[Original] Refém de você - Capítulo 21 [2ª Fase]
Capítulo 3 – 20 e poucos anos – 2ª fase de Refém de você
Pela manhã eu acordei com espaço demais no sofá, não abri os olhos, mas sabia que Leandro tinha ido embora. Tentei não me abalar com isso, já que tecnicamente, permiti que as coisas acontecessem e é muito difícil dizer não para o cara que eu sou completamente apaixonada desde a adolescência. Preguiçosamente me virei para a mesa de centro, vi uma rosa vermelha e um bilhete bem posicionado ao lado do vaso de flores. Estiquei o braço e peguei o bilhete.
"Eu acho que nunca fui muito romântico contigo, mas sempre há uma primeira vez. Eu amo você."
Leandro
- Então não foi mentira. – Murmurei, sorrindo de uma forma bem idiota. Segurei a rosa por um longo tempo e a cheirei. – Acho que é hora de ligar para o João.
Não muito segura, sentei-me no sofá e disquei os números. Fui atendida rapidamente.
“Angélica.” – Ao ouvir a voz de João, tive uma sensação imediata de paz.
A conversa durou até a tarde. Ele me contou como deixou a vida em São Paulo pra trás, mesmo sendo contra a vontade dos pais. De como se apaixonou pela recepcionista de um hotel do Rio de Janeiro em que passou o final de ano após a minha viagem, e que depois também se apaixonou pela prima dela. João viveu uma história muito louca, mas em resumo, ele tá noivo da Carla (prima) mas de vez em quando mata a saudade nos braços da Juliane (recepcionista). Quando desliguei o telefone decidi fazer qualquer coisa que me impedisse de pensar em Leandro. Optei por fazer compras no supermercado que fica a duas quadras daqui.
Fui a pé, já que se tratava de um lugar próximo, e quando cheguei ao estacionamento do supermercado, vi Leandro e sua família. Não sei bem explicar o tipo de sensação que tive quando os vi. Era algo semelhante a se sentir vazia, mas não somente isso. Ele não me viu, mas as crianças, em compensação, me viram e ainda acenaram. Respondi com um sorriso.
Veridiana me olhou e sorriu de forma educada. Ela era bonita, eu não podia negar, e fazia um casal interessante ao lado de Leandro. O que eu tive que engolir a seco, foi quando ele me olhou e fingiu que não me viu.
“É isso que você ganha quando deixa suas emoções te vencerem.” – Pensei, procurando por um carrinho e entrando no supermercado. Durante as compras, acabei topando com Leandro na fila da padaria. Na verdade ele provocou o encontro.
- Eu sei que não deve ter sido uma coisa muito legal de se ver. – Comentou, num estranho tom de culpa.
- Você não tem que se desculpar. – Eu não o olhei nos olhos. – É a sua família.
- Você entendeu o que eu quis dizer. – O olhei de soslaio. Leandro bufou. – E pelo o amor de Deus. Eu continuo firme no que eu te disse hoje de manhã
- Eu também. Em cada palavra e gesto! - A fila se moveu um pouco. Continuamos conversando numa altura em que somente um poderia ouvir o outro. – Mas talvez você precise repensar isso com mais cuidado.
- Angélica.
- O que?
- Não vamos discutir isso numa fila de supermercado. Vamos sair amanhã.
- Nem me pergunta se eu quero? – Ele então se aproximou, discreto. Eu não recuei, mas temi que fossemos vistos.
- Eu só pergunto o que eu não sei.
Revirei os olhos mas acabei sorrindo, pois continuo incapaz de resistir ao sorriso ou qualquer coisa que esse homem me fale.
Leandro ainda teve a ousadia de passar na minha frente da fila, fazer seu pedido e sair mais como se nada tivesse acontecido.
(...)
E já no hotel, eu deixei as compras em cima e sentei-me diante da mesa por um longo tempo e entrei num estado "beta" pensando (ou tentando ao menos) o que daria essa minha nova história com Leandro. Sim, ele continuou me amando mesmo após 11 anos separados (fato que eu achei surpreendente. Não que eu duvidasse dos sentimentos dele quando éramos adolescentes, mas sempre achei que ele me superaria mais rápido), na cama continuamos mais compatíveis que nunca. Sobre nós dois eu não tenho o que reclamar. Agora em relação a ele, sim, eu tenho muitos pontos a ressaltar:
Primeiro: ficando com o Leandro (as escondidas ou não) estarei estragando uma família muito bonita.
Segundo: a culpa vai me corroer por causa das crianças. E culpa é uma coisa que pesa.
Terceiro: será que é isso mesmo que eu quero? Será que é isso mesmo que ELE quer?
E como se soubesse que eu precisava ouvir sua voz, Leandro me ligou.
De início ninguém falou nada, ficamos ouvindo um a respiração do outro, até que ele decidiu falar.
- Você estava pensando em mim.
