[Original] The Simple Plan - Capítulo 16
Segunda feira.
Paolla Santana
Hoje o dia não será bom.
Eu estava sentindo isso enquanto terminava de me trocar para ir à escola. Primeiro – estou com uma cólica dos diabos. Segundo – Estou sozinha e solidão me deprime. Terceiro – sonhei com Eric socando Eduardo. Isso foi péssimo.
Liguei para Emanuella e sua mãe disse que ela estava dormindo e não iria pra escola (eu sei o porquê, ela está com vergonha do Tiago), ligando para Melissa ela disse que também não iria, e me disse o motivo – Cansaço, o fim de semana foi muito tumultuado. Já Johnny disse que não iria por preguiça mesmo. Depois daquele beijo eu e Eduardo não falamos mais nada, e isso era pior do que qualquer coisa. No sábado, (eu me irritei e fui embora domingo de manhã) eu me sentei o mais longe o possível dele.
Fiz Johnny se sentar entre nós. Eu não sentaria perto da Melissa e muito menos de Emanuella. Não curto ser vela. E é claro que Tiago e Breno me matariam depois. Minha avó não acordou cedo, e eu então não comi nada e fui direto pra escola. Chegando lá, tive vontade de voltar.
– Bom dia, Paolla. - Encarei Eric com a sobrancelha erguida. Ele largou a garota que estava para me dar atenção. Bacana, já vejo que hoje o dia não será nada bom. – Precisamos conversar, você não acha?
– Eu só acho que você devia ir se foder, acho não, tenho certeza. - Saí o mais rápido o possível daquele pátio.
– Pode fugir Paolla, hoje você está sozinha, não fugirá de mim!
Na sala eu me encontrava realmente sozinha, os meninos haviam faltado. Agora eu entendi o que Eric quis dizer. Sentei-me no meu lugar de costume, ignorando as dores da maldita cólica. Ah, como é duro ser mulher.
Mendes I entrou na sala, ah tanto faz se ele é I ou II, todos sabem que é o Eric, já que Eduardo decidiu me ignorar. Que se danem todos, hoje eu não com ideia pra ninguém, que fique claro.
– Esperta, mas não tão esperta assim. - Ele se sentou atrás de mim e me fitou com um ar de graça. Eu apertei com muita força o lápis que segurava. – Usar o Eduardo para me enciumar é tão clichê quanto se apaixonar pelo garoto mais bonito da escola, opa...! - Sorriu, sabendo que com essa, conseguira me afetar.
– E quem disse que eu estou usando o Eduardo? - O fitei, nervosa. – E, porque você está falando comigo?
– Eu falo com quem eu quiser, e na hora que EU quiser.
De instantâneo entrei numa greve de silêncio. Me virei para começar a copiar a lição que a professora que de química passava.
– Paolla, eu estou falando com você!
“Paolla, escute.”
– Você é infantil às vezes.
“Eu não gostei, e não quero que isso se repita, não me confunda com Eric e não me use para tentar esquece-lo.”
Aquele imbecil... Garoto idiota! Maldito garoto idiota, porque não entende que estou confusa? Eu não quero mais usá-lo!
– Você ainda me ama!
“Se você mentiu uma vez pode mentir outra sem o menor problema, mentir é como se drogar, quando começamos não conseguimos parar.”
Ele não confia em mim, e isso me irrita, tudo naquele moleque me irrita.
– Eu não vou deixar você enganar o Eduardo...
“Nem mais uma palavra.” “Isso nunca aconteceu.”
Desgraçado, desgraçado e desgraçado!!
– E...
– ERIC! PORRA! CALA A BOCA! - Sim, eu realmente gritei em plena aula de química. Quer saber? Foda-se!! – ME DEIXA EM PAZ INFERNO!
A sala toda se animou. Já que a aula de química desanima qualquer um.
– Mocinha, tenha modos! - A professora disse, fitando-me com severidade. – Está numa sala de aula.
– Jura? – “Controle-se Paolla. Controle-se.” – Achei que aqui era um circo e você era a palhaça!
O silêncio foi mórbido, e eu sabia que naquele momento eu tinha conseguido uma entrada pra diretoria.
– SAIA DAQUI AGORA! – Gritou a professora, ficando vermelha como um tomate. - E como castigo pela insolência terá que me fazer um trabalho sobre o que eu estou passando na lousa. - Eu me levantei e Eric começou a rir. – VOCÊ TAMBÉM MENDES! ACHA QUE EU NÃO OUVI VOCÊ FALANDO MAIS DO QUE A BOCA?
