Novas trajetórias e um princípio de guerra -Livro dos Talentos - Cap. 2

Capítulo 2

Sexta-feira 30º C

Acordei detonado, mas ainda não sabia porque. Fiquei deitado enquanto a enxurrada de lembranças me inundavam. Era sexta-feira, meu pai falou que ia ajudar o pai de Mau, eu tinha uma festa para ir e no dia seguinte um plano. Fui olhar a hora, eram 11:30 eu havia jogado as sacolas dentro do guarda-roupa, achei adequado olhar... Moletons, camisetas e casacos e uma sunga, até que os itens da última sacola me surpreenderam, uma camisa branca, uma calça jeans de um azul escuro como a noite e um blazer sem mangas, ou um smoking, que iria ficar justa na camisa branca como uma estampa, eu pensei que havia acabado mas quando eu puxei o blazer, estava por baixo um sapato marrom escuro quase preto revestido de um tecido fino com seu traços robustos.. Pra quem nem lembrava da festa até eu ter falado ela foi bem longe. Mas eu não iria reclamar, na verdade ela se superou no bom gosto. Meu medo era de ir mais elegante do que a festa pedia.

Fui até o banheiro, vi que ela não estava em casa, comi algumas bolachas com um xícara de café. Eu já acabava quando o telefone tocou.

- Que bom que você ta em casa.

- Onde mais eu estaria?

- Ta, ta, escuta. A festa vai ser transferida.

- Isso é bom?

- Se é! A Jéssica se juntou com a turma e alugou um clube, fica lá no centro.

- Legal. Olha, bom você ter ligado, eu ia ligar pra você.

- Fala.

- Meu pai quer falar com o seu, então temos uma mudança nos planos, você não precisa vir me buscar, meu pai nos levar, já que ele vai até aí não vai custar nada nos levar.

- Tudo bem. Alguma novidade?

- Não posso adiantar, isso só com meu pai.

- Tudo bem, então até mais tarde.

- Até.

Bem, estava tudo armado, hoje, o sábado... mas e o domingo? Seria meu último dia em casa por dois meses. Tentei não pensar em nada, disso minha mãe se encarregaria certamente.

Fui para meu quarto me preparar para a seca, lá podia ser até moderno, mas eu não quis arriscar, deixei meu mp3 de lado e peguei meu Ipod ultra fino, não me importava de usar meu mp3, mas além de ser bem menor e uma memória maior, tinha carregador, que seria muito útil, liguei o computador e comecei as transferências. Faltavam alguns minutos para completar a transferência das músicas e ouvi a porta bater de leve. Logo ela estava na porta do meu quarto.

- Você comeu alguma coisa filho?

- Já sim. Mas não comi muito para almoçar.

- Que bom, trouxe peixe, não sei como eu pude deixar faltar as frutas e agora a carne...

- Poxa mãe, eu tava com fome...

Ela deu risada.

- Ai filho, eu sempre faço a conta certa.

- Eu sei, sei só tava brincando.

- Vou preparar o almoço.

Ela parecia um pouco cansada, mas sempre que ela me via acordado quando chegava sempre ia direto pra cozinha fazer alguma coisa pra eu comer.

- Mãe!

Ela parou e se virou.

- Sim.

- Não estou com tanta fome, posso esperar. Pode ir tomar seu banho tranquila, eu vou sobreviver.

Pareceu que ela ia me ignorar, mas não ela me atendeu. Tirou a bolsa de cima da mesa e foi tomar seu banho.

Enquanto ela voltava de seu banho eu ainda estava no meu computador, dessa vez lendo meus emails, promoções, e anúncios , até um em especial:

Jon, não é o fim do mundo. Sim, as coisas vão mudar, mas não sabemos pra onde. Deve estar sendo difícil pra você, sei como é isso, é mas agente não vive só as perdas, vivi as os ganhos também, pense nas novas experiências e nos novos ganhos, a vida é muito mais.

Danillo e Amanda

Obs. Danillo escreveu apenas isso: Jon, não é o fim do mundo.

(É, eu também dei risada)

Beijo e até logo.

Achei engraçado, mas tentei ver o lado que eles disseram, ganhos... não achava muito promissor mas de uma coisa eu sabia, seria uma experiência nova. Mas ainda sim achava desnecessário.

