A garota em apuros. Capítulo 3.

Virei-me também, entrando por lá, vendo que a primeira porta era a ‘200’ e a do lado ‘201’. Na chave dizia ‘216’, então eu teria que achar meu quarto por esse caminho.

Prossegui enquanto ficava pensando naquela tal de “Claire”.

Será que ela seria uma garota legal? Ou será que ela seria uma loira de olhos azuis diamante, líder de torcida de corpinho perfeito, que ficaria me esnobando e reclamando já que uma idiota simples foi parar no seu quarto... Ou ela podia ser realmente uma pessoa legal que me ajudasse a conviver nos próximos três anos nesse colégio. Seja lá quem ela fosse eu estava com medo.

Era muita pressão para uma garota de 15 anos. Olhei para uma porta marrom escuro, e vi que numa plaquinha dourada, estava gravado ‘216’, semelhante à chave.

Comecei suar um pouco novamente já que não fazia idéia do que me aguardava dentro do local. Encaixei minha chave na fechadura e dei duas voltas. Coloquei minha mão branca como neve na maçaneta dourada e a girei lentamente, abrindo a porta aos poucos.

Adentrei o quarto, silenciosa e abrupta, e estacionei minhas malas no tapete vermelho felpudo que estava enfeitando o quarto rente à porta. Estava vazio. Completamente. Exceto pela decoração perfeita, e espaço imponente, uma televisão aos fundos. E exceto por alguns armários e quatro camas arrumadas com edredons macios dois azuis bebê e dois cor de rosa claro. Fiquei admirada. Onde estariam as donas das camas? Com isso eu teria que arcar depois.

Eu realmente apreciei o quarto. Era bem bonitinho, com paredes roxas e armários beges singelos.

Um feixe de sol atravessava da imensa janela à direita, por meio das cortinas, tom cinza-claro, que plainavam mal ajeitadas. O chão brilhava em um bege lustrado, aparentando limpeza recíproca. O cheiro do local era convidativo e familiar. As luzes estavam apagadas, mas nem me dei ao trabalho de acendê-las já que o sol preenchia com luz suficiente para enxergar. Mas tarde quem sabe eu pudesse acender uma pequena velinha pra dormir, se as garotas que dividiriam o quarto comigo não ligassem.

Porque meu passatempo predileto era, antes de dormir, observar as chamas crepitando de uma pequena velinha, e ver o fogo ir derretendo o pavio até apagar, enquanto ficava aspirando ao odor da parafina aromatizada. Poderia parecer enjoativo e tedioso, mas era uma diversão pra mim, e de certa forma me dava sono observar isto. Talvez eu fosse mesmo, estranha.

Antes de dormir gostava de ver também a lua. Adorava os formatos dela, que variavam conforme o tempo, mas a minha favorita era a lua nova. Super fina e delicada. Combinava perfeitamente com as estrelas, que brilhavam e piscavam decorando a noite clara.

Almejei a cama a minha direita. Estava com um edredom cor de rosa coberta por almofadas brancas e pretas, alguns ursinhos de pelúcia. A cabeceira, cheia de porta retratos. Atrevi-me a vê-los de longe. Retratava pessoas sorridentes, garotas que de longe tinham expressões faciais similares e alegres. Na parede do interior da cabeceira da cama, havia um pôster de alguma banda de rock que eu não conhecia. Eu tinha gostado daquela cama. A pessoa que dormia ali me parecia ser um tanto extrovertida. Atentamente, observei uma toalha de rosto em cima da cama, gravada com “Lana Brooks”.

Já na cama a minha esquerda tinha um edredom azul. Enfeitado com almofadas amarelas. Um pôster- quadro de uma boca desenhada em formato de beijo no interior. Mais fotos também.

Fotos. Definitivamente eu gostava de fotos. Meu passatempo preferido era (além é claro de escutar música com meu ipod e ver as velas derreterem antes de dormir) tirar fotos. Dei-me conta que uma grande parte do meu tempo, eu preenchia tirando fotos de qualquer coisa banal, com a minha câmera digital prateada.

A cama esbanjava charme com as fotos e já me dava à sensação de ter como dona uma garota um tanto lunática e viajada. Havia um chaveiro, estampado com o nome de Michelle.

Na cama que estava a minha frente por direita ao lado de uma escadinha de vidro curta, havia um edredom cor de rosa que contracenava com um travesseiro preto. Enfeites na cabeceira, e a parede interior coberta com estrelinhas que brilham a noite, e um monte de porta-retratos, caixa de jóias. Aquela cama foi a que mais me chamou atenção. Dei uma corridinha, e cheguei perto dela.

