Na sua pele. Cap. 12.

N/A: Conforme alguns pedidos, vou tentar postar mais e mais rápido, okay? Bjos, espero que gostem. Comentem ! :D

POV Débora

Eu tive um sonho. Nele o Dani segurava uma das minhas mãos com força, transmitindo o calor da sua mão para minha que estava gélida. Ele possuía um sorriso carismático que combinava com os olhos penetrantes que me fitavam analisando as extremidades da minha alma. Mas o corpo não era o que já tinha me pertencido a tanto tempo, eu era ELA.

Mas quando abri os olhos, para a realidade fitei o teto do meu quarto, os pôsteres que deixavam marcas nas paredes, meus cabelos não eram lisos e espessos do tom de loiro mais perfeito e marcante que existe. Era só aquela cor de pelo de cachorro, todo bagunçado em ramos desiguais. Os olhos da mesma cor sem-graça. Peguei o espelho e me fitei com desapontamento. É claro que eu não esperava que o amuleto das cinzas da minha avó funcionasse pra me tornar a DIVA Annabelle. Mas uma partícula da minha alma tinha esperanças. Agora amassadas e trituradas. Fui procurar a minha mãe com um desânimo absoluto pra perguntar se ela me dava dinheiro para comprar um imenso pote de sorvete de chocolate. E daí que eu me tornasse uma bola? Ninguém nunca iria querer ficar comigo mesmo (com a estúpida exceção do loiro com problemas mentais que eu considerava meu amigo).

POV Lucas

Eu fiquei esperando ela sair, esperançoso de que ela pudesse me dar cinco segundos de atenção. A Débora. Ela saiu pela porta do colégio linda como sempre, os olhos brilhantes e oblíquos contornados com um grande excesso de lápis preto borrado, que se equilibravam com as feições típicas e detalhadas do rosto angelical, os cabelos esvoaçantes divididos em ramos, caindo em pencas de um cabelo inchado e bagunçado, bem rebelde e meio enrolado, meio liso, mas acima de tudo muito charmoso. O corpo com formas bem generosas, os quadris largos e as pernas compridas e grossas. Eu não entendia muito bem a minha obsessão por aquela garota, mas desde o momento em que coloquei os meus olhos nela ela se tornou tão importante, tão especial. Mesmo com seu jeito hostil, eu conseguia enxergar toda a beleza que ela possuía tanto no interior quanto no exterior. Eu sabia que ela não correspondia, mas eu não deixaria de tentar me aproximar dela por que cada vez que a via meu coração dava frenéticos palpites e a ansiedade de se aproximar tomava conta de mim. Ela poderia gostar de outro alguém, mas eu não me importava de ser apenas um amigo enquanto ela não percebesse que eu estava ali com ela.

Quando ela saiu, o rosto comumente amargurado, não me aproximei de prontidão com receio de a estressar, mas percebi meio de longe que ela ficou paralisada. E que ela pressionava o fichário com muito força para suas mãos pequenas e delicadas não o soltassem. Achei que fosse apenas enganação, mas parecia que tinha uma lágrima arroxeada saindo de um de seus olhos luminosos e tristes.

Então ela saiu correndo.

Parte de mim exigia segui-la, perguntar o que estava acontecendo. Mas eu não o fiz. Eu sabia que só seria pior para ela, que ela não desejava a minha companhia, por mais que doesse admitir aquilo. Eu teria que descobrir sozinho o motivo de toda aquela mudança de temperamento. Ela já era bem irritadinha, algo que a deixava mais atraente do que já era, mas por um mês tudo piorou, a mesma cara irritada, respostas irônicas e mal-educadas, e lágrimas que ela tentava esconder.

Sentei em um banco sombreado por uma grande árvore. Não tinha muitos amigos. Eu era um garoto reservado. E minha única amiga aparentemente me odiava. Não era muito reconfortante.

Não queria voltar para o meu apartamento naquele momento, pois provavelmente meus pais só voltaria a noite, e ficar trancado sozinho com a minha irmã maluca não era o programa que eu desejava para uma tarde de segunda-feira.

Comecei a fazer o meu dever de física, naquele banco, apoiando o caderno no colo. A minha letra ficava um lixo e eu não conseguia me concentrar. Desisti da idéia e comecei a caminhar aos arredores do colégio, pensando.

Como sempre, nela.

O que eu poderia fazer para ajuda-la?

Eu estava levando minhas anotações de física na mão esquerda, e admirando a calçada sem prestar atenção no chão.

Foi aí que aconteceu.

Foi um esbarrão um pouco dolorido, mas a coitada da garota tinha ido parar no chão.

-Ah, meu DEUS! Desculpe! – Pedi com veracidade, estendendo a mão para ajuda-la a se levantar. Ela sorriu.

-Não se preocupe, tudo bem. – Disse ela.

Mesmo assim a garota segurou a minha mão, e se ergueu com facilidade ainda sorrindo empolgada.