As coisas seguiram o rumo casual na medida dos acontecimentos, minha mãe voltara do seu banho e preparara o almoço, não falava, definitivamente havia algo errado, nenhuma queixa, nenhum comentário, nada. Almoçamos um tanto desconfiados, ao menos eu estava, já ela, não tinha certeza de nada. Parecia que ela estava evitando algo.

- Mãe.

Ela me olhou confusa.

- Sim?

- Tudo bem mãe, eu entendo.

- Entende?

Me olhou com uma expressão quase assustada.

- Você quer o melhor pra mim, eu quase não saio, e vai ser uma coisa diferente. Acho que você tinha razão.

- Bom filho... Que bom que você mudou de ideia.

- É, acho que eu tenho que abrir um pouco minha mente.

Ela não falou nada, já sorria. Seus traços de preocupação deram espaço a uma tranquilidade confusa, mas isso ainda não havia terminado. Ainda estava determinado a saber mais, não engoli essa de ser o melhor, que podia até ser eu já não contestava, mas eu tinha que saber o por quê dessa decisão repentina.

Saí da mesa e fui escovar os dentes, pensei em preparar logo as coisas para o sábado. Peguei meu PlayStation3 e levei pra sala para estalar na TV de 42 polegadas, eu sorria quase como um louco enquanto instalava, já estava tudo armado. Tinha esperanças de conseguir algo, nem que fosse uma pista, ele não teria chance.

Voltei para o parque, já passavam das 15:00 horas, sabia que não o veria por bastante tempo. Era tranquilo, me agradava, observava com atenção o que as pessoas estavam fazendo, vez ou outra tentava ler os lábios para saber o que diziam, nada importante, as pessoas falavam de trabalho, e problemas, as mais jovens de amor e sexo. A sociedade e seu grande Círculo, sempre a mesma coisa.

Um andar muito familiar se aproximava, logo Mau estava na minha frente.

- Sabia que ia te encontrar aqui.

- Nunca pensei ser tão previsível.

- Foi fácil imaginar que você não ia ter nada pra fazer, sempre se adianta.

- É.

Pelo sol que mal aparecia colocado por trás de um prédio eu imaginava ser umas 16:30.

- Também não tenho nada pra fazer.

- É bom dividir o tédio.

- Isso é só pré-festa, logo passa.

- Não é por isso, eu só quero saber por que.

- Ainda o lance da viagem.

- É.

- Jon, para com isso, geralmente é você que me fala essas coisas. Não fica usando o motivo como desculpa pra se chatear, se você souber o motivo vai ter que ir do mesmo jeito.

- Eu sei, já pensei nisso, mas eu preciso saber.

- Já pensou que pode nem ter motivo?

- Como assim?

- Pode ser pelo que eles disseram mesmo, você precisava de uma experiência nova.

- Não sei, se tem alguma coisa eu vou descobrir.

Ele me olhou como quem olha um caso perdido, minha expressão não mudou, ainda pensativo eu falei.

- Não é tão simples quanto parece.

- Sempre superestimando a situação.

- Se tem alguma coisa eu não vou deixar passar.

Já começava a escurecer, estávamos à horas conversando.

- Vê se não pira com isso, vai com calma.

- Sim, vou ter.

- Há sim, tem uma coisa, Agente vai direto pra festa.

- O que houve com o esquenta?

Não que eu me importasse.

- Como vai ser num clube não vai rolar, as bebidas foram todas pra lá.

- Bebidas, quem bota ordem nisso.

- Calma aí vovó, é tudo certinho, não é bebida forte, é menos de 5% de álcool, além do mais vai ter CaipFruta. Pra quem pega leve como você.

- Ta, ta.

- Relaxa Jon, não iria te por em furada, não curto isso.

- Sei disso.

- Vai pra casa que já são quase sete.

- Você fala como se estivesse tarde.

- Nunca está tarde o suficiente.

Dei risada, estava feliz pela reação de Mau, ele não estava mais tão abatido. Só o fato de meu pai dizer que ia falar com o pai dele já era promissor.

- Nos vemos mais tarde.

- Não atrasa hein, eu vou estar esperando.

- Espero é que você não me faça esperar.

Nós levantamos da grama, usando o tronco da árvore como apoio e fomos cada um para um lado. A praça ficava relativamente entre nossas respectivas residências.

Um pouco de TV, o jantar e já era hora de me preparar para sair. Meu pai chegara do trabalho enquanto eu tomava banho. Já havia separado a roupa. Assim que saí do banheiro fui falar com ele.

