Memórias acorrentadas- Prólogo e Capitulo I

Prólogo

Na terra de Gaia, no ano 3000 A.C, uma guerra de proporções épicas devastava o grande continente de Vassália. 20 anos de batalhas. Um derramamento de sangue sem sentido e que, por sinal, não parecia ter fim. De um lado, o exército dos Francos, do outro lado, o exército dos Saxônicos. Nenhum dos lados parecia ganhar a guerra, as tropas já não queriam mais lutar, pois com certeza morreriam no campo de batalha, assim como muitos outros corpos que já apodreciam pela terra.

No ano 3020 A.C., no terceiro mês do ano, uma gigantesca horda de francos e saxões se preparavam para a morte certa. Enquanto isso, o comandante das forças de paz das nações européias tinha um plano para acabar de vez com aquela guerra. Medo, angústia, violência, caos e tristeza estavam a ponto de acabar, um novo mundo talvez surgisse daquele monte de escombros e cinzas do que um dia, foi um continente unido...

Dia 12. Um dia que seria lembrado para as futuras gerações. O dia em que as crianças daquela terra poderiam brincar juntas de novo. Aquela magoada terra poderia descansar, pela decisão de uma só pessoa. Alguns dizem que se viu um grande clarão naquele dia, outros dizem que o firmamento caiu e a terra não era mais a mesma.

O comandante, que se chamava Daniel Reeds, naquele dia foi até o campo ensanguentado, e viu as duas frentes prontas para se matarem.

-Filho, desculpe por não poder te ver nascer... - Disse Daniel em sua mente.

Como então, num ato súbito, ele concentra todas as suas forças para acabar com a guerra. Seu corpo começa a brilhar intensamente, a dor toma conta de seu rosto cheio de cicatrizes. Ele levita, abre os braços e exclama:

-trovão do julgamento!-Gritou ele.

Seriam suas ultimas palavras. Ele converteu os raios do céu para o seu corpo, e então desferiu uma massiva onda de energia contra a terra.

A terra está se dividindo!- Gritaram os soldados em visível desespero.

Vulcões saindo de controle, as águas fervem, ondas gigantes devastam a costa, terremotos em todos os lugares, o céu estava negro como o mais profundo abismo. Exércitos inteiros sendo tragados pela terra, raios atingindo todo o continente, ferindo a todos. Um evento cataclísmico parecia eminente. E no meio disso, Daniel sendo usado como um para-raios humano. Lágrimas escorriam de seus olhos azuis. Nunca mais haveria de ver sua esposa, sua casa nem sua amada cidade. O desespero tomou conta de todos, a guerra imediatamente parou e todos correram para salvar suas vidas. A guerra finalmente cessou. Aquela terra amaldiçoada finalmente poderia obter o seu descanso tão desejado.

Quando se vê, o gigantesco continente de Vassália se dividiu em 5 partes, separando Francos de Saxãos. Daniel finalmente cai no chão, com os olhos brancos e esgotados. Aquele pobre homem, que fez aquilo unicamente para que seu filho pudesse viver em uma terra pacífica, se juntou aos muitos que deixaram mulheres viúvas e órfãos . A terra finalmente poderia obter seu descanso.

•••

Quando a terra estiver tranquila, aqueles que não queriam o fim do morticínio voltarão e atacarão sorrateiramente a todos os que estiverem ao lado da paz. O herdeiro do pacificador terá que se decidir. Um só deslize e tudo o que ele conheceu se tornará pó.

Capítulo I: O Inicio de um ciclo

- Alex, acorde!- exclamou Beatrice.

Esta garota gritando era nada mais nada menos do que a amiga de infância de Alex. Eles haviam crescido juntos em uma cidade nos arredores do Reino Inglês. Era intemperante, se achava dona da verdade e, algumas vezes, fazia coisas que até o mais vil dos bandidos não faria com os amigos. Seus cabelos ruivos contrastavam com os olhos cor de mel - uma raridade naquelas bandas-, mas a bela aparência escondia uma personalidade forte e sarcasmo notável.

- Não grite, eu não sou surdo!- disse Alex.

