AS AVENTURAS DE DUDU E A SEITA DO DIABO (FINAL)

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- Eles foram convertidos – sussurrou Fabrício, sentindo que as pernas não lhe dariam sustentação por muito tempo – Nossos pais foram convertidos.

- Fique quieto – pediu Dudu, sorrindo, aliviado, para os seus pais que se aproximavam – Ninguém foi convertido em coisa nenhuma aqui.

Fabrício só foi se dar por vencido quando todos os outros convidados finalmente tiraram as máscaras e aplaudiram o reencontro da família. Nem por um instante, os pais de Dudu e os de Fabrício desconfiaram do pavor que consumira os filhos até poucos segundos atrás. Logo em seguida, vovó Joana se aproximou, abraçou-se também a sua família e Fanny ordenou que a música recomeçasse. Somente a partir daquele momento, que os dois garotos começaram a se divertir, finalmente.

Mais tarde, sentados todos na varanda, Lucia confessou que a avó os convidara para a festa para fazer uma surpresa especial para os netos. Dudu e Fabrício se entreolharam, mas não comentaram seus medos e desconfianças horríveis das últimas horas. Então, para surpresa de Fabrício, seu pai disse:

- Você esqueceu seu carregador de bateria em cima da mesa da sala. Eu trouxe para você, pois poderia lhe fazer falta.

Dudu encarou o primo, furiosamente. Fabrício, engolindo em seco, respondeu:

- Ahn… bem, eu… fez falta, realmente. Quer dizer que deixei em casa? Veja só...

- Lembro que você estava muito apressado para pegar o ônibus. Deve ter sido isto.

Lucia fez uma pausa e perguntou:

- Mas vocês nem me contaram como foi o tempo em que ficaram aqui. Principalmente você, Dudu, que está a mais tempo longe de casa. Não ficou com saudades?

- Puxa, fiquei demais – confessou Dudu, com vontade de sumir.

- Sua avó comentou, casualmente, que vocês presenciaram algumas reuniões da seita…

- Que seita? – perguntou Dudu, surpreso com o comentário da mãe – Não sei de seita nenhuma. Você está sabendo de alguma coisa, Fabrício?

Agradecendo por estar no lado mais escuro da varanda para que ninguém visse o vermelhão do seu rosto, Fabrício limitou-se a sacudir a cabeça, fazendo que não.

- Ora, crianças – falou Jonas, rindo – A seita de adoração à Deusa dos Bosques. Seus avós e Fanny fazem parte dela há anos!

- Oh… vocês falam daquela reunião na clareira em algumas noites... Bem, reparamos que coisas estranhas se sucedem por aqui – admitiu Dudu, constrangido.

- Bem, realmente não há o que temer quanto a esta seita – explicou Lucia, calmamente - É uma seita do bem. Existe há anos. Muitas vezes participei, quando adolescente e ainda antes de me casar com seu pai e me mudar para a capital. Seu avô Oscar era o líder. E agora sua avó irá assumir o lugar dele por ser o membro mais antigo. Teremos uma grande festa mês que vem.

O pai de Fabrício emendou:

- E vocês podem participar, se quiserem. Promete ser algo muito bonito e solene.

Dudu tentou olhar para o primo, mas este desviou o olhar. Sem poder se conter, Dudu revelou:

- Encontramos um cemitério antigo, no meio do bosque. E tem uma mulher lá enterrada…

- Deve haver várias mulheres enterradas lá – riu Lucia.

- Só que esta tinha a cara da Fanny.

Jonas riu, junto com os outros. Dudu e Fabrício sentiram-se dois idiotas.

- Ah, pobre Emilia… - gargalhou Lucia.

- Quem é Emilia? - perguntou Dudu, ficando corado.

- É a irmã gêmea de Fanny. Morreu há mais de vinte anos.

Sem se dar por vencido, Dudu falou:

- E ainda encontrei um corredor secreto, com uma sala mais secreta ainda no fundo.

- A sala do vovô Oscar – explicou Lucia – Seu avô usou aquela sala por muitos anos. Muitas reuniões da seita foram ali. Não é qualquer pessoa que pode entrar.

- Mas eu entrei – confessou Dudu.