- Pai.

- Oi jon.

- Oi pai, você já foi na falar com Fábio?

- Não filho, ainda vou tomar café, assim que acabar irei.

- Bom, Pode me levar na festa?

- Claro. Onde fica?

- No centro, Mau sabe onde fica.

- Tudo bem. Você marcou de horas com seu amigo?

- Dez.

- Bem, são 20:00hs agora, já que você marcou as dez eu vou comer e organizar umas coisas. Pra que você não saia muito cedo.

- Valeu Pai.

Minha mãe observava nossa conversa enquanto abria a geladeira vez ou outra e colocava algo no Microondas.

Enquanto eu me vestia ligava o computador, tinha algum tempo antes das dez, entrei no messenger e já imaginava encontrar lá...

- Amanda!

- Jon!

- Você ta em casa?

- Não, eu tô passando as férias aqui na casa do Danillo Lembra?

- É, mas vocês não moram longe.

- Não, mas não tem nada pra fazer, ficar sozinha? Não mesmo.

- Hun...

- Hun quê?

- Nada não.

- Jon...

- Nada, nada.

- Sei. E a festa, desistiu?

- Não, Tô esperando dar a Hora.

- Que bom que você ta se distraindo um pouco.

- É, tô tentando não ficar largado. E ao que parece eu vou ser o único de nós que vai viajar nessas férias.

- É, mas eu não achei ruim não, tava querendo descansar mesmo, Viagens não podem virar rotina.

- Tem Razão. Onde ta o Dan?

- O imprestável do Danillo ta aqui do lado. Acabou de fazer uma careta.

- Kkkkk

- Só ele que não riu.

- Alguma novidade garota?

- Não exatamtente Jon.

Quando a conversa estava ficando interessante...

- Vamos Jon. Já são quase dez.

- Só um minuto pai.

- Vou ter que ir Amanda, mas eu quero saber dessa estória.

- Depois agente conversa.

- Tudo bem. Tchau Garota.

- Tchau jon.

Desliguei o computador e fui em Direção à garagem onde meu pai já esperava.

- Converso com Fábio enquanto levo vocês à festa. Você está muito elegante, bonito, foi sua mãe?

- Foi. Boas notícias?

- Boas notícias.

Logo chegaríamos a casa de Mau, em dois minutos no máximo, eu não teria que esperar muito pra saber.

Descemos do carro e tocamos o interfone.

- Já estamos descendo.

Imaginei que o pai de Mau não nos deixaria esperando, deve o ter apressado. Meu pai e eu esperávamos ao lado do carro, logo desceram. Já estava armada a convenção pai e filho.

- Como vai Mário? Jon.

Perguntou o pai de Mau, que apesar de saber que meu pai falaria com ele sobre negócios não se vestiu para uma reunião, muito menos meu pai. O fato de meu pai oferecer apoio ao pai do meu amigo não tinha haver comigo, mas com eles. Fábio e meu pai Já foram amigos como eu e Mau, por mais que isso pareça repetitivo.

- Muito bem Fábio, os garotos já devem ter comentado algo sobre essa conversa.

Demos uma risada Mau e eu.

- Por alto, Maurício me falou que você queria falar comigo, imagino que seja sobre negócios.

- Sim é, Vamos entrando.

Nos saudamos com um soco no no ombro e entramos no carro, Mau parecia ansioso para saber o que meu pai iria dizer.

De carro e a esse horário chegaríamos em uns 15 minutos já que não tinha tanto tráfego.

Logo meu pai se iniciou pra nossa felicidade.

- Bom Fábio, você já deve saber que meu filho me falou da sua situação atual

- Sim.

Não queríamos atrapalhar mas achei ter passado um pouco do clima de ansiosidade para a frente, principalmente vindo de Mau.

- Bem, é uma pena que seja nessas circunstâncias, mas assim eu pude encontrar um auxiliar para mim.

Eu não havia percebido, também pudera já que o trabalho do meu pai não me fascinava nem um pouco.

Ele continuou.

- Auxiliar executivo.

As feições sérias do pai de meu amigo se tornaram quase comemorativas.

- Fico muito feliz que tenha pensado em mim para o cargo.

- Em quem mais eu pensaria meu velho amigo, eu estava atuando no cargo sozinho, preciso de alguém em que eu possa confiar para dividir o trabalho.

