CoisaSimples [12ºCapítulo]

No MSN, Kaio conversava com os amigos paulistas. Estavam ansiosos pela volta do jovem.

Kaio digitou.

- “Estou muito feliz aqui, embora sinta falta da galera. Mas podem acreditar que eu estou me divertindo como nunca!!!!”

E realmente estava. Kaio estava acostumado a sair todos os fins de semana pra balada, sempre estar com os amigos, com a namorada, sempre em clima de festa, de curtição.

Ao vir para Porto Alegre, passou a lembrar das coisas que fazia enquanto era criança, dos lugares que visita e principalmente das coisas simples que o deixava feliz.

Entre estas coisas, estava Eduarda. Kaio nunca tinha imaginado beijar uma garota que fosse filha do seu padrasto. Ninguém imaginaria este tipo de relacionamento. Porém isso o deixava feliz.

Eduarda achou em Kaio um jeito de se distrair. Com o ficante Hugo era algo mais sério. Eles iam em algum lugar marcado, ficavam e era só isso. Ela não voltou a ficar com Kaio, porém era bem mais divertido do que estar ficando com Hugo. Mas ela não queria abandonar o ficante, pois achava que aos poucos conseguiria esquecer Kaio e vê-lo como amigo, ‘irmão’.

Foi em uma tarde ensolarada de domingo que ela teve a chance de escolher o seu futuro. Hugo a convidou para sair e ela aceitou, embora já houvesse compromisso marcado com Kaio.

Foram ao cinema e depois ao shopping. Hugo tinha algo a dizer.

- “Eduarda, eu sei que nós estamos ficando a um certo tempo, mas eu gostaria de ter algo mais sério contigo. Está sendo legal ficarmos só que eu acho que poderíamos ficar mais tempo juntos.”

Eduarda ficou surpreendida. Parecia que todos só sabiam surpreendê-la a todo instante.

- “Nossa, eu nem sei o que dizer...”

- “Diz que aceita namorar comigo, que me quer de verdade...”

Eduarda deu um sorriso amarelo.

- “Ta bom, eu aceito!”

Ela queria namorar com ele. Mas não o queria de verdade. Na hora em que Hugo fez o pedido ela só pensou em uma coisa.

“Meu Deus, ele me surpreendeu. Que merda. Mas não vou pensar muito, vou agir. Meu objetivo é esquecer o Kaio. E é isso que eu vou fazer esquecê-lo!!!”

Depois disto aceitou o pedido.

Hugo é um bom rapaz, o único problema era que ele parecia ser um cara muito tímido, muito fechado. Mas com o tempo foi se acostumando com a determinação de Eduarda e aprendeu os gostos da adolescente.

Enquanto Eduarda aceitava o pedido de Hugo, Kaio estava jogando ‘bulita’ (ou bolinha de gude) com a molecada da rua. Estava ganhando todas as partidas e sentia-se animado ao ensinar os pequenos a jogarem direito.

Aos poucos, os guris da rua aprenderam a confiar em Kaio. Ele até parecia ser mais velho, mais maduro, mas no fundo não passava de uma criança que cresceu mais que os outros. Jogava bulita, futebol, vôlei e vídeo-game. Sabia sempre todas as manhas, todas as técnicas para ensinar àqueles que não sabiam.

Por isto ganhou fama na rua. Kaio estava orgulhoso de si mesmo. Não sabia deste dom que podia ter com as crianças. Na verdade, botava em prática tudo aquilo que havia aprendido na infância. Tinha saudades daquela época. Não queria voltar para o passado, mas queria reviver algumas das maravilhosas coisas que havia aprendido.

Ao entrar em casa, lá pelas 8 da noite, Kaio disse à mãe:

- “Hoje revive quase toda a minha infância. Ainda bem que eu tenho uma mãe maravilhosa que me ensinou as coisas simples da vida não é mesmo mãe?”

Abraçou-a e levantou-a no colo. Este foi o maior gesto de amor que Luíza poderia querer de um filho. A gratidão. O jovem subiu e foi tomar banho.

Eduarda chegou em casa um pouco abatida. Logo depois disse ao pai que havia saído com as amigas. Foi direto para o quarto.

Otávio não tinha notado nada, porém Luíza imaginava que algo tinha ocorrido. Foi até o quarto de Eduarda.

- “Te achei estranha agora, aconteceu alguma coisa?”

Eduarda olhou para Luíza e desabafou. Confiava nela como se fosse uma mãe.

- “Hugo, um cara que eu tava ficando, me pediu em namoro. E eu aceitei. Só que agora eu vejo que tem várias coisas por trás de um namoro, como a apresentação à família, divisão de gostos e etc. Não sei se estou preparada para isso. Tenho medo de o meu pai não aceitar, de eu me magoar.”

- “Eduarda, se tu realmente gosta deste rapaz vai em frente. Quando se tem um objetivo na vida, se deve correr atrás dele. Enfrenta o que for para a tua felicidade. Nós estaremos contigo!”

Eduarda sentiu-se confortada.Tinha com quem contar.

("Qual é o teu segredo, do que você tem medo, não sou nenhum brinquedo que pode se quebrar...")