Na sua pele. Cap. 3

Capítulo 3. – Amigas.

POV Débora

Bridget e Camila, as duas meninas mais convencidas da escola que ficavam cheias de seguidoras toscas, foram conversar com a garota.

Achei que ela ia se juntar à elas, mas...Eu não entendi. Ela as ignorou e continuou vindo até a mim. Ela era tão bonita!

Seus passos eram lentos, mas ela já estava à uns 3 metros de mim, com um sorriso perfeito. Enquanto se aproximava, abaixou-se, para pegar uma coisa no chão. Agora nós estávamos cara a cara.

-Olá. – Cumprimentou ela com uma voz sutil. –Este livro é seu? – Perguntou, e logo me dei conta que tinha derrubado o livro de geografia no chão.

Não consegui responder. Apenas assenti com a cabeça, enquanto ela me dava o objeto.

-Como você se chama? –Enquanto ela perguntava, eu não tirava meus olhos dos azuis faiscantes dela. O sinal tocou, e por uma ação instintiva comecei a andar para dentro do prédio, a garota acompanhou.

-Débora Richelli. – Respondi depois de longos minutos, quando já estávamos percorrendo o corredor principal. – Você pode me chamar de Débs.

-Ah, oi, Débs. –Falou ela com o sorriso mais iluminado, parando para apertar minha mão. Não existia pessoa no mundo que estivesse mais confusa do que eu naquele momento. Prestei atenção nas unhas lilás dela. –Eu sou Annabelle Kouren, Belle. – Tinha que ter algo de “belle” no seu nome, tão linda como era.

-Porque está falando comigo? –Perguntei por fim, enquanto entrava na minha sala. ELA TAMBÉM ENTROU. Sinal de que também estava lá.

-Não gosta da minha companhia? – Arriscou ela.

-Não. Você é bem legal. – Afirmei, na verdade queria dizer que ela era fantástica. – Mas as pessoas não falam muito comigo. – Expliquei. – Ah não ser, claro, que seja para me zoar.

Ela prestou atenção. Sentei-me na primeira carteira como de costume, a Annabelle sentou do meu lado, numa carteira vaga, seus olhos estavam fixos em mim.

-Eu não estou zoando você. –Corrigiu ela, com postura. – Sempre tem uma primeira vez para tudo na vida. – Disse, moralista. – Você não tem amigas?

-É evidente. – Comentei mal-educada.

-Posso? – Perguntou. Eu não sabia o que ela queria dizer. Ela estava tentando ser minha AMIGA????

Suspirei positivamente.

-Que legal. – Disse ela, com um sorriso. – Fale-me sobre os alunos, Débs.

-Todos são metidos, toscos, e convencidos. – Fiz um resumo, e ao contrário do que pensei Belle pareceu gostar da minha descrição.

-Que nem, essas meninas aí do fundo, Bridejéti e Camila? –Perguntou, fazendo uma pequena modificação no nome da Bridget, que me provocou uma imensa vontade rir absurda.

-Hahaha...É...Elas são as piores. – Pontuei.

-Logo quando cheguei elas vieram me encher o saco.

-Querem você por que você é a novidade, Annabelle. A coisa que mais importa para elas é popularidade. Acho que você já é popular. – Expliquei.

-Eu, popular? Imagina. Acabei de chegar nessa muvuca. É óbvio que eu não sou popular. – Corrigiu ela, aparentemente estupefata com a hipótese dela ser popular. Popular porque era linda, e não porque tinha acabado de chegar. Ainda não conseguia entender porque estava falando COMIGO!! A voz dela era o som mais contagiante e emocionante da sala.

-Se você não é popular, o que é esse montinho de gente olhando, e apontando para você? – Ela se fez de confusa, mas quando virou de costas para mim, a fim de observar a sala, percebeu que não havia um individuo que não a fitasse. Depois voltou para me olhar com seus diamantes.

-É...Acho que você tá certa. – Afirmou ela. –Mas mudando de assunto, quantos anos você tem?

-15.

-Eu também. – Ela se importou em dizer empolgada. Caramba, ela era tão legal!!! E eu dando uma de tosca. Não tinha porque eu ser meio chata com ela. Talvez ainda estivesse com inveja das olhadas do Dani para ela. Mas era só um olhar não é mesmo? Não significava nada. Talvez, ele só tivesse vendo a aluna caloura nova. Nada demais.

-A aula vai começar, Belle. – Falei com um sorriso, enquanto ela me retribuía aquele maravilhoso projeto de dentes perfeitos.

-Ok. Conversamos, depois.

A professora de Literatura, Mafalda Beltrão, entrou na sala.

-Bom dia gente. – Começou.

-Eai. – Falaram os alunos que ainda não conseguiam desviar as atenções de Annabelle.

-Eu soube que chegou uma aluna nova. – A professora tinha um papel na mão. – Annabelle Kouren.

-Sou eu. – pronunciou-se Belle, com alegria, levantando-se da carteira para falar com a professora.

-Muito bem querida. Eu sou sua professora de Literatura Mafalda. Quer se apresentar?

-Eu, sou Annabelle. Mas, por favor, só Belle. Me mudei há um mês para cá, e agora estou retomando os estudos. Tenho 15 anos, e adoro história. – Apresentou-se ela, simpática e perfeita, deixando todos cativados. Depois voltou a sentar-se do meu lado.

Annabelle era o tipo de garota perfeita. Em personalidade, em tudo.

Eu queria ser assim. Como ela.