Pensei ter visto uma certa vergonha ao olhar o retrovisor.

- Só diga que aceita Fábio.

- Mas é claro, é uma oferta muito boa, seria louco se recusasse.

- Que bom que você ainda tem juízo, não é muita coisa comparado a sua posição anterior, mas no momento foi tudo o que pude oferecer.

- Não se preocupe, está fazendo muito por mim Mário, obrigado.

Meu Pai assentiu com a cabeça satisfeito.

Dei um soco de leve no ombro de Mau junto com um sorriso. Meu pai olhou acima no espelho retrovisor e sorriu junto. A conversa continuaria, mas nós já sabíamos o que interessava, nossos pais trabalhariam juntos.

Um pequeno espaço de tempo foi dado e logo a seguir uma pergunta mais pra comentário.

- Dessa vez você vai ficar até o fim da festa Jon?

Perguntou Fábio.

- São os planos.

Falei.

- Dessa vez ele não tem escolha pai.

Falou o traidor.

- Que bom que não, ele precisava se divertir um pouco.

Mais um traidor, meu pai agora falava.

- É um complô?

Parecíamos quatro amigos viajando, e de certa forma éramos sim, eu e meu pai Mau e seu pai sempre fomos como amigos, só o trabalho nos afastava um pouco. E agora que meu pai tinha um auxiliar iria trabalhar menos eu iria viajar. Irônico.

- Chegamos, é logo ali dobrando a direita.

Indicou Mau.

- Obrigado por seus valiosos serviço computador de bordo.

Falei pra reaver a última conversa que havia sido sobre mim.

- Ele fez uma careta que mais parecia que estava com nojo.

Saímos os quatro.

- Venho buscar vocês às sete. Se quiserem vir antes é só ligar Jon.

Falou meu pai. Havia perdido a sessão de piadas, já que a última contava à favor de Mau.

- Ta, ta.

- Até Mais garotos.

Falou Fábio.

Entraram no carro e foram.

No momento em que foram embora me lembrei da festa, e agora não seria muito difícil notar, a festa havia começado, eram em torno das 22:30, segundo Mau a hora perfeita, não eramos os primeiros mas também poderíamos ver muita gente chegar.

- Não vamos entrar?

- Espera um pouco, ainda nem esquentou.

Já podia ouvir a música. Ele continuou.

- Vamos comprar uns Refri.

- Refri?

Perguntei surpreso.

- É claro, não preciso de bebida pra me soltar lembra?

- É, eu esqueço disso.

Mas eu não já não partilhava da ideia.

- Mau, vou querer um Smirrnoff.

- Ta.

Fomos num supermercado que devia ficar à uns 100 metros dalí.

- Anjo!

Gritou uma garota loira com duas amigas do lado, as duas morenas nos cumprimentaram com um oi quase ensaiado.

- Oi Ludy.

- Você já ia embora? Sem se despedir de mim?

- Não... Ludy, vou comprar combustível.

- Hun...

Respondeu sorrindo. Olhou pra mim.

- Esse é meu amigo, o Jon.

- Oi Ludy.

Respondi.

- Oi, eu não sabia que você tinha um amigo tão estiloso...

Dei uma sorriso do vitorioso ao envergonhado, eu não lembrava das roupas que estava vestindo até então.

- Essas são Estefany e a Gaby.

Disse Mau.

- Oi, jon.

Falou Estefany. Gaby não se pronunciou, apenas sorriu.

- A Carla não vem Gaby?

- Não, Mãe tava cansada. Disse que vinha na próxima.

Respondeu a garota de uns 16 anos com uma voz calma e doce.

- Hun, pena. Nós vamos agora, vejo vocês lá dentro.

- Ok.

Se viraram e saíram.

- Mau?

- O quê?

- É que eu gostaria de saber, tem alguém maior de idade na festa?

Ele deu uma gargalhada.

- Jon meu caro amigo tolo – Se pausou e continuou – Essas festas que viram a noite são particulares, menores de idade não entram em buates criança...

Fez minha pergunta parecer infantil.

- Desculpe a pergunta.

Fiz uma cara enjoada. Estávamos no corredor do supermercado, me deu uma chave de pescoço.

- Ai.

- Algum osso quebrado?

- Não ainda.

- Queixa de agressão inválida.