Recolhi as coisas dela do chão sua bolsa e seu fichário, e ela pegou as minhas anotações de física que eu tinha derrubado distantemente. Me admirei com a atitude. Pelo estilo dela ela parecia uma daquelas patricinhas frescas que iria soltar um monte de palavrões em inglês e pedir para que eu a levasse ao hospital. Mas ELA estava recolhendo as minhas anotações!

Ela ficou examinando a folha.

-Seu nome é...Lucas? – Perguntou ela com vívido interesse, os olhos azuis cintilando, e sobrancelha delineada franzindo.

Pela primeira vez analisei-a. Era uma garota muito bonita. Olhos azuis faiscantes e alegres, que não tinham medo de encarar outros olhos, cabelos longos e lisos, louros alcançando a cintura, a magreza esculpindo o corpo com belas formas. Eu já estava apaixonado por outra garota, mas meu lado masculino não pode se conter em acha-la muito atraente. Sorri para ela também.

-É. E o seu?

-Annabelle Kouren. – Apresentou-se carismática. – Muito prazer. –Falou, e em seguida me deu um beijo no rosto que me deixou aturdido. – Por favor, me chame de Belle, tá?

-Ãh, ok.Aqui, estão suas coisas... – Entreguei para Belle sua bolsa e o fichário.

-E aqui estão suas anotações. – Ela me deu a folha com a letra esculhambada.

-Obrigado.

-Você é do segundo ano?

-Sou sim.

-Você, por acaso...Não, não pode ser. Esquece.

-O QUÊ? – Uma imensa curiosidade tomou conta de mim.

-Nada não.

-Pode falar, Belle.

Ela me encarou.

-hum, ok. Por acaso, você conhece, ou melhor, é meio, ãh, amigo da Débora Richelli? – Se eu não visse os lábios dela se movendo não poderia ter achado que ela tinha mesmo dito aquilo. Para mim parecia quase impossível aquela garota querer saber se eu conhecia e era amigo da minha Débora.

-É, pode se dizer que sim.

Ela abriu a boca num ‘o’ o rosto brilhando de emoção.

-Não acredito! Tantas pessoas pra trombar e o meu destino coloca você bem na minha frente! –Ela disse empolgada. Achei a garota um tanto pirada.

-Mas você conhece a Débora?

-É claro que sim. Ela nunca falou nada de mim? Éramos melhores amigas – Afirmou ela com ânimo. Depois seu rosto se desapontou.

-Você era MELHOR amiga dela? Não dá pra acreditar! A Débs é meio anti-social, e sem querer ofender, você não parece o tipo de garota com quem ela se relacionaria.

Ela pareceu não ligar para o comentário mal-educado que eu tive de fazer.

-Eu sei o que pareço ser. Mas acredite, eu sou um ser humano normal. E acho a Débora fantástica. – Revelou a garota, séria, me encarando.

-Bom, então acho que somos dois.

Ela sorriu radiante.

-É uma pena que ela me odeie agora.

-Bom, ela sempre me odiou, mas de um mês pra cá, não posso nem chegar perto dela.

-EU TAMBÉM! Ela disse que não queria mais ser minha amiga, e...Não sei, foi muito estranho. Foi realmente chato. – Disse Belle.

-Eu sei. Mas já to acostumado com esse tipo de comportamento da Débora. Sou apaixonado por ela a três anos.

-SÉRIO?

-Não conta pra ninguém. –Falei, misticamente.

Belle parecia querer dar pulinhos.

-Ah, isso é tão legal. Mas você já contou pra ela?

-Já, mas ela me odeia, como eu já disse.

-Ora, mais porquê? Se vocês são, ou eram amigos, você é um garoto bonito... – Corei quando ela disse isso. – E legal. –Mais uma vez. – Porquê ela não gosta de você também?

-Nossa do jeito que você fala...HSUIAHSUI...Mas, não tem problema, um dia ela vai me perceber...

Belle virou a cabeça para me analisar.

-O que você está fazendo na escola ainda? Todo mundo já foi embora.

-Meu namorado, foi embora há quinze minutos para dar uma passada na casa dele. Eu vou almoçar naquele restaurante aqui perto, e depois que ele voltar, nós vamos juntos a minha casa.

-Ah, tá. Quem é?

-Daniel, do segundo C. Conhece?

-AH, claro que sim, o Dani. Não sei como não ouvi falar de vocês. Você obviamente que é popular?

-Bom... – Falou ela modesta. – Eu não queria, mas as pessoas me obrigaram... E agora com o Dani, as coisas ficaram mais chamativas. – Explicou. – Mas não gosto de ser o centro das atrações. Sou tímida.

-Não parece.

-Pois é. E você o que faz aqui?

-Não quero voltar para casa, minha irmã mais velha está lá sozinha e a paixão dela é me infernizar. – eu ri. Ela também deu um risinho.

-Você não vai almoçar?

