Essa boca dengosa

Fecho os olhos, imagino

Meus lábios tocados pelos seus

Dizendo segredos só nossos.

Não sei se pode, não sei se posso...

Logo dispara o meu coração

As mãos trêmulas, descontroladas;

Sinto um gosto hortelã a me invadir.

Fecho os olhos, desenho na memória

A hora do nosso primeiro beijo:

Que não pode ser assim de qualquer jeito

Em qualquer lugar ou por qualquer motivo

Não pode ser um beijo de fica

Não pode ser um beijo de ficção

Embora tenha que ser cinematográfico

Como os beijos clássicos imortalizados.

Ainda de olhos fechados imagino:

Seus lábios nos meus lábios colados

Seus lábios nos meus lábios querendo

Seus lábios nos meus lábios latentes...

Quando acordo suado e vejo

Meus lábios grudados ao travesseiro...

Desenho na memória sua boca dengosa

A chamar pelo meu nome

A dizer que me ama e me quer

Sua boca a falar ao telefone

Grudadinho ao meu ouvido

Dona dos meus desejos mais secretos...

Vou ao computador, abro a tela

Vejo-a em minha frente

E pela falta de coragem, treino

Beijar sua boca dengosa ali mesmo

Na tela fria à minha frente.