- Sim.
- O que?
- Precisamos conversar.
- Eu vou passar aí mais tarde pra conversarmos.
- Tudo bem.
Eu desliguei antes que ele pudesse falar alguma coisa que me fizesse mudar de ideia.
E a noite...
- Você vai me levar pra um bar. – Eu murmurei, balançando a cabeça. Leandro riu, entrelaçando nossos dedos. E caminhamos pela rua sem pressa de chegar. – A gente já brigou num lugar assim, não?
- Não! – Ele ainda ria. – Foi numa balada GLS... E faz muito tempo. Dessa vez eu vou controlar você.
- De novo? Você continua com esse prazer? – Leandro me abraçou de forma possessiva, como se isso respondesse a minha pergunta. – Já entendi. Isso é só comigo ou a Veridiana passa pelo mesmo problema?
- Só com você mesmo. Veridiana é uma mulher que não me dá problemas.
Eu revirei os olhos e engoli a minha vontade de xinga-lo. Leandro beijou o topo da minha cabeça e entre conversas sem muito sentido e algumas cutucadas bem saudáveis chegamos ao bar. O local era bem arejado e completamente decorado com as cores do México. Sentamo-nos numa mesa de canto e fizemos nossos pedidos. De início, só bebida leve.
- Estou te achando tensa. – Comentou ele, me olhando com intensidade. Por um momento eu quis muito relaxar. E nos braços dele. – O que você tem pra me falar pelo jeito é sério.
- Sim.
- Pode falar. – Distraído, ele passava o indicador pela borda do copo.
- Leandro... Eu estava pensando. Será que é realmente isso que nós queremos? – Ele não pareceu entender de prontidão a minha pergunta. Angustiada, expliquei. – Quer dizer... Será que não é pra ser só um reencontro e nada mais?
- Eu não vou deixar você ir embora da minha vida novamente, Angélica! – Exclamou, sério, quase bravo com meu questionamento. – Porque isso?
- Porque você tem uma família, Leandro.
- E eu sempre desejei que você fizesse parte dela.
- Eu sei que sim, mas... – Ele segurou as minhas mãos em cima da mesa. – A situação é outra. E se não der certo? E se você se arrepender?
- Você tá me deixando confuso com esse monte de pergunta.
- Desculpe, eu estou angustiada.
- Não fique. Eu estou tão feliz por você estar aqui!
- Eu também estou feliz por estar aqui, mas estou com medo de tudo dar errado novamente.
- Não vai dar errado. E eu não acredito que você tenha voltado apenas para um reencontro e depois outra partida.
- Leandro... Seus filhos... – Ele não me deixou terminar o que queria falar. Segurando minhas mãos com mais força, declarou:
- Meus filhos serão pra sempre meus filhos. Independente de eu estar casado com a Veridiana ou não. Eu preciso de você, Angélica. Eu sempre precisei todos esses anos, e agora, te vendo aqui na minha frente, eu preciso mais do que nunca.
- Eu tenho medo. É isso. Medo.
- Não precisa ter medo. Eu não vou te deixar ir embora.
O restante daquela noite não poderia ter sido melhor, é claro. Ele dormiu no hotel comigo e dessa vez não foi embora pela manhã, tomamos café juntos e eu ainda o fiz admitir, durante uma conversa que estava deixando Veridiana o afastar de seus amigos. Isso fez a gente brigar um pouquinho, mas eu acabei vencendo a discussão, o que o fez bufar de raiva.
- Eu não estou dizendo que você está certa porque não está, ok! – Ele murmurou, cruzando os braços de uma forma infantil.
- Claro que não. - Ironizei. - Mas você vai conversar com a Maya?
- Você sabe se ela quer conversar?
- É claro que ela quer.
- Ah, vou tentar. – Eu o abracei por trás e encostei meu nariz ao pescoço dele. Leandro segurou minhas mãos. – Não faz isso, é golpe baixo.
- Você vai conseguir.
Ele foi girando aos poucos, até nossos lábios se encontrarem de forma sutil. Ele respirou fundo, como se declarasse sonoramente que eu estava certa. Isso vindo de Leandro é uma vitória imensa para mim. Os dedos dele adentraram meus cabelos e aos poucos eu ia perdendo minha postura. Gemi quando ele mordiscou meu lábio e pressionou as duas mãos em minha cintura, me apertando de um jeito que era capaz de me levar ao inferno. Eu sabia o que viria em seguida.
- Leandro.
- Oi. – Ele continuou me provocando em pontos estratégicos. Mordi o lábio quando a mão dele invadiu minha blusa, encontrando o feche do meu sutiã.
- Você tá me seduzindo pra fugir do que eu te disse, né?
- Estou te seduzindo porque sou completamente louco por você.
- Se eu for pra cama contigo agora não me esquecerei do que eu disse... – Leandro baixou uma alça da minha blusa, depois riu com um leve sarcasmo.
