AS AVENTURAS DE DUDU E A SEITA DO DIABO (11)
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Era difícil dizer quem corria mais. Fabrício, se pudesse, pararia para socar a cara do primo, mas o que ele mais queria era fugir dali. Dudu, nos calcanhares dele, não acreditava que houvesse espirrado justo naquele momento. Pelo menos, agora Fabrício sabia que nunca Dudu estivera mentindo. E o mais importante de tudo: teriam que fugir o quanto antes.
Mesmo correndo, Fabrício olhou para trás e perguntou para Dudu, apavorado:
- Estamos perdidos! Onde está a trilha?
- Não sei! – respondeu ele, quase sem fôlego – Mas continue correndo! Se eles não estiverem atrás de nós, o próprio capeta deve estar.
Fabrício ouviu a frase do primo, deu mais três passos e caiu. Dudu vinha atrás e praticamente desabou em cima dele, batendo com a perna em uma pedra dura. Fabrício perguntou, fazendo uma careta de dor:
- Você está bem? Tropecei em alguma coisa.
Dudu massageou a perna, que ficaria roxa mais tarde. O luar não estava tão forte agora; as árvores naquele lugar eram mais juntas. Olhando em volta, Dudu reconheceu onde estavam.
- Fabrício… acho que estamos no cemitério.
- O quê? – perguntou ele, dando um pulo e ficando em pé.
- Olhe ao seu redor – pediu Dudu, com a voz sombria.
Fabrício reparou nas lajes caídas. Ele havia tropeçado em uma. Cada vez mais pálido, ele se agachou para verificar algumas. Ante o olhar de Dudu, disse:
- Estou procurando por Fanny. Minha esperança é de que você tenha se confundido.
Dudu se levantou, tentando escutar o som de passos. Mas o silêncio era total, assim como o medo deles. Não demorou muito, Fabrício falou, com a voz trêmula:
- Você tem razão, Dudu – e ele apontou para uma laje quase caída – Aqui… aqui que Fanny está enterrada.
Os dois se encararam, apavorados. Dudu perguntou:
- E agora? O que vamos fazer?
- Vamos voltar para casa, nos trancar em nosso quarto e chamar o papai. Não fico mais nenhum segundo neste lugar amaldiçoado.
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Como da outra vez, a casa estava deserta, para alívio dos dois. Dudu e Fabrício subiram os degraus de dois em dois e se enclausuraram no quarto. Quando Dudu foi acender a luz, Fabrício recomendou:
- É melhor que eles não saibam que já estamos aqui.
Mesmo assim, Fabrício foi obrigado a acender a luz do abajur, que era bem fraquinha, para poder achar o celular. Sentado na cama, Dudu observou:
- Você nem teve tempo de desfazer as malas…
- Desculpe, Dudu, se duvidei das coisas que você me contou. É que tudo parecia ser tão fantástico…
- Está desculpado. Mas encontre de uma vez o celular e chame seu pai. Ou o meu.
Passados alguns segundos, Fabrício avisou, aliviado:
- Encontrei, graças a Deus – porém, logo em seguida exclamou – Droga. Não quer ligar. Está totalmente sem bateria.
- E o carregador? Onde está? – perguntou Dudu, tenso.
- Em algum lugar aqui dentro.
No entanto, Dudu assistiu o primo procurar o carregador sem resultados práticos. De repente, Fabrício simplesmente pegou a mochila e jogou todo seu conteúdo no chão.
- O que foi, Fabrício? Pirou?
Fabrício respondeu, pálido:
- Não estou achando a porcaria daquele carregador! Não pode ser!
Ele vasculhou entre suas roupas e objetos que estavam atirados no chão. Dudu se juntou na busca, mas depois de dois minutos de uma procura frenética, ambos se deram por vencidos. Sentados no chão, Fabrício e Dudu eram a imagem do desconsolo.
- Puxa! Você foi esquecer justo o carregador…
- Não esqueci de nada, Dudu. Eu sei que o coloquei aí dentro. Foram aquelas duas demônias que o tiraram daí! – esbravejou ele.
