[Original] Refém De Você - Capítulo 16
Capítulo 16
Trêmula, Angélica deixou o telefone no gancho enquanto tentava se levantar do sofá. A mãe a olhava, temerosa. Mal se levantou e as lágrimas escorregaram por seu rosto. O tio dela ligou pela manhã lembrando-a sobre a viagem. A garota tentou parecer o mais animada o possível, mesmo sabendo que viajar significava o fim de seu relacionamento com Leandro. Ao pensar no garoto, o choro tornou-se mais agudo e sofrido. A mãe a acolheu de imediato.
- Resolva isso, filha.
- Eu vou resolver.
A solução veio no dia seguinte quando Angélica pisou na escola tomada por uma pose totalmente diferente. Ela não foi atrás de Leandro, pois sabia que não seria necessário. Ao avista-lo no pátio da escola, passou por ele como se não o tivesse visto e foi até João.
Angélica sorriu para o ex-namorado antes de beija-lo como nunca havia beijado antes. E mesmo de costas para Leandro, sabia que a sua reação era de surpresa, assim como a de todos os outros. A única forma de terminar o que tinha o que mal começara com o garoto era quebrando seu coração justamente com a outra parte do triângulo amoroso.
- Nossa... – Ela ouviu o ex dizer, totalmente apaixonado. – Que saudade desse beijo.
Angélica sorriu de canto e foi para a sala de aula. Pouco tempo depois Leandro apareceu, totalmente furioso. Ela ia se sentar, mas o garoto a segurou pelo cotovelo.
- O que foi aquilo?
- Aquilo foi uma bela exibição de um casal apaixonado.Exatamente o que você viu.
- EU QUERO SABER O PORQUE DAQUILO, SUA IMBECIL!
- Olha, baixa o tom da sua voz, ok?. – Angélica sabia que só agindo de forma cínica conseguiria terminar com Leandro. – Eu amo o João.
- Não, você não ama o João! – Ele a soltou, agressivo. – Você é apaixonada por mim! Não se comporte como uma babaca.
- Sou uma babaca. – Angélica olhou para todos os cantos da sala,
menos para Leandro.
- Angélica... – João fechou o punho, sua mão tremia. – Porque isso? – A pergunta tinha um toque de tristeza que a tocou de imediato. – Você tá estranha. Até sua forma de falar está diferente.
- Eu não quero mais nada com você. E nem com o João pra ser sincera. – E deu de ombros, impassível. – Volte com a Vivian.
- VOCÊ NÃO PODE ME TRATAR ASSIM! EU NÃO SOU UM OBJETO PRA VOCÊ SE DESFAZER COMO SE EU NÃO VALESSE NADA!
Ela tentou não desmoronar diante dos gritos do garoto. Calmamente sentou em sua mesa, ignorando toda a ira a sua volta.
- É assim que as coisas são, Leandro. – Ele a olhou por um longo tempo. – Eu sinto muito.
- Se eu for embora eu juro por Deus que eu nunca mais vou querer saber de você. – Angélica entrou em um profundo silêncio, o ignorando. – EU TO FALANDO CONTIGO, GAROTA! – Leandro a levantou da cadeira com brutalidade. Ela se negou a olha-lo, pois sabia que acabaria chorando. Ele tentou beija-la, mas foi empurrado. Persistente, não desistiu até selar seus lábios aos dela. Angélica resistiu, firmemente. – Certo. É o que você quer, não é? - Ela assentiu. – Cara! – Exclamou, batendo a mão na mesa. – Como eu pude confiar em você??
Angélica não respondeu. Leandro respirou fundo, segurando a vontade de chorar. Ele a olhou mais uma vez e se perguntou por qual motivo se apaixonara por uma garota tão burra como ela. “Sim, burra”. – Pensou, saindo da sala esbravejando todo tipo de palavrão. “Burra, burra e burra.” No caminho encontrou João que ia na direção oposta, ou seja, ia até Angélica.
- Eu espero que vocês sejam muito, muito infelizes. – Ele murmurou, sombrio. João franziu o cenho, sem entender as palavras dele.
Leandro continuou andando sem saber pra onde ia. Precisava urgentemente conversar com Maya.
(...)
Quando João entrou pra sala, Angélica olhava fixamente pra lousa. Ele se sentou na frente dela e a fitou, sério. Ela engoliu o nó na garganta.
- O que está acontecendo? – O garoto perguntou, preocupado. Angélica sabia que ele desconfiava de algo, mas preferiu não sonda-lo. – Enquanto eu vinha pra cá o Leandro desejou que fossemos infelizes.
Ela não soube o que responder. João continuou a olha-a esperando uma explicação. Ela baixou a cabeça e as lágrimas finalmente vieram. Os dois se abraçaram.