Passamos no caixa, não Havia fila.

- A propósito, eu não vou pegar ninguém se você não pegar antes.

- Quê?

- Isso mesmo Jon, É sua última festa antes do exílio, não vou te ver a madrugada toda sentado.

- Não havíamos combinado isso.

- E estamos fazendo o quê agora?

- Não vale, eu não quero ser um peso.

- E não vai.

Já estávamos na rua.

- Tem algo que eu não sei?

- A Gaby.

- O que é que tem a Gaby?

- Ela ta afim de você.

Não mudei de expressão.

- Está?

- Ta sim.

Uma pausa.

- Jon!? Quanto tempo faz que você não dar uns beijos?

- Eu não costumo contar.

- 6 meses Jon.

- E qual o problema nisso?

Ele revirou os olhos e me apertou o ombro. Paramos.

- Jon, só não se limite. Se permite um pouco, você ta sempre isolado. Para de fingir que não se importa – Não consegui dizer nada – sai um pouco dessa caixa pelo menos pra dar um oi.

Na hora não consegui dar razão a ele, mas também não pude discordar.

- Ta.

- Mesmo?

- Mesmo.

Já nos aproximávamos do lugar novamente, uma casa de eventos muito legal.

Mau tirou do bolso os Ingressos deu ao segurança e entramos, eu com minha garrafa de Smirnoff e ele com seu refrigerante.

- Jéssica!

- Anjo!

Se abraçaram.

- E aí Jon.

- Oi Jéssica, festão.

O DJ colocava umas músicas não tão rápidas, a iluminação ainda não estava tão baixa.

- Obrigada.

- Você viu a Ludy? Se eu não for falar com ela vou ser assassinado.

Ela riu.

- As vi do outro lado, perto da lanchonete.

O lugar parecia centro de Shopping.

- Falou, quando você terminar de receber a galera eu venho dançar com você, fiquei te devendo uma batida da última vez não foi?

- Que bom que você lembra, vou ficar por aqui quando começar a batida eletro mais forte.

- Volto logo.

- Volta mesmo hein. E bela produção Jon, ta incrível.

Uma hora alguém iria conseguir me constranger.

- Obrigado Jéssica, você também está linda.

- Vejo vocês depois meninos.

Fomos em direção à lanchonete.

- Olha elas ali Jon.

- Tô vendo.

- Anjo...! pensei que não voltava mais.

- Voltei Ludy, não é pra tanto. Oi garotas.

- Oi. Chegaram na melhor hora, a festa começou a esquentar agora.

Falou Estefany.

Não pude evitar olhar para Gaby, ela estava muito bonita leves cachos ensaiados, calça jeans e uma blusinha creme difícil de descrever, a cor não era chamativa, mas mesmo com Ludy usando um vestido Roxo, e Estefany usando uma blusa de um laranja vivo, ainda sim ela se destava entre as duas. Dei um gole na minha bebida.

- E ainda vai melhorar muito.

Foi Mau dizer isso e a batida ficou mais forte.

- Jon!

- Oi!

- Você ta vendo aquele garoto?

- Qual?

- O De camisa preta, sentado no banco.

- Tô, quê que tem?

- Quero apostar uma coisa.

- Vai falando.

- Eu aposto que aquele cara vai conseguir beijar aquela garota de rosa nos próximos 20 minutos.

- Eu topo.

- Ei, vai com calma. Eu nem falei os termos ainda.

Tocava um pop na hora.

- Ele ta só olhando ela. Eu não vou perder.

- Não seja tão confiante, vai se decepcionar. O seguinte, se eu perder, eu vou dançar no meio da pista com a a Ludy, se você perder, você vai com a Gaby.

- Espera aí...

- Qual é Jon? Não foi você que disse que não tinha como perder, se não tem por que o medo? Se você ta tão confiante de que vai ver eu e a Ludy dançando no centro da pista. Você topa Gaby?

Ela parecia meio envergonhada, mas por outro lado animada.

- Concordo com Jon, Não vai rolar.

- Viu Jon, a Gaby concorda.

- Tudo bem, vai ser divertido ver vocês dançando no centro. Mesmo que isso não seja novidade.

- A festa começou agora Jon, No centro não tem quase ninguém. Eu não costumo dar show no começo.

- Se você diz.

Começou Hip Hop

- Garotas eu já volto, fiquei devendo uma batida pra Jéssica, vou pagar agora.