POV Annabelle

PÉÉÉÉ > o sinal rugiu alto nos atormentando no meio da sala. Parecia o momento que todos queriam. Eu o queria para conhecer melhor, minha única amiga, Débora Richelli.

Apesar de ter falado com ela por curtos períodos, ela tem uma personalidade totalmente agradável. Me identifiquei muito com ela. É claro que ela tinha uma baixa auto –estima por causa do jeito que se arrumava, mas nisso eu daria um jeito depois.

-Posso ficar com você? – Perguntei para Débora, mordiscando o lábio.

Ela pareceu impressionada em considerar a questão.

-U-hum. – Foi só o que ela disse. Saímos da sala de aula, para o refeitório.

Débs fez questão de me mostrar praticamente o colégio todo em cinco minutos. Me apontou as Salas de todos os anos, a escada, que dava para o segundo andar, onde ficavam a biblioteca e a Sala de Informática, e o Pátio mais adiante, onde havia a cantina e algumas mesinhas. Ela estava sendo muito legal.

Nos sentamos em uma mesa perto da cantina, que encontramos por raridade, já que muitas estavam ocupadas. Ainda estava me sentindo bastante observada.

-Gosta da escola? – Ela perguntou depois de alguns minutos me encarando.

-É bonita. –Comentei, agradavelmente. E o era. A decoração era simplista, as paredes verde-limão, o piso branco-gelo, a faixada, as salas a recepção. Tudo tinha um ar de novo e limpo.

-Você...Suas unhas são demais! – Ela estava prestes a falar uma coisa mas se interrompeu para aquele comentário.

-Roxo fluorescente. Eu te empresto depois! Porque não vem na minha casa? A gente poderia se arrumar, e depois ir para o shopping e...

-CALMA AE! – Protestou Débora em voz alta. – Faz só algumas horas que a gente se conhece e você já tá me chamando para ir na sua casa?!!! – Ela estava chocada.

-Sim, é claro, quanto antes melhor!

-Você é a pessoa mais absurda que eu já conheci. – Comentou ela.

Mordisquei o lábio e balancei o cabelo, tímida.

-Vai precisar se acostumar a ter uma melhor amiga.

-Amiga?

-É claro, nós somos amigas né? – Perguntei duvidosa.

-...Hmmm...É TÃO ÍNCRIVEL. Se você diz, nós somos então! – Exclamou ela admirada.

-Ah, que emocionante! – Quando me dei conta nós já trocávamos uma abraço de bff. Ela ainda em choque. –Desculpe, eu sei que devo parecer uma louca para você. Mas... Eu simplesmente me empolgo demais com as coisas!

-Você não parece louca...Só um pouco, diferente e ... LEGAL...Demais da conta!

-Ah, obrigada.

-Sem essa, Belle. Você sabe que é perfeita. – Sorri para ela.

-Vai na minha casa para passarmos esmaltes fluorescentes?

Um segundo de siêncio.

-As unhas da Richelli não conhecem esmalte, querida. – Disse alguém, atrás de mim. Virei, e lá estava Bridget e mais um monte de meninas. Suspirei.

-Tudo tem sua primeira vez... - Pontuei, com frieza.

-Porque tá andando com ela, Annabelle? Isso é suicídio social. – Falou arrogante, dando um gole de coca light, com classe, insuportável.

-Problema meu. –Falei-me levantando de cara com a ruiva.

-Pode se juntar a nós, querida. – Mais um gole da coca.

-E ser um poço de arrogância? Não, obrigada. Vem, Débora. –Eu estava me preparando para ir quando ela me puxou pelo braço, e fez-se em miçangas a minha pulseira favorita. As pedrinhas se espatifando no chão.

-Sua idiota! – Exclamei, empurrando a coca-cola light dela para cima do uniforme. – Era a minha pulseira favorita! – Todas as garotas estavam chocadas demais para ouvir, e já saiam correndo atrás de Bridget que fora gritando para algum lugar. O banheiro, provavelmente.

Me abaixei para pegar as miçangas da pulseira que eu tinha ganhado, quando ainda morava em São Paulo, da melhor amiga que eu havia abandonado quando me mudei para cá. Com muita raiva.

Mas ao que eu ia me abaixar, todas as miçangas estavam colhidas e aconchegadas na mão de alguém.

Meus olhos faiscaram. Olhei para a pessoa. Era um garoto. Com olhos azuis e cabelo castanho bem arrumado, sorrindo para mim. Muito simpático.

-Você é totalmente demais! Acabou com a rainha e as galinhas seguidoras. – Disse ele, com humor negro.

Soltei uma gargalhada.

-É, parece que sim. – Concordei. – Ela acabou com a minha pulseira.

Falei enquanto ele me entregou as miçangas.

-Sinto muito por isso.

-Não é nada.

-Como se chama?

-Annabelle. Ou melhor, Belle e você?

-Gustavo.

-Prazer – Nos cumprimentamos.

-Posso fazer uma matéria com você? Para o jornal da escola? Você JÁ É a novidade.

-Hm...É claro que sim. Quando?

-Agora, se puder.

Balancei a cabeça, em positivo.

-Ótimo, então vamos. – Me apressei em dizer. – Débora?? – Chamei minha nova amiga, mas quando olhei não estava mais lá. Havia desaparecido. Muito estranho. Suspirei e prossegui com o garoto.

x-x

Lívia Rodrigues Black
Enviado por Lívia Rodrigues Black em 02/07/2010
Reeditado em 12/05/2020
Código do texto: T2354648
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