Já Alex, que sempre vivia fora de órbita, era preguiçoso, rude e algumas vezes sem noção da realidade à sua volta. Ele não ligava muito para o que acontecia, desde que não afetasse sua própria vida. De cabelos castanhos, olhos negros como a noite - nada fora da normalidade -, andava sempre com uma faixa vermelha na cabeça, a qual não tirava nem para dormir. Nem o seu treino de espadas o animava a sair de cama e ir fazer algo útil da vida.

- Vamos para o treino logo, senão seremos punidos outra vez! Gritou Beatrice.

Todo dia, iam os dois para o campo de treinamento improvisado que tinham ao lado de casa. Seu instrutor sempre os punia por causa dos atrasos. O nome dele era Vincent, um ex-guerreiro de meia idade que carregava várias marcas de combate. As torturas eram diárias, e como se isso não bastasse, Alex era continuamente testado por seu professor em combates diretos, que sem motivo aparente sempre aconteciam. Ele tinha um interesse em particular no rapaz, não porque fosse um jovem de 18 anos sem nenhuma perspectiva de vida pela frente, mas sim porque por alguma razão certas pessoas o olhavam com respeito, mesmo sem dizer nada.

-Tudo bem, agora vamos testar o seu novo golpe, Alex!- Disse Vincent.

- Certo, mas eu não sei se vai dar certo... - Disse Alex desanimado.

Ele se preparou. Empunhou suas duas espadas, correu e saltou no ar velozmente e gritou:

- Tornado Espiral!

Seu corpo começa a girar numa velocidade altíssima, as lâminas parecem se fundir no meio do ar, semelhante a uma furadeira gigante. Tudo parecia ir certo, quando de repente, ele perde o controle do corpo, girando em direção ao chão, batendo miseravelmente a cara na terra.

- Merda... . Reclamou Alex.

-Ai, você não toma jeito rapaz... Eu disse para você treinar isso- Disse Vincent.

- Tudo bem, podem ir para casa. Descansem para amanhã - Disse Vincent.

Os dois voltavam todo dia para suas casas parecendo assombrações. Não havia ninguém naquele continente que fosse mais severo que Vincent. Ele fazia o maior tirano da história parecer um hamster. Beatrice estava indo bem, aprendeu uma nova técnica e levava a sério os treinos. Alex parecia mais um saco de pancadas, seu instrutor fazia questão de massacrá-lo todos os dias. A sua pose preguiçosa e mesquinha irritava o seu mestre, que sempre dizia que um dia ele acabaria mal.

No dia seguinte, ele foi à praça junto com Beatrice para comprar algumas coisas que sua mãe havia pedido. Enquanto andava, ela parou e admirou a grande estátua que estava no meio da praça.

- Daniel Reeds... o homem que salvou nossa terra da guerra e trouxe a paz para todos- Disse Beatrice.

- Esse homem é um idiota, se sacrificou para salvar pessoas que só queriam se ferir- Disse Alex.

- Não diga isso seu imbecil! É por causa dele que você pode viver tranquilamente sem guerra!-. Exclamou Beatrice.

- Me pergunto se realmente valeu a pena o que ele fez...- Resmungou Alex.

Depois de comprar tudo, voltaram para a casa de Alex. A mãe dele como sempre fazia ótimos pratos. Ela se chamava Sara. Era uma mulher como poucas, sempre estava sorrindo, porém sua alegria às vezes se confundia com sua pose irônica e levemente autoritária. Era de bela aparência, cabelos curtos e castanhos e olhos verdes claro. Por conta de seus dotes culinários, Beatrice vivia mais na casa deles do que na própria casa.

Após almoçarem, foram direto ao campo de treinamento para mais um dia de execução. Chegando lá, notaram que Vincent estava com uma expressão mais estranha que de costume. Ele parecia decidido a fazer algo sério, e então, se direcionou para Alex e disse:

- Eu quero que você lute comigo. Disse Vincent.

Aquela expressão séria no rosto dele e seu jeito de falar escondiam algo. Seus olhos estavam mais vermelhos que nunca. Ele queria algo, não era só uma típica luta de treino, e sim um teste esquisito. Ficaram só os dois no campo, enquanto Beatrice assistia de longe. Alex estava preocupado, mas mesmo assim aceitou o desafio de seu mestre.

- Vamos! Disse Vincent.

- Está bem... -Disse Alex.

