[Original] Refém de você - Capítulo 1
Capítulo 1
- Então é isso! – Ele concluiu depois de relatar a amiga sobre a conversa com os pais. – Terei que arrumar uma... – Respirou fundo, a expressão de nojo estampada no rosto. – Uma namorada.
Maya, em seu papel de melhor amiga compadeceu-se pela problema do amigo.
- Por quanto tempo seus pais ficarão em São Paulo? – Ela perguntou, solidária. E segurou de forma carinhosa a mão dele.
- Um mês. – Respondeu, amargurado. Ficou de pé e fitou a sala de aula vazia. Era a hora do intervalo na escola. – Como eu vou aguentar ficar 1 mês com uma garota?
- Eu te ajudaria mas sou lésbica demais para tal. – Disse, espontânea. Leandro riu, mas logo sua expressão voltou a pesar. Tinha que resolver esse problema o quanto antes.
Conforme os dias passavam, Leandro, com a ajuda de Maya pesquisou por garotas que poderiam ser sua namorada por 30 dias. Não fora uma pesquisa muito satisfatória, já que a ala feminina na escola tinha um pé atrás com o garoto. O que o fez se arrepender de algumas situações vividas no passado.
- Que tal a Milena? – Sugeriu Maya, apontando com a cabeça para a garota que se encontrava sentada no refeitório, fazendo o mesmo de sempre: se maquiando. – 2º ano, bonitinha, mais burra que uma porta e já tentou se amigar a você. – Leandro revirou os olhos. – Lembra né?
- É claro. E rapidamente se afastou quando descobriu do que eu gostava.
E fora assim com a maioria das garotas. Elas se aproximavam, encantadas pela beleza e simpatia de Leandro, mas ao descobrirem sua sexualidade se afastavam e também faziam questão de difama-lo perante toda a escola. O que logo o tornou a pessoa mais desprezada do colégio. Maya, sua vizinha era a única amiga que conservara desde a infância. Aos 17 anos de idade o garoto escondia sua sexualidade dos pais por motivos óbvios: repressão.
Nascido em uma família humilde do interior de Minas Gerais, mudou-se para São Paulo aos 15 anos para morar com sua tia, a única parente que sabia de seu segredo e o apoiava.
As palavras do pai ecoavam em sua cabeça “quero ver se meu filhão ta namorador, hein?”. Não queria decepciona-lo, mas também não sabia como resolver seu problema. Como Maya sugerira, poderiam contratar uma garota de programa, mas o custo pesaria em seu bolso. Leandro mal conseguia manter suas despesas com um emprego meia boca em um shopping local, quem diria pagar uma garota para namora-lo por 30 longos dias.
Foi então que Deus finalmente ouviu suas preces.
Leandro achara no banheiro masculino a garota com quem fingiria um relacionamento. Era Angélica Porto, a garota que ele mais desprezava na escola.
Ela se encontrava-se aos beijos com o professor de história no banheiro masculino. Um flagra que renderia a expulsão dela e o fim da carreira dele. “Seria ótimo vê-la ser expulsa, mas farei uso melhor dessa descoberta.” Os dois se beijavam com uma paixão desesperada. A mão dele invadia a blusa de seda dela, que parecia delirar com o toque do homem. Leandro nunca vira cena mais nojenta em toda a sua vida. Rápido e silencioso, ele tirou cerca de 15 fotos deles e fez um vídeo rápido do casal. Eram provas para a chantagem. Saiu do banheiro, vangloriando-se por sua descoberta. A sorte estava ao seu lado.
No dia seguinte, depois de serem liberados da escola, Leandro encontrou Angélica no ônibus. Eles pegavam o mesmo ônibus para irem pra casa. Ele estava a caminho do seu trabalho, mas não aguentou esperar para a chantagem. Sentou-se suavemente ao seu lado no último banco. Ela o olhou como se estivesse ao lado de um alien.
- Não dá pra sentar em outro lugar?
- Não dá. O ônibus é público. – Angélica revirou os olhos verdes. – Precisamos conversar, Angélica.