Dudu lembrou do episódio do dinheiro escondido e de Fanny e Joana no jardim, enterrando algo misterioso. Bem, deveria ter alguma relação com a seita e decidiu não falar nada. Fabrício olhou para o primo, com um ar constrangido e Dudu também não sabia mais o que pensar. Ambos estavam morrendo de vergonha de pensarem tanta coisa ruim de duas senhoras inocentes.

Por fim, os adultos manifestaram desejo de retornar à festa. Da varanda, se ouvia a música e as vozes altas. E no dia seguinte, todos retornariam novamente à capital.

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Dudu combinou com Fabrício, enquanto arrumavam as malas um dia depois da festa, que ambos deveriam pedir desculpas para a avó por algum eventual transtorno causado durante o tempo em que os dois lá se hospedaram. O outro concordou e, quando desceram a escada, prontos para a partida, encontraram vovó Joana inspecionando a limpeza do lugar. Nem parecia que ela fôra dormir quase ao amanhecer, tamanha a sua disposição e bom humor.

- Vovó...

Joana voltou-se e, quando se deparou com os dois netos, aproximou-se sorridente. O coração de Dudu doeu por ter pensado tantas coisas horríveis a respeito dela.

- Quer dizer que meus dois queridos netos estão mesmo indo embora? Mas vocês ficaram tão pouco tempo...

- Queríamos lhe agradecer por sermos tão bem recebidos aqui. E pedir desculpas por algumas coisas que tenhamos feito, sem intenção…

Dudu deixou a frase pairando no ar. Joana, abraçada aos netos, disse:

- Vou sentir muito a falta de vocês, meus queridos. Fanny também. Mas vou esperá-los no próximo mês, quando a seita da Deusa fará uma festa para mim. Será uma cerimônia muito bonita, no meio da clareira do bosque, onde finalmente serei ungida à líder. Só houve outra festa assim há mais de 25 anos atrás, quando chegou a vez do avô de vocês.

- Eu certamente estarei aqui, vovó.

- Eu também – emendou Fabrício.

- Seus pais também virão.

Fanny se aproximou, com cara de sono. Escutando o final da conversa, ela reforçou:

- Realmente será um ritual muito belo, consagrador. Vocês não podem perder.

Dudu e Fabrício novamente garantiram suas presenças. Os pais de Dudu e Fabrício apareceram chamando os meninos. O carro estava pronto. Depois de novos abraços e beijos e promessas de que todos se veriam novamente dali a um mês, as famílias partiram. Dudu e Fabrício abanaram para vovó Joana e Fanny até desaparecerem na primeira curva da estradinha.

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Joana olhou para Fanny e suspirou:

- Minha amiga, desta vez foi por muito pouco.

Fanny olhou para Joana, um pouco pálida:

- Estes dois são bem espertos, não é? Ou nós que somos muito descuidadas? Que história tivemos que inventar...

- Este menino, Dudu. Se você não o pegasse aquela vez na estrada, estaríamos fritas. Imagine, nem com o telefone bloqueado ele sossegou! Conseguiu mandar um e-mail para o primo!

- Se não fosse aquele tal de Roberto vir até aqui, nada disto teria acontecido. Ele seria iniciado na seita e teríamos o nosso herdeiro.

- Mas nada está perdido. Dudu virá mês que vem. E eu o convidarei para vir aqui outras vezes… Ele pensa que adoramos uma Deusa?

E Joana riu, maldosamente. Fanny atalhou:

- Sua família inteira pensa.

- Lucia infelizmente não possui os atributos para me suceder. Soube disto quando pus meus olhos nela, segundos depois do seu nascimento. Mas meu neto Eduardo… este pode ter todo o Poder que quiser. Mais do que eu, mais do que Oscar. Meu marido sempre me afirmou isto.

- Lembra quando ele nos flagrou enterrando o cachorro do jardineiro? Morreu de verminose, coitado... E aquilo nada tinha a ver com a seita.

Joana riu.

- Não sei o que ele imaginou que estávamos fazendo de madrugada. Não daria para esperarmos até o amanhecer. Aquele cheiro estava me sufocando!

- Dudu está com seu destino traçado – falou Fanny, pensativa.

- Será que eles realmente acreditaram que no cemitério do bosque, é sua irmã que está enterrada lá?

F I M

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 24/05/2010
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