- Ok Mau, mas não tira os olhos da aposta, agente também vai ficar acompanhando de longe.

Ele deu uma piscada.

Voltamos pra Jéssica.

- Demorou!

Falou Jéssica sorrindo, ainda me surpreendia Mau ser tão amigo de tanta gente.

- Pois é Jéssica, é que eu fui fazer uma aposta.

- Conta isso.

- Ta vendo aquele cara ali conversando com a garota de rosa?

Quando eu me virei pra olhar mal acretei no que via, só faziam 3 minutos que tínhamos apostado e o primeiro passo da minha derrota tinha sido feito.

- O de preto?

Perguntou.

- É, apostei que ele iria beijar aquela garota nos próximos 20 minutos, ainda faltam 17 e ele ta conversando com ela. Se eu perder eu Danço no meio da pista com a Ludy, se eu ganhar o Jon Dança com a Gaby.

- Tudo!

- Que bom que você ta se divertindo com isso Jéssica – Falei – mas não vai acontecer, ele não vai conseguir em 15 minutos, aquela menina estuda na mesma escola que agente, ela vai fazer jogo duro.

- Tolinho.

- O que foi?

- Olha.

O Choque passou por todo meu corpo, não pude nem mudar de expressão, não conseguia notar mais nada ao meu redor, me sentia como se tivesse sido anestesiado para uma cirurgia, Não sentia o chão, nem ouvia a música apenas meu coração a acelerar. Se senti algo além do meu coração a bater não me lembro, não me lembro de ter olhado para Mau ou Para Jéssica, na hora não consegui nem lembrar do motivo de eu estar daquele jeito. A maldita aposta, eles estavam se beijando, não fazia nem 10 minutos, como? Eu não sabia o que fazer, mas era certo que Mau sabia. Uma gargalhada interrompeu meus pensamentos.

- Bem Jéssica, nossa batida vai ter que esperar, eu tenho que ver uma aposta sendo cumprida.

Se eu falasse eu gaguejaria, não falei, Mau me envolveu os ombros com o braço e me puxou pra onde estavam as garotas.

- Anjo! Você é vidente, só pode.

Falou Ludy. Estefany estava com o namorado que acabara de chegar, todos riam.

- Se eu sou vidente eu não sei, mas sortudo... pode-se dizer que sim.

Percebi que Gaby estava um pouco tensa, embora eu quase não reparasse mais em nada.

- Jon, Gaby, vou providenciar a batida de vocês. Jon, lembra o que eu te disse? Sei que você me ouve, se solta, relaxa. Você sabe fazer isso, já vi você dançar. Sente a batida, ignora a multidão. Detona!

As meninas nos empurravam para o meio, Mau andava quase que flutuando na direção do DJ, Não tinha gente no meio ainda, as pessoas que dançavam, estavam mais nas laterais, dançando em grupo.

Chegamos no meio, algumas pessoas já olhavam.

- Jon, é só me acompanhar.

Falou Gaby.

- É Jon, não é nenhuma valsa. Anjo foi colocar uma eletrônica.

Falou Ludy. Estefany se divertia e seu namorado só curtia a cena.

Bem, a Gaby sabia dançar, e Mau tinha Razão, eu devia relaxar.

- Jon.

- Oi Gaby.

- Não sei se isso ajuda, mas você ta um gato. Tava todo mundo comentando quando você entrou.

Fiquei surpreso, se eu costumava chamar tanta atenção nunca haviam me dito.

Começou a batida, mais gente olhava, eu olhava pra Gaby e ela pra mim. Uma nova música, um novo narrador.

- Maurício -

Me Juntei a Jéssica, Ludy e Estefany, tudo estava saindo como eu havia planejado. Jon estava no centro da pista e a música começava como eu tinha pedido ao DJ, com batidas lentas depois iria acelerar. Não conseguia tirar os olhos dos dois, sempre quis ver Jon agitar.