Dudu sentiu que ficava pálido. Perguntou:
- Será… será que… elas seriam capazes?
- Bem, tem uma assombração nesta casa, não tem? – Fabrício também estava à beira do pânico – E vovó Joana? Está morta ou viva?
- Não sei – murmurou Dudu – O que vamos fazer agora?
- Dormir. E amanhã pensar numa maneira de fugir daqui.
- Correndo não dá. Já tentei e Fanny foi me buscar.
Fabrício começou a juntar suas coisas e a largar de qualquer jeito dentro da mochila. Exausto, ele respondeu:
- Eu só quero minha cama. E acordar amanhã e descobrir que tudo o que eu vi hoje não passou de um pesadelo.
- Sinto muito, Fabrício. Mas é tudo real.
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Apesar de todo o pavor, os dois primos dormiram até as nove horas da manhã e quando desceram, grudados um no outro, a mesa do café já havia recolhida e não havia sinal de Fanny e vovó Joana por ali. Dudu sussurrou:
- Será que é perigoso comer um pedaço de pão?
Fabrício abriu a geladeira e pegou uma geléia de maçã. Depois encontrou pão novinho e disse, servindo-se:
- Estou louco de fome. Vou arriscar.
- Sei não...
- Precisamos estar bem alimentados se quisermos sair daqui – respondeu ele, já de boca cheia – Humm... se isto aqui está envenenado, quero a receita deste veneno.
- Estou morrendo de rir... – ironizou Dudu, irritado e esfomeado.
- Prove. Elas devem ter comido isto hoje de manhã.
- Se elas são duas fantasmas não poderiam mesmo morrer envenenadas, não é? Já estão mortas…
Fabrício não deu muita importância aos receios do primo e continuou comendo. Dudu pegou um pedaço de pão e caminhou até a janela da cozinha para ver se via alguém. De repente, ele disse:
- Fabrício, as túnicas estão no varal. Elas devem ter lavado e agora estão lá secando.
- Bem, agora não tem mais porque elas esconderem as túnicas naquela sala antiga que você descobriu. Nós já sabemos tudo mesmo.
- Espere aqui. Vou lá olhá-las de pertinho.
Dudu foi, silencioso, até o varal. As duas túnicas balançavam ao sabor do vento, suavemente. Eram feitas de um tecido leve e brilhante. Poderia até ser muito agradável ao toque. Sem poder se conter, Dudu esticou o dedo para sentir uma delas. Não deu tempo.
- Quer vestir a túnica, Dudu?
O garoto se voltou, sobressaltado, e deparou com Fanny praticamente ao seu lado, sorrindo. Era, sem dúvida, um sorriso perverso. Dudu empalideceu e tentou responder alguma coisa. Não conseguiu.
- Quer vestir? – perguntou novamente Fanny – Ela já está seca. Pode tocar.
Dudu respondeu, finalmente:
- Não, obrigado.
- Veja como elas brilham ao sol – e Fanny recolheu as duas túnicas e suspendeu na frente de Dudu, esperando algum comentário.
- Elas são… muito bonitas.
- Quer vestir?
Outra vez a pergunta. Dudu já estava se sentindo mal.
- Já disse que não – e sua resposta saiu mais ríspida do que esperava.
- Sua avó gostaria muito que você a vestisse. Você e seu primo.
- Não gostamos de túnicas – Dudu sentia mais raiva do que medo.
- Bem, vocês ainda são jovens. Podem aprender muitas coisas.
Dizendo isto, Fanny saiu, deixando Dudu indignado. Fabrício estava sozinho lá na cozinha. Com certeza, Fanny iria assediá-lo do mesmo jeito. No entanto, quando Dudu chegou na cozinha, encontrou Fabrício tomando, calmamente, um suco de laranja.
- Quer um suquinho? – perguntou ele, solícito.
Dudu sentou à frente dele e ficou em silêncio. O que mais queria naquele momento era apertar o pescoço da Fanny.
... CONTINUA ...