AS AVENTURAS DE DUDU E A SEITA DO DIABO (12)

27

A bomba veio ao meio dia, quando todos eles estavam sentados à mesa. Fanny e vovó Joana conversavam animadamente, como se absolutamente nada tivesse acontecido. Dudu e Fabrício conservavam-se quietos. Somente começaram a comer depois das primeiras garfadas das duas. A voz de Fanny irritava profundamente Dudu, que sentia vontade de virar a travessa de lasanha em cima da cabeça dela. Fabrício só tinha olhos para seu próprio prato.

- Ah, esqueci que tenho uma novidade para contar para vocês!

Dudu encarou vovó Joana, surpreso. Fabrício deixou cair um pedaço de lasanha no colo. Ambos encararam a avó, na expectativa de que algo horrível estaria por acontecer. E sem esperar por qualquer manifestação dos netos, ela anunciou:

- Amanhã teremos uma bela festa à fantasia aqui na fazenda!

Fanny sorriu, enquanto Dudu exclamou, sem poder acreditar:

- Mas já? Faz poucos dias que vovô Oscar morreu!

Joana o encarou, sem entender:

- E o que tem isto? Acha que eu tenho que fazer luto pelo resto da minha vida?

Ela fez a pergunta em um tom amistoso. Fanny completou:

- A última festa que realizamos aqui foi o maior sucesso entre nossos amigos.

Desconfiado, Fabrício perguntou, tentando limpar o molho das suas calças:

- E o que vovô Oscar achava disto?

- Seu avô? Ele era o que mais se divertia – assegurou vovó Joana.

- E… - Dudu estava com medo de fazer a pergunta – mas eu… nós também iremos participar?

- Claro! – respondeu Joana, animadíssima – Como meus netos preciosos e queridos poderiam ficar fora desta?

Fabrício engoliu em seco e retrucou:

- Não temos fantasia…

- Para isto se dá um jeito – garantiu Fanny – Não se preocupem com nada, apenas em se divertirem.

A partir daquele momento, tanto Dudu como Fabrício perderam totalmente a fome, e fingiram que comiam enquanto Fanny e vovó Joana discutiam os detalhes que faltavam para a festa. Dudu nem ficou para a sobremesa. Com dor de barriga, pediu licença e saiu. Fabrício foi para o quarto em seguida e encontrou o primo sentado na cama, apertando o estômago.

- Então você está com dor de barriga de verdade… - observou ele.

- De puro nervosismo – confessou Dudu – Sei lá, Fabrício… tem algo estranho nesta festa. Mal faz uma semana que o velho morreu. E ela nem mandou rezar missa pro coitado..

- Quer saber o que eu penso? Para mim esta festa é uma armadilha para nós. Os convidados devem ser os mesmos que fazem parte da seita.

Dudu ficou branco e o estômago doeu mais. Ele se deitou na cama, pesadamente.

- Deve ser isto mesmo. E o que podemos fazer, Fabrício? Estou com tanta dor de estômago que acho que não posso dar um passo.

Fabrício disse, muito sério:

- Elas vão nos pegar, se simplesmente não agirmos. Se ao menos você pudesse correr…

- Estou enjoado. Será que tinha alguma dose de veneno na comida?

- Claro que não, senão todos nós estaríamos passando mal. Seu problema é nervosismo. Tente melhorar. Quem sabe a gente sai daqui à noite, quando elas estiverem dormindo?

28

O plano de Fabrício não foi posto em prática já que Dudu vomitou a tarde inteira, até sentir-se fraco demais para sair da cama, à noite. Fabrício prometeu levar um chá de boldo para ele depois do jantar, pedindo ajuda a todos os santos que Dudu melhorasse.

Vovó Joana e Fanny estranharam quando Fabrício desceu sozinho e ele foi obrigado a dizer que Dudu estava de cama. Penalizada, a velha subiu para ver como o neto estava passando e Fabrício julgou que o primo pioraria depois daquela visita.

Dez minutos mais tarde, vovó Joana retornou, dizendo:

- Ele pediu para que você não esquecesse do chá.

- Claro, vovó – respondeu Fabrício, um pouco temeroso de ficar somente ele entre as duas.

Fanny serviu a comida e sentou-se à frente de Fabrício e ele evitou encará-la. Mas antes que começassem a comer, vovó Joana, com seu jeito meigo e dócil, disse:

- Tenho aqui algo para você e seu primo, Fabrício.

O garoto sentiu o sangue gelar, ao mesmo tempo em que um fiozinho de suor lhe escorria pelas costas. Ele tentou sorrir, mas achou que mais fazia uma careta do que sorria.

- É mesmo? Mal posso esperar…

Então a velha surgiu com dois pequenos embrulhos, lindamente empacotados em papel colorido e presos com fita vermelha. Fabrício ficou surpreso. Presentes numa hora destas?

- Alguém está de aniversário aqui? – perguntou ele, tentando fazer graça.

Fanny riu e vovó Joana entregou os pacotes para ele, dizendo:

- Vamos, abra. Pode abrir o embrulho do Dudu, também. Isto é para vocês usarem na festa de amanhã à noite.

Muito lentamente, com medo do que poderia encontrar, Fabrício foi desfazendo primeiro o presente do primo doente. Para espanto seu, era de um diabinho. Em seguida, sem tecer qualquer comentário e ante os olhares atentos das duas, ele foi abrir seu próprio pacote. E para mais aumentar ainda mais a sua surpresa, a fantasia era de um zumbi.

- Muito sugestivo – falou Fabrício, somente então encarando as duas – Obrigado pelas fantasias. Acho que a festa será… muito legal.

“Seremos sacrificados nesta festa”. Fabrício identificou algo estranho no sorriso de vovó Joana quando ela disse, quase em tom de ameaça:

- Quero muito a presença de vocês dois na minha festa. Tenho certeza de vão adorar.

E Fanny completou, com seus olhos negros encarando Fabrício, assustadoramente:

- Você nunca verá nada igual.

... CONTINUA ...

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 03/05/2010
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