[Original] Refém de você - Capitulo 2
Capítulo 2
No dia seguinte Angélica evitou Leandro nas primeiras aulas, mas não teve a mesma sorte durante o intervalo. Quando passava pelo corredor do ensino médio, ele a agarrou, levando-a para o almoxarifado da escola. O lugar além de escuro, era estreito e abafado, mas ironicamente servia de ponto de encontro de casais. O que obviamente não era o caso dos dois.
- Me solta! – Gritou, no escuro. Ele tentava segurar as mãos dela. – Droga, garoto!!!
- Se você cooperasse não ficaríamos brigando feito um casal de namorados!
- EU TENHO NOJO DE VOCÊ!
- EU TAMBÉM TENHO NOJO DE VOCÊ, MAS ACEITA QUE TÁ NAS MINHAS MÃOS! – Ela o empurrou no chão, mas desequilibrou e caiu por cima dele. – OLHA O QUE VOCÊ FEZ, ESTUPIDA!
- NÃO ME CHAMA DE ESTUPIDA, SEU BABACA IMUNDO! QUEM VOCÊ PENSA QUE É???? – As unhas dela fincaram nas costelas de Leandro, que gritou de dor. Angélica estava descontrolada e pelos pingos que caiam em seu rosto, ele supôs que chorava.
- Droga, eu não acredito que vou ter que fazer isso.
- Fazer o que?
- Isso!
Leandro segurou-a pelos cabelos loiros e a beijou, tentando acalma-la. De início, ela tentou se defender de todas as formas possíveis, mas o garoto capturou seus lábios com uma habilidade surpreendente. Quando já não conseguia mais lutar contra, rendeu-se. Os cabelos dela caíram sob o rosto do garoto, que os afastou com gentileza.
Surpreendentemente, notou que gostara do beijo dela. Era caloroso, sincero. Sua língua macia combinava com a dele de forma inquietante. Beijaram-se até Angélica se acalmar. Testa encostada sob testa. Um frio percorreu o estômago dela.
- Você se acalmou?
Ela não conseguiu responder, pois ainda sentia os lábios dele roçarem nos dela. A sensação era inigualável.
- Eu vou entender isso como sim.
- Vai pra puta que pariu.
- Já tá melhor. – Murmurou, irônico. - Vou nos levantar lentamente, pois aqui é pequeno e não sei como você conseguiu nos derrubar. – Ele orientou, tateando a parede até conseguirem se levantar. – Ótimo. – Tocou o rosto dela. – E então? – Perguntou, como se nada tivesse acontecido. Como se o beijo que acontecera ali não tivesse nenhum significado a ambos.
- Eu aceito. – Ela disse, simplesmente. – Eu não tenho escolhas.
- É. – Afirmou, ignorando o disparo que seu coração dera. – Eu vou te esperar na minha casa no final de semana.
E antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Leandro saiu do almoxarifado deixando Angélica sozinha com seus pensamentos.
Nas aulas seguintes, ela tentou manter-se indiferente a chantagem, mesmo sabendo que isso era impossível. “Um mês, apenas. Vou sobreviver” – Pensou, fazendo seus afazeres escolares. Passou os dedos pelos lábios lembrando-se do beijo que trocara com Leandro. Ele beijava com uma possessão carinhosa. Respirou fundo tentando apagar o que já se tornara difícil de esquecer.
(...)
- Nosso sábado tá de pé, né? – João perguntou caminhando ao lado da namorada pelo portão de saída. Ele cumprimentava com a cabeça alguns conhecidos da escola.
Angélica o fitou, tentando responder algo convincente.
- Ahn... Amor... Eu não vou poder. Minha mãe quer que eu vá com ela a casa de uma tia. Um programa super chato.
- Pô, que vacilo da sogrona, hein? – Ela concordou com a cabeça. – Me liga quando voltar, eu passo na sua casa pra gente namorar um pouco.
- Tá bom. – Respondeu, distraída. O sábado nem chegara e ela já temia o que podia vir.
(...)
- EU TO CHOCADA! – Maya exclamou, sentada ao lado de Leandro no sofá da casa dele. – Você beijou ela??
Ele procurava um argumento que explicasse o motivo de ter beijado Angélica. Dizer que fora pra acalma-la parecia ridículo, mas era a verdade. Sabia que poderia ter gritado mais alto e imposto poder. Não entendia o porquê do beijo ter sido conveniente naquele momento.
- Beijei. E foi nojento.
- Ah, eu imagino. Aqueles lábios deliciosos não te abalaram em nada? – Leandro revirou os olhos pra melhor amiga. – Qual, é!