Muitos pararam pra olhar, a batida começava, Gaby sabia o que fazer, ela era tão baladeira quanto eu. Jon parecia mais tranquilo, parecia não ligar para tantos olhares em sua direção. De início pareceu que ele copiava os gestos dela, dos paços, mas logo vi que não, eles estavam dançando. À medida que a batida acelerava os seus movimentos também, começaram com quebradas de ombro e de pescoço com as mãos dançando pelo ar, acompanhando a sonoridade se chegavam as pernas e os quadris, um dançando para o outro, quase que ritmadamente. A iluminação era mais forte no centro, pra felicidade de quem assistia, era incrível como ele estava a vontade, suas passadas de perna se tornaram quase inacreditáveis pra mim, que o conhecia. Ele não era um profissional, mas muita gente não veria muita diferença. Entrou uma outra música, quase como a primeira com batidas, mais Techno, A iluminação mudara, De um enfoque central pra feixes de Luz, agora piscava, luzes prateadas Moldavam os movimentos. O pessoal mais animado começava a se aproximar, e a dançar mais no centro. Não me arrependia da aposta, nem da armação. Estava satisfeito com o resultado. Jon finalmente se divertia.

- Mau... Você hein.

- Eu?

Jéssica ria de excitação.

- Nada, eles arasão, mas agente vai ficar só olhando?

- Não, ainda tenho que pagar uma dança pra uma garota.

- Hun, paga mais tarde. Agora você vai dançar comigo.

- Mas se é a dívida é com você...

- Eu sei, só queria adiar a dívida pra ganhar umas danças extras.

- Nem precisava pedir.

Fomos para o meio também, Jon e Gaby continuavam a dançar, eu e Jéssica estávamos só aquecendo, era quase meia-noite, mas a noite seria uma linda garota, não costumava dizer criança, linda garota porque era uma noite ótima para se aproveitar.

Logo eu e Jéssica não dançávamos, já nos beijávamos, ela estava mais linda do que costumava ser, e dançava muito bem, vez ou outra eu olhava Jon, mas eles só dançavam. A noite avançava e como se fosse devaneio ia ficando ainda melhor.

-Jonatam -

Era quase como se minha cabeça estivesse em metamorfose, ainda era eu, mas de certa forma não era apenas isso, eu via tudo, podia ver o que fazia, o ritmo, as luzes e a garota a minha frente, Gaby dançava pra mim acusando algum desejo, ela parecia uma garotinha quando não estava dançando, garota essa difícil de recordar com a mulher atraente que dançava pra mim, vi Mau olhar pra mim, ele estava saindo com Jéssica para outra parte do salão, seus olhos diziam algo, algo como “cai fundo” que era a cara dele. Olhei pra ela e falei.

- Só farei o que tenho vontade de fazer agora, se nós não nos preocuparmos com o que vai acontecer depois.

Ainda dançávamos.

Ela fez um movimento gracioso, um meio giro em direção ao meu ouvido.

- Já é sábado. E me importo muito mais com o agora.

Sua voz doce terminava de alcançar o meu ouvido quando segurei sua nuca. Puxei seu rosto, para olhar, não estávamos dançando. Olhei seus olhos quase indecifráveis, parecia que eu estava negando os segundos que chegavam.

- Sem consequências?

Perguntei serio enquanto os feixes de luz nos davam apenas alguns fleches de visão.

Ela parou, acho que fiz uma pergunta difícil de responder.

- O que você quer?

Perguntou.

Ela fez uma pergunta difícil de responder, fiquei na dúvida, não sabia se ela queria mudar o jogo, tive certeza, tinha feito uma pergunta difícil.

O fundo musical de agito distorcia ainda mais meus pensamentos.

- Acho melhor não pensarmos.

Meus pensamentos saíram junto com minha fala, tão instantâneo que não sei se havia pensado para falar.

- E não estragar o momento.

Concordei.

- Não estragar o momento.

A conversa anterior se tornou mínima, vaga, falha. Quase não pude sentir meus movimentos, lentos, decididamente antecipados, me aproximei lentamente firme, como se não tivesse pressa, observando sua reação, contornei sua cintura com as mãos, envolvendo seu corpo em um abraço alinhado, estávamos nos beijando, me senti voraz, me contive nos toques mínimos que seriam coerentes, ela me puxou para o canto da parede, só assim pude perceber o calor que sentia, não era um local totalmente fechado, ela havia sido estratégica, me levou para perto de umas entradas de ar que eram quase janelas, mas eram mais altas que meus cabelos arrepiados e 1metro e 70, passamos um bom tempo ali, até que Mau voltou e fomos comer algo, ele de mão dada com Jéssica e eu envolvendo Gaby com minha mão em sua cintura.

- Vocês arrararam na batida garotos.

