando pela rua – tentando pensar em qualquer coisa que não fosse na peça a qual estou sendo obrigada a participar, ai me passa um motoqueiro filho da puta mexendo comigo, eu não olho pra frente e dou com a cara no chão, caindo num lamaçal desgraçado.
– Peça? – Bacana. De tudo o que eu disse, ela só perguntou da peça.
– Sim. Vou fazer parte de uma peça.
– Logo você?
– Eu fui obrigada. - Sentei-me no sofá com a roupa suja mesmo. – Ah, aconteceu uns rolos ai.
– Que tipo de rolo?
– A idiota da professora me viu conversando com um garoto achou que éramos namorados e nos chamou pra peça, o nome, não se surpreenda, é absurdamente criativo: - Eduardo & Mônica.
– Nossaaaaaaaa! Choquei.
– É, eu também.
– Quem é o menino? - Minha avó voltou pra cozinha.
Eu não deveria mencionar que era o Eduardo, mas tudo bem.
– Lembra daquele menino que veio aqui, dizendo que era meu amigo?
– O educadinho de cabelo bonito?
– É, ele mesmo.
– Ai, Paolla! - Agora ela ficou parada na entrada da cozinha, os olhos brilhando de emoção. – Aquele menino é uma graça!
– Muito. Pois bem, ele vai ser o meu par, unindo o útil ao agradável já que o nome dele é EDUARDO.
– E você, pelo estresse com que me relata tudo isso está odiando essa história?
– Eu...? - Sorri irônica. – O que isso vó, estou super feliz em saber que farei uma peça de tamanha criatividade com o irmão mais novo do Eric, aquele que me deu um pé na bunda.
– O que???????
– Pois é.
– Que horror! Ele é igual ao irmão?
– Creio que não...
“Você e Eric se merecem.”
– Ah.
Eu não mereço o Eric, não mereço e fico feliz por não merecer.
– Eu vou ser a maior vergonha daquela escola.
– Você vai conseguir. Eu tenho a maior fé em você.
– Agradeço, mas ter fé em mim é furada.
(...)
Primeira aula
Era curioso – porque de engraçado minha vida não tem nada – o fato do meu azar ser alto. Veja bem, eu conheci um garoto que era perfeito, lindo e educado, mas ai vai o destino e tcharammmmm! Me mostra que de perfeito ele não tem nada. Eric me dá um pé na bunda, eu sofro, choro e então me aparece o irmão dele, de apenas 15 anos, personalidade forte, manias irritantes e uma beleza surpreendente. Eu não sei o que de certo me fez ficar atraída pelo Eduardo, mas a questão é que eu estou. E não sei se é o caminho certo a seguir.
Estávamos na primeira aula da peça “Eduardo & Mônica: Diferenças” e a professora a qual eu apelidei de Trelawney brasileira, (cara, ela é igual a do Harry Potter) explicava sobre a peça.
– Olá, queridos! - A Sibila também dizia isso. Que medo. – Como sabem, eu os escolhi para serem parte da peça EDUARDO & MONICA, da música do Legião urbana...
“Óbvio” - Pensei, fitando Eduardo de esguelha, ele estava ouvindo com atenção ao que a Tree dizia. Ela fitou alguns alunos que selecionou e apontou pra mim.
– Querida, venha a cá.
– Não.
– Por favor? - Eduardo me fitou com um sorriso. Ah, cretino. – Paolla querida, aqui ninguém morde.
– Só se ela quiser. - Um doce a quem acertar o babaca que disse isso.
– Eric, vá...! - Eu ia fazer um gesto obsceno mais me lembrei que Tree me observava com seus enormes e lunáticos olhos verdes. – Plantar batatas.
Todos riram, como se eu por acaso tivesse contado algo de muita graça.
– Essa. - Tree apontou para mim. – Será a nossa protagonista, Paolla Santana do 3º ano – É a Mônica da peça.
– Caô.
Meu Deus. Esse Eric acaba com a minha paciência.
– ERIC, CALA A BOCA! - Eu gritei.
Eduardo baixou a cabeça, e eu tive a impressão de que ele parecia estar pensando alguma coisa ERRADA sobre mim e o irmão.
– Retomando. - Tree disse, sorrindo lunaticamente. – Paolla é a Mônica, e Eduardo será protagonizado pelo nosso querido Eduardo Mendes
– Ohh, nossa, que novidade, você nem disse pra toda escola sobre os protagonistas, né não?
– Eric, ou você cala a boca ou eu mesmo te expulso da sala. - Avisei, fitando-o friamente, mas, pela resposta que recebi, eu não meto medo em ninguém. – Idiota.
Depois dos gritos que eu dei com Eric (eu o expulsei da sala, ele não fazia parte da peça. Só veio causar), Tree conseguiu explicar sua idéia, falou sobre a música e etc, etc, e etc. e na sala ficamos eu, Eduardo, duas crianças da 5ª série, Johnny (é, ele será o amigo do Eduardo na peça) e mais alguns que fariam apenas a figuração.
– Huum, certo. - Sibi (sou ótima em dar apelidos para as pessoas, mas também... ando com Tiago e Breno né...) sorriu para nós e foi desligar a luz, deixando apenas os raios de sol da janela invadirem a sala. – Relaxem, vamos fazer um exercício, deitem-se lado a lado.