– Calúnia! - O super engraçado Eric disse, se levantando e me seguindo com despreocupação. – Tudo bem, eu faço trabalho com ela, tá ok? Nota pros dois e menos aluno na sala.
A professora pareceu ter considerado a ideia dele. Saímos da sala e eu fui direto pra biblioteca (já que a bruxa não me mandou pra diretoria), eu precisava me acalmar.
– Tsc, tsc, você tem que aprender a se controlar, Paolla! - Parei, respirei fundo. Eu queria poder me controlar, mas fazer as coisas no descontrole era bem mais fácil, convenhamos. Na surpresa, me virei e tentei socar Eric, mas ele fora mais rápido, se desviou, segurou meu punho me empurrando contra a parede. – Ah, os carinhos do amor...
– AI DROGA! - Ele bateu as minhas costas na parede e sorriu. – EU ODEIO VOCÊ.
– Tudo bem, isso não me afeta. Ódio é o amigo íntimo do amor, todo mundo que odeia já amou, ou vice e versa.
– Profundo. - Debochei, sorrindo falso. – Me solte.
– Não, não, eu gosto de ver você assim tão presa a mim.
– É, na força qualquer um consegue o que quer. - Ele assentiu, tranquilo. – Eric, me solte, meu braço tá ficando dormente.
– Não. – E antes que eu pudesse fazer algo. O maldito Mendes me beijou. E diferente do que eu pensava Eric não foi bruto. Foi até... Carinhoso. Não sei bem o que ele queria com tudo isso. E eu juro que achei que desmaiaria com o beijo dele, afinal, todas ficam assim quando estão com Eric. Mas, pela primeira vez eu não me senti assim. Estou curada desse mal. Que confuso. Minha vida daria um livro.
– Você pode negar, mas eu sei que ainda me ama. - Disse, apertando minha coxa e sorrindo com malícia.
– Se a ilusão te faz bem... - Eu estava convicta do que dizia, mas aos ouvidos do incorrigível Eric eu estava fazendo doce.
– Claro. - E ele voltou a me beijar, eu não briguei, não bati, apenas o deixei fazer o que queria para ver aonde vai tanta marra.
Voltando ao meu devaneio:
Eu posso publicar um livro, é, um livro, tenho até o nome já “Clichê – a história de uma garota!”, contando os meus passos desde que nasci até minha adolescência, eu poderia até contar a minha morte, mas ai já é pedir demais.
Fitei Eric e nem havia percebido que ele estava afastado de mim – pra verem o quanto eu ando ligada nesse mundo – eu sorri para ele e então fiz o que já estava querendo há horas, não, eu não o soquei, apenas dei um tabefe em seu rostinho lindo.
– Obrigada! Eu achei que nunca se tocaria que eu não estou mais afim de você. Vamos logo pra droga de biblioteca, estou de saco cheio.
Ele bufou, bravo. E então me seguiu.
Entramos na biblioteca e, eis que me surpreendo ao ver Eduardo Mendes no maior agarro com aquela coisinha chamada Carolina. O ciúme foi imediato.
Eduardo Mendes
Eu estava tentando me afastar de Carolina quando Paolla e Eric entram na biblioteca. Ela me olhou com revolta, mas não disse nada, saiu puxando Eric pra sessão de química.
– Oi, né! - Carolina disse ao meu irmão. – Fala mais não, metido?
– Foi mal, gatinha, hoje a patroa tá estressada. - Ouvi uma risada irônica e imaginei ser de Paolla, a “patroa” dele.
– É. A educação dela é pequena.
- Cala a boca sua vadia! - Rebateu de instantâneo. Eu baixei a cabeça, sentindo que as coisas naquela biblioteca ficarão meio quentes. – Eric, senta logo.
Sentindo-me incomodado com tudo aquilo eu encarei Paolla com a sobrancelha arqueada, ela estava a alguns metros de mim. A prateleira de livros nos separando. Fui respondido com o mesmo olhar. De repente ela balançou a cabeça, irada. Eu não entendi bem o porquê. Na verdade, eu já não entendia mais nada. Começando pelos meus sentimentos. Eu não gosto dela, mas me incomodo ao vê-la com Eric, é creio que isso seja normal. Afinal ele a magoou e eu estava lá quando Paolla precisou de um ombro pra chorar. O mínimo que ela podia fazer era nunca mais olhar na cara dele.