- Eu sei que não.
- Então vamos resolver isso agora. – Ele não havia entendido minhas palavras, por isso revirei os olhos ao ver seu sorriso malicioso. - Leandro!!
- Tá bom, Angélica! Eu vou ligar pra ela de casa!
- E a Veridiana?
- O que tem ela?
- Ué! Ela não gosta da Maya! – Ele riu, seco, como se estivesse com um pouco de raiva da esposa. – O que foi?
- Veridiana reclamou comigo ontem que eu andava muito distante. – Confidenciou, respirando fundo. Eu me afastei, sentindo o peso da culpa caindo aos poucos sob meus ombros. – Ela tá desconfiada de algo.
- Alguma hora ela vai saber disso.
- Eu sei que sim.
- E o que iremos fazer?
- Eu vou me separar dela.
- E você acha que ela vai aceitar assim fácil? – Perguntei, seca. Ele franziu o cenho. – Qual, é! Ela sabe da nossa história?
- Sabe que eu sofri a sua ausência por alguns anos. – Respondeu, pensativo. Eu não queria entrar nesse assunto. – Ela bem que tentou te apagar da minha memória, mas falhou. E para não perde-la eu tratei de te deixar isso pra trás.
- Eu imagino.
- Veridiana vai compreender. – Eu ri em desdém. – Ela não é louca como você.
- Ah, não?
- Claro que não. Eu não tenho sido um bom marido ultimamente. – A culpa soprou em meus ouvidos, implacável. – Sei lá, já estou há alguns dias dormindo no sofá. Invento que vou assistir algum filme e fico na sala. Quando a Brida me pediu pra ler historinhas pra ela, eu dormi no quarto dela. É mais fácil.
- Se você diz...
(...)
Os dias seguintes foram de aprendizado. Tanto para mim, como para Leandro. Aprendemos, durante os nossos encontros as escondidas o quanto mudamos. Eu tive que me reajustar a algumas coisas, aceitar outras e principalmente entender que tudo isso seria necessário se eu realmente o quisesse pra mim, mas devo dizer que nada disso se igualou a quando ele me apresentou aos filhos quando nos encontramos na rua num dia em que decidimos não nos ver. Como qualquer criança da idade eles facilmente marcaram meu rosto, meu nome e fizeram perguntas infinitas. Brida, um pouco mais sapeca que o irmão, perguntou o que eu era do pai dela. Leandro, muito calmamente respondeu que eu era uma amiga da adolescência. Fred não estava disposto a conversar, então se agarrou ao pai, o protegendo... Como se ele no fundo soubesse que eu era uma ameaça ao casamento feliz de seus pais.
- Acho que o Fred não gostou de mim... – Comentei, quando Leandro decidiu nos levar para passear no parque próximo ao centro. Ele concordou, parecendo um pouco preocupado.
- Ele é apegado demais a mãe. Talvez tenha sentido alguma coisa. – A mão dele discretamente tocava minha cintura. E eu, também muito discretamente andava bem coladinha nele.
- Ele parece com você.
- Também acho. – E sorriu, orgulhoso. Trocamos olhares por alguns instantes, mas eu desviei pois sabia que os filhos dele nos olhavam. – O que foi?
- Você precisa falar com a Veridiana. – Leandro bufou. Ele ainda odeia ser pressionado. – Ok, não vou mais falar disso.
- Eu sei que sim, mas preciso ir com calma por causa dos meus filhos. – Juntos observamos Brida e Fred brincarem. Uma pontada de tristeza me invadiu quando lembrei que se as coisas tivessem sido diferentes, eram os meus filhos com Leandro. E tudo seria muito mais fácil. Ou não, simplesmente não dá pra saber. Hoje, observando essa história, tenho a estranha sensação de que tinha que ser assim, dessa forma mesmo. Não era pra ser diferente.
Depois daquele dia em que saímos todos juntos, Leandro e eu nos comunicamos apenas por sms, segundo o que ele me dizia, sua esposa andava mais desconfiada do que nunca, além das discussões que agora eram diárias em casa. E como se isso fosse um aviso, meu antigo chefe me enviara um e-mail no mesmo dia me dizendo que eu sempre teria um lugar na empresa. Teimosa, ignorei suas palavras.
E a noite, quando ficar sozinha já estava me deixando um tanto triste, liguei para Maya e confidenciei a ela algumas coisas. Compreensiva, porém sincera como sempre, eu a ouvi dizer que o casamento de Leandro e Veridiana não iria durar muito comigo ali, mas que ela tinha medo do que uma mulher traída poderia fazer. E não sei se ela queria me assustar ou se foi realmente sincera, mas eu tive medo do que poderia acontecer.
E aconteceu. Não da forma que eu pudesse pensar, mas de um jeito que marcou pra sempre a minha história com Leandro. E definitivamente.