[Original] Refém de você - Capitulo 6 (Parte 2)
Capítulo 6 – 6º dia – Parte 2
Cumprindo o segundo dia de suspensão, Leandro esperou Maya na hora da saída do lado de fora da escola, pois precisavam conversar a respeito de Angélica. Sentado em um dos bancos do granizo verde, viu sua então namorada com João e a famosa turminha da pesada com que andavam. Ignorou a vontade de tira-la do meio deles, afinal, ela era parte daquelas pessoas e Leandro não tinha o direito de se meter na vida dela mais do que já se metia. Angélica ria de alguma piada do namorado, que a abraçava de forma possessiva. Lembrou-se da sensação que sentira ao toca-la com tanta intimidade e suspirou, triste. Não podia pensar nela dessa forma.
Ela o viu sentado com a cabeça baixa, parecendo desolado e automaticamente se calou. Não sabia o porquê, mas quando estava com João e Leandro aparecia, ela se sentia mal, como fizesse algo errado. Ela viu quando Maya foi até ele o abraçando afetuosamente e a invejou como nunca invejara ninguém na vida. Queria poder fazer o mesmo sem ter o peso da história que tinha com ele. Aos poucos os dois foram sumindo entre os milhares de alunos que começavam a sair da escola.
- Você tá de brincadeira, né? – Maya falou, franzindo o cenho para Leandro. – Leleu pra que diabos você vai leva-la à Diabo? – Perguntou, referindo-se a balada LGBT no centro de São Paulo.
- Angélica não acredita que eu seja gay. E... – Não conseguia declarar em voz alta que estava confuso.
- E nem você acredita mais que goste somente de homens. – Completou Maya, astuta. Leandro assentiu, envergonhado. – Olha... Isso não é errado.
- Pode até não ser, mas eu não quero a Angélica.
- Você a obriga namorar com você e não a quer?
- Eu acho que as coisas saíram do meu controle. Vai ser bom ela ver que eu ainda sou o mesmo de antes.
Maya começava a se irritar com a teimosia de Leandro. Era óbvio que ele estava se apaixonando por Angélica.
- Leandro, você tá tentando provar isso pra ela ou pra você? - A pergunta foi semelhante a levar um bofetada no rosto. – Veja bem... Ela não é a garota mais gente boa da escola, é claro, mas vocês tem uma coisa... que... – Tentou procurar uma palavra que definisse o casal. Não conseguiu. – Sei lá. Eu acho que você deveria não se sentir tão mal por isso.
- Não quero. – Insistiu, como uma criança malcriada. – Sexta à noite eu a levarei na Diabo Doce. Você vai comigo?
- É claro. Eu jamais perderia uma noite dessas.
Leandro não quis ver Angélica durante o dia, então decidiu ocupar suas horas vagas procurando um novo emprego já que fora demitido do shopping por não ter ido ao serviço. Os pais estavam em um “passeio turístico” com a tia por São Paulo, o que o deixou mais à para fazer suas pesquisas.
Ele estava vendo fotos da época em que frequentava a balada Diabo Doce semanalmente, por isso assustou-se quando uma mensagem de Angélica piscou no visor do celular.
“To liberada hoje?”
“O que você quer dizer com `liberada´?”
“Liberada de você, é óbvio.”
Leandro riu desejando que ela fosse marrenta assim ao vivo.
“Claro. Fique à vontade para viver a sua vida de vadia descerebrada por um dia.”
“Também vou sentir a sua falta, amor.”
“Idiota.”
A mensagem seguinte o deixou sem ação.
“O que você sentiu quando me tocou?”
“Porque isso?”
“Eu quero saber!”
Ele pensou em dizer mil coisas, como por exemplo que ela o deixava confuso, que quando Angélica o rejeitava, acabava fazendo com que a desejasse mais. E que era difícil ser orgulhoso quando a vontade que tinha era de aprender tudo o que tinha direito a respeito dela, mas respondeu com apenas uma palavra.
“Nada.”
“Não que você fosse admitir isso a mim, né? Rs”
“Angélica, vai viver a sua vida de verdade antes que eu te obrigue a vir aqui em casa pra se fingir de boa namorada.”
A última resposta dela o fez dar um sorriso forçado.
“Eu odeio você.”
Ele queria mesmo que ela o odiasse.
“Nada”. – Ela repetiu, mentalmente. – “Idiota mentiroso.”
Angélica estava se arrumando para sair com João e seus amigos, quando Giovana, entrou em seu quarto.
- E aí, como estou? – Perguntou, dando uma rodadinha para Angélica, que assoviou, divertida. Giovana era considera a “sombra” da loira, a “bonitinha”, o que fez nascer nela uma inveja descomunal de Angélica. – Ai, obrigada. Você ainda nem se arrumou, Angy?
- Me arrumo rapidinho. – Disse, desanimada. Leandro conseguira estragar sua alegria. Sentou-se em sua cama e Giovana fez o mesmo.
- O que foi?
- Nada. – Respondeu, dando um suspiro, melancólico. Já tinha perdido a vontade de sair.
- Você tá com uma carinha muito triste! Não pode ser nada. Aliás... – Ela acrescentou de forma ponderada. – Desde a briga do João com o Leandro você anda meio estranha.
Angélica olhou a amiga por um longo tempo, tentando dizer com os olhos o que a boca não tinha coragem de falar. Giovana demorou a entender o olhar, e quando entendeu, abriu a boca, pasma. “É o babado do século!”
- Eu não acredito que você e o...
- Calma, eu vou te explicar.
Ela sabia que se contasse do namoro a alguém Leandro ficaria furioso, mas já estava cansada de guardar tudo aquilo só pra ela. Contou a amiga sobre o flagra, a chantagem e o namorado forçado.
O que Angélica não sabia era que Giovana faria muito bom uso dessas informações.
O passeio acabou sendo tedioso, pois tudo o que Angélica queria era estar com Leandro. Ela fitou Giovana que parecia entretida demais em um assunto com João e não conseguia ignorar o pressentimento ruim que estava desde que contara tudo a amiga. Discreta, enviou uma mensagem a Leandro. Até longe ele era uma companhia melhor que todas aquelas pessoas que um dia lhe foram tão queridas.
“O que você tá fazendo?”
A resposta veio alguns minutos depois.
“Ouvindo música, porque? Tá chato o rolê?”
“Não, to me divertido! Pensei em você ai solitário e turrão, decidi te fazer companhia por celular.”
“Ah, claro! Eu imagino. Fico feliz por pensar em mim, mas eu vou sobreviver a sua falta.”
“Mentiroso. Admite que tá com saudades.”
“Angélica, acho que é o inverso.”
Angélica riu para a tela do celular, que estava escondido embaixo da mesa de um barzinho que João escolheu para saírem. Já ia responder Leandro quando João chamou sua atenção.
- Ta tudo bem amor? – Perguntou, desviando da conversa chata de Giovana. – Ta quieta...
- Ah, ela deve tá numa conversa muito boa pelo celular né amiga? – Perguntou a morena, maldosa. Maldade que só fora percebida por Angélica.
- Estava conversando com a Lívia. – Mentiu, sorrindo para Giovana. Lívia já fora do grupo de Angélica, mas separou-se por que ninguém aceitava seu namoro com um garoto que os amigos consideravam “fracassado”. A única que a apoiou fora Angélica. – Desculpe amor, tá tudo bem sim.
E com muito custo, Angélica tentou entrar na conversa dos amigos, mesmo sabendo que sua vontade era estar bem longe dali.