Um amor na cápsula do tempo
O primeiro amor nunca se esquece, certo?
Errado, talvez se esqueça ocasionalmente ou propositalmente para que possamos lembrar mais tarde, quando menos se espera que alguma coisa diferente aconteça na vida. No meu caso eu até documentei, uma louca que se perdeu no tempo e agora vêm fantasminha como era para assombrar meus pensamentos. Para mim, o tempo foi a poeira que levou a menina por entre os montes da cidade e deixou só a essência do que fui um dia, mas quando os ventos mudam de direção, trazem consigo tudo o que foi esquecido, parecia morto e apagado, um coração que não batia com a rapidez dos treze anos e agora parece ter doze.
Foi assim que o mundo passou de redondo a quadrado, de azul a vermelho, que alguém com vinte e três anos, uma moto e um emprego de jornalista bem sucedida pode voltar a agir como uma garota insegura, sonhadora, de óculos finos e aparelho roxo, montada numa bike emprestada do irmão da amiga que ela nem conhecia.
O tal dono da bike se chamava Paco e sua irmã era Arabela, chilenos de nascença, mas brasileiros de coração, eu na falta de educação só me apresento agora como Ana, um nome para duas pessoas que no fim das contas são apenas uma. Eu sei, pode parecer complicado, mas na verdade quem não é?
Afinal, a complicação está nas mais simples coisas.
O ano era de 2000, tinha todo aquele papo de fim do mundo, big bang, século XXI, etc. O pessoal da minha classe resolveu fazer uma cápsula do tempo para ser aberta em dez anos e claro, muitos sonhos foram abordados, o mais novo milionário apareceu, futuros astros de rock, cinema, gênios e dominadores do mundo, mas o que eu queria?
Não fazia idéia do que colocar ou escrever lá dentro que fosse tão marcante a ponto de representar dez anos da minha vida, eu queria tudo, sonhava com tudo, podia ser escritora, gostava tanto de escrever, ou relançar uma moda com influência nos anos oitenta. Não ria, eu pensei nisso de verdade.
Mas a resposta apareceu naquele mesmo dia e eu não imaginava que seria essa pagação de mico com foto para comprovar, definitivamente quem era essa garota? E não estou me referindo ao filme da Madonna.
Fomos minha amiga e eu a festa na floresta com a grande fogueira no centro, dançando, se divertindo com a lua grande e redonda no céu, um clima de friozinho e mistério que poderiam dizer agora ser vampiresco e no melhor da noite eu esbarrei com um cara moreno, alto e sorridente que por coincidência era o dono da bicicleta que eu tinha que devolver e passamos uma noite muito divertida juntos, a ponto de surgir a tal foto de recordação e a lembrança para a cápsula do tempo da melhor noite da minha vida até então.
Ao olhar para aquela foto, essa garota ligou para a antiga amiga e com um razoável papo respirou fundo e perguntou:
- E quanto aquele seu irmão mais velho o Paco, é esse o nome dele?
O que ela respondeu não vou comentar, só posso dizer que enquanto escrevo isso é uma ótima tarde para encontros românticos no Chile e que escrever é um ótimo exercício para ansiedade enquanto se espera por alguém. Ops!