[Original] Refém de você - Capítulo 19 [2ª Fase]

Capítulo 1 – 20 e poucos anos – 2ª fase de Refém de você

Estacionei o carro em frente à antiga casa de Leandro com as mãos trêmulas e um suor gelado me descendo pelo rosto. Saí do carro ignorando o olhar dos vizinhos que com certeza não tinham me reconhecido. Já fazia muito tempo e eu havia mudado o bastante pra eles lembrarem do que fui aos 17 anos. A casa parecia abandonada, mas mesmo assim segui para o quintal procurando discretamente por alguma pista dele ou até de Maya. Me abracei quando um vento mais forte mudava o clima em São Paulo.

“Não, Fred!! A mamãe mandou a gente ir embora!!” – Ao ouvir vozes de crianças e movimentos que não pareciam estar muito longe de mim eu continuei andando e ignorando a sensação estranha que me invadira de repente.

“Como você é boba, Brida! O papai deixou a gente brincar aqui na casa antiga da vovó!” – Minha respiração automática se acelerou e então eu os vi. O menino era a cópia do Leandro, até o cabelo escuro. A menina lembrava muito a ele, mas as características eram mais puxadas para a mãe. Eles sorriram para mim, mas não consegui retribuir o sorriso. Eu estava de frente para os filhos dele.

- Oi. – A menina disse, sem perceber meu desespero silencioso.

Eu estava pronta pra responder quando senti outra presença atrás de mim. Torcendo para que fosse a mãe deles, não me virei, mas ao ouvir a voz masculina, tive que me apoiar para não cair. Leandro passou por mim com pressa e foi na direção das crianças. Demorou cerca de 5 segundos para nos olharmos e 3 para ele me reconhecer e não muito tempo pra velha paixão se reacender dentro de mim.

Ele tentou sorrir duas vezes, mas era um sorriso duro e acabou não conseguindo. Baixei a cabeça, de repente envergonhada comigo mesma. Leandro sorrindo gesticulou para que os filhos fossem pra casa, e esperou pra que ficássemos sozinhos. Eu não estou preparada para esse reencontro.

- O que você está fazendo aqui, Angélica? – Ele perguntou num tom de descrença e desgosto. Eu queria poder toca-lo pra ver se toda aquela maturidade e beleza era mesmo de verdade.

- Eu só queria te ver.

- Já viu. Casei, tenho dois filhos lindos estou muito bem.

- Eu não me lembro de ter perguntado se você tá casado ou não, e para de ser estupido uma vez na sua vida! – Ele riu da minha reação e mais uma vez eu desejei muito poder toca-lo, mesmo sabendo que seria rejeitada.

- Angélica, vai embora, sério. – Leandro gesticulou com as mãos, me expulsando do quintal da casa. Irritada, eu parti pra cima dele. Essa coragem toda não é minha, juro.

- Quem você pensa que é pra me tratar assim?

- Um cara que com certeza não quer te ver! – Eu me aproveitei do

momento para tocar sua cintura.

- Qual é o seu problema?

- O meu problema é a sua presença! Eu não queria te ver nunca mais, Angélica Porto! – E com mais uma de minhas ações sem sentido, eu dei um tapa em seu rosto, que me olhou embasbacado.

- Me desculpa. – Eu tentei me redimir e mais uma vez fui rejeitada. Leandro respirou muito fundo antes de me empurrar contra a parede do quintal.

Descontrolado, começou a falar um monte de coisas desconexas, depois, com uma mão segurou minha nuca e com a outra meus quadris. Eu quis desmaiar quando ele afastou meu cabelo do pescoço e sentiu meu perfume. O lábio dele encostou em minha pele, trazendo todo uma lista de lembranças deliciosas e inesquecíveis. Virei meu rosto, tentando fazer com que ele me beijasse ou pelo menos me olhasse com outros olhos que não fossem de ódio. Leandro me grudou mais ao seu corpo e foi a minha vez de relembrar o que eu jamais havia esquecido. Ele jogou minhas mãos pro alto e passou a mão por meu corpo, lentamente. Seu sorriso de prazer involuntário fez eu lembrar o motivo de nunca ter deixado de ama-lo depois de todos esses anos longe. Amarrei minhas pernas a sua cintura e segurei seu rosto. Leandro chorou e partiu meu coração na mesma hora, devo dizer. – Eu não vim pra estragar a sua vida ou te magoar. Juro por Deus de todas as coisas que me fizeram voltar pra São Paulo, a principal eu só queria olhar para você. – Ele não respondeu, acho que nem tem o que responder. – Seus filhos são lindos. – Ignorando minha falha tentativa de fazê-lo conversar comigo, Leandro roçou seus lábios aos meus. A sensação não poderia ter sido melhor.

- Como é que você faz isso, Angélica? – Ele perguntou num tom que só eu podia ouvi-lo. Nossos olhos estavam fechados. – Você volta do nada e eu já me sinto o mesmo Leandro que teve que lidar com a sua partida.

- Eu não quero que você fique mal. – Leandro me segurou com mais força, nos beijamos bem lentamente. Encostei minha testa a dele e respirei baixinho, como se qualquer barulho a mais quebrasse o reencontro.

- Eu nem sei o que estou sentindo.

- Eu sei o que eu sempre senti. – Ele abriu os olhos. Eu toquei seu rosto com suavidade. – Mas não significa que eu esteja aqui pra cobrar alguma coisa de você. Sei que não tenho direito.

- O tempo passou pra gente.

- Eu sei disso.

Firmei os pés no chão e respirei fundo, sentindo-me mais confiante.

Segurei sua mão para olhar sua aliança e sorri levemente.

- É uma bela aliança. - Ele me puxou novamente para seus braços. Era um abraço que dizia mais dos que muitas palavras. E não sei o tempo que durou, mas sei que foi o suficiente para nos beijarmos novamente e dessa vez com urgência, tanta que me faltou um pouco de ar nos pulmões. Em seguida Leandro se afastou, como se ficar perto de mim fosse fatal demais para seu bem-estar.

- Leandro. – Murmurei, fraco. Ele me fitou de soslaio. – Eu to indo embora e não vou voltar a te atrapalhar. Só me dê o número da Maya, eu quero vê-la.

- Maya está morando na zona Sul. – Murmurou, sério. E evitando me olhar. – Só o João que mora no Rio. Ele noivou faz pouco tempo.

- Vocês viraram amigos? – Perguntei surpresa. Ele assentiu. – Nossa!!

- Ele e Maya são padrinhos dos meus filhos.

Sorri para ele, que retribuiu, e dessa vez com um olhar mais meigo. Não consigo entender as reações de Leandro. Talvez as coisas não tenham mudado tanto.

- Eu tenho que ir embora antes que eu não consiga resistir a minha vontade de te agarrar nessa parede.

- Tudo bem. – Tentei agir da melhor forma possível. – E o número da Maya?

- Anota aí. – Peguei meu celular e digitei os números conforme ele falava. Depois que guardei o celular no bolso, Leandro riu de alguma coisa que eu não entendi. – Acho que depois de 11 anos lembraram de realizar meu pedido.

E antes que eu perguntasse do que ele falava, Leandro foi embora. Lembrei, então, de como era ruim ver a melhor coisa do meu mundo me dando as costas mais uma vez.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 28/08/2010
Reeditado em 21/05/2017
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