- Ah é? Eu não me lembro de ter assunto com uma... – Aproximou-se dele e sussurrou em seu ouvido. – Bicha!
A mão de Leandro foi para a barriga dela, beliscando-a.
- O assunto é do seu interesse. Vamos descer e conversar calmamente, o que acha? – Ela viu a maldade queimar nos olhos de Leandro e acabou por obedecer. Desceram no ponto seguinte “que se dane aquela merda de emprego” – pensou, segurando a mão macia de Angélica. Ela tentou se soltar, mas sem sucesso. – Arisca como sempre.
- Arisca é a tua mãe.
- Olha! Não fala assim da tua futura sogra. – Ela parou no meio do caminho, fitou Leandro por alguns minutos e riu alto. – Pode rir, pode rir... É mesmo engraçada essa situação.
- Olha, Leandro. Se você resolveu sair com mulher o problema é seu, mas não me envolva nisso. E então, o que você quer?
- Vamos tomar alguma coisa. – Foram para a lanchonete mais próxima. Sentaram-se na mesa da calçada. Angélica não pode deixar de reparar o quanto Leandro ficara mais bonito. – O que vai querer? – Perguntou a ela quando a garçonete se aproximou.
- Quero ir embora. – Respondeu, birrenta.
Ignorando-a, ele fitou a garçonete.
- Ela quer o mesmo que eu, um suco de laranja com gelo e açúcar. – Esperou a garçonete se afastar e então pegou seu celular, entrou no arquivo onde continha fotos de Angélica com o professor. Jogou o aparelho pra ela. – Veja.
- Pra que?
- Veja logo, estupida! – Angélica pegou o celular e sua sequência de reações fizeram Leandro rir. A boca dela abriu, depois seu rosto ficou vermelho, os olhos arregalaram-se. – Chocante, eu sei. Quase um filme pornô... – Falou, cínico. – O João não comparece?
- Como... Como conseguiu isso? – Perguntou, a voz embargando. Angélica já podia imaginar o que Leandro faria com essas fotos. Ela segurou o aparelho com mais força, desejando quebra-lo.
- Tenho tudo salvo em um pen-drive. Prevenção é tudo, né? – Ela engoliu seco. – E respondendo a sua pergunta, eu estava indo no banheiro quando me deparei com o casal... – Respondeu, suave e sorriu, de canto. Era delicioso ver sua expressão de pavor. – Mas veja bem, podemos nos ajudar, Little Angel. Se você fingir ser a minha namorada por um mês eu finjo que nunca te vi fazendo sexo com o professor.
- Você é nojento! – Murmurou, a voz cada vez mais trêmula. Não contava com essa. Já se envolvia com o professor há meses, e justo no dia que resolveram se encontrar no banheiro, Leandro os descobre.
- Ah, você é que se agarra com o professor e o nojento sou eu?
- Eu não posso namorar você, já namoro o João. – Leandro revirou os olhos.
- Não seja ridícula! É um namoro escondido, apenas para os meus pais não desconfiarem de nada.
- Não! – A garçonete se aproximou, deixando os copos com suco na mesa. Angélica tentou se controlar mesmo sabendo que sua única vontade era de jogar o suco em Leandro.
- Você é quem sabe. – Deu de ombros, bebericando seu suco. - Eu faço um inferno da sua vida com essa fotos. – Ele não estava mentindo, ela sabia, mas não conseguia acreditar que seria obrigada a namora-lo.
– Meus pais vem no sábado pela manhã... Vão passar um mês aqui. Só teremos algum tipo de contato na frente deles.
- Porque eu? – Perguntou Angélica, desolada. – Porque não pagou alguma prostituta?
Ele deu uma risadinha maldosa.
- Pra que pagar se eu posso te ter de graça?
O tempo em que ela pegou o copo e jogou o suco no rosto de Leandro foi muito rápido. O liquido desceu por seu rosto, caindo em pingos sob sua camisa azul-marinho. Ele não esboçou reação, diferente dos outros clientes, que os observavam com atenção. Angélica saiu da lanchonete, lindamente furiosa.