[Original] Refém De Você - Capítulo 14 - Parte 1
Capítulo 14 - Parte 1
- Você não sabe mais se quer ir pra fora do país?
- Sim mãe. Estou um pouco indecisa.
Angélica procurou na expressão da mãe algum indicio de crítica. Para sua felicidade, não encontrou.
- Seu tio vai ficar um tanto chateado... Você sabe.
- Vou tentar conversar com ele.
- Apenas por curiosidade, o que te motivou a mudar de idéia?
- A vida.
A mãe arqueou a sobrancelha, duvidosa.
- O João?
- Não. – A garota baixou a cabeça, já preparando uma resposta para a mãe. – Eu terminei com o João e me apaixonei por outro garoto.
- Quem?
- O Leandro.
- Aquele que você discutiu uma centena de vezes na escola? – Angélica assentiu, constrangida. – Como isso aconteceu?
- Ele me chantageou com uma coisa e me obrigou a namora-lo. E então as coisas aconteceram...
- E a sexualidade dele?
- Vamos dizer que a sexualidade dele foi uma “fase”. A nossa relação é complicada.
- Complicada porque você se apaixonou e ele não?
Atônita, Angélica fitou a mãe por um longo tempo e desejou que ela não fizesse tantas perguntas.
- Não, mãe. Leandro não consegue esquecer o nosso passado. Eu aprontei muito com ele.
- Você acha que dá pra mudar isso? – A objetividade da pergunta mais uma vez a calou. – Bom, eu já tive a sua idade. E conheci seu pai na adolescência. Eu não me dava bem com ele, mas teve uma hora que a diferença nos uniu.
- Mas eu tenho certeza de que você não fez com papai as coisas que eu fiz com Leandro. Eu realmente precisei ser forçada a namora-lo pra ver como ele era diferente. Eu to muito confusa.
- Sim, compreendo. – A mulher sorriu, afetuosa. – Agora responda a minha pergunta. Você acha que dá pra mudar as coisas entre vocês? Porque bom, você tem 17 anos e toda uma vida pra se apaixonar, se arrepender, sofrer, ser feliz. Me responda, filha: você quer abandonar toda uma carreira por causa de um sentimento que você nem sabe se dará certo? Pense nisso.
(...)
- Eu espero que essa sua urgência em me ver seja uma boa notícia, Leandro. – Maya entrou no quarto do garoto e sentou-se na cama do mesmo. Ele sorria, abobado enquanto se arrumava para sair. – Que sorriso paspalho.
- Aconteceu uma coisa boa.
- O que?
- Eu e Angélica.
- VOCÊS ESTÃO NAMORANDO??????
- Não. – Ele fez cara de nojo. – Você já foi menos sentimental, Maya.
- Cala a boca. Me conte logo!
- Eu fui pra cama com ela.
A boca de Maya se escancarou em surpresa.
- Você tá me zoando.
- Não. – Leandro terminou de vestir a camiseta. A intimidade de longa data com Maya o permitia se trocar na frente da garota. – Foi bom demais.
- E como aconteceu? Você disse que não se veriam mais e não sei o que, e blá, blá, blá. – Ele riu do tom esganiçado da amiga. – Não ri, sério! Eu dou uma sumidinha e meu casal preferido já reata?
- Não reatamos... E acho que nem vamos. Sei lá, rolou. Não é assim que essas coisas acontecem?
Maya assentiu, sorrindo carinhosa para o amigo. Ela se levantou, foi até Leandro e segurou as bochechas dele.
- Meu menino tá crescido, nho nho nho!!
- Cala a boca.
- Mas tipo, você foi na casa dela? Ou ela veio aqui?
- Ela veio aqui pra ver como eu estava... Já que alguém foi abrir a boca pra ela, não é? - Maya assoviou, fingindo não ter entendido a indireta. – Mas devo agradecer a essa certa pessoa de olhos puxados, pois eu já tinha dado como finalizada a minha história com Angélica.
- Não vai acabar tão cedo. E tenho boas notícias... – Ela fingiu olhar as unhas. – Adivinha quem está pegando a Giovana?
- MENTIRA!!
- É sério, meu rapaz. Ontem encontrei ela no centro bebendo com umas amigas e tal... Cheguei simpatiquíssima. No começo a conversa se resumiu em eu fazendo a sociável pra desarma-la, entramos na madrugada e já estávamos nos banheiro nos pegando.
