Os Cavaleiros - parte 18 - FINAL
(Pela segunda vez no salão principal, no qual Saga me aguarda)
Meus passos ecoavam pelo ladrilho de pedras frias e polidas. A mente vagava perdida entre os vãos das pedras no chão e paredes. Avistei quem desejava e entrei no salão de reuniões sem pestanejar e sem ser evitada por nenhum dos soldados que estavam em guarda do lado de fora.
O altivo homem de ombros largos e cabelos negro azulados me aguardava sentado em um pomposo trono, quase como um bibelô em um pedestal.
Caminhei com determinação até o degrau de acesso, me ajoelhei no terceiro degrau demonstrando estafa mental e física, sentei-me a frente de seu trono, próximo a sua perna, onde encostei meu rosto vermelho e suado.
Passaram-se alguns minutos em silêncio total.
Perguntei após cansar de ouvir apenas minha respiração ofegante:
- Eles são sempre assim??? - apontei o indicador para as casas as quais eu havia acabado de passar.
Saga meneou a cabeça negativamente e pousou sua mão em meu ombro de forma carinhosa e leve.
-Nem sempre foram assim como você viu, antes eram todos alegres. Mas depois da morte (injusta) de Aioros, um por um se tornaram amargos e ressentidos.
Uma pontada furou meu coração naquele momento.
O mestre do santuário me falava de injustiça cometida por seres quase celestiais?
- Até o assassino de meu amigo cavaleiro de Sagitário não é um assassino... tudo aqui é injusto e confuso. – afundei mais ainda o rosto e sua perna e senti grossas lagrimas quentes descerem pelo meu rosto, guiadas pelas gotas de suor.
Chorei as dores escondidas de todos que havia acabado de conhecer. Era quase palpável o sentimento que se materializou em meu coração.
Sem que eu percebesse, meu anfitrião começou a se entristecer também. Uma imensa quantidade de energia invadiu aquele lugar naquele instante.
Saga sussurrou mentalmente para que ninguém ouvisse:
“Até mesmo eu não soube o que fazer quando esta menina recostou a cabeça na minha perna... mesmo eu sendo o mestre de tudo aqui eu não soube como coloca-la em seu lugar, como todos ficam. Ate eu não soube mante-la longe de todos.”
Me levantei, sequei as lágrimas com as costas das mãos e sorri para a cara estranha que ele fazia ao me encarar.
- O que foi?
Ele fingiu um sorriso.
- Raras são as damas que entram nesse recinto. Confesso que me sinto desconfortável.
Uma duvida pairou em minha mente:
- Qual o problema com mulheres por aqui? Vi que todos ficaram meio empertigados comigo.... menos o Mu e o Afrodite.
Ouviu-se um suspiro de sua boca.
- Todos aqui já tiveram péssimas experiências amorosas e têm receio de se apaixonar novamente. Então, a maioria não se aproxima muito das mulheres.
Saga me observou com o olhar penetrante que me fez desviar. Me senti observada bem no fundo da minha alma.
Após alguns segundos completou:
- Mas, me diga uma coisa: por que essa curiosidade para com as 12 casas?
Coloquei a mão na boca e olhei para cima procurando uma resposta
- Bem... de inicio era curiosidade sobre o que a academia de letras falava desses tais cavaleiros... Para mim era mentira. Mas os caras são de verdade e acho que me envolvi sentimentalmente com as coisas aqui. Desculpe-me.
A mão pesou um pouco mais em meus ombros.
- Não fique preocupada nem se desculpe pela curiosidade e ousadia que poucos tem! Não estou perguntando por estar bravo e sim porque você parece ter muito interesse nos cavaleiros e no santuário.
Senti que uma piada não iria cair bem ali, mas não me segurei e a pergunta foi feita:
- Que tal se eu me tornar uma amazona?
Soltei uma gargalhada como nunca tinha soltado na vida quando o olhar serio e assustado dele fugiu de mim.
