Humano coração latente
A cidade dorme lá fora
No frio da noite sombria
Em cada beco, em dada ocasião
No vaivém, um rosto cinza juvenil...
Perto daquela curva
Uma brisa turva arrepia o corpo
Morno, corpo, barriga, olho
Coração, boca, perna, passo...
Os pés caminham sem rumo
Sem direção,
Na cidade ressonada
Sem agasalho,
Sem cama,
Desamparado.
O rosto juvenil ladeira acima segue
Cambaleando no frio da noite
Coberto em poucos trajes, se vai...
Abraçado a noite em repouso
Lasso, bambo, ressacado,
Hesitante, ressentido, desgovernado...
Uma lenta nota sonante ao longe
Baila na esquina da rua seguinte
Da janela da casa ao lado
Que afaga outro corpo
Debaixo das cobertas acalorado.
E nas idas e nas voltas e nos giros
Na noite, no frio, nos desencontros
Os corações distantes se reconhecem
Pelo calor do afeto governado:
Enquanto um toca a música embalada
Outro corpo é ninado
Do outro lado do asfalto
Afinando assim a sinfonia
Na noite fria dos rostos em cores
Enquanto a cidade dorme
E o frio da noite açoita.