O POETA E O MONSTRO 1º CAPÍTULO
1º Capitulo
1.A Harpa
O sol ao oeste mostrava seus últimos raios, acima da imensidão de arvores e do céu limpo, sem nuvens, que deixava transparecer a ultima luz, daquela que fora uma tarde tranquila. Parecia que tanto o sol quanto o céu decidiram homenagear a beleza daquele imenso bosque. Uma perfeita paisagem primaveril. Ao leste distante uma longa cadeia de montanhas escondia a lua em seu despertar. As arvores, em todas as direções reinavam e suas folhas apresentavam um verde intenso. As flores estavam no apogeu do seu vigor, diversamente coloridas.
Em meio a este cenário corria uma estrada de terra, e nela um pequeno grupo de viajantes em cavalos, uma carruagem, e carroças, que sem pressa seguia calmamente ao seu destino. Tão sereno era o comboio, que nem mesmo os pássaros davam atenção, e ao invés de voar para lugares mais distantes, permaneciam ao redor com seus cantos melodiosos, se despedindo da tarde. Mas não eram apenas os pássaros responsáveis pela melodia. Dentro de um vento suave, ecoava também uma melodia ainda mais bela que a dos pássaros, o som de uma harpa, e eram dedos habilidosos que á tocavam. A de um jovem presente. E aqueles que ouviam a bela melodia, permaneciam em silêncio, absortos em seus pensamentos. Acometidos por alguma lembrança afortunada.
E ali sentado na carruagem ele permanecia compenetrado em sua musica, quase imóvel, apoiado no instrumento, de cabeça baixa, seus cabelos escuros caiam em frente ao rosto, seus olhos permaneciam fechados enquanto tocava, parecia estar preso ao sono, num distante sonho, mas suas mãos mostravam o contrário, cada acorde era perfeitamente executado. E assim, já permanecia á algum tempo, e nenhuma voz se escutava, apenas ao som da harpa, e da natureza.
Mas foi o próprio harpista que de súbito, irrompeu a esse silêncio, quando acompanhado de seus acordes, começou a cantar uma poesia, que a muito tempo havia deixado de lado, mas que agora por algum motivo, voltava em seu pensamento.
2.O Poeta
Quando o vento suave da primavera principia
Chamativo, o gorjear dos pássaros anuncia
E não há um bom ouvido que se desvie
E ao sul seguir, onde as flores, os olhos apreciem
Ao oeste onde a mãe no outono o filho esquece
Onde o que era jovem por destino envelhece
As flores, e folhas aceitam seguir o seu destino
De transformar em ouro, ao viajante o seu caminho
Quando o calor, do sol do verão, mostra sua força
Nas aguas ao norte o trabalhador exaurido remedia sua lida
Onde os moinhos com aguas em peleja ganham vida
E a esposa do pescador, na costa sua oração reforça
Os gigantes de pedra, ao leste se mostram imponentes.
Onde por eles alimentam o grande rio suas nascentes
No inverno a neve veste de branco em uma união complacente...
Neste momento a voz do harpista falhou, e seus dedos ficaram rígidos, os pensamentos perderam as palavras de sua poesia. Seus olhos se abriram, sombrios ponderando a paisagem ao seu redor. A mata se tornava menos espessa e pouco a pouco começavam a favorecer a visão adiante.
Pouco a pouco os membros da comitiva que se distraíam com a melodia, foram retornando a consciência para a viagem. Um dos Mercenários da escolta da comitiva se aproximou de seu amigo de mesmo ofício, que percebendo que as palavras do trovador haviam terminado dirigiu a palavra ao outro mercenário.- Quem é esse que nos canta nosso destino? Pois se bem conheço essas terras e sua cidade, tenho certeza que ele nos fala de Garínea.
O outro logo respondeu - Sim, por muitos lugares viajei em meu ofício, e em minha lembrança nenhum outro se assemelha a descrição desse rapaz, realmente uma bela maneira de nos anunciar a cidade. Agora quem esse rapaz possa ser, eu não faço Idea, talvez algum músico pago para entreter nossa viagem, ou quem sabe algum parente de nosso cliente. De qualquer modo muito tarde ele nos deu a graça de sua musica. Por um momento eu havia esquecido meu cansaço. - Por fim o amigo concordou, e satisfeitos com suas próprias conclusões continuaram por cavalgar.
Poucos sabiam o nome do harpista. Seu nome era Florentti, e embora seu rosto demonstrasse ser a de um jovem rapaz, guardava conhecimento de muitos lugares e histórias. Por quase três anos fora um viajante sem morada, habitante de muitas cidades, era hábil com as palavras, mas o acaso o havia deixado coerente e ponderado. Portanto pouco falava e pouco se mostrava. Mas quando queria, fazia notar-se. Assim o descreviam alguns poucos conhecidos, e muito especulavam, na verdade. Em suas viagens conheceu pessoas importantes, cada qual em suas competências. Conheceu nobres influentes, ricos mercadores, sábios sensatos, historiadores eruditos, e artistas, muitos deles, dos que criavam, aos que representavam, mestres e aprendizes. Com esses mestres desenvolveu seu ofício na música. Cantou suas poesias e encantou muitas pessoas, do mesmo modo em que se encantava com as palavras de outros poetas. Fez amizades sinceras, e outras cultivou por necessidade. Pelas as cidades que visitou, conheceu tabernas animadas, castelos imponentes, hospedarias acolhedoras e diversas culturas. Muito assimilou e também compartilhou. Mas não compartilhou tudo. Em seu intimo guardava um segredo, que consumia de Florentti muito de seus dias alegres. E que assombravam sua consciência, um segredo que o levou a ir embora de sua cidade natal. E que agora o mesmo motivo, o chamava de volta para casa, a cidade de Garínea.