- Não. – Respondeu, firme. Estava confuso com a redenção dela quando se beijaram. “Ela devia ter me batido, cuspido em mim... E não correspondido como correspondeu.”
Pensou novamente em Angélica. Conheciam-se desde o 5º ano, mas nunca se deram bem. Ela o provocava com piadinhas de mal gosto, ele a difamava na escola. Se estapeavam 1 vez por semana, o que rendiam a eles suspensões escolares constantes. A única trégua que tiveram fora no 1º ano, em que, Angélica bêbada tentou beijar Leandro na sala de aula e fora rejeitada. Ela se vingou no ano seguinte, humilhando-o perante toda a escola e a antiga desavença voltara com mais força. E agora no último ano escolar deles a vida ironicamente os unia em um relacionamento forçado.
Angélica era sem dúvida alguma a garota mais atraente da escola. Até Leandro tinha que admitir que ela exalava sensualidade por onde passava. Loira, olhos verdes que brilhavam quando ficava irritada ou sorria. Rosto delicado, traços marcantes e dona de um corpo perfeitamente sob medida. Seria uma bela namorada se Leandro gostasse de mulher e se Angélica não tivesse a personalidade que tem.
- Só achei estranho ela ter correspondido. – Acrescentou, fazendo Maya rir. – Ela estava descontrolada, me batendo feito uma demente, eu tinha que acalma-la!
- Tá, tá, eu entendo. E quando vocês começam o namoro?
- Amanhã.
Ela mexeu no bolso, tirando duas alianças de prata.
- Pra deixar ainda mais real. – Entregou ao amigo. – E boa sorte... Eu espero que dê tudo certo.
- Eu também.
(...)
Era quase madrugada quando Leandro decidiu ligar para Angélica.
- Angélica.
“Como você conseguiu meu número?”
- Isso é o de menos. – Olhou no relógio da parede. – Você tem 20 minutos pra chegar aqui em casa.
“COMO É QUE É? VOCÊ NÃO DISSE QUE ERA AMANHÃ???”
- Sim, mas eu estava aqui pensando... Casais onde a namorada dorme com o namorado são mais convincentes.
“Leandro...”
- Não demore.
Finalizou a ligação com um sorriso vitorioso. Nunca se divertira tanto em toda a sua vida.
E obedientemente 20 minutos depois Angélica tocou a campainha da casa de Leandro. Estava com uma mochila pequena que ele imaginou conter suas roupas. Deu passagem para ela, que entrou silenciosamente. A casa era aconchegante e bem arrumada.
- Deixa eu te apresentar a minha tia. – Segurou a mão dela, levando-a até a cozinha. – Tia?
Marcia, a mulher baixinha e de sorriso afetuoso virou-se para fitar Angélica.
- Que prazer em conhece-la, querida! – Abraçaram-se rapidamente. – Fique à vontade.
- Obrigada, senhora.
Leandro segurou sua mochila e a levou ao seu quarto. Para a surpresa dela, o quarto era como o de qualquer garoto: desarrumado. O que a deixou surpresa.
Ela notou agora que Leandro estava só de calça moletom, exibindo um físico definido. Ignorou a visão, sentando-se de frente pra televisão.
- Vai ficar muda a noite toda? – Ela não o olhou. – Pô, Angélica!
- Não tenho assunto contigo.
- Crie.
- Não.
- Para de ser chata!
- Tá! Porque você não é como todos os gays??? Você não fala como um gay, não age como um! Eu acho que só te vi com garotos duas vezes na minha vida. – As perguntas pareciam voar de sua boca, o que o fez rir.
- Isso te incomoda tanto, meu amor?? – Sussurrou no ouvido dela, a voz forçadamente feminina. Ela o empurrou. – Você queria que eu fosse afeminado?
Angélica fez um sim com a cabeça. Não sabia o porquê, mas necessitava que Leandro fosse igual aos gays que via na rua. A beleza dele já a perturbava, não suportaria toda essa confiança e sensualidade. Leandro mordeu o lóbulo da orelha dela, fazendo-a arrepiar.
- Você tá me testando. – Murmurou, sabiamente. Tinha que resistir a ele. Até anteontem não podiam ficar no mesmo lugar sem brigarem, hoje encontravam-se no quarto dele como um casal. – Dá pra parar?
- Por que? – Perguntou, desafiador.
- Você disse que só nos tocaríamos se fosse necessário.
- Isso é necessário. Eu preciso ver o quanto suporto ficar perto de você sem vomitar.
Ela o olhou por um longo tempo, até instantaneamente a mão virar contra o rosto dele.
- Você é insuportável! – Falou, tirando suas roupas, ficando apenas de calcinha e sutiã. Leandro a fitava sem entender. – O que é? Eu durmo assim, se você não gosta o problema é seu.