- Você é meu orgulho, já disse?
- Ah! Nem precisa dizer, isso é óbvio né.
- Tirou fotos?
- Muitas. Mas não sei, tenho a impressão de que ela vai se apaixonar por mim. O que torna a vingança muito mais deliciosa.
- Isso é se você também não se apaixonar.
Maya fez o sinal da cruz três vezes. Leandro gargalhou alto. Ele sabia que desde a 5ª série a amiga tinha uma paixão secreta pela filha da diretora. O que comprova cada vez mais sua adoração por relacionamentos complicados.
- Eu continuo fiel à Rebeca.
- Ela nem te nota. – Murmurou, honesto. Maya suspirou, triste. – Você lembra daquela vez na excursão da escola que você deu em cima dela?
- Ah, nem me lembre disso. – Ela respondeu, meneando a cabeça. A ocasião lhe trazia péssimas lembranças.
- Tenho que te lembrar... Ela é difícil pô. E você já ficou com metade da escola, INCLUSIVE algumas amigas dela.
- Foram só duas. – Defendeu-se Maya. - E elas me provocaram em verdade x desafio, não sou de ferro.
- Sei que não. Mas pensa comigo... Que credibilidade Rebeca pode te dar se você continuar ficando com metade das garotas da escola?
- É um amor impossível, Leleu. A diretora me expulsaria se soubesse que gosto da Rebeca.
- Seu destino é você quem faz, Maya. Seu caminho é você quem trilha. Depende de você isso ser impossível ou não.
- Obrigada. Vou ver o que posso fazer.
(...)
E naquele dia Maya saiu da casa do amigo disposta a tentar mudar o pensamento de Rebeca em relação a ela. Como sabia onde ela trabalhava, pegou um ônibus e foi até o local próximo ao horário de almoço, pois já sabia que era a hora em que ela estaria sozinha. A recepção de Rebeca não poderia ser pior ao vê-la entrando na perfumaria. E Maya, como sempre, murchou ao ver a expressão da outra.
- O que você faz aqui? – Perguntou, ríspida.
- Eu vim te convidar pra sair comigo.
- Nem perca o seu tempo. – Ela mostrou a mão direita, exibindo o anel de compromisso. – To muito bem obrigada.
Maya lembrou-se de um dos principais motivos de não insistir com Rebeca.
- Não me importo. – Disse, fingindo não ver a brilhante aliança de namoro. – É só uma aliança idiota.
- Idiota é você! – Rebeca gritou, agressiva. – Eu não sei porque você não me esquece, cara! Sério. Eu vou ligar pra polícia se você continuar me seguindo.
- Eu não te segui. – Defendeu-se Maya, arrumando os cabelos em um coque frouxo. – Todo mundo sabe que você trabalha nessa perfumaria. Eu só quero que você me dê uma chance, Rebeca! – Ela não se importou em parecer desesperada. – Eu sou apaixonada por você desde a 5ª série, será que isso não vale nada pra você?
- Não, não vale nada pra mim. Eu gosto de homem.
- Eu faço você mudar de idéia.
- Que nem você fez com a Natália e a Deise? – O contra-argumento a desarmou. – Até hoje sou obrigada a ouvir as duas falando “nossa, eu não consigo esquecer da pegada da Maya” ou “aquela japonesa deve ser uma loucura na cama”.
- Fiquei só por ficar. – Ela deu de ombros. – Eu achei que te atingiria fazendo aquilo. E acho que consegui. – E deu um meio sorriso para a outra, que revirou os olhos.
- Não seja ridícula.
- Eu sou o que você quiser, Rebeca. Ridícula, uma lésbica nojenta, uma maria-macho, canalha. TU-DO! Desde que eu te conheci você sempre fez eu me sentir uma idiota e é a única que tem esse poder, mas eu não me importo. Acho que o amor faz isso com as pessoas.
Rebeca a olhou por um longo tempo, mas não conseguiu pensar em nada para responder. Ela sabia que sentia algo por Maya também, mas não podia se deixar mover por esse sentimento. A mãe jamais perdoaria se ela se envolvesse com alguém como ela.
- Desiste de mim. É melhor pra você.
- Já se foram 7 anos e eu nunca desisti. Não vai ser agora que farei isso.