Em silêncio Florentti guardava sua harpa no topo da carruagem após interromper seus versos. Um pouco a sua frente estava Sestano o condutor, e o único na comitiva que conhecia Florentti.
Sestano vendo a harpa sendo guardada virou-se para Florentti e disse – Vejo que o jovem senhor decidiu interromper a canção antes de terminar. Creio que nossa viagem se tornará mais longa sem que nos conceda sua bela distração.
-Sestano! Sempre generoso com suas palavras – sorriu em resposta Florentti – Como posso encurtar distâncias, com tão singela melodia? Mas rápida é qualquer viagem, quando é você quem conduz os viajantes. Mas perceba, não é cedo para começarmos a preparar nossas coisas. Estamos próximos de Garínea, vê como as arvores começam a dar lugar as plantações?
-Sim, chegamos as fazendas, quando a lua aparecer estaremos chegando. mas ainda não estamos tão próximos que se deva interromper uma bela canção. Ainda mas quando há curiosos em saber sobre as montanhas. – Respondeu Sestano.
Florentti voltou seu olhar para a cadeia de montanhas, os últimos raios de sol ainda iluminavam o cume das mais altas. E logo elas tornariam o horizonte ao leste em enormes figuras negras, pois atrás delas ainda tímida a lua se escondia.
Florentti não demorou com seu olhar para as montanhas. E Voltando-se novamente para Sestano falou – Te devo reais desculpas Sestano, Não é certo deixar uma história sem final, mas acontece que quando escrevi sobre as montanhas, era um mero espectador, ainda não as conhecia. De longe são belas e imponentes principalmente quando se cobrem com a neve do inverno, e olhando assim, eu as descrevi. Mas às vezes é preciso estar lá para saber como realmente são, e por infortúnio decidi visitar as montanhas um dia, e percebi o quanto era errônea minha antiga concepção que eu tinha delas. Portanto lhe digo apenas o que de longe se faz notar, é verdade em suas dimensões, e sobre as nascentes que descem para o rio. Agora em todo o resto, eu me equivoquei! – Sestano, ameaçou uma nova pergunta, mas no momento percebeu que a feição de Florentti subitamente, ficou sombria. – Se achar insuficiente minha descrição, me arrisco a falar um pouco mais. Naquelas montanhas traiçoeiras há três anos, perdi a pessoa em minha vida de maior estima, Meu próprio pai, senhor de meus princípios. Isto é o máximo que me atrevo a dizer sobre as montanhas. Não vamos terminar essa viagem com lembranças tristes.
-Que assim seja Florentti, lamento pelo seu pai. E desculpe, a minha curiosidade. Que seu coração se prive da dor de suas lembranças.
Florentti, já havia guardado sua harpa e agora falava sentado ao lado de Sestano - Meu pai foi um homem valoroso e sábio! E agora me vem à cabeça uma frase que muitas vezes escutei dele, “Um homem deve ser como as aguas de um rio que evolui e segue seu rumo, sem nunca retornar a nascente.” Quando lamento sua morte, não deixo de pensar nessa frase como um presságio, mesmo quando na verdade ele queria dizer para não lamentarmos o passado. Quero um dia conseguir perceber nessa frase, o que ele queria expressar. O tempo pode ser um alento, mas ainda é muito breve, para que se feche ferida.
Sob as suaves sacudidas do andar da carruagem a dupla permaneceu durante algum tempo em um incomodo silêncio, Sestano procurando alguma palavra de consolo ao amigo, enquanto Florentti pensava no porque de ter tocado em um assunto, que não estava em conformidade com a figura sempre alegre do condutor. Talvez um pequeno desabafo pelo turbilhão de memorias que voltavam a sua mente por estar finalmente retornando a sua cidade.
Foi Sestano que por fim quebrou o silêncio – Gostaria de ser bom com as palavras para te trazer esse alento, mas não sou mais do que um condutor, e vivo contra o tempo meu rapaz, e mesmo desejando que às vezes ele passe depressa para chegar ao meu destino, também lhe digo que outras vezes desejo que ele volte, ou até mesmo que pare, quando, mas velho, mais ele te corrói, portanto não deixe que sua juventude crie inimizade com ele. Mesmo respeitando sua dor, te aconselho a ser duro, como as rochas que persistem ao tempo.
Florentti olhou com respeito para o senhor que falava ao seu lado mas nada falou. E deu um leve afago nas costas de Sestano.
-Existem muitas coisas que melhoram com o tempo e muitas outras que se estragam. – Enquanto falava Sestano tirava da sua sacola uma garrafa com discrição – sei que você será como o vinho, Florentti, e se tornará um homem melhor no futuro do que é agora. Não como esse vinho barato que eu trouxe para a viagem, e sim como aqueles que os nobres guardam em suas adegas. Você foi criado para os grandes momentos. Já mostrou isso muitas vezes e assim continuará. Mas se me permite deixe que esse velho lhe ofereça, senão o alento que precisa, um anestésico momentâneo.
Florentti mudou totalmente sua expressão que agora exibia um largo sorriso para sestano – Não há melhor vinho do que aquele que é servido entre amigos.
Então os dois encheram suas canecas, e com um brinde viraram o vinho goela abaixo.
3.A lua negra
(EM CRIAÇÂO) essa é a terceira e ultima parte do primeiro capítulo, o tempo está corrido. mas não vai tardar.