Ela olhou na cama e perguntou-se mentalmente como dividiria com Leandro, que ainda a olhava abismado.
- Cama de solteiro. – Disse, sarcástica. – Muito bem.
- É. Você podia dormir no chão, mas não seria educado da minha parte.
- Você ouse pra ver o que te acontece. – Murmurou, o olhando ameaçadora.
E deitaram-se na cama. Leandro deitou de barriga pra cima, Angélica de lado, cobriram-se com cobertas diferentes para evitar maior contato. O silêncio e o cheiro dela tomaram conta do quarto.
- Que horas seus pais chegam? – Perguntou ela, o olhando, entediada.
- A 13h00. – Respondeu, sem tirar os olhos da tv. Angélica permitiu se encantar mais um pouco com a beleza do garoto. Pele branca, olhos profundamente castanhos, um rosto suave e forte. Lábios cheios e um sorriso que aspirava deboche. É como se Leandro sempre debochasse de tudo e todos. Atualmente usava o cabelo bastante escuro no famoso corte militar, o que o deixava com cara de mais velho. “E mais bonito” – Acrescentou ela, mentalmente. Ele sabia que estava sendo observado, mas não fez nada. – Relaxa, eles são tranquilos. Só vão te perguntar coisas bobas sobre o nosso “namoro”. Ah, aproveitando... Vou te dar um negócio amanhã.
- Que negócio?
- Uma aliança. – Angélica sorriu involuntariamente. E o brilho no olhar aparecera em seguida. Para Leandro os olhos dela lembravam a duas esmeraldas. - Não seja ridícula. – Disse, ríspido, mas ela nem lhe deu atenção. – Namoramos faz 1 ano, você me conheceu no ônibus e foi amor à primeira vista.
Ela riu alto.
- Qual é a graça, garota? – Perguntou ele, bravo.
- Você é a graça. Só assim mesmo pra você ter ideia do que é um relacionamento.
Surpreso com o que ouvira, ele franziu o cenho. Bagunçou o cabelo de Angélica e disse, arrogantemente:
- Eu só não tive mais relacionamentos que você pois é difícil quebrar o recorde da garota mais rodada da escola.
- Blá, blá, blá. – Imitou um pato com a mão, debochando das palavras dele. - Bichinha.
- Vadia.
- I-DI-O-TA!
- Cadela!
- Babaca.
- Me fala uma coisa, Angélica... O que te faz se envolver com o professor? Tá precisando de notas ou realmente gosta de homens fracassados?
A mandíbula dela trincou, e furiosa, mordeu o braço dele.
- Vagabunda! – Ele a empurrou, agressivamente. – Eu tento uma boa convivência com você, mas é impossível! Parecemos fogo e ferro juntos!
- Eu te odeio! – E ela se virou pro lado, tentando dormir. Já estava acostumada com as ofensas de Leandro, mas depois do beijo, ele a atingia com mais facilidade. Angélica não era de ferro, não podia negar a si mesma o quanto ele mexia com ela. “Sem sentimentalismo. Não é porque ele beija bem e é bonito que eu vou deixar de odiá-lo.”
Já era 3h30 e Angélica continuava sem sono. Olhou para a ponta de cama e viu que as pernas de Leandro estavam entrelaçadas a dela. Respirou fundo e tentou manter o pensamento em ordem.
- Leandro. – Ela cutucou o garoto, que dormia com a cabeça no ombro dela. – Acorda.
- Me deixa...
- Não. Eu to sem sono.
- Problema é seu. Conta carneirinho, assiste pornô, sei lá. – Ela revirou os olhos, e o observou dormir novamente. A boca meio aberta, a respiração quente e baixa. A vontade de beija-lo era quase irresistível.
- Se eu não durmo, você também não dorme. – Disse, marotamente. E roçou seus lábios nos dele, a sensação fez todo seu corpo tremer dolorosamente. Encaixou-se em cima dele com louvor. O coração batia desesperadamente, quase querendo sair do peito. A surpresa maior foi quando fora correspondida. Leandro abriu os olhos, Angélica também. A mente povoada de perguntas e dúvidas que eram sanadas sempre que seus lábios se encontravam.
- Você tem que parar de me beijar, Angélica! – E mesmo pedindo isso Leandro continuou sugando o lábio inferior da garota, o que provocou uma onda de arrepios nela.
- Por que você correspondeu então? – Ele sabia que não podia escapar dessa pergunta. Deu de ombros, impassível.
- Porque você é insistente.
Balançou a cabeça, concordando ironicamente. Irritada com o orgulho de Leandro, virou-se para o lado e dormiu quase instantaneamente.