- Saga..... olha pra mim!! Sou atrapalhada, curiosa, sentimental e ainda por cima, odeio regras..Afinal furei a maior de todas quando entrei na casa de Áries. Você acha que tenho cara de amazona?
Um minuto demorado de silencio se fez no saguão.
-Bem, você seria uma ótima amazona, tem os poderes dentro de sua alma. - senti que ele sorria - E não faz mal ser atrapalhada, afinal, não é a única diferente entre todos nós.
Rimos juntos.
- Sem essa, não quero treinos. Não sirvo para receber ordens. Aliás, você tem uma faca por aí?
Ele saca uma adaga dourada que parecia sempre estar escondida em uma faixa próxima a cintura dele.
Estendo minha mão e apego com receio de ter que fazer aquilo que sempre faço, de novo. Respiro fundo e passo-a pelo meu punho esquerdo. Apontei para o corte que escorria 7 cores diferentes de sangue:
- Olha a cor.... O que eu descobri sobre é que sou muito mais diferente que todos seus cavaleiros juntos.
Ele se levantou e me disse as palavras mais loucas que já ouvi:
- este seu gesto é para ver se você está apta a receber uma sagrada armadura?
Aos poucos o corte se fechou e eu esbocei um sorriso quase malicioso.
- Não, e nem queria!
Agora quem parecia surpreso era ele.
-Você está sim apta a receber uma armadura. Só em caráter de curiosidade, qual o seu signo?
Aquela pergunta me empertigou.
Abri os braços na frente dele, e com um gesto leve de mãos, todas as armaduras douradas materializaram no salão principal atrás de nós. Uma a uma as armaduras apareciam a cada intervalo de meio segundo estalando o metal no chão de pedras.
- Não sou amazona, Saga. Sou etérea demais para esse mundo de vocês. Não saberia viver sob sua regras rígidas. Muito menos saberia cuidar de um peso desses.
- Mas pelo seu cosmo eu digo que saberia sim. - ele parou e olhou bem nos meus olhos - E não venha me dizer que não esta apta porque eu sei que você está!
- Não é aptidão o meu caso. É a servidão que não me cabe. Muito menos combina comigo ficar como uma louca com uma armadura por ai. Deixe isso pra outra pessoa. De agora em diante sou uma amiga em que vocês podem confiar. Nada mais.
Pensei comigo mesma “estarei sempre perto”.
- Foi você que quis assim, mas sempre nós, cavaleiros, confiaremos em você. – ele estendeu o objeto ainda manchado de sangue colorido - Guarde o punhal, se algum dia mudar de idéia verá que ele o guiará até nós.
O punhal ao qual ele me presenteara idêntico ao que eu tinha tatuado na perna.
- Aceito Com muita honra!! - Olhei para o objeto em minhas mãos e sorri.
- Pois bem sempre que precisar, estaremos aqui.
Um calafrio percorreu minha espinha.
- Quero mudar de assunto... preciso de um banho.... - Cheguei bem perto dele, tirei a mascara e dei um beijo em sua testa.
Meio encabulado e com uma ruga na testa perguntou:
- Me diga: você ira até o próximo saguão e verá Athena?
Olhei para o teto e fiquei pensando.
- Se ela cruzar meu caminho como todos esses homens abaixo o fizeram, eu a vejo.... caso contrário, não vou procurá-la. Não senti simpatia por uma deusa que usa humanos tão doces como armas.
Subi as escadas para meus aposentos sentido uma flechada vinda do olhar dele.
A porta parecia mais pesada, o ar que eu respirava estava mais seco e quente. Não havia saliva em minha boca e sentia a garganta seca e os olhos lacrimejados.
Uma lufada de ar moveu meu cabelo assim que a porta foi destrancada.
No chão estava a resposta de minhas perguntas.
Pedras e mais pedras polidas. Ninguém ali passava disso. Rústicos bem polidos e vestidos de ouro para parecerem reluzentes.
Minhas malas estavam arrumadas, minha estrada de volta pra casa estava traçad novamente, até o dia em que resolvesse sair a procura de novos amigos.