Quem eu estou querendo enganar a final? Esse lenga-lenga não vai dar em nada. Eu estou é com ciúmes.
– Vamos embora? - Perguntou Carolina, a voz dela me soou tão distante.
Eu não queria ir embora.
– Vai indo na frente. - Ela assentiu, sem perceber minha real intenção. Esperei ela ir e fui em direção à mesa que Paolla e Eric ocupavam. – O que estão fazendo?
– Trabalho de química. - Eric respondeu. Paolla estava calada procurando alguma coisa em um pesado livro azul. – Porque, vai ajudar?
– Não, ele veio me incomodar. - Finalmente ela disse alguma coisa, prefiro ser ofendido a vê-la ficar em silêncio. – Todo Mendes gosta de incomodar, não sacou?
Sentei-me um pouco afastado de Eric e sorri para ela.
– É verdade, já é algo do nosso sangue, mas qual incomoda mais? - Percebi que ela ficara desconfortável com a pergunta, e adorei, afinal, como ela mesma me diz, adoro incomodar.
– Os dois incomodam muito, mas o Eric consegue incomodar um pouco mais!
Eric riu.
– Engraçado, achei que Eduardo te incomodasse mais, não era o que você dizia? - Ele cruzou os braços e a fitou com intensidade. Paolla devolveu no mesmo olhar. Às vezes – apenas ÀS VEZES – eu me orgulhava dela. – Ah, claro... Eu entendi tudo. Desde que eu te dei um passa fora você agora o usa para poder ter uma lembrança de mim?
Deus me livre! Se ela disser que sim eu não olho mais pra ela. Paolla fechou o livro numa brutalidade horrorosa e nos fitou com um sorriso sádico. É definitivo. Essa garota é bipolar.
– Não, eu uso o Duduzinho... - Revirei os olhos. Odeio meu nome no diminutivo. – Para realizar as minhas perversões sexuais, e olha... Ele é demais, dispensa comentários. - É por isso que eu evito a ironia. – Tá satisfeito? Vai calar a boca agora?
– Se você dissesse que queria isso eu já teria realizado seu desejo. - Foi minha vez de rir.
– Não, eu estava mais preocupada em fazê-lo feliz quando estávamos juntos. - Ela abriu o livro e pegou seu caderno da bolsa. – Hoje, sua felicidade e nada são as mesmas coisas para mim.
As palavras dela fizeram-me sorrir, logo, tratei de desmanchar o sorriso idiota. Está claro que nesse trio o único coadjuvante aqui sou eu. Eu ainda vou parar de dar uma de bom samaritano, juro. Nunca vale a pena, um exemplo é a situação em que me encontro. Jamais pensei que passaria por isso.
– Interessante. E ter um caso com Eduardo esta te fazendo feliz?
– Lógico. – E me lançou um sorriso encantador. – Somos felizes.
– Você é absurda. - Eric estava mesmo disposto a irritá-la. – Aliás, absurda e irônica. Será que dá pra ser sincera uma vez na sua vida?
Como o clima ficou realmente tenso, resolvi interceder.
– E você realmente pode exigir o que você não tem, não é? - Perguntei, olhando para Eric, que bufou. – Não se preocupe Eric, não temos nada. Ela está te provocando, desde o começo.
– E quem garante? - Desviei o olhar para Paolla, senti minhas pernas bambearem. Era difícil saber se ela estava sendo sincera ou não. Agora, até eu me senti confuso. – Você é outro que só sabe atirar pedras, estou cansada de vocês. Vou virar lésbica.
– Escolha sensata... - Continuei. – Namorar uma mulher é mais fácil, não é?
– E como, por serem mais parecidas, são mais sinceras e não tem medo de falar o que sentem. - Agora, o coadjuvante era Eric, que olhava de um para o outro, tentando juntar um mais um e ver no que daria.
– Depende, se a mulher em questão for se envolver com uma pessoa que não confia ela terá medo de se envolver, a insegurança é alta, e claro, os atos dessa pessoa também podem dizer tudo. - Ela franziu o cenho, absorvendo as minhas palavras.
– O que você quer dizer com isso?
– Pra nos entregarmos a uma pessoa temos que confiar nela.
– Vamos classificar os personagens em Maria e João. - Eu assenti, adorando aquilo tudo. – Ok?
– Sim, vamos lá.
– Se Maria quiser conquistar a confiança de João ele deixará?