– Ihh, começou. – Johnny, que até então estava calado, disse. – Professora a sala está suja né, rola um colchonete ai não?
– É. - Eduardo concordou, vindo se sentar ao meu lado. – Tá tenso aqui professora.
A louca foi buscar os colchonetes na sala ao lado.
– É... - Murmurei, querendo não deixar a sala cair no silêncio. Já era constrangedor por demais estar ali.
– O que foi? - Perguntou Eduardo, colocando sua perna sob a minha. Ele realmente quer me enlouquecer sabe? De repente me odeia e diz que não me quer outra hora coloca a perna sobe a minha e age como se tivéssemos um namoro. Ah, como é difícil conviver com ele.
– Sei lá, não é de muita ironia essa peça?
– E o que mais não é ironia nesse mundo?
– É. Eu sou meio ingênua. - Eu não queria ter soado irônica, mas...
– Claro. - E ele nem disfarçou, ele é pior que eu. – Muito.
Belisquei a perna dele, que bateu em minha mão.
– Não começa Eduardo. Sou mais santa que você.
– Ah, não é mesmo.
– Me erra.
– Ih, perdeu a linha, amor? - Uma simples palavra, uma única e simples palavra. A-m-o-r, 4 letras, 2 vogais, 2 consoantes. E um poder imenso, eu nunca imaginei que fosse me impactar tanto.
– Pra você? - Sorri, me controlando de uma emoção idiota. – Jamais.
Ele me deu em resposta aquele sorriso, logo aquele que fazia as borboletas do meu estomago darem um mortal de alegria. Foi se aproximando de mansinho, o sorriso maroto estampado em seu rosto. Ele ia me beijar, eu sabia disso.
– Achei que não me quisesse. - Dica 1: Fazer doce sempre cativa, os meninos gamam! Só não vá achar que vai abafar se tiver um namorado/rolo/ficante/ que nem o Eduardo. Não estou dizendo que somos isso, mas já ficou claro que rola um clima, né?
– E o certo era eu não querer, mas estou cansado de lutar contra o que sinto, sei que no final não irei vencer e com certeza me machucarei, mas pela primeira vez estou jogando tudo pro ar.
Eu dei um selinho nele que pousou a mão em minha nuca, aprofundando o momento. Eram sonoras as exclamações de surpresa das pessoas da sala. Mas não me importei, por um momento eu consegui fazer o que tanto queria e não pensar nos outros. Eduardo mordia o meu lábio e brincava de me seduzir enquanto passava as mãos pela minha cintura, a muito custo tive que me lembrar do lugar que estávamos.
Johnny assoviou alto e de repente a sala se invadiu de comentários, que logo foram silenciados pela entrada da professora Tree.
– Vamos lá. Cada um pegando um colchonete e se deitando. Isso ai queridos, já estão ensaiando a cena do beijo. – Que mulherzinha desagradável. – Vou colocar a música para aprenderem e relaxarem.
Todos deitados e a sala no maior silêncio.
“Quem um dia irá dizer
Que não existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer Que não existe razão?”
– Não apenas ouçam a música, sintam a música. - A voz de Tree agora suave, eu suspirei e deixei a música me invadir.
“Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque
No outro canto da cidade, como eles disseram...”
– Sintam a música...
Por um momento eu prestei atenção na letra, ela era mesmo parecida comigo e com Eduardo... Irônico demais. Ou, não sei. Tudo combina com a gente.
“Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer...
Um carinha do cursinho do Eduardo que disse:
Tem uma festa legal, e a gente quer se divertir”
Eu estava feliz por ele ter deixado tudo e todos de lado para pensar em nós. O próximo passo era conquistar a confiança dele para podermos ficar juntos de verdade. Senti seu dedo se entrelaçar ao meu e sorri, aula de teatro era um porre, mas Eduardo fazia tudo isso se tornar melhor, mais fácil de lidar.
“Festa estranha, com gente esquisita
Eu não 'to' legal, não aguento mais birita
E a Mônica riu, e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar
E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa
É quase duas, eu vou me ferrar...”
– Imaginem cada instrumento se unindo formando um som perfeito. Imaginem o grande Renato Russo cant...
Johnny a interrompeu, rispidamente.
– Cara, como é que a gente vai curtir o som se você não cala a boquinha?? – Johnny perguntou, bravo. A professora não pareceu realmente ofendida
– Oh, desculpe querido.
Tree é mesmo muito besta.
“Eduardo e Mônica trocaram telefone
Depois telefonaram e decidiram se encontrar
O Eduardo sugeriu uma lanchonete,
Mas a Mônica queria ver o filme do Godard”
O que eu mais gostava nessa música era a mensagem que ela dava sobre romances impossíveis. A música trata das diferenças de idades e gostos, exatamente o que eu e Eduardo somos.
“Se encontraram então no parque da cidade
A Mônica de moto e o Eduardo de camelo
O Eduardo achou estranho, e melhor não comentar
Mas a menina tinha tinta no cabelo”
No final da música eu me senti mais enérgica, e se eu precisasse luta por Eduardo, eu lutaria até o fim.