- Eu to te pedindo.
- Você tem medo, Rebeca.
- Não tenho medo coisa nenhuma!
- Então me dá uma chance! Se você não gostar, eu prometo que nunca mais te procuro.
Rebeca respirou fundo. O coração disparou fundo, sendo coberto por uma onda de adrenalina por fazer algo que considerava errado.
- Vamos assistir um filme na minha casa hoje. Tudo bem pra você?
- Se isso for te fazer desistir de mim, está ótimo. – Respondeu Rebeca, ranzinza. – Agora pode ir.
- Não antes sem você me dar um beijo. – Maya a abraçou pela cintura e foi empurrada de imediato.
- SAI DAQUI! – Novamente ela parou nos braços da japonesa, que tentava beija-la a força. – AI EU VOU GRITAR!
- Nervosinha.
- Você é muito chata! – Maya ameaçou descer as mãos para a bunda de Rebeca, que a beliscou. – MEU DEUS, VOCÊ PARECE UM HOMEM TARADO.
- Sou uma mulher e apaixonada por você.
Rebeca sentiu o coração disparar com a sinceridade das palavras. Ela queria provar e ver a veridicidade do que suas amigas diziam a respeito de Maya, mas o medo a impedia.
- O que foi? – Maya perguntou ao notar o silêncio repentino na outra.
- Nada.
- Você ficou quieta de repente. – Ela disse, querendo arrancar a verdade de Rebeca - Você nunca fica quieta comigo.
- Melhor você ir. Eu vou na sua casa à noite, pode me esperar.
(...)
Angélica estava sentada no banco praça próxima a sua casa quando viu Maya passando de bicicleta. Ela assoviou alto, chamando-a. Ao vê-la, deu meia-volta.
- Hey! – Maya deixou a bicicleta jogada no chão e se sentou ao lado dela. – Tudo bem?
- Tudo bem e você? Parece eufórica.
- E estou!! Meu Deus, eu estou há 7 anos querendo sair com a Rebeca! Hoje depois de uma conversa com Leandro, finalmente tomei coragem.
- E ai?
- Ah... Ela é brava né. Mas aceitou dizendo que vai me fazer desistir dela. – Maya deu de ombros, não se importando com a negatividade de Rebeca. – Hoje eu finalmente saio da solteirice.
- Falando nisso... Eu sem querer ouvir uma história no banheiro feminino. Me confirme isso, por favor. – Maya atentou a conversa de Angélica. – Você ficou com a Giovana?
- É... fiquei. Por que?
- Ela gostou e tá toda alegre com isso. – A expressão da loira tornou-se preocupada. – Cuidado com ela. Sei que isso é um plano seu e do Leandro... Se ela descobre isso fará um inferno da sua vida.
- Vou me cuidar, valeu. – Angélica tentou sorrir, mas sua tristeza foi facilmente notada por Maya. – Tá acontecendo alguma coisa? Leandro já fez merda?
- Não... Ao contrário. – Respondeu, olhando pro celular. Minutos antes de Maya aparecer, ela e Leandro conversavam por sms. – Estávamos conversando por SMS. Ele quer que eu vá passar a primeira semana de férias com ele em Minas.
- Isso não é bom?
- É ótimo, mas eu vou embora do Brasil depois do natal. - A resposta pegou Maya de surpresa. – Eu não sei se o Leandro já comentou com você, mas meu tio meio que já preparou a minha carreira... Fora daqui.
- Mas... E vocês dois?
Os olhos de Angélica brilharam com a pergunta. Ela também se perguntou isso depois da conversa com a mãe pela manhã “e nós dois?”
- Não terá mais nós dois. – Maya não acreditava que era Angélica que dizia aquilo. – Eu preciso falar isso com ele...
- Você vai magoa-lo. – Angélica tentou limpar as lágrimas que já caiam em torrente por seu rosto.
- Eu também estou magoada. Só que foi uma decisão tomada antes de namorarmos. E meu tio conta com isso...
- Eu posso entender, mas o Leandro... – Maya abraçou Angélica de lado. – Calma, não fica assim, pô. Converse com ele.
- Vou conversar.
- É uma pena. Eu torço tanto por vocês.
- Eu também, Maya. Eu também.
Maya passou o restante da tarde conversando com Angélica.
(...)
Continua...