De súbito, Vincent se moveu rapidamente e acertou Alex em cheio. Uma de suas espadas voou de suas mãos. No segundo ataque, ele simplesmente quebrou a outra espada restante nas mãos dele. Ele não queria só treinar, parecia que ele mataria o próprio aluno naquele instante! Sem exitar, ele cortou o rosto de Alex com um golpe lateral. E então desesperado ele disse:

- Você está maluco, Vincent?! O que há com você?!-Disse Alex

- Se você não me atacar com a intenção de me matar, nunca ganhará de mim!- Exclamou Vincent.

Alex tentava se esquivar dos ataques constantes de seu instrutor. Ele recebia cortes por todo o corpo, e a cada vez que desviava, Vincent parecia mais furioso- sabe-se lá o que o velho estaria pensando –. Seu rosto estava sangrando, assim como seu corpo. O pobre rapaz estava sendo executado sem ao menos saber o por quê, em um cenário de terror e medo. Quando então Alex receberia o golpe final da luta, algo ocorreu.

- arrrrrrrhhhhhhh!!!!!- Gritou Alex.

- Então, aconteceu?!- Sussurrou Vincent.

Seus olhos estavam cheios de ódio, parecia ter entrado num estado estranho de fúria. Em um instante correu para pegar sua espada, o jogo estava prestes a ficar a favor de Alex. A sua velocidade e força estavam fora do comum, e mesmo com o corpo todo ferido, ele partiu contra seu mestre de uma forma nunca vista. Ele começou a acertar seu instrutor, a ferí-lo sem parar. A cada golpe, mais sangue era derramado sem sentido, não era uma brincadeira e sim um jogo de vida e morte. Vincent de repente ficou com um sorriso de satisfação no rosto, parecia ter descoberto a resposta que queria. Estava simplesmente tentando sobreviver aos ataques de seu aluno, que eram imprevisíveis e fugiam da lógica de qualquer técnica. Ele então parou e começou uma conjuração, sua espada se tornou em chamas, era o ataque final.

- Tormenta Flamejante!

Dessa vez ele acertou o golpe. Parecia um tornado de fogo e fúria no céu, um cometa flamejante em direção ao solo, de brilho semelhante ao sol. Era um golpe que um estudante comum nunca conseguiria executar. Nada poderia parar aquela onda massiva de poder. Vincent olhava impotente, esperando o ataque. Ele tentou se defender, mas foi esmagado contra o chão, tendo várias costelas e os dois braços quebrados. Quando Alex ia desferir o golpe final, uma adaga o acertou, cortando a faixa que havia na cabeça dele, o acordando de seu transe. Era Beatrice o impedindo de cometer um homicídio.

- O que aconteceu?- Pergunta Alex espantado

- (o que foi isso?)- Pensou Beatrice

- Hahahaha!- Riu Vincent de modo estranho

De onde saiu aquele poder todo? Seria intenção de Vincent tentar matar Alex para libertar seu poder? Como sempre, Alex estava perdido no meio de tudo, no meio da arena poeirenta e com manchas de sangue. Beatrice se espantou com tal demonstração de poder vinda de seu preguiçoso amigo de infância. Nunca imaginara que aquele idiota teria habilidades de luta de nível tão alto a ponto de fazer aquilo. Vincent estava no hospital dormindo tranquilamente, afinal aquele velho combatente não morreria tão facilmente, já sofrera ferimentos que matariam até a um cavalo de guerra.

Beatrice finalmente foi para sua casa, precisava descansar e pensar no que aconteceu no velho pátio de treinamento. Alex estava em casa dormindo feito uma pedra, ele estava preocupado, mas não a ponto de perder o sono, não fazia o seu feitio, mesmo porque, apesar de tudo, seu mestre estava a salvo e descansando, então, porque ele não poderia também? Enquanto dormia, sua mãe olhava silenciosamente para sua face.

- Meu querido filho, se você soubesse... - Sussurrou Sara

A lua apontava o desfecho daquele dia fatídico, que logo seria esquecido, ou não. O velho feudo ao norte da Inglaterra, que por séculos estava esquecido pela história, haveria de ser sacudido, começando pelo dia que se findou. Até onde iria a paz? Só o decorrer de tudo poderia dizer.

Pedro TX
Enviado por Pedro TX em 19/07/2010
Reeditado em 03/10/2010
Código do texto: T2387692
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