-Eu não sei.

-Quer almoçar comigo? É chato ficar sozinha.

-Ah, tudo bem.

-É perto, só seguir reto.

Começamos a andar, lado a lado em direção ao caminho que Belle apontou.

-Aham. Eu já fui lá algumas vezes. Mas, não é muito caro?

-Eu não acho. Bom, é claro que eu sou uma consumista compulsiva que nem olha o preço das coisas e sai gastando o dinheiro dos pais. – ela riu. -É um dos meus inúmeros defeitos.

-Inúmeros?

-Eu sou bem imperfeita, pode acreditar.

-Você é simpática Belle.

-Obrigada. Você também. Sabe, é uma pena que agora a Débora nos despreze. Poderíamos ser grandes amigos, se vocês também saíssem juntos, nós quatro, incluindo o Dani, poderíamos sair de vez em quando...

-Belle, não sonha. A possibilidade da Débora sair comigo é de zero porcento, por enquanto.

-Bom, eu sei que sou otimista demais. A possibilidade dela voltar a ser minha amiga também é de zero por cento, sabe.

-Mas, me conta essa história direito, como você e a Débs viraram amigas? E porque a amizade acabou?

-Vou contar, mas antes vamos entrar no restaurante. Chegamos. Assim ficamos mais confortáveis.

Depois de nos acomodarmos e fazermos nossos pedidos, Belle pediu um prato de macarrão ao sugo e eu pedi um risoto de queijo. O prato era muito caro, eu queria pagar para ela também por educação, mais ia custar todas as minhas economias. Mas valia a pena estar com uma amiga nova, que ainda por cima era a ex-amiga da minha Débs.

-E aí, vai contar ou não Belle? – Perguntei, quando nossos refrigerantes chegaram.

-É claro que sim. Embora eu fique meio chateada ao falar disso.

-Fala até a parte que não seja incômoda.

-Vou contar. Tudo começou quando cheguei na metade do ano nesse colégio...

-Eu sabia que você era meio novata! Nunca tinha te visto antes!

-Eu vim de São Paulo...

-hum, e veio para Sorocaba?

-Por causa do meu pai.

-Onde você está morando?

-Uma casa meio rústica, que fica perto da Unimed...

Pensei...

-Uma casa meio rústica? NÃO SERIA AQUELA MANSÃO GIGANTE COM LINDOS JARDINS QUE DOBRA A ESQUINA TODA, SERIA?

Belle ruborizou levemente.

-Não é bem uma mansão.

-UAU! Belle, sua casa é maravilhosa! Já passei por lá varias vezes, os jardins são lindos!

-Mamãe é obcecada por flores.

-Deixam o local mais legal. –Falei. –bom, mas voltando a realidade...Diga aí, o que aconteceu depois...

-Eu conheci a Débs. Desde o momento que a vi, já percebi que ela era especial sabe, eu a acho uma garota bonita, ela só precisa saber se valorizar um pouco mais.

-Hummm...Engraçado, eu penso a mesma coisa.

-Ela ficou muito impressionada com o meu convite de amizade. Mas o aceitou. E aí nós viramos grandes amigas sabe, contávamos tudo uma para outra, e ela ia sempre na minha casa, mas...Há um mês atrás, ela veio toda pintada, com comportamentos estranhos e disse que não queria ser mais minha amiga...

Ela parecia triste.

-Não a culpe. Ela é um tanto atormentada.

-Eu sei. Mas lamento que não sejamos mais amigas.

Nossos pratos chegaram. Começamos a comer, num ritmo meio lento.

-E como foi com você? Ela disse também que não queria mais ser sua amiga?

-Naam. – Disse. – A Débs nunca ligou pra mim de verdade. A gente conversa de vez em quando, mas ela sempre é hostil. E exatamente a um mês atrás isso se tornou pior, mas eu não desisto.

Fiquei conversando sobre a Débs com a Belle por muito tempo, depois começamos a falar um do outro, e eu percebi que a Belle era realmente uma garota legal com muitas qualidades além de ser muito bonita. E percebi que poderíamos ser grandes amigos.

Na hora de pagar a conta, ela insistiu tanto em pagar o meu, que eu fiquei até envergonhado. Mas é claro que eu não deixaria ela fazer isso embora, ela parecesse com muita vontade de ser gentil comigo.

Como ela tinha que se encontrar com o Dani, o namorado dela, nos despedimos na porta do restaurante.

Fiquei parado observando ela ir embora para o outro lado do colégio.

Era realmente uma sorte do destino eu ter topado com uma amiga tão legal, com tantas coisas em comum. Eu questionaria a Débora sobre a Belle. Talvez fosse um assunto que ela gostasse de falar com alguém.

Agradeci por aquela trombada.

Lívia Rodrigues Black
Enviado por Lívia Rodrigues Black em 17/10/2010
Reeditado em 22/07/2011
Código do texto: T2561951
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