Falou Jéssica sorrindo com a mão entrelaçada com a do meu amigo.

- Obrigado.

Respondi.

- Eu não sabia que você dançava tão bem.

- Eu já sabia disso.

Falou Mau orgulhoso de seu feito.

- Falando em dançar, você já pagou a dança que devia Mau?

Perguntei para mudar o rumo da conversa.

- Não, ainda não, assim que eu reabastecer prometo que pago.

Jéssica sorriu.

- Boa sorte Mau.

Falou Gaby.

- Como assim?

Perguntou confuso.

- Vi vocês dançarem, e se você ainda não pagou a batida que devia não vai pagar nunca.

Rimos os quatro.

Estava sendo uma noite muito descontraída. Os problemas esquecidos, deixar o depois pra depois, entendi o que Mau queria dizer, estava vivendo de verdade.

As horas se passaram, e entre músicas, beijos e comentários já havia amanhecido.

- Huah...

Bocejou Mau. Olhei surpreso.

- Logo você anjo?

Falei sarcasticamente, era mais um intervalo para descansar, já não tinha quase ninguém, olhei a hora no celular.

- 6:30.

Falei.

- Está tarde.

Falou Gaby.

- Ou simplesmente cedo.

Falou Mau.

- É gente, acho que ta na hora irmos, o DJ já foi a mais de uma hora, deixou tocando uma PlayList.

- Tem Razão Jéssica, você tem carona?

Perguntou Mau?

- Sim, claro. Não se preocupe.

- Ligo pra você mais tarde.

- Estarei esperando.

- Quer que eu te leve em casa Gaby? Vou ligar pra meu pai vir me buscar.

- Não precisa. Vou com a Estefany, o namorado dela ta de carro.

- Tudo bem, agente se vê.

Ela me beijou, foi a primeira vez que isso aconteceu na frente dos outros. Pisquei duas vezes eu acho.

Estávamos na saída, vimos as garotas irem, logo que saíram da vista Mau quase em êxtase.

- Cara! Foi muito show!

- Foi sim.

- Há, e a Gaby?

- Han? Espera, vou ligar pra meu pai.

- Há Claro.

Uns instantes.

- Pai? A festa terminou, vem me buscar.

- Chego aí em 20 minutos.

- Ta, tchau.

- Vai falar?

Perguntou insistente.

- Han? Há, da Gaby? O que tem ela?

- O que tem ela, como assim? Quero saber o que rolou, se ainda rola...

- Cara, eu não sei, essa noite foi muito diferente.

- Disso tenho certeza.

- Eu sinceramente não sei, ela é muito bonita, legal...

- Tendi.

- Mas e a Jéssica? Conta isso aí.

- Eu não esperava, … tudo bem, eu meio que esperava, mas não sabia o que ia dar, tinha rolado um clima na última vez que agente se viu, mas nada sério, até que hoje foi rolando.

- Ou seja, você caiu pra cima.

Ele riu.

- É, Caí mesmo.

- E agora?

- Eu não sei, mas diferente de você com a Gaby eu tô fissurado.

- É, parece que o anjo foi flechado.

Revirou os olhos.

Estávamos no mesmo lugar que meu pai havia nos deixado na noite anterior, poucas pessoas saíam, não restaram muitas.

- Mas... eu ainda não entendi uma coisa.

- O que é Jon?

- Como você sabia que aquele cara ia conseguir pegar a garota, e tão rápido?

Meu pai chegou bem na hora que eu perguntei, não exatamente. Pensei ter sentido Mau exitar.

- Imagino que a festa foi boa garotos.

- É, foi muito loca seu Mário, fiz o Jon se soltar um pouco.

- Um pouco? Ta brincando.

Falei.

- Vamos, vocês me contam no caminho.

Mau não falou tanto quanto falava, ele estava exausto, vez ou outra falava, era basicamente de seu feito.

- Estamos progredindo, meu filho dança.

- E muito bem seu Mário.

- Por que eu sou sempre o assunto?

Rimos todos.

- Você estava acordado pai?

- Sim, há algum tempo.

- Hun...

- Bem, é aqui que eu desço, obrigado. Até mais Jon, valeu senhor Lima.

- Até mais Maurício.

- Até Mau.

Gibson Cleiton
Enviado por Gibson Cleiton em 17/09/2010
Reeditado em 17/09/2010
Código do texto: T2504187
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