– Depende. João sabe que Maria é uma mulher confusa, e ela mentiu.
– Por acaso João e Maria são vocês? - Eric interrompeu, franzindo o cenho.
Capitão óbvio.
– Estamos falando de situações hipotéticas Eric, não seja burro. - Respondi, sério. E ele pareceu acreditar no que eu dizia.
– Ela quer se redimir, mas João não deixa.
– Ele tem seus motivos.
– João também é um cara difícil. – É. Agora estava bem na cara que João e Maria éramos nós. Mas Eric continuou ali, confuso. – Ele não entende Maria.
– Vai ver é porque Maria age de forma errada.
– Claro, Maria é sempre a errada. - Paolla revirou os olhos.
Eu a olhei por alguns segundos, estávamos tendo uma conversa hipotética que tinha algum significado, claro. Mas será que eu deveria me apegar a tudo aquilo?
Ela também me olhou esperando alguma reação. E eu sinceramente não devia ter conversado aquilo, se antes já estava confuso, agora piorou, e como.
– Procure a matéria que aquela idiota passou. - Paolla disse, jogando o livro para meu irmão.
– Claro, meu amor.
Eles eram parecidos. Sim, Paolla e Eric eram os tipos de pessoas que juntos eram impressionantes, ambos chamavam a atenção, eram de personalidade forte poderiam ser o casal perfeito. Será que eu não estava tirando conclusões precipitadas? Paolla não poderia estar afim de mim, eu sou apenas o irmão mais novo, o garoto de 15 anos, aquele que ela nomeia como o “certinho”.
Paolla Santana
E no intervalo...
No intervalo eu fiquei no corredor da 8ª série. Eu estava com dores horríveis. Eu não suportava mais ouvir Eric e pensar em Eduardo. Tudo seria perfeito se eles não tivessem vindo pra cá.
Sentei-me no chão frio e encostei minha cabeça na parede. Tudo estava estranho para mim, no começo eu achei que não passava de um plano simples – eu me aproximaria de um apenas pra ser amiga – mas ai vem o garoto de 15 anos mudando todo o meu conceito sobre idade x personalidade. Eduardo não se compara a garotos de sua idade, ele é maduro, é inteligente e não confia em mim. O que em partes é certo, eu quebrei sua confiança, mas... Se ele não confia em mim, porque ainda fala comigo? Ele sente algo por mim também, mas o orgulho não o deixara admitir nunca.
– Paolla? - Sua voz soou perto, tão perto que me afastei e não abri os olhos. – Você está bem?
– Não. - Ele sentou ao meu lado. – Eduardo. Porque você não confia em mim?
Já não tínhamos Eric pra ficar inventando situações hipotéticas, amém.
– Seria mais fácil se não conversássemos mais. - Abri os olhos devagar, tentando não me afetar com suas palavras. Ele é apenas um garoto. Um garoto como todos os outros. – Você e Eric se merecem.
– Uau. - Cruzei as pernas e sorri de canto. – Você não poderia desejar algo melhor para mim.
– Eu não desejo, mas se seguirmos a mesma linha de raciocínio verá que estou certo. Você o ama, não é?
– Não. – Internamente eu me senti feliz por poder responder essa pergunta com convicção. Eric era uma página virada, talvez ele ainda mexa comigo, mas amor, esse, graças a Deus passou... Se é que foi amor.
– Eu fico feliz por isso. - Eu o olhei, e Eduardo sorriu. – Vamos ser sensatos, tá legal? Somos diferentes, e nem com aquela frase “Opostos se atraem e blá, blá, blá” nós daríamos certo.
– Ai já é você quem diz. - Me aproximei dele guardando cada mínimo detalhe daquele garoto quase perfeito. – Me beija? - Isso, mostre-se uma derrota de mulher. FODA-SE NOVAMENTE! Eu estou cheia da minha consciência idiota.
Ele sorriu, mas não era o sorriso que eu estava acostumada.
– É melhor não.
Respire Paolla. Você sabia que no fundo ele não era pra você. Fiquei de pé, afastando os cabelos de meu rosto.
– Então adeus. - Eu estava prestes a chorar, mas choraria sozinha, jamais na frente dele.
Eduardo se levantou, encostou o polegar em meu rosto.
– Só diga até logo.
E nesse momento surge a professora Lara, que dá aulas de teatro, limpando as lágrimas e sorrindo para nós.
– Lindo!! Acabei de achar os atores para minha peça!