- Me fala o que está acontecendo, Angélica... Por favor.
- Eu não quero magoar você, João. Não mais do que eu já magoei.
- Eu sei que não é de mim que você gosta, é dele. – Os dois se olharam. João limpou as lágrimas que deslizavam sob a bochecha dela. – Só que eu sou seu amigo, eu quero saber o que está acontecendo.
- Eu vou embora do Brasil. – Ele ficou estático. – Você lembra daquele meu tio que preparou minha carreira lá fora?
- Sim, eu me lembro.
- Ele me ligou, cobrando a minha ida... Eu terei que ir.
- E você está assim por causa do Leandro. – A frase estava carregada de uma tristeza que só Angélica poderia ver em João. Ela o abraçou com mais força, sabia que mesmo namorando Leandro, ainda mantinha um sentimento de posse com o ex. Era um amor completamente diferente.
- Eu amo você, João. Eu te amo muito...
- Mas não é como você ama o Leandro. – Ela sustentou o olhar ferido dele. – Eu preferia que você tivesse sido honesta comigo.
- Eu sei, você merecia isso.
- E porque você não fala a verdade pra ele?
- Eu não consigo me despedir do Leandro.
- Você tem que tentar. Talvez a verdade tivesse sido menos dolorosa do que ele ver a gente se beijando.
- Eu não consigo.
João soltou Angélica, mas não deixou de olha-la enquanto se perguntava mentalmente o que havia acontecido com ele pra estar dando conselhos pra garota por qual era apaixonado ficar com outra pessoa.
Ele respirou fundo. A vontade de ir embora misturada com o desejo de proteger Angélica, mesmo sabendo que nessa história toda o único que precisava de proteção era ele mesmo.
- Não vai embora. – Ela pediu num tom que derrubou todas as defesas de João. O coração dele disparou. – Por favor, João. Não me deixa.
João nem viu quando Angélica o abraçou, desesperada. Um lado dele pedia para correr dela, mas o outro implorava para tê-la em seus braços.
“Nem que seja pela última vez.” – Ele sussurrou no ouvido dela antes de capturar seus lábios com paixão. E ela correspondeu porque também precisava dele, do seu amor.
- Eu te amo, eu te amo muito. – Eles disseram juntos. A declaração foi a mais pura que um fez ao outro. E foi naquele momento que João soube que precisava transformar seu amor por Angélica em algo que ele pudesse carregar sem machucar a si próprio.
- Eu não vou te deixar. – Declarou, segurando o rosto dela com suavidade. O olhar dela não poderia ser mais agradecido.
- Eu não quero me despedir dele... Eu não sei se conseguiria. Só vamos finja que estamos juntos... Por favor.
- Tudo bem. – E João aninhou Angélica em seus braços novamente. A pergunta que corroía sua mente era só uma “como eu posso me sujeitar a isso?”. E ele já sabia a resposta...
(...)
- NÃO FALA MAIS DELA! – Leandro gritou, apontando o dedo contra Maya, que respirou fundo, contendo a vontade de chorar, pois a dor do amigo também era a dor dela. – NUNCA MAIS! AQUELA MENTIROSA, FALSA! O QUE ELA QUERIA? ME FAZER DE IDIOTA? ELA CONSEGUIU! EU SOU O IDIOTA QUE ESTÁ COMPLETAMENTE APAIXONADO POR ELA.
- Calma, Lê! – Maya tentou abraça-lo, mas ele se afastou, descontrolado. – Alguma coisa aconteceu pra ela ficar assim.
- O QUE ACONTECEU É QUE ELA ESTÁ NESSE MOMENTO PASSEANDO DE MÃOS DADAS COM AQUELE BABACA DO JOÃO! ELES SE MERECEM! – Leandro sentiu todo o corpo tremer e possuído por uma raiva que eles jamais sentiu na vida. Ele gritou alto e olhando aos céus, pediu que tirasse o sentimento que nutria por Angélica.
- Eu vou falar com ela. – Maya pulou da mesa do refeitório onde estava sentada com Leandro. Ele a segurou pelo cotovelo. – O que?
- Não, você não vai. Eu não quero mais você falando com ela. A partir de hoje a Angélica morreu pra nós dois.
A japonesa engoliu seco.
- Tudo bem. – Disse ela, assentindo. Sabia que seria difícil prometer isso a Leandro, mas não queria irrita-lo ainda mais.
“Eu preciso saber o que aconteceu dessa vez.”
E na ponta dos pés, ela aninhou Leandro, que segurava o choro, pois não conseguiria demonstrar fraqueza. Abalada pelo sofrimento dele, os dois acabaram chorando juntos.