É tão fácil sonhar - 1 – MEU REFÚGIO - parte 4.
Era como uma energia que emanava de mim para a caneta, desta, para o papel, e deste, para cada acorde, transformando-os e unido-os a cada nova canção. A música era meu consolo, minha forma de curar feridas. Ela remendava meu coração partido, dizendo-me que ainda havia esperança.
E assim se passaram as semanas, os meses, a roda da vida, repleta de altos e baixos.
Nos dias em que me sentia num buraco negro, sentava no escritório e escrevia. Os sentimentos sombrios conseguiam aniquilar qualquer esperança. Via as pessoas comendo e bebendo, pareciam tão felizes... Mas não queria ser como elas: meus princípios eram diferentes. Não agüentava ver o show da vida e a forma como as pessoas eram (e são até hoje) manipuladas.
Quando me sentia mais positivo, saía com alguns colegas, calando em mim aquele desejo de carregar o mundo e suas infelicidades. Com eles, conseguia me esquecer de toda a minha vã paranóia. No entanto, quando sozinho, tudo estava lá, de novo a me atormentar. Pensava que, na verdade, só havia sido realmente feliz na minha infância.
Quando em companhia de meus colegas, olhava com desprezo para as meninas e os outros meninos de minha idade. Parecia-me que as garotas só se interessavam em rapazes que tinham carros, que usavam roupas de marca, que tinham dinheiro para gastar. Esses, em sua maioria, não tinham muito sobre o que falar, suas palavras resumiam-se em gírias pobres e modas copiadas que nem mesmos podiam compreender. No fundo, eu queria conhecer alguém que pudesse ver além das aparências. Tudo isso me inibia, essa constante incerteza, como se fosse uma venda em meus olhos, boca e ouvidos.
Disso tudo surgiu:
Não Sei
Como podemos estar acordados
Em um dia como este?
Nada passa na cabeça
Nem o tempo passa...
Dias como este quando queremos
Ver um rosto amigo
Ou só um “oi”, para amenizar a dor .
Venha, eu quero cantar
Não sei bem o que quero dizer,
Nada é tão simples
Para quem não sabe viver.
Não me diga o que fazer
Ainda temos que viver!
Feliz é todo aquele que não vive
Com medo de morrer?
Como vou acordar
Se o dia é para dormir?
Como vou passar o tempo?
Isso eu não sei.
Final do Primeiro Cap.