Ambicionei um cordão dourado no criado-mudo. No pingente de coração estava gravada a palavra “Claire”. Concluí que aquela era a cama DELA.

Incrivelmente a cama me lembrava alguém que fosse romântico, e um pouco estressado, já que algumas fotos mostravam desenhos irados, ao mesmo tempo em que as estrelas e corações pretos davam a sensação romântica. Interessante. Foi a palavra certa para descrever a situação.

Concluí que a cama que estava ao lado oposto da escadinha, à esquerda, com um edredom azul bebê, e com montes de roupas de elite escolar, só podia ser a minha. Fui direto para lá. Sim, era a minha, pois a cabeceira estava vazia. Só por curiosidade, empurrei todas as roupas, e me joguei sobre ela. O cheiro era bom. Tinha cheiro de edredom limpo de lavagem a seco. E o colchão era confortável. Arranquei meu suéter cor vinho rapidamente, tateando o meu tórax. Eu estava com calor. Fiquei apenas com uma blusa regata branca, que deixava minha pele mais clara do que já era, jeans e All star.

Deixei o suéter sob a cama. E fui percorrendo até a porta buscar minhas coisas. Arrastei-as sobre o tapete felpudo, com um pouquinho de esforço, até chegar a minha cama. Apoiei as minhas malas. E girei o zíper das duas até abrirem completamente deixando todas as minhas coisas amontoadas e socadas à mostra. Atravessei o quarto, até chegar ao primeiro armário. Havia uma grande parte dele vazia e a outra cheia. Acreditei que a parte vazia era minha.

Arranquei as coisas de uma vez da mala, jogando tudo no chão quente e claro. Que estava bem limpo. Fui organizando peça por peça.

Passei o resto daquele domingo enchendo o armário de roupas em cabides. Desde as mais simples, às mais sofisticadas. Coloquei meus sapatos, a maioria deles All stars, em ordem na sapateira. As minhas roupas íntimas, uniformes novos, jóias, e alguns acessórios ocuparam o criado mudo. Enfeitei de fotos reveladas da minha mãe, meu pai, algumas de mim e do meu gato, que infelizmente teve que ficar em casa.

Meu gatinho, pompom, era a única pessoa, se é que gatos podiam ser chamados de pessoas, que me compreendia. Nos momentos que eu ficava triste ele me deixava agarrá-lo até arrancar pelo. Fora isso, apreciar o pêlo brilhante, laranja, felpudo e macio do meu gato pompom, era tão reconfortante. Era tão divertido quando ele dormia em cima dos meus pés, ronronando sem parar. E o coitado, iria ter que ficar sozinho numa casa nova, passando fome, já que duvidava muito que minha mãe se lembrasse de alimentá-lo. Por sorte, os nove quilos de gordura iriam ajudá-lo na depressão junto com os vinte potinhos de água e comida que eu havia deixado por precaução. Era realmente uma separação terrível.

Pelo menos eu podia me lembrar do rosto fofinho dele por meio dos porta-retratos.

Copiando as meninas, coloquei um pôster na parede interior da cabeceira, com uma foto de uma rosa cor sangue desabrochando. Foi o pôster que eu achei apropriado. E admiti pra mim mesma que ele contracenou com a parede e ficou bem bonito.

Depois de descarregar minhas malas, subi a escada pequena de vidro que tinha ali, que levava a um lugar cheio de pufs macios de diversas cores, e um banheiro bem espaçoso,com um chuveiro bonito, todo organizado com quatro toalhas, três delas bagunçadas e uma arrumadinha.

Intrometi-me a transferir minhas coisas de higiene pessoal para lá já que também havia presilhas de cabelo, xampu, escova de dente, e coisas pessoais de outras garotas.

Depois de investigar todo o meu novo quarto, estirei-me mais uma vez na minha cama, preguiçosa. Fechei as pálpebras lentamente observando o cenário novo escurecer enquanto eu as fechava, eu estava tão cansada, e não estava preparada para encarar o mundo que me esperava da porta pra fora. Então simplesmente me ajeitei de uma forma confortável, e tentei relaxar pela primeira vez nesse dia. Sabia que ainda provavelmente eram umas três da tarde. Mas quem ligava? Eu ainda tinha os meus benefícios. Era essencial para mim, descansar.

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N/A: eu sei que ta meio cansativo, mas no prox. cap, vai ter mais dialogo, etc.

CONTINUA>>>

Lívia Rodrigues Black
Enviado por Lívia Rodrigues Black em 15/04/2